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by Brunelson

Mad Season: o emocionante relato do baterista da banda

Resenha – Álbum: “Above” (1995)

Mad Season

Em 2012, o único álbum de estúdio da banda MAD SEASON, havia sido relançado em um incrível box set trazendo 02 CD’s + 01 DVD, apresentando músicas inéditas e apresentações ao vivo, dentre outros bônus...


E dessa vez, não será dissecada e nem será feita uma breve introdução sobre essa banda ou matéria... A história do grupo, a formação dos seus membros e o seu fim, já estarão devidamente destilados na dedicatória que consta logo abaixo, retirada do livrinho que acompanha esse relançamento.


Este depoimento foi escrito pelo baterista da banda, Barret Martin (ex-baterista do SKIN YARD e do SCREAMING TREES, ambas de Seattle), e começa assim:


Bem aventurados são aqueles de nós que nasceram na Geração X, em que as nossas vidas foram moldadas e reforçadas por uma trilha sonora contínua de uma música bastante excepcional. Se você cresceu no final dos anos 60 e 70 e experimentou o poder do punk rock, da new wave dos anos 80, e em seguida, o rugido do rock alternativo dos anos 90, então você é um indivíduo verdadeiramente abençoado. Estamos todos ficando mais velhos agora, um pouco mais grisalhos nas têmporas e na medida em que nos aproximamos da nossa meia-idade, nós vemos as nossas próprias crianças crescendo em sua juventude. Isso nos leva a refletir sobre um momento em que nós também éramos jovens e cheios de ideias criativas, quando tudo era possível e a idade e a sabedoria ainda não haviam temperado os nossos ardentes espíritos.


A música definiu o som e a personalidade da nossa geração e isso nos deu poderes de uma forma muito especial que só a música poderia fazer. Agora, sob o sol do meio-dia da vida, especialmente nos lembramos dos nossos amigos talentosos que nos deixaram muito cedo, aquelas estrelas brilhantes e talentosas que brilharam com tanto poder, beleza e graça. É assim que nós gostamos de nos lembrar deles de qualquer maneira, porque ao contrário de nós, eles nunca irão envelhecer na cápsula do tempo da memória e eles nunca mais irão cometer erros na vida. E como o tempo passa, portanto, nós só devemos nos lembrar das suas maiores qualidades...


O revisionismo histórico em nossas próprias linhas de memória, parece funcionar favoravelmente para eles a esse respeito - embora seja bastante razoável para o resto de nós que ainda estamos avançando pelo furacão da vida. Mas, talvez, que é como deve ser, nós só iremos lembrar o melhor dos nossos amigos falecidos, e o que nós iremos recordar de mais pungente é a música que todos nós compartilhamos juntos.


Durante o final da década de 80 e início dos anos 90, uma paisagem musical poderosa começou a se desdobrar, e muitas grandes bandas e artistas visionários surgiram sob a égide da música alternativa que alcançou o mundo inteiro. A cidade de Seattle, em particular, parecia que estava instalando uma nova regra no mercado, inventando o seu próprio estilo musical chamado grunge. E se você possui este box set do MAD SEASON, você provavelmente sabe de muitas bandas daquela época.


Vamos recitar os seus nomes novamente em honra ao seu trabalho: THE FASTBACKS, SKIN YARD, MELVINS, MALFUNKSHUN, U-MEN, GREEN RIVER, MUDHONEY, TAD, MOTHER LOVE BONE, SCREAMING TREES, SOUNDGARDEN, ALICE IN CHAINS, NIRVANA, PEARL JAM e uma longa lista de outras bandas que facilmente completaria todas as palavras desta minha dedicatória. Algumas dessas bandas ainda estão trabalhando até hoje, outras sabiamente e intuitivamente souberam parar quando o seu tempo havia expirado, e algumas outras terminaram em circunstâncias mais trágicas. Uma coisa é certa, no entanto: todas estas bandas deixaram para trás grandes massas de trabalho, alguns deles álbuns clássicos que ainda reverberam até os dias de hoje em todo o planeta..., quase 25 anos mais tarde.


