Rocket to Russia: a resenha contida na biografia dos Ramones.
A biografia dos RAMONES, “Hey Ho Let’s Go: A História dos Ramones”, escrita pelo jornalista musical inglês, Everett True, foi lançada originalmente em 2002. Este jornalista era da revista Melody Maker e foi a mesma pessoa que "descobriu" o grunge em 1989 e mostrou à imprensa britânica, antes ainda do gênero explodir no mainstream em 1991.
Portanto, segue logo abaixo um trecho deste livro onde é destacado o 3º álbum de estúdio dos RAMONES, “Rocket to Russia”, e que havia sido lançado no final de 1977:
Como você foi chamado pra fazer as capas dos álbuns “Rocket to Russia” (3º disco, 1977) e “Road to Ruin” (4º disco, 1978)?
“Foi Johnny (guitarrista). Primeiro, ele queria que fizéssemos a capa interna de ‘Rocket to Russia’. Então, pensamos em fazer no estilo da revista Punk – fotografias, cartoons e um monte de coisas diferentes. Joey (vocalista) queria fazer uma foto para a música ‘Teenage Lobotomy’ com um cérebro de vaca. Roberta (fotógrafa) tirou a foto no loft dos RAMONES e depois fomos ao CBGB (clube noturno em New York, a meca do punk rock) e colocamos os miolos por toda parte: miolos sobre a máquina de pinball, no balcão do bar, no palco..., para que as pessoas os achassem. Foi muito divertido, mas Johnny não gostou da ideia de misturar as coisas. Os RAMONES gostavam da imagem do Pernalonga (usada para ilustrar a letra da música ‘Rockaway Beach’), assim, fiz todos os cartoons da capa interna. Era muito trabalho para apenas alguns dias”.
Posso imaginar...
“Johnny me pediu para fazer a contracapa também e descreveu o que queria: o ‘pinhead’ e o míssil, o pequeno africano na África... Falei um monte com Johnny naquela fase. Ele era um cara engraçado e com boas ideias. Para ‘Road to Ruin’, um fã tinha mandado para ele um desenho da banda com uma pata de lagosta saindo dos alto-falantes e uma cobra. Eles queriam o mesmo desenho refeito de uma forma mais profissional, mas sem a cobra. Queriam saber quem poderia fazer? Disse que Wally Wood (famoso artista dos quadrinhos, célebre por seu trabalho nos anos 50 na revista Mad – quadrinhos que formataram uma geração de humor) seria perfeito, mas ele estava doente e sugeriu que conversássemos com um de seus assistentes, Paul Kirchner, que fez o gibi chamado Dope Rider”.
Não sei se conheço esse quadrinho...
“Era uma tira muito boa do High Times sobre um esqueleto, como um western spaghetti. Paul desenhava com um estilo parecido com o de Wally, porém, mais inconstante. Então, ele pegou o desenho e o reinterpretou em 03 dimensões. A banda não gostou... Ele fez 30 rascunhos e pendurou na parede em uma sala e Johnny me pediu para escolher 01. Eram horríveis! Johnny havia me dito: ‘John, o que vamos fazer? A capa tem de ficar pronta em 03 dias!’ Eu estava tentando finalizar a próxima edição da revista Punk e lhe respondi: ‘Ok, me pague um monte de dinheiro que eu faço’”.
E ele pagou?
“Ganhei U$ 1.000 mil dólares..., saiu barato, eu acho”.
Você teve algum direito de merchandising?
“Não, deveria ter pedido. Não faço dinheiro com as camisas nem nada. Às vezes acho que devia processar, mas... é a minha palavra contra a dos outros”.
Quando você estava fazendo os cartoons para “Rocket to Russia”, o que passava pela sua cabeça?
“Em quanto tempo consigo acabar isto? Para a letra da canção ‘Ramona’, fiz o desenho de uma garota punk rock. O que poderia ser mais rápido?”
Você estava tentando fazer desenhos engraçados de forma consciente?
“Eram letras engraçadas e tentei dar uma interpretação bem-humorada aos desenhos. Não tinha tempo para pensar muito a respeito, sabe? Parecia que eles sempre decidiam tudo em cada disco na última hora. Não sobrava muito tempo para pensar em coisas bem sacadas”.
(Entrevista do autor do livro com John Holmstrom, editor da revista Punk e ilustrador de capas).
