Rage Against The Machine: a resenha do álbum de estréia 25 anos depois
Interprete da melhor forma que for, mas o ano de 1992 foi histórico no mundo da música. Desde o início dos anos 90, nenhum período musical surgiu de uma forma tão profunda e rica com a nobreza e criatividade de artistas e bandas emergentes e que lideraram uma revolução cultural.
Grunge, Rock Alternativo, Punk Rock e até mesmo o New Metal viram as suas sementes sendo plantadas e crescendo a alturas inesperadas durante o resto da década. Com tantas bandas surpreendentes que surgiram e exigiram a atenção do mundo musical, um grupo literalmente começou uma revolução em Novembro/1992: RAGE AGAINST THE MACHINE.
Foi com uma mentalidade e ferocidade musical de um trio poderoso com um rapper brilhante e socialmente consciente nos vocais, que essa banda explodiu no cenário mainstream. Nunca antes um grupo havia nos cativado e comandado com aquela pura dominação que possuíam - e nunca mais aconteceu desde então.
Não há ofensas ao AUDIOSLAVE e PROPHETS OF RAGE, mas como um bom programa original da TV que é copiado pelos concorrentes, às vezes você não tem escolha, senão jogar as mãos ao alto e admitir que o original é realmente melhor.
Em sua estréia clássica com o álbum que leva o mesmo nome da banda e que definiu o gênero rapcore (BEASTIE BOYS manda lembranças), o RAGE AGAINST THE MACHINE não precisou esconder nada - e por que eles deveriam? A chave de ignição para as 10 músicas que esse disco comporta não se desgastou nenhuma vez desde o seu lançamento. O álbum é tão rico em hinos e tão direto em sua declaração de missão, que é difícil acreditar que seja o disco de estréia de um grupo.
Os primeiros álbuns de uma banda não devem ser tão escandalosamente ultrajantes, mas aqui o RAGE AGAINST THE MACHINE lhe proporciona um ato de submissão, chegando ao ponto em que você se obriga a se render e desiste da esperança de achar algum declínio em sua audição. Mesmo assim, você se vê aproximando do núcleo absoluto da sua existência e originalidade.
A música que abre o disco e chuta a porta à sua frente, "Bombtrack", estabelece a declaração de tese da banda. O discreto e sincopado riff do maestro da guitarra, Tom Morello, e do extraordinário baixista, Tim Commerford, definem o humor que está por vir, onde silenciosamente a crescente bateria de Brad Wilk faz aumentar os golpes e apostas para esse álbum de estréia. Quando o trio musical se une para dar início à canção, é como um soco sônico na garganta lhe atingindo muito forte e forçando a sua cabeça balançar.
Cada membro individual do RAGE AGAINST THE MACHINE é muito importante para o som geral da banda e você não pode subestimar o quanto você precisa de todos os 04. Zack de la Rocha é um poeta que distribui batidas líricas - zangado e muito bem informado. Ele tem uma plataforma vasta para expressar as suas preocupações e expor o que está em sua mente para as massas.
Para escolher apenas 01 música sobre essa explanação, seria uma escolha injusta para a sua supremacia lírica, mas o 1º single do álbum - que foi a canção "Killing in The Name" - certamente também seria uma boa escolha. São versos que ficaram enraizados nas cabeças dos fãs desde a adolescência em 1992, como: "Fuck You I Won’t Do What You Tell Me!"
Mas para o RAGE AGAINST THE MACHINE - e mais especificamente para Zack de la Rocha – é a coleção de trabalhos que mais definem esse álbum histórico, do que os momentos individuais em si.
Tom Morello é um herói mágico na guitarra, jogando na sua cara um verdadeiro rock sem forçar a barra e sendo fascinante até hoje nos dias atuais. Olhando para trás, percebemos que a sua linhagem nesse álbum não deixa de ser, de certo modo, simples (com o máximo de respeito), mas é incrivelmente eficaz. Ele faz a guitarra explodir como uma máquina de trituração na música "Killing in The Name", mas assume uma abordagem quase clássica em outras ocasiões, como no cenário descontrolado da canção "Settle For Nothing". A sua guitarra emite riffs e gritos penetrantes, às vezes “piando” através de agudos muito profundos que mais parecem estarem vindo de outro mundo, elevando-o a um nível único.
Vocês percebem que estamos vivenciando a história? Que não há e não houve um guitarrista com essa linhagem, sendo que é inédito o que Morello faz com a sua guitarra...
RAGE AGAINST THE MACHINE plantou as bases para que novas bandas surgissem sem precisarem sacrificar as suas próprias identidades para cair no mainstream.