Havia também alguns projetos paralelos que surgiram ao longo do caminho, sendo um deles a banda TEMPLE OF THE DOG - que foi uma homenagem ao falecido Andrew Wood, vocalista do MOTHER LOVE BONE. Outro veio de uma banda que não foi muito construída em torno da memória de alguém, mas sim, do mesmo jeito de como ela foi construída em torno do desejo de completamente fazer um estilo diferente de música. Assim nasceu a banda MAD SEASON, um projeto paralelo que acabou sendo um pouco mais do que esperávamos e quase 20 anos depois, o nosso único álbum de estúdio, “Above” (1995), se tornou um clássico “cult” que continua a repercutir muito bem em pleno século 21 - e isso porque tudo era resumido em somente tocar blues...


Em 1994, perto do final do período clássico de Seattle, 04 músicos se reuniram em conjunto a partir de uma grande secção transversal de bandas mais pesadas de Seattle. Esta banda incluía o guitarrista do PEARL JAM, Mike McCready, o vocalista do ALICE IN CHAINS, Layne Staley, o não-vindo-de-Seattle-mas-que-se-encaixava-perfeitamente-dentro, o baixista John Baker Saunders, e eu, que vinha das bandas SKIN YARD e do SCREAMING TREES.


Mike e Baker se conheceram em uma clínica de reabilitação em Minneapolis, e eles imediatamente se deram bem com os seus amores pelo blues delta e pela clareza brilhante que vem de uma mente recém-sóbria. Layne e eu tínhamos acabado de fazer uma turnê mundial juntamente com o SCREAMING TREES e com o ALICE IN CHAINS, tocando em datas por todo o mundo. Mas nós estávamos cansados da rotina na estrada e estávamos à procura de um tipo diferente de expressão musical. Os 04 de nós nos convocamos em Seattle durante o outono e o inverno de 1994 para tocarmos juntos, escrever algumas músicas e ver onde tudo isso poderia levar. Durante esses primeiros ensaios cinéticos, conversamos como amigos sobre as nossas habilidades em nossas primordiais bandas - assim como em grupos anteriores, antes do rock'n roll ter alterado as nossas vidas de uma forma tão dramática.


Layne e eu éramos 02 carpinteiros que trabalhávamos em Seattle derramando fundações, enquadrando casas e geralmente trabalhando como operários - até as nossas vidas de turnês terem começado. Mike tinha trabalhado em uma pizzaria em Seattle, antes dele encontrar o sucesso durante uma noite com o PEARL JAM - e como se costuma dizer, o sucesso leva anos de trabalho duro antes que magicamente a sua vida se transforme da noite para o dia. Baker, apesar de sempre ser um baixista que trabalhava na cena blues em Chicago e Minneapolis, já havia trabalhado frequentemente fazendo “bicos” para ganhar a vida - lembrando que os tempos econômicos eram difíceis para qualquer músico na década de 80 e 90, o que significava que você tinha que fazer um pouco disso e um pouco daquilo para sobreviver..., o que realmente não é muito diferente nos dias de hoje.


Seja qual fossem os nossos trabalhos e últimas bandas que havíamos tido e éramos, o MAD SEASON havia sido focado em fazer o seu próprio álbum. E depois de vários ensaios altamente produtivos, nós tocamos em uma série de shows secretos em Seattle, como por exemplo, no lendário clube, Crocodile Cafe. A intenção era reforçar as canções e experimentar um novo material sobre uma plateia ao vivo, e durante estes shows, percebemos uma visão singular que se manifestaria no estúdio algumas semanas mais tarde. As sessões de gravação foram agendadas no estúdio em Seattle, Bad Animals, que na época era de propriedade das irmãs Ann e Nancy Wilson da banda de Seattle, HEART - uma banda verdadeiramente heróica para aqueles de nós que crescemos em Seattle. As gravações foram supervisionadas pelo engenheiro/produtor, Brett Eliason, que já havia trabalhado com o HEART, bem como já havia executado a mesa de som para o PEARL JAM e para o SCREAMING TREES, durante os primeiros shows das nossas bandas.


Sob o seu repouso vigilante, as primeiras 10 músicas foram gravadas, sendo que 02 delas com os vocais adicionais do vocalista do SCREAMING TREES, Mark Lanegan (que são as canções, “I’m Above” e “Long Gone Day”), bem como alguns trabalhos excepcionais de saxofone do músico de jazz nativo de Seattle, conhecido como Skerik. Em pouco mais de 02 semanas, com mais 01 semana de mixagem, o álbum foi concluído e pronto para ser apresentado ao mundo.