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Os RAMONES começaram a gravar o seu 3º álbum de estúdio, “Rocket to Russia”, em 21 de Agosto/1977 no Media Sound Studio, New York – uma velha igreja episcopal transformada em estúdio pelas pessoas que o fundaram, as mesmas que levantaram dinheiro para o Woodstock Festival. O engenheiro de som dos RAMONES, Ed Stasium, tinha gravado lá em Março/1970 com a sua antiga banda, BRANDYWINE: “Eles tinham uma mesa de som da marca Neve 8078, uma variada seleção de velhos microfones e uma boa acústica”. O estúdio Media Sound tinha um dos sons de bateria mais potentes da cidade, não que você possa perceber isso em “Rocket to Russia”, porque Tommy (baterista) – co-produzindo o disco com Tony Bongiovi mais uma vez – manteve a bateria em volume baixo na mixagem.
A lenda sobre os RAMONES diz que havia nesse estúdio uma engenheira de som chamada Ramona – verdade, mas ela não tinha nada a ver com a música de mesmo nome: “Johnny mandou ela sair durante as gravações, pois não era permitido a presença de mulheres durante as gravações da banda”, Stasium explica. “A música foi escrita antes dos RAMONES a conhecerem”.
Bongiovi – que mixou o sucesso do disco “Star Wars Theme” (trilha sonora do filme "Guerra nas Estrelas"), além de ter produzido também o 2º álbum de estúdio dos RAMONES, “Leave Home” (lançado em Janeiro/1977) – estava em processo de montagem da banda POWER STATION nessa época. Os RAMONES foram o 1º grupo a mixar lá. “O 3º andar estava vazio, a não ser pela sala de controle”, Stasium lembra. “Não tínhamos mesa de som, efeitos, reverberação digital, nada... A reverberação que você escuta no disco vem da escadaria do prédio no East Side, onde montamos algumas caixas de som”.
Não havia muitos momentos de folga entre os takes – o tempo era escasso a U$ 150,00 dólares por hora no estúdio. Johnny gravava a sua parte e ia embora em seguida. Joey, que estava se tornando mais perfeccionista sobre os seus vocais a cada novo disco, ficava mais tempo. Tommy, é claro, tinha de estar sempre por perto.
O álbum custou entre U$ 25.000,00 e U$ 30.000,00 mil dólares para ser feito – um valor baixo comparado ao orçamento de selos de maior porte, mas um salto considerável desde o álbum de estreia dos RAMONES em 1976.
“Não importa se você gasta U$ 100,00 dólares ou U$ 30.000,00 mil dólares”, Johnny explicou. “É melhor gravar rapidamente. Se o engenheiro diz que um take está bom, deve-se ir para o próximo. Você não deve ficar lá enrolando, pois é o seu dinheiro que está sendo gasto”.
Johnny tocou todas as guitarras, com exceção da parte extra na música “Sheena is a Punk Rocker”, na qual Stasium pegou a sua velha Fender Stratocaster para dar o toque dos BEACH BOYS. Stasium também fez vocais de fundo em algumas músicas, os ternos “uuuus” – e novamente foi esquecido na porcentagem e nos créditos porque: “eu era ingênuo. Isso voltou a acontecer nos álbuns “It’s Alive” e “Road to Ruin” e no resto deles. Quando Tony me chamou para participar desses álbuns, pensei que estava na produção – e eles eram lançados e havia outra função ao lado do meu nome. ‘Ah’, diziam. ‘Da próxima vez você vai ter crédito de produtor’”.
“Tony Bongiovi não fez nada nesse álbum”, Johnny declarou em 1982 em um artigo da revista Trouser Press: “Ele nem estava lá!”
Para se alimentar, a banda devorava cheeseburgers, batatas fritas, milk shakes, queijos quentes... “Provavelmente hambúrgueres”, pensa Stasium. “Era tudo o que comíamos”.
“Estávamos indo bem, no auge da energia, fazendo turnês e tudo”, Tommy disse a David Fricke (renomado jornalista da revista Rolling Stone). “Achávamos que tínhamos conseguido e que estávamos na plataforma de lançamento. Mesmo que fosse um pouco atrapalhado escrever as músicas porque tínhamos que fazê-las em quartos de hotel – uma vez chegamos a escrever no estúdio - sentíamos que estávamos no controle..., que estávamos no auge”.
