Foo Fighters: resenha do novo álbum de estúdio, “Concrete and Gold”
FOO FIGHTERS lançou o seu último álbum de estúdio em 15 de Setembro/2017, “Concrete and Gold” (9º disco), e fiquei esperando o álbum original chegar na minha casa para escutar pela 1ª vez as músicas inéditas desse disco - assim como eu sempre faço desde 1991, escutando um álbum novo no conforto do meu lar, sem nenhuma distração visual ou organizacional na minha frente e com o encarte na minha mão, acompanhando as letras de cada música, valorizando a obra de arte e de vez em quando sentindo de propósito aquele cheirinho de coisa nova (zerada) do livrinho em anexo.
Mas os vídeo clipes lançados (autorizados) pela banda para divulgar o novo disco, das canções "Run" e "The Sky is a Neighborhood", foram as únicas que eu escutei até o álbum chegar em minhas mãos...
Uma pena que lá nos anos 90 um álbum novo demorava no mínimo uns 03 meses para chegar no Brasil e em épocas cibernéticas atuais, a agilidade não é tanta assim se comparada com os downloads grátis e áudios piratas... Depois de quase 01 mês escutando o álbum direto, me sinto seguro em resenhar sobre.
Para a galera que não curtiu o penúltimo disco do FOO FIGHTERS, o conceitual "Sonic Highways" (8º álbum, lançado em 2014 e que não foi o meu caso), creio que vocês não irão gostar tanto assim do novo disco da banda, pois além de outras características/semelhanças que serão dissecadas aqui nesta resenha, a maioria das canções passam fácil dos 04 minutos e indo muito mais além, carimbando o novo processo de composições deixando as músicas mais trabalhadas e com várias partes diferentes.
A música que abre o novo álbum, "T-Shirt", começa literalmente de onde o disco antecessor parou. Uma canção que mais parece uma intro, com aquela atmosfera de música "gigante" que lembra a atmosfera de "Sonic Highways" (não em duração, com apenas um pouco mais de 01 minuto de audição). Se no álbum anterior tivemos as canções encorpadas, minuciosamente trabalhadas e com prismas a la QUEEN como em "What Did I Do? God as My Witness" e "I Am a River", a música "T-Shirt" também lembra o QUEEN com harmonias grandiosas em sua pequena explosão.
Na sequência vem o single do álbum, a canção "Run", e que por sinal fica muito melhor de escuta-la dentro do disco - como sempre, não importa a música e nem a banda. Mais uma prova, pelo menos para mim e na minha medíocre opinião, de que ficar escutando músicas inéditas pela internet aleatoriamente, descartando-a depois de algumas audições assim como se joga um papel na lixeira (virtual também), não tem o mesmo impacto quando se escuta dentro de um álbum e na ordem correta das músicas, além de ser um desrespeito total à música, aos artistas e à vulnerabilidade que um grupo dispõe ao seu público, se despindo e entregando a sua alma para as críticas - sendo boas ou ruins, tranquilo. Além da falta de respeito à música em escutá-la em qualquer aparelho celular, ao ar livre, onde a sonoridade tosca não chega aos pés de quando se escuta qualquer material num aparelho de som digno para audição.
Voltanto ao assunto, a música "Run" também poderia entrar fácil em "Sonic Highways", porque me lembro das entrevistas de Dave Grohl (frontman) na época em que o FOO FIGHTERS estava gravando esse disco, de que as músicas seriam: "Gigantes, trabalhadas, com refrões enormes e harmonias e arranjos díspares em seu meio, mas que no final seria o velho FOO FIGHTERS". A canção "Run" soa dessa forma com os seus mais de 05 minutos de duração e faz uma boa parceria sendo a música de "abertura" do álbum, assim como foi na canção "Something From Nothing" no disco antecessor. Quanto a letra, pegando o mesmo gancho da música que abre o disco, o próprio Grohl admitiu em entrevista por se tratar da nova presidência americana.