O disco “Above” foi lançado internacionalmente no dia 14 de Março/1995 pela gravadora Columbia Records, e imediatamente atingiu um acorde de ressonância com o público - que fez gerar o status de Disco de Ouro dentro de algumas semanas. Este álbum estreou em 24º lugar no ranking da Billboard e o 1º single do disco, a música "River of Deceit", foi um sucesso de rádio devido à boa-fé dos seus ouvintes nos EUA, que fez ela alcançar o 2º lugar no ranking da Billboard. Tudo isso aconteceu, devo acrescentar, sem a banda estar tocando em shows anunciados adequadamente ou fazendo qualquer tipo de turnê. Lembrando que o grupo nunca saiu de Seattle para se apresentar em outras cidades...


Ancorado pela secção de ritmo oscilante profundo do baixo de Baker e da minha bateria, sobrepostas alternadamente pelas bolhas de trabalho ambiente da guitarra de Mike, e das palavras e melodias assombrosas de Layne, o MAD SEASON, essencialmente, tocou uma versão grunge do blues. Em retrospectiva, eu acho que o MAD SEASON foi uma das mais pesadas bandas de blues que já existiu, sendo que o blues fala uma linguagem musical que cada pessoa consegue entender... Esta química incomum nos fez soar totalmente original para o nosso tempo, em uma época do pós-grunge de Seattle - que naquele ano, o grunge já era uma fórmula rock que estava começando a dominar a música popular mundial, e então, como ainda o faz até os dias de hoje.


“Above” foi o único álbum completo por letras introspectivas e místicas de Layne Staley - contando todos que ele já gravou na sua vida inteira - e nos seus quase 20 anos desde o seu lançamento, uma nova geração de músicos e amantes da música têm vindo a descobrir a beleza sombria do MAD SEASON.


O que poucas pessoas sabem, é que em 1996, um 2º álbum de estúdio do MAD SEASON havia sido iniciado. Mais uma vez, Brett Eliason estava no comando e Mike, Baker e eu, começamos a gravar as faixas básicas para as 15 novas canções que havíamos criado - dessa vez, no estúdio Ironwood, também em Seattle. Peter Buck, guitarrista da banda REM, foi ao estúdio e nos ajudou a escrever uma linda canção, enquanto que Skerik voltou a bater um pouco de percussão e adicionou a sua maravilhosa abordagem vanguarda do seu saxofone para as nossas músicas que estavam em expansão.


Infelizmente, por causa da sua saúde em declínio, Layne não foi capaz de fazer qualquer uma das sessões de gravação, e depois de 01 mês muito criativo, mas em última análise frustrante no estúdio, todos nós tomamos caminhos divergentes que nos enviaram em direções opostas. Mike voltou para o PEARL JAM, eu voltei para o SCREAMING TREES, Layne voltou para o ALICE IN CHAINS, e Baker, em uma nota mais feliz, se juntou a excelente banda folk rock de Seattle, THE WALKABOUTS.


Alguns anos se passaram com o pensamento persistente de que talvez, eventualmente, o 2º álbum do MAD SEASON iria ficar concluído em alguma hora. Todos nós esperávamos que isso fosse acontecer, mas a comunicação entre os membros da banda havia se tornada fraturada e fragmentada. Nós perdemos o que nós tivemos uma vez juntos e não conseguimos encontrar uma maneira de voltar para aquele mesmo lugar. Foi muito parecido como o final de um grande caso de amor, com conexões perdidas, mensagens mal interpretadas, tristezas e, eventualmente, o isolamento...


E depois de um dia muito escuro, surgiu perante nós o que achávamos na época que era o único deus verdadeiro que existia..., a morte fez uma aparição fatídica. Perdemos Baker em uma overdose de heroína no início do inverno de 1999 e depois, só 03 anos mais tarde na primavera de 2002, perdemos Layne da mesma forma. Muitos de nós fomos espiritualmente e musicalmente esmagados por uma quantidade considerável de tempo.


