Screaming Trees: um filho esquecido de uma geração.
Quando a chuvosa cidade de Seattle começava a abrigar bandas no início dos anos 90 como o PEARL JAM, SOUNDGARDEN, NIRVANA e ALICE IN CHAINS, a cidade já possuía em sua fase seminal outras bandas que, infelizmente, não foram assim tão reconhecidas pela mídia na época - e com isso elas sumiram do mapa.
O mainstream abraçou vorazmente as sandices de Kurt Cobain, as guitarras sujas do SOUNDGARDEN, o peso do ALICE IN CHAINS e o vocal poderoso de Eddie Vedder (vocalista do PEARL JAM). Assim sendo, a cidade de Seattle possuía o seu “quarteto fantástico” nos anos 90, época em que havia pouca ou quase nenhuma exaltação à banda SCREAMING TREES. Coisas da vida, porque nem sempre o que é bom necessariamente será lembrado.
Dentre vários filhos esquecidos dessa mesma geração de bandas em Seattle, como os grupos MUDHONEY, TAD, SKIN YARD e MELVINS (citando somente algumas bandas dentre dezenas), o SCREAMING TREES tinha em sua formação um vocalista barítono com um vocal marcante, profundo e rouco. O vocalista Mark Lanegan de certo modo tinha um jeito meio “falado” de cantar as suas linhas vocais quase proféticas.
A banda SCREAMING TREES tinha uma veia mais “pop”, não no sentido restrito da palavra, mas se comparada à fúria sonora das outras bandas dessa mesma safra. A sua formação começou em 1985, muito antes (com exceção do SOUNDGARDEN), das outras bandas de Seattle sequer pensarem em querer formar um grupo, muito menos em querer pensar em um nome para as suas futuras bandas.
Mas foi em 1986 que eles lançaram o seu 1º álbum de estúdio, “Clairvoyance”, este sim lançado antes do SOUNDGARDEN ter lançado o seu 1º disco. A boa repercussão deste álbum levou a banda a assinar um contrato com a SST Records, que junto com a gravadora lendária de Seattle, Sup Pop, era uma das gravadoras independentes mais importantes da década de 80.
Como fruto disso, a banda gravou o seu 2º álbum de estúdio, “Even if and Especially When”, lançado em 1987. Ainda pela SST Records foram lançados o 3º álbum, “Other Worlds”, e o 4º disco, “Invisible Lantern”, ambos em 1988.
Em 1989, o grupo lançava ainda pela mesma gravadora o seu 5º álbum de estúdio, “Buzz Factory”. Vale lembrar que o SCREAMING TREES até o final da década de 80 era uma das bandas mais respeitadas da cena grunge de Seattle e região, trazendo discípulos para si como Kurt Cobain e Chris Cornell (vocalista/guitarrista do SOUNDGARDEN).
No início dos anos 90 com a explosão do grunge, assim como foi o destino de várias bandas desse mesmo recinto, havia chegado a hora do SCREAMING TREES assinar um contrato com uma grande gravadora..., e isso aconteceu com a mesma gravadora que “fisgou” o PEARL JAM, a Epic Records. Com isso, em 1991 foi lançado o 1º álbum pela super gravadora de uma bela trilogia que estaria por vir...
O 6º álbum de estúdio levou o nome de “Uncle Anesthesia”, que contou com o frontman do SOUNDGARDEN, Chris Cornell, como produtor desse disco. Antes do início da turnê de divulgação desse álbum, o baterista original da banda deixou o grupo cedendo lugar a Barret Martin, que era baterista da também banda grunge SKIN YARD.
O auge do SCREAMING TREES veio no ano seguinte, em 1992, quando a banda lançou o seu 7º álbum de estúdio, “Sweet Oblivion”, que contou com o single que foi a música que fez o SCREAMING TREES ficar famoso no mundo do mainstream, a canção “Nearly Lost You”. Este álbum chegou a vender mais de 300 mil cópias só nos EUA logo nas primeiras semanas do seu lançamento, muito graças à exposição do vídeo clipe dessa música na MTV. Confira logo abaixo:
Somente no final de 1995, após a ressaca do grunge e com o fim do NIRVANA no ano anterior, que o SCREAMING TREES retornou ao estúdio para iniciar as gravações do que viria a ser o seu 8º e último álbum de estúdio, “Dust”, que acabou sendo lançado somente em 1996. Assim como o disco de 1992, ambos são considerados pelos fãs e pela crítica musical como os melhores álbuns da carreira do grupo. Vale lembrar que na época da gravação e da turnê desse último disco, o vocalista Mark Lanegan estava começando a mergulhar na heroína, conseguindo parar no ano de 1997.
A partir da turnê de divulgação desse álbum, a banda chamou um 2º guitarrista para fazer parte do grupo. Nada mais, nada menos, este 2º guitarrista se chamava Josh Homme (hoje, vocalista/guitarrista do QUEENS OF THE STONE AGE). Logo após o fim dessa turnê, a banda ainda se reunia esporadicamente para fazer alguns shows isolados, até anunciar o fim de suas atividades em 2000.
Somente em Junho/2011 que o baterista da banda, Barret Martin, anunciou que as demos gravadas em 1998 e 1999 - que a princípio seriam lançadas em um futuro 9º álbum de estúdio do grupo, o que acabou não acontecendo - seriam remixadas por engenheiros musicais para serem lançadas em um novo disco - o que realmente aconteceu!
No dia 02 de Agosto/2011, foi lançado então um novo disco de inéditas que seria o 9º álbum, “Last Words: The Final Recordings”, material que contou com essas demos que ficaram esquecidas.