Os temas principais de “Rocket to Russia” (originalmente chamado de “Ramones Get Well”) são: doença mental – as músicas “Cretin Hop”, a inigualável “Teenage Lobotomy”, “I Wanna Be Well”, “Why is it Always This Way” e “We’re a Happy Family” –, a dieta televisiva da banda constituída da programação de horror mais barata da madrugada, quadrinhos pervertidos, abuso de drogas (Dee Dee, baixista) e a temporada de Joey no hospital para doentes mentais..., mas era tão engraçado, tão humano. Em nenhum lugar era possível detectar paternalismo por parte dos RAMONES aos seus objetos disfuncionais e dançarinos cretinos: os rostos maníacos e sorridentes dos desenhos de Holmstrom – devendo mais que uma simples referência aos quadrinhos de Harvey Kurtzman, criador da revista Mad – que acompanhavam as letras e fizeram com que tudo parecesse engraçado e divertido, como os desenhos de Tex Avery (Pernalonga e Patolino) de cabeça raspada e lobotomia grau A. Hilariante! As canções em “Rocket to Russia” talvez tenham sido as mais engraçadas do rock’n roll desde que BONZO DOG DOO DAH BAND e os BEATLES gravaram a música “You Know My Name” nos anos 60.
“Não sei de onde a coisa da doença mental veio”, diz Tommy. “Acho que estávamos tentando fazer o nosso som menos mental possível. Os caras eram superfãs de filmes B e talvez fossem também de instituições mentais, não tenho certeza”.
“Joey e Dee Dee não pensavam em si mesmos como anormais”, sugere Arturo Vega (iluminador e designer da banda, criador do clássico logo dos RAMONES), “mas sabiam que as pessoas os consideravam outsiders. E isso é algo que é agora relacionado diretamente tanto a doentes mentais quanto à arte outsider. Acho que eles pensavam que era engraçado que houvessem pessoas como aquelas e que era normal elas conviverem no mundo. Essa era a mensagem: 'Está tudo bem! Tudo vai dar certo'”.
Caso fosse para escolher oficialmente, “Rocket to Russia” é o melhor álbum de estúdio feito pelos RAMONES. Sem dúvida, contêm algumas de suas melhores músicas.
“Se há uma grande música gravada por mim, deve ser ‘Teenage Lobotomy’”, disse Ed Stasium a David Fricke para a coletânea "Anthology". “É uma mini-sinfonia dos RAMONES. Tem todos os elementos do que é grande neles em uma única música: a introdução da bateria e o canto ‘Lobotomy!!!’, os discretos ‘uuuus’ na harmonia de fundo, o assunto em si...”. Stasium também aponta as desconcertantes mudanças de tempo e de tom na belamente trabalhada progressão de acordes de Johnny nesta canção, sincronizada de modo perfeito com o tempo rígido de Dee Dee e Tommy. Johnny escreveu algumas das passagens, Tommy escreveu outras. “Não havia muitas bandas com modulações em suas músicas”, o engenheiro explica. “Os RAMONES sempre tiveram modulações. Estavam sempre mudando de tom”.
A canção “Teenage Lobotomy” é um clássico dos RAMONES solidamente construído – rima “cerebellum” com “tell’em”, caramba! O mesmo vale para a música “Sheena is a Punk Rocker” e o canto da canção “Cretin Hop”.
“1-2-3-4/Cretins wanna hop some more” (1-2-3-4/Os cretinos querem pular mais)", Joey canta com satisfação evidente na música “Cretin Hop”. O tempo de bateria de Tommy se ultrapassa enquanto Johnny e Dee Dee cuidam da sólida base rítmica do rock. “Foi algo que veio quando estávamos na cidade de St. Paul, Estado da Minnesota”, Joey explica. “Fomos a um lugar para comer e havia esses cretinos por toda parte... E havia ainda uma rua chamada Avenida dos Cretinos por onde entramos na cidade”.
A canção “Rockaway Beach” é ainda melhor, se isso é possível – insanamente cativante, com harmonias e um final falso no refrão que deixaria Brian Wilson orgulhoso (vocalista/baixista do BEACH BOYS). 02 minutos e 06 segundos de absoluto nirvana rock. Um assunto natural para uma banda tão apaixonada pelo EUA dos anos 60 e das guitarras surf da banda THE VENTURES – um hino à costa marítima ao sul do Queens, New York, escrito por Dee Dee (excursionando pela Inglaterra, dentro de uma van).
“Dee Dee costumava pegar o ônibus para a praia Rockaway Beach. Ele era o mais praieiro de nós”, Tommy disse a Ira Robbins (editor da revista Trouser Press). “Estive lá talvez umas 03 vezes na vida. Dava uma boa pernada de Forest Hills (bairro do Queens)”. Joey concorda: “Dee Dee passou mais tempo lá do que eu”, diz ele. “Era mais do que lazer para ele e para Johnny”.