As minhas memórias sobre Baker são ricas e cheias de grande humor. Ele era, veja só, acerca de 12 anos mais velho que o resto de todos nós da banda, o que fez Baker o cara mais perto dos 40 anos que algum de nós já havia gravado junto quando produzimos o disco “Above”. Pensávamos que ele estava vivendo uma dura vida devido ao nosso próprio auto sofrimento - de uma forma míope falando - mas Baker realmente já tinha vivido antes na sua vida o que nós estávamos passando também...


Nascido em uma família de classe trabalhadora em Montgomery, Alabama, Baker encontrou a sua vocação artística no blues elétrico das cenas musicais de cidades como Chicago e Minneapolis, onde tocou com várias bandas respeitadas e que fez ele ter o direito de ganhar alguns “frangos raspados” para comer - que era o que um bluesman que lutava para se manter, esperava mesmo ser o máximo a ganhar... Quando eu tocava com Baker, pela 1ª vez na minha vida eu conseguia ouvir imediatamente uma alma profunda e antiga, que vinha através das suas linhas do seu baixo retumbante e quando a seção rítmica do MAD SEASON era tocada, nós balançávamos como um navio de guerra em plena guerra, sendo que todos se moviam espiritualmente por toda a sala... E lembre-se, as primeiras notas que você ouve quando o álbum “Above” começa, é a linha de baixo solitária de Baker iniciando a canção, "Wake Up", que foi uma das primeiras músicas que ele introduziu para a banda... Certamente, Baker definiu o clima do álbum e nós obedientemente o seguimos.


A outra coisa sobre Baker, algo que qualquer pessoa que o conhecia pode lhe atestar, é que ele era uma pessoa muito gentil e amável com uma alma profunda e solidária. Ele realmente amava as pessoas, especialmente os mais velhos, e eu acho que foi porque ele sabia o quão duro deveria ter sido para os mais velhos terem sobrevivido a Grande Depressão Americana, a 2ª Guerra Mundial e por tornar o nosso país tão grande como ele é. Baker e eu compramos as nossas casas próximas uma da outra, após o sucesso do álbum do MAD SEASON, e ele costumava vir à minha casa na parte da manhã para tomarmos café juntos. Ele chegava dirigindo o seu sedan "deliberadamente anos 70", que fazia jus ao estilo clássico de Baker. Iniciávamos tomando café preto e então, eu começava a fazer alguma culinária para acompanhar o nosso café, enquanto que ele me contava algumas histórias hilárias sobre os "caras mais velhos" que costumava tocar junto em Chicago..., ou seja, nós começávamos o dia com boas risadas.


Sempre que ele fazia as pessoas rirem com alguma história ou com alguma anedota, as pessoas literalmente paravam de fazer na hora o que estavam fazendo, só para prestar a atenção nele. Baker era temperado com o seu humor e com o seu profundo respeito aos seres humanos, com uma inteligência linguística que foi adquirida em um cruzamento entre as ruas de Chicago, junto com a sua criação na bela América do Sul. Baker e eu havíamos combinado de em algum dia desses nos encontrarmos para tomarmos um café da manhã em outro lugar (eu insisti que nos encontrássemos em um restaurante dessa vez, para que eu não ficasse preocupado em ficar fazendo a culinária), mas, infelizmente, ele não apareceu mais. Eu realmente gostaria que ele ainda estivesse por perto, porque ele teria sido o melhor "velho" que uma pessoa poderia ter amizade para obter mais conhecimento. De muitas maneiras, Baker era o mais sábio de todos nós e eu só consegui entender isso agora, quase 20 anos depois...


Quando Layne faleceu, muitas pessoas ao redor do mundo ficaram devastadas. Ele e eu tínhamos vagado pelas grandes cidades do mundo ocidental - quando as visitamos juntos com as nossas bandas..., e que agora são apenas memórias. Como eu disse no início dessa dedicatória, eu só me lembro das maiores qualidades dos nossos amigos falecidos, sendo que a história que eu irei contar agora, revela algumas das melhores delas.


Layne era um ser humano extremamente inteligente, bem-humorado e gracioso, e ele se preocupava com coisas como a educação e a sua gentileza com estranhos, qualidades que parecem estar esquecidas nesta cultura niilista e narcisista dos dias de hoje. Ele ria facilmente e falava abertamente com os seus fãs, sendo que a sua lista de convidados para os shows do ALICE IN CHAINS e do MAD SEASON, sempre foi reservada para os jovens e marginalizados que não podiam dar ao luxo de comprar um ingresso. Estas foram as pessoas de Layne..., os sem vozes..., e através do poder da sua linguagem poética, Layne deu-lhes uma voz.


