Prophets of Rage: resenha do álbum de estréia
O álbum de estréia do PROPHETS OF RAGE e que leva o mesmo nome da banda foi lançado em Setembro/2017, e enquanto o disco está a disposição dos fãs para ser adquirido, ao escutá-lo uma coisa definitivamente será apresentada em anexo ao som deste supergrupo de rapcore: a sua pura ferocidade.
Formada pelos membros do RAGE AGAINST THE MACHINE com os vocalistas do PUBLIC ENEMY e do CYPRESS HILL, a banda se uniu para fornecer uma trilha sonora para a resistência social e política.
Sem dúvida, a estrela brilhante aqui é o guitarrista Tom Morello. Ele é um inovador no seu instrumento e seu revolucionário e ambicioso jogo de guitarra carrega o álbum musicalmente, ao mesmo tempo em que é sincronizado com a seção rítmica do baixista Tim Commerford e pelo baterista Brad Wilk.
Sem dúvida, a guitarra de Morello chia, grita e rouba o show...
Os vocalistas Chuck D e B-Real levam as músicas mais na direção do rap, ao invés do que o falecido Chris Cornell fazia no AUDIOSLAVE - mas era de se esperar mesmo. A banda PROPHETS OF RAGE prova ser mais um sucessor espiritual do RAGE AGAINST THE MACHINE do que para o AUDIOSLAVE, pois o disco não possui as nuances melódicas da gama vocal generalizada de Cornell, as quais ele utilizou através dos 03 álbuns de estúdio do AUDIOSLAVE - mas musicalmente falando, algumas canções poderiam ser novas músicas para o AUDIOSLAVE, onde é nítida a progressão de acordes que tanto Commerford quanto Morello afirmaram em várias entrevistas por ser um fruto das composições do AUDIOSLAVE.
Assim como foi na música "Cochise" do AUDIOSLAVE, a canção "Living on The 110" do PROPHETS OF RAGE também é um single forte - se não excelente - para nos apresentar ao disco de estréia. A música faz balançar com um ritmo que lhe empurra e puxa tão ligeiramente o suficiente para adicionar alguma tensão. B-Real e Chuck D se revezam no microfone negociando as rimas, com um solo de guitarra imediato mais parecendo um iniciador de solos todo rasgado, punidor e sempre tão chamativo no estilo familiar de Morello.
Mas foi com o 1º single do álbum, a música "Unfuck The World", que nos deixou com um ar sedento para as inéditas canções que estariam presentes nesse disco – ainda mais com um título desse!
Lembrando que o 1º trabalho de estúdio deste supergrupo foi o EP “The Party’s Over” (2016), que nos apresentou 05 músicas, sendo 04 covers – a 1ª canção autoral da banda é a que leva o nome desse EP.
A música "Legalize Me" também apresenta um título espirituoso com aquela sonoridade já conhecida e que entraria fácil num imaginário 4º álbum de estúdio do AUDIOSLAVE - assim como a canção funk rock "Take Me Higher".
No entanto, uma das canções de destaque do disco, "Hail to The Chief", é um monstro de uma música! Ela poderia ter sido levada logo para o 2º álbum do RAGE AGAINST THE MACHINE, “Evil Empire” (1996), com todos os aspectos característicos do baixo de Commerford e solo de Morello - com saudações a canção que integra esse mesmo disco de 1996, "Bulls on Parade".
"Hail to The Chief" é o clássico RAGE AGAINST THE MACHINE soando e de longe uma das melhores músicas do álbum.
Mas a praga que permeia esse disco é pelos tantos anos que estamos aguardando pelo 2º retorno do RAGE AGAINST THE MACHINE. Estas expectativas ficaram (um pouco) moderadas no AUDIOSLAVE quando a voz e força criativa por trás do SOUNDGARDEN apareceu liderando o grupo. O AUDIOSLAVE não era uma combinação perfeita no papel, mas na música funcionou.
Já no PROPHETS OF RAGE o ataque verbal de não apenas 01, mas indiscutivelmente 02 dos melhores MC's dos últimos 30 anos, mesmo assim me deixaram desejando que Zack de la Rocha estivesse presente nos vocais para nos fornecer um 5º álbum de estúdio do RAGE AGAINST THE MACHINE - imaginando como seria um disco com Zack cantando em cima das tão faladas progressões de acordes...
Para aqueles que esperavam ansiosos e com um pouco de desconfiança pelo disco de estréia do PROPHETS OF RAGE, pode ser que vocês realmente preferissem que viesse um novo álbum do RAGE AGAINST THE MACHINE..., mas o pacote ainda é formidável!
Não precisa prender a respiração. As 12 músicas do disco movem-se a um ritmo acelerado, mas não é tão rápido assim - vide abrir o álbum com a canção "Radical Eyes". Talvez uma das obras de arte do álbum seja a capa do disco, com o punho cerrado na frente de uma estrela vermelha, gritando como o clássico RAGE AGAINST THE MACHINE.
Talvez, um dos maiores receios do presidente Donald Trump era que esta poderia ter sido a melhor oportunidade para resgatar novamente a banda de Zack de la Rocha - mas não aconteceu.
Sabem daquela tia na família que todos amam? E então, na época de Natal ela aparece inesperadamente, sendo a 1ª vez que você ouve falar dela há bastante tempo. Ela lhe entrega um presente de Natal: um despertador. Você não pediu por isso e você certamente não precisa disso. Não está perto do nível dos presentes anteriores que você já ganhou em outros anos, mas você o aprecia pelo sentimento prestado por ela, sendo que em algum momento o seu celular pode pifar e você talvez precise usar o despertador para sair da cama e ir trabalhar no dia seguinte.
Bem, assim é este álbum. Nós o apreciamos por causa da sua intenção, das suas convicções e do chamado para despertar algo em todos nós para prestarmos atenção no mundo ao nosso redor durante esses tempos difíceis - e tentar fazer a diferença.
Mas através da sua audição há muito para se desfrutar aqui. O mundo é um lugar maluco e o nosso país também vive com as suas próprias maluquices. É reconfortante que em tempos de agitação política e social ocorrendo lá nos EUA, parece que o PROPHETS OF RAGE também está ouvindo o “samba” de gente doida em nossa política e sociedade brasileira, mais parecendo que este supergrupo também reagiu às armas e se manifestaram perante nós – e por que não? Não seria esse o verdadeiro poder da música? Vislumbrar significados e mensagens particulares a cada ouvinte fora do prisma de “certo e errado”? Fora do prisma do que é consciente para alguns e inconsciente para outros?
No final do dia, após uma boa e atenta audição do álbum de estréia do PROPHETS OF RAGE, por que surgem sombras dos discos já lançados do RAGE AGAINST THE MACHINE e imaginários para algumas futuras músicas do AUDIOSLAVE? Por que a sombra de Zack de la Rocha permeia entre as ondas sonoras já dissipadas em seu quarto?
Terminar uma resenha com 06 pontos de interrogações seguidos, realmente nos obriga a dissecar este 1º álbum de estúdio do PROPHETS OF RAGE.
Track-list:
1- Radical Eyes
2- Unfuck The World
3- Legalize Me
4- Living on The 110
5- The Counteroffensive
6- Hail to The Chief
7- Take Me Higher
8- Strength in Numbers
9- Fired a Shot
10- Who Owns Who
11- Hands up
12- Smashit