O que é também relevante em destacar são as participações especiais que o vocalista Mark Lanegan fez ao longo da sua carreira. Em 1989, antes do grunge estourar, Mark Lanegan junto com o 1º baterista do SCREAMING TREES, mais um desconhecido (pelo mainstream, não pelo underground) Kurt Cobain, junto com o seu fiel amigo, parceiro e baixista do NIRVANA, Krist Novoselic, gravaram num estúdio em Seattle covers de LEADBELLY, entre elas, a música “Where Did You Sleep Last Night”. Esta canção ficou imortalizada no cenário musical sendo interpretada pelo NIRVANA no encerramento do seu show acústico pela MTV em 1993. Esta e outra música (“Down in The Dark”, confira logo abaixo) foram interpretadas por Mark Lanegan, com o vocal de Kurt Cobain entrando em dueto no decorrer de cada uma. A princípio, eles iriam montar esta banda em paralelo com as suas atuais e principais bandas – a qual iria se chamar THE JURY - mas infelizmente ela não saiu do estúdio...
No final de 1994, depois do fim do NIRVANA que havia acontecido nesse mesmo ano e da ressaca grunge que ainda respingava nas cabeças dos principais nomes musicais de Seattle, um grupo de amigos resolveu dar uma arejada nas suas mentes, dar aquela “desbaratinada” nas suas vidas e montaram uma super banda! O vocalista era Layne Staley (do ALICE IN CHAINS), o guitarrista era Mike McCready (do PEARL JAM), o baterista era Barret Martin (do SCREAMING TREES) e o baixista, John Baker, era um amigo que Mike havia conhecido quando ambos estavam numa clínica de recuperação para drogados. Juntos, eles formaram o MAD SEASON, uma banda que me falta palavras para definir a beleza e a sutileza que eles emanavam... Só escutando mesmo... A banda lançou um único álbum de estúdio em 1995, o estupendo “Above”. Neste álbum, Mark Lanegan, em dueto com Layne Staley, canta 02 músicas que são de arrepiar mesmo, são elas “I’m Above” e a linda “Long Gone Day”. Confira:
Em 2013, o MAD SEASON relançou o seu único álbum com vários bônus e músicas inéditas que haviam sido gravadas em 1995, mas que não contavam com a gravação dos vocais de Layne. Então, Mark Lanegan foi chamado novamente para colocar a sua voz nestas incríveis canções, são elas: "Black Book of Fear", "Slip Away" e a poderosa "Locomotive", que pode ser escutada logo abaixo:
Voltando para 1999, trazendo um novo fôlego de alívio no cenário rock que a nova banda QUEENS OF THE STONE AGE já estava nos proporcionando com o seu 1º álbum de estúdio - lançado 01 ano antes em 1998 e que leva o mesmo nome do grupo - Mark Lanegan é convidado pelo frontman dessa banda, o mesmo Josh Homme que foi convidado pelo próprio Lanegan para fazer parte do SCREAMING TREES em 1996, para participar das gravações do então 2º álbum de estúdio do QUEENS OF THE STONE AGE, “Rated R”, que foi lançado em 2000. Mark Lanegan cantou 02 músicas neste incrível álbum, sendo elas “Auto Pilot” (em dueto com o baixista Nick Oliveri, escute na sequência) e “In The Fade”.
Esta parceria ainda iria render a gravação de algumas músicas com ele nos vocais e a sua participação na turnê do 3º álbum dessa mesma banda, o clássico disco “Songs for The Deaf” (2002), que por sinal conta com o ex-baterista do NIRVANA, Dave Grohl, levando a bateria em todas as músicas desse álbum e também participando (parcialmente) da turnê de divulgação. Neste disco, o soturno vocal de Mark Lanegan empresta a sua voz para cantar as músicas, "A Song for The Dead", "Hangin' Tree" (confira logo abaixo) e "God is in The Radio".
Mark Lanegan participou também somente das gravações do 4º álbum do QUEENS OF THE STONE AGE, “Lullabies to Paralyze” (2005), cantando a música que abre o álbum, "This Lullaby" (logo abaixo), e fazendo os backing-vocals na canção "Burn The Witch".
Do 5º álbum de estúdio do QUEENS OF THE STONE AGE, “Era Vulgaris” (2007), discretamente ele fez os backing-vocals nas músicas "River in The Road" (na sequência) e na que encerra o disco, "The Fun Machine Took a Shit and Died".
E por final, no 6º e último álbum até então do QUEENS OF THE STONE AGE, o aclamado “Like Clockwork” (2013), discretamente ele também fez os backing-vocals na fabulosa música, "If I Had a Tail". Escute:
A origem do nome da banda, SCREAMING TREES, foi retirado de um pedal de distorção para guitarra que leva o mesmo nome. Este pedal foi feito de forma clandestina por amigos da banda que também moravam em Seattle.
Desde sempre, Mark Lanegan se apresentou e se apresenta ainda com performances solo em todo o mundo - inclusive com passagens pelo Brasil - tendo lançado recentemente o seu mais novo álbum solo, “Gargoyle” (2017).
A banda SCREAMING TREES era composta por:
· Mark Lanegan: vocalista
· Gary Lee Conner: guitarrista
· Van Conner: baixista (irmão do guitarrista)
· Mark Pickerel: baterista de 1985 até 1991
· Barret Martin: baterista de 1991 até o final da banda
· Josh Homme: 2º guitarrista de 1996 até o final da banda
SCREAMING TREES SIGNIFICA "ÁRVORES GRITANTES"