Certa vez, ele me contou uma história sobre a sua 1ª turnê pela América do Sul, onde no 1º dia depois de um show do ALICE IN CHAINS, no Rio de Janeiro, no começo de 1993, alguns desses novos amigos que Layne havia feito amizade o tinham levado a um belo parque, no meio de uma selva que fica na periferia da cidade. Depois de caminharem por algum tempo, eles se sentaram no chão do Planeta Terra e ficaram conversando sob um dossel de árvores, quando um pequeno macaco sagüi, a apenas alguns centímetros de altura deles, pulou no ombro de Layne e residiu ali por algum tempo, para grande espanto e deleite de todos os que estavam no local. Layne disse que era uma das maiores experiências que ele já havia tido em uma turnê com a sua banda, e anos mais tarde, eu vi muitas dessas criaturas minúsculas quando também visitei o Brasil. Mas eles sempre me pareceram um pouco com medo dos seres humanos... Aparentemente, no entanto, eles adoraram Layne.


A minha melhor memória pessoal de Layne veio, quando nós estávamos gravando o álbum “Above”, e ele estava na sala da mesa de som do estúdio lendo o icônico livro de Kahlil Gibran, “O Profeta”, um livro que eu recomendo a todos lerem em algum momento das suas vidas. Eu disse a ele que eu já tinha lido esse livro quando era adolescente, e eu havia gostado mais da parte do livro onde fala sobre nós sermos como flechas em fogo cruzando pelo céu, por todo o mundo, para manter a escuridão somente na baía. Layne na mesma hora me disse que, como músicos, nós éramos realmente como flechas em chamas arqueando pelo céu... Começamos a conversar sobre o que significava ser um artista com uma mensagem espiritual, e posso dizer-lhe que Layne profundamente sentia que ele tinha uma mensagem espiritual para transmitir na sua música, mesmo que as suas letras fossem obscuras. E isso é porque deve existir a escuridão no primeiro fim de luz, sendo que a luz depois virá a emergir em contraste com a escuridão... Os 02 são partes inseparáveis de uma mesma continuidade.


Este tema é evidente em todas as músicas de Layne, tanto com o MAD SEASON quanto com o ALICE IN CHAINS. E isso é porque ele existiu em um reino entre a escuridão e a luz, um lugar onde ele podia ver os dois lados. Então, por favor, lembre-se: Layne era muito jovem quando ele escreveu e cantou essas letras, ele estava apenas com os seus vinte e poucos anos, mas ele falava aquelas coisas em uma enorme quantidade de vezes com aquela sua voz incrível. Ouvir as suas palavras era uma coisa tão forte e íntima, porque ele estava cantando um tipo particular de verdade que qualquer pessoa que viveu sob circunstâncias difíceis como ele havia vivido, poderia entender também.


Vários anos após a morte de Layne, eu recebi um telefonema de um velho amigo de Massachusetts, que tinha um casal de filhos pequenos com a sua esposa. Enquanto ele estava viajando no seu carro com a sua família, com destino a alguma confraternização familiar em uma zona rural, no seu carro estava tocando o disco “Above”, quando a última música do álbum, "All Alone", começou a tocar. O seu filho caçula, que estava sentado no banco de trás do carro, naquela mesma e exata hora havia perguntado para o seu pai se haviam anjos cantando nessa música, que foi a mesma pergunta que ele me retransmitiu por telefone para que eu desse a resposta final para o seu filho. "Sim, ele era um certo tipo de anjo", eu disse, "um anjo enevoado, talvez, mas um anjo assim como todos os outros".


Perdemos Baker, Layne e vários outros grandes músicos de Seattle naqueles anos sombrios, mas uma das verdades que eu aprendi desde então, é que o caráter de uma pessoa e o talento dela não são reduzidos pelos seus obstáculos pessoais. Esses obstáculos pessoais são apenas os desafios exteriores que servem para temperar e forjar o espírito interno da pessoa. Uma pessoa na escuridão é muitas vezes mais próxima da luz, e é por isso que eu escolhi para lembrar de Layne e Baker como seres humanos excepcionais em 1º lugar. Eles também passaram a ser tremendos artistas musicais que amavam o Planeta Terra na sua essência e os seus entes queridos, assim como o seu povo..., mesmo que o mundo tenha sido um pouco duro com eles.