As músicas "Take The Power Back" e Bullet in The Head" proporcionam a Commerford uma plataforma de lançamento perfeita para expor a sua grandiosa linha de baixo. São linhas fortes e cintilantes em perfeito contraste para a sutil e descontraída levada do baterista Brad Wilk. Isto é um aspecto interessante quando nos reportamos a esse álbum de estréia do RAGE AGAINST THE MACHINE, porque nos discos subsequentes e até na discografia do AUDIOSLAVE, Commerford aposentou o seu baixo Stingray branco em favor de um baixo personalizado da Fender, com menos ênfase nas suas bofetadas e estalagens de primeira linha, e mais interessado em ressonar o seu baixo com vários efeitos virtuosos. Cada estilo é ótimo, mas eu dou esta 1ª versão uma ligeira vantagem por apenas ser única em sua totalidade na discografia das 02 bandas.
RAGE AGAINST THE MACHINE é como uma experiência religiosa sônica. Você é simultaneamente movido e motivado – impossível ficar parado. Eles o inspiram a evitar a rota de um passageiro passivo no jogo da vida e a se engajar e se educar nas questões mais importantes.
A 1ª vez que escutei esse álbum de estréia lá em 1992, me lembro de ter sido um evento que muda a minha vida, mudou a forma de como poderia ser profundo o impacto musical e sonoro na minha mente. A agressão funk rock constrói e se alimenta de si mesmo, ela nunca se rende às regras das normas auto impostas de outros atos do rock. A música deles soa lisa, 100% pra cima e pune os ouvidos. Batidas aparecem onde você não esperaria e a coleção eclética de sons e ritmos nunca lhe proporcionam a chance de recuperar a respiração.
Para qualquer um que você for perguntar, o sujeito lhe dará uma escolha diferente para a sua música favorita - ou o que eles acham que seria a melhor música do álbum. Para mim, sempre foi uma resposta simples porque uma das minhas canções favoritas do disco e que também é uma das melhores do RAGE AGAINST THE MACHINE é a mesma: "Know Your Enemy". A introdução arranhada da guitarra, o som caótico do baixo e a mesa de diálogo do vocal, faz abrir o seu apetite. Lembremos do vocalista da banda TOOL, Maynard James Keenan, fazendo os back-vocais na ponte desta canção.
A clássica música "Bullet in The Head" fica ombro-a-ombro com a sua vibração hip-hop, Morello desossando a guitarra e a bateria triturando o som.
O álbum é um motor vibrando em todos os aspectos da palavra. Para uma banda que só lançou 04 álbuns de estúdio, eles certamente tiveram muito a dizer. Sem dúvida, aproveitaram as suas oportunidades e eles não lançaram nenhum álbum ruim ou fraco. Mesmo o disco de covers, “Renegades” (4º álbum, 2000), lhe dá um belo chute no traseiro...
Mas eles não lançaram mais um disco como o de estréia. Em 1992, o RAGE AGAINST THE MACHINE estava na hora certa, no lugar certo e era a banda certa para o que reivindicavam.
25 anos depois, a mensagem do álbum soa mais verdadeira do que nunca, na luta pela justiça e igualdade social.
Talvez você não tenha vivido aquela época ou não seja um fã de rock, mas de qualquer forma você nunca teve a experiência insana de experimentar este álbum em seu lançamento – e isso gerou sentimentos inexplicáveis que nenhuma palavra irá lhe fazer entender. Mesmo assim, se for esse o caso, faça um favor a si mesmo imediatamente. Escute esse álbum no volume máximo para comprovar que a energia dele é palpável, saindo dos alto-falantes do seu aparelho de som diretamente para você - e sem dúvida, você não será o mesmo depois dessa experiência.
É o que nós esperamos de uma boa música. RAGE AGAINST THE MACHINE não produziu somente boas músicas. Eles produziram hinos atemporais e fantásticos que sobreviverão, mas a sua verdadeira magia é que eles sempre serão relevantes. Se você se encontrar numa necessidade desesperada de motivação, escute a canção "Township Rebellion" e faça o seu melhor para não ficar louco. Vai lhe servir como um espinafre sônico, assim como era para o Popeye.
A vida nesse planeta está tão desarrumada e bagunçada, que desejamos que o RAGE AGAINST THE MACHINE retornasse e nos “salvasse”. PROPHETS OF RAGE está fazendo um belo trabalho mantendo a vela acesa com uma boa e forte luta, mas o seu surgimento só faz com que as legiões de fãs anseiem por um dia em que Tom Morello, Tim Commerford, Brad Wilk e Zack de la Rocha retornem mais uma vez, para recuperar o poder!
Track-list:
1- Bombtrack
2- Killing in The Name
3- Take The Power Back
4- Settle For Nothing
5- Bullet in The Head
6- Know Your Enemy
7- Wake Up
8- Fistful of Steel
9- Township Rebellion
10- Freedom