É claro que a música “Rockaway Beach” foi lançado como single em Novembro/1977 (início do inverno americano e europeu) – tempo sazonal perfeito para o seu clima, mastigando chiclete no mesmo ritmo de acordo com o esplendor do verão... Nada disso.
“Saiu do nosso controle”, diz Joey. “Muitas coisas ficavam ridículas quando eram lançadas”. O single alcançou as alturas do número 66 na parada da Billboard e ganhou a alcunha dúbia de ser o maior sucesso dos RAMONES no EUA.
“Você já esteve na praia Rockaway Beach?”, o ex-punk residente da revista Punk e autor do livro "Please Kill Me", Legs McNeil, pergunta nas notas de capa no relançamento de “Rocket to Russia” em 2001. “O lugar é um esgoto. Multidões de garotas depravadas de biquíni e salto alto, garotões bebendo cerveja escondida em pacote de papel pardo e esperando para entrar na próxima briga. Todos loucos de anfetamina... Romantizar um boteco desses seria como escrever uma balada sobre encontrar o verdadeiro amor em Spahn Ranch” (rancho na California onde o serial killer, Charles Mason e sua “família”, ficaram alojados).
Mas esse era o gênio dos RAMONES: eles podiam encontrar beleza nos lugares mais improváveis.
Uma das primeiras reportagens sobre “Rocket to Russia” na revista inglesa New Music Express, datada em 15 de Outubro/1977 (01 mês antes do lançamento do disco), dizia que a música “Here Today Gone Tomorrow” representava uma ruptura com os 02 primeiros álbuns: “É uma lenta balada de amor cantada com certo grau de ternura”. Ainda mais surpreendente era o solo de guitarra – o 1º dos RAMONES - não exatamente longo e perceptível, mas uma frase justa em brevidade. Chocante porque, como o crítico do jornal Village Voice, Tom Carson, escreveu: “Pela 1ª vez em 15 anos, não se esperava um solo”.
Ironicamente, essa música foi uma das primeiras que Joey escreveu antes dos RAMONES existirem. “Era sobre alguém ter de pagar o preço”, explicou o cantor de alguma forma, literalmente. “Você sabe o que eu quero dizer?”.
Outros destaques incluem uma dupla de canções de amor em ritmo rápido, “Locket Love” e “Ramona” – a última ilustrada com um desenho de Holmstrom de uma doce "punkete" vestida com a clássica jaqueta de couro e jeans rasgados, encostada em um desolado muro de prédio nova-iorquino.
Em outro lugar, a canção “I Don’t Care” traz de volta o minimalismo negativo das primeiras músicas “I don’t wanna...” ("eu não quero...") para leva-lo à sua conclusão lógica – “I don’t care...” ("eu não me importo..."), Joey se lamenta com uma assustadora intensidade de vezes repetidas: “About that girl / I don’t care” (sobre aquela garota / eu não me importo") diz novamente, incontáveis vezes, até chegar na frase: “Sobre este mundo”. Pronto, está dito! “Por que ficar empacado especificando?”, Legs McNeill pergunta retoricamente. “Simplesmente despeje a coisa de uma vez”.
Dois destaques são capas: a versão inteira da canção “Do You Wanna Dance” – um sucesso gravado originalmente por BOBBY FREEMAN, depois pelos BEACH BOYS e por BETE MIDLER, mas nunca com semelhante alegria descontrolada – que teve lançamento como single no começo de 1978 no EUA e na Inglaterra com músicas raras no lado B (no EUA, “Babysitter”; na Inglaterra, “It’s a Long Way Back to Germany”, sendo esta última uma magnífica fala fora de ritmo sobre solidão). Então, há a música arrasadora de público, “Surfin Bird”, cover do sucesso de 1964 da banda TRASHMAN com o seu: “Papa um mau mau” e o riso insano e gutural da pausa – escolhido depois que os RAMONES ouviram a banda THE CRAMPS tocando uma versão igualmente rouca.
“Tivemos de gravar a canção ‘Surfin Bird’ algumas vezes”, Stasium disse a David Fricke. “Acho que Joey não estava cantando sozinho na faixa básica e é difícil seguir sem o vocalista. É basicamente 01 acorde só e para pausa do meio – os ruídos vocais de Joey – simplesmente paramos e tentamos prever o tempo que essa parte levaria”.