Eu discursei no funeral de Baker e eu também escrevi uma dedicatória para Layne no dia do seu funeral, e em ambas às vezes, eu citei um outro grande nativo de Seattle, o histórico índio chamado, Chefe Sealth, do povo Duwamish - que depois, foi renomeado esse nome do povo para Seattle. O Grande Chefe famosamente declarou: "não há morte, apenas uma mudança de mundos". Gostaria de acrescentar que eu acredito que nós vivemos em muitos mundos diferentes..., alguns deles escuros..., alguns deles com luz.


E agora aqui estamos nós no verão de 2012. Mike McCready, Brett Eliason e eu, nos convocamos recentemente para filtrarmos as fitas magnéticas originais do que seria o 2º álbum inacabado do MAD SEASON. Nós estávamos revisitando as 03 das melhores canções daquelas sessões, incluindo a que Peter Buck co-escreveu, “Black Book of Fear”, sendo que as 02 outras canções nós sentimos que são as melhores que exemplificam a direção que a banda estava tomando, antes das mortes prematuras de Layne e Baker, chamadas “Locomotive” e “Slip Away”. Desta vez, nessas 03 músicas, Mark Lanegan voltou a honrar os seus amigos com as suas próprias letras e com a sua magnífica voz.


Nós criamos este box set para você com uma versão remasterizada do álbum “Above” – onde contém mais estas 03 novas músicas, assim como um interlúdio solo de Mike no violão, “Interlude”, gravada durante as sessões de gravação do disco e que eu havia esquecido completamente, só me lembrado quando havíamos desenterrado essas fitas.


O álbum de estúdio desse relançamento, finaliza-se com a nossa versão da música de JOHN LENNON, "I Don’t Wanna Be a Soldier", que foi tirada do seu clássico álbum, “Imagine”, e que foi gravada ainda com Layne Staley nos vocais. Além do relançamento do álbum de estúdio junto com essas músicas inéditas - todas remasterizadas e contidas no Disco 01 - você também vai encontrar no Disco 03 o nosso último show com a formação original da banda, realizado em Seattle, no Teatro Moore. Este show foi remixado em som surround 5.1 e reformatado em DVD, bem como um concerto nunca antes visto em um clube de Seattle na véspera do Ano Novo de 1994/1995. Tudo isso você irá encontrar no Disco 03 com mais alguns surpreendentes bônus.


Finalmente, no Disco 02, contém todas as gravações em áudio do show realizado no Teatro Moore, além desse livreto em anexo que você está lendo com algumas fotos nunca antes vistas. Mais uma vez, Brett Eliason gravou e mixou tudo para os mais altos padrões de qualidade que a nossa banda poderia esperar, e eu sei que você vai adorar essas novas músicas também. Mais importante, eu acho que Layne e Baker irão amá-las também, pois acima de tudo, é em memória deles este box set.


Por isso, obrigado por honrar o legado dos nossos falecidos amigos, aquelas flechas ardentes que ainda fazem arcos luminosos atravessando os céus escurecidos. Nós os amamos, sentimos falta e nos lembraremos deles através do poder da música que fizemos juntos.


Agradecemos também a você por continuar a apoiar a música de Seattle e região ao longo dos anos, e as muitas bandas que continuam a surgir a partir do Noroeste desse país.


Há algo realmente especial aqui em cima entre as montanhas, os lagos, o céu cinzento e toda essa gloriosa chuva. Aqui residem os mágicos...


por: Barret Martin (baterista do MAD SEASON). Seattle – Outono/2012.


Track-list:


1- Wake Up 2- X-Ray Mind 3- River of Deceit 4- I'm Above 5- Artificial Red 6- Lifeless Dead 7- I Don't Know Anything 8- Long Gone Day 9- November Hotel 10- All Alone 11- Interlude 12- Locomotive 13- Black Book of Fear 14- Slip Away 15- I Don't Wanna Be a Soldier

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