Assim como em "Sonic Highways" a banda procurou expandir os seus horizontes - e o fez com maestria - em "Concrete and Gold" a busca por um novo caminho no meio do mato ainda acontece e afirma a continuidade do álbum antecessor. Na 3ª música, "Make it Right", a banda apresenta um riff meio LED ZEPPELIN com harmonias que nunca foram ouvidas antes num álbum do FOO FIGHTERS. Por incrível que pareça - e não quero dizer que soa igual e nem parecida - esta canção apresenta contra-tempos inéditos na discografia do grupo que me lembrou a estrutura esquizofrênica e bela das músicas do SOUNDGARDEN. É claro que nesse requisito o FOO FIGHTERS ainda está engatinhando se comparado, mas que magnífica surpresa foi de escutar essa música... Que sonzeira da porra mesmo!
O 2º single do disco, "The Sky is a Neighborhood", assim como Grohl também já disse em entrevista, foi a última canção a entrar no álbum: "Foi aquela mais 01 música que eu tinha dentro de mim, assim como aconteceu com as canções 'Everlong' (lançada no 2º disco) e 'The Pretender' (lançada no 6º disco). Já tínhamos gravado todo o álbum e retornaríamos ao estúdio em 02 semanas para participar da mixagem, quando convoquei toda a banda e a gravamos rapidamente no estúdio". Ele mesmo disse que a música é simples e apresenta uma levada arrastada, mas quando chega no refrão, é aí que entra aquele tempero que só Grohl consegue criar para os seus maiores hits. Altas sonzeira! Outra canção que se apresenta com outra cara quando se escuta dentro do álbum e fica o meu destaque para o vocal de Grohl, que de propósito apresenta uma sonoridade vinda direto da garagem, lá do fundo...
Quando a 5ª canção começa, cara..., eu fiquei paralisado olhando somente para as caixas de som e realmente esqueci de acompanhar as letras da música. "La Dee Da" não se parece com nada que o FOO FIGHTERS já nos apresentou em sua discografia e novamente, surgem aqueles contra-tempos que mais parecem "fora-do-tempo". A levada desta canção é única e realmente nos emociona por estarmos em pleno ano de 2017 e ainda ser possível escutar sonoridades e levadas inéditas no rock. Esta música chama muito a atenção e isso é incrível! Mais uma vez, as letras atacam a nova presidência dos EUA.
Cantando sobre ser "um desastre natural", somente na 6ª canção, "Dirty Water", é que escutamos o FOO FIGHTERS fazendo mais do mesmo. Em várias situações ou bandas (nem todas, um abraço para os RAMONES) esse adjetivo pode soar depreciativo, mas "Dirty Water" continua sendo uma ótima música com um corpo sonoro que lembra a canção "But Honestly" (lançada no 6º disco). Apesar de usar uma fórmula conhecida, a música causa um belo e empolgante impacto ao ouvinte indo da calmaria para a turbulência.
Quando li a entrevista de Josh Homme (frontman do QUEENS OF THE STONE AGE) dizendo para Grohl quando escutou pela 1ª vez a música "Arrows": "Finalmente uma música sombria", confesso que fiquei muito curioso e realmente satisfeito com o que escutei. "Arrows" apresenta uma introdução nos versos que também não me recordo em ter escutado algo semelhante na discografia da banda, com um refrão, chimbal da bateria e andamento que realmente cativam o sujeito. Mais uma vez os contra-tempos estão passeando por aqui e liricamente também é uma das letras mais sombrias do grupo.
A 8ª canção, "Happy Ever After", é a 1ª do disco desprovida de qualquer distorção. Soando acusticamente é a música lentinha do álbum e lembra a canção "Skin and Bones" (que ficou de fora do 5º disco). E por satisfação nossa, o nível do álbum ainda não decaiu com todas as músicas até aqui soando muito top! Liricamente há uma alegria melancólica na canção, mas Grohl lamenta que não haja mais "super-heróis no momento".
E chega a canção de holofotes do baterista Taylor Hawkins, "Sunday Rain", se apresentando nos vocais com Paul McCartney na bateria. Grohl afirmou recentemente em uma entrevista que havia 18 minutos de duração nesta música, já que Paul McCartney se divertiu tanto em tocá-la. A versão final que foi lançada no disco leva cerca de 06 minutos de duração! A canção tem uma vibração que lembra o PINK FLOYD e há um final estranho de piano nela... Hawkins definitivamente vai fazer com que Dave Grohl permita que ele componha mais canções no futuro, assim como foram nas músicas "Cold Day in The Sun" (lançada no 5º disco) e "Life of Illusion" (lançada no 4º disco). O nível do álbum decaiu? Claro que não e as letras são um tapa na cara mesmo...