“Quando estávamos tocando a música ‘Surfin Bird’ em um show na California em 1977”, Joey lembra, “um garoto amarrou uma corda nos pés de uma gaivota morta e começou a girar como se fosse um laço de rodeio. Ele estava girando e girando e a soltou! A coisa acabou se enroscando no pescoço de Dee Dee”.
“We’re a Happy Family” é a música que resume a perturbada visão de mundo dos RAMONES – um engraçadíssimo conto do dia a dia no Queens encarando tiozinhos gays e comprando maconha. É como o tema dos RAMONES, uma lição de história para os fãs que ficam imaginando de onde vem o panteão de aberrações dos “bro”. É claro que todos existem na realidade – é a clássica família disfuncional norte-americana representada em filmes como "Beleza Americana" e "Os Excêntricos Tenenbaums", de 2001 (que contêm a música “Judy is a Punk”, do 1º álbum, na trilha sonora deste último filme) – por que não existiriam?
“Provavelmente a doença mental no álbum estava lá por conta da doença mental da banda”, diz Stasium, antes de acrescentar apressadamente, “estou brincando. Não havia nada de errado com os RAMONES, com exceção da desordem obsessiva/compulsiva de Joey. Toda vez que Joey deixava uma sala, ele tinha que por o seu pé para trás por 01 segundo, não importava onde a sala ficava. Isso se tornou um problema, particularmente quando Monte Melnick (gerente de turnê da banda) tentava tira-lo de um camarim ou coloca-lo em um avião, mesmo doce como Joey era”.
“É como um filme de horror engraçado”, Stasium explica pacientemente. “Eles não estavam pensando seriamente em uma lobotomia adolescente... É uma piada”.
“Cresci em New Jersey em uma vizinhança suburbana”, diz Carla Olla - guitarrista das bandas solo de Deborah Harry (vocalista do BLONDIE) e de Dee Dee Ramone durante os anos 90 - , “então, ‘Rocket to Russia’ era como achar uma peça de ouro aos 14 anos. Toquei por vezes a fio. Fiquei feito uma criança em uma doceria e era engraçado em 1º lugar. Não havia muitas bandas que não levassem a si próprias incrivelmente a sério. Fui vê-los tocar o maior número de vezes que consegui – cabulei aula, fugi de casa e fiquei surda por 03 dias. Era uma grande fã de Johnny, gostava da altura em que ele segurava a guitarra e do fato de ele beber Yoo Hoo (achocolatado). Ele me intimidava e ainda me intimida. Ele é quem manda, quem grita com os empregados dizendo que eles ganham demais”.
Steve Pond, jornalista da revista Rolling Stone, considera “Rocket to Russia” um dos discos essenciais dos anos 70. Robert Christgau deu uma nota “A” no jornal Village Voice (como se o rock’n roll fosse uma matéria como matemática ou biologia). Na revista New Music Express, Nick Kent não estava tão entusiasmado: “Este álbum é um pouco mais que o resumo do que já foi citado”, escreveu, “ou talvez, o fato de o último movimento dos RAMONES ter acontecido quase ao mesmo tempo em que o álbum do SEX PISTOLS tenha me aborrecido. Ou então, paixão, neurose e frustração sejam os verdadeiros significados do rock’n roll”.
Pode até ser, como os RAMONES expressaram em cada uma de suas primeiras músicas, mas com doses liberais de humor! Karl Tsigdinos, colega crítico inglês, estava perto da verdade quando afirmou: “A única coisa que importa quando tocamos um disco dos RAMONES é o disco em si... A reação de Nick Kent, entretanto, foi uma justa indicação da divisão que começou a haver entre os RAMONES e seus primos britânicos – não eram ‘sérios’ o suficiente para a politizada imprensa musical e nem artísticos o suficiente para serem catalogados junto com os seus antigos pares no CBGB, como a banda TALKING HEADS. Os RAMONES estavam se tornando párias da cena que eles próprios tinham ajudado a inspirar. Ninguém gosta de ser visto se divertindo com desenho animado, embora todo mundo goste de desenhos”. (Não foi até o advento dos Simpsons, 02 décadas mais tarde, que essa arte que vinha sendo sub-apreciada passou a ter alguma respeitabilidade no mainstream dos EUA).
E mesmo assim, os RAMONES ainda não havia alcançado o mainstream com “Rocket to Russia”, deixando a pergunta no ar conforme o título da música que encerra esse disco nos questiona: “Why is it Always This Way?” (“Por que isto é sempre desse jeito?”)