Com a penúltima e 10ª música surge o FOO FIGHTERS padrão, fazendo mais do mesmo - apesar de uma introdução chamativa. A canção "The Line" também é muito boa de se escutar, mas com todo o respeito o nível decai um pouco. E com certeza, se o ouvinte começar a escutar essa música na rádio ou num show - ou se estivesse dentro do estúdio junto com a banda para escutar somente esta canção - a pessoa iria curtir do mesmo jeito...
Já a música que encerra o álbum e que leva o mesmo nome do disco, "Concrete and Gold", é de difícil digestão, mas e daí? Atitude da banda em querer lançar uma canção bem lado-b e não se importando se o público irá gostar ou não, e sim, se o grupo ficará feliz em toca-la para si mesmo - e é o que realmente importa para uma banda, em forma de processo terapêutico e saudável para os seus membros. Mais uma vez, uma sonoridade inédita em sua discografia e que começa bem repentinamente com uma introdução grosseira. Grohl canta com o seu vocal distorcido sobre um riff de guitarra de meio-tempo e o refrão traz harmonias fornecidas por Justin Timberlake e Shawn Stockman nos back-vocais. Liricamente e vocalmente, Grohl se apresenta de uma forma bem direta e é uma de suas músicas mais sérias nos últimos anos. Também entraria fácil em "Sonic Highways" e o álbum termina do mesmo jeito que começou - dando um aceno ao disco anterior.
Em sua totalidade, o álbum “Concrete and Gold” é um grande passo referente ao seu antecessor, “Sonic Highways”. Grande passo no sentido de continuar de onde parou e mesmo assim "forçando as barreiras e limites" como o próprio Grohl citou em entrevistas. Onde “Sonic Highways” foi um belo disco conceitual por escrever músicas sobre cidades específicas, “Concrete and Gold” definitivamente nos mostra um Dave Grohl tentando algo um pouco diferente, mas um diferente não voltando para o mais do mesmo - embora ele não fique completamente fora da sua zona de conforto com guitarras altas.
Outro destaque é o dedo do novo produtor, Greg Kurstin, onde o que fica marcante em seu trabalho é a grande adição de back-vocais, distorções em várias músicas no vocal de Grohl e a aplicação de dinâmicas sonoras.
Pois então, parece que esse é o caminho que o FOO FIGHTERS irá seguir depois de ter sido batizado pelo álbum "Sonic Highways". Ninguém garante que o futuro 10º disco seja o mais do mesmo assim como foi no álbum "Wasting Light" (7º disco, 2011) - e que por sinal, é um disco bom pra caralho!!!
Depois de percebemos que nos álbuns "One by One" (4º disco, 2002) e no disco 01 de "In Your Honor" (5º disco, 2005) estávamos observando o mais do mesmo perder a relevância aos nossos ouvidos - salvo os grandes hits de cada álbum e alguns lados-b de ótima qualidade - a banda teve a capacidade magistral de fazer um disco muito foda em "Wasting Light" usando a mesma fórmula (onde o nível imperceptivelmente cai em 01 ou 02 músicas somente). Tudo é possível...
Pode ser que eles retomem esse caminho no futuro, ou quem sabe, mesclando com o aprendizado em "Sonic Highways" assim como já foi possível perceber no álbum "Concrete and Gold".
A propósito, também não é nenhuma surpresa o que eles estão fazendo, pois este experimentalismo em querer sair pela tangência já nos foi apresentado desde o 5º disco (duplo, sendo 01 elétrico e o outro acústico) e depois no 6º disco (onde pensei que seria o máximo onde o FOO FIGHTERS poderia chegar em questão de novas sonoridades), já dando mostras de um novo leque de opções e experimentações sonoras para o futuro.
Concreto e ouro..., ótima mescla, assim como já vinha se desenhando na sonoridade do FOO FIGHTERS.
Track-list:
1- T-Shirt
2- Run
3- Make it Right
4- The Sky is a Neighborhood
5- La Dee Da
6- Dirty Water
7- Arrows
8- Happy Ever After
9- Sunday Rain
10- The Line
11- Concrete and Gold