Duff McKagan: “em Abril/1994, eu estava naquele avião junto com Kurt”
A coluna de Duff McKagan é publicada toda quinta-feira no Jornal Seattle Weekly. Leia abaixo uma edição lá de Fevereiro/2014:
“Eu estava num estúdio de gravação dia desses e tinha tempo de sobra. Se eu não estiver lendo um livro ou escrevendo, por muitas vezes saio fuçando atrás de um jornal ou uma revista. Nesse dia, eu me deparei com 'Cobain', uma revista-tributo publicada pela Rolling Stone logo após a morte de Kurt em Abril/1994.
Eu não posso apontar as razões, mas do nada, naquele estúdio escuro, eu fiquei embargado e emotivo. Eu li aquela matéria do começo ao fim e enquanto claramente lembro bem daquele meu hiato emocional, não acho que o foco da tristeza tenha batido em mim até aquele momento. Uma tristeza profunda que agitou muita emoção com a qual eu não tinha lidado ainda. Eu não sei, para ser honesto...
Eu estava no mesmo avião que Kurt estava naquele vôo de Los Angeles para Seattle, alguns dias antes da sua morte (quando Kurt fugiu da clínica de reabilitação e ninguém sabia do seu paradeiro). Ambos estávamos chapados de heroína e conversamos, superficialmente... Eu estava em meu inferno e ele no dele, e parecíamos ambos entender isso.
Quando chegamos em Seattle e fomos até a esteira de bagagem, passou pela minha cabeça convidá-lo para ir até a minha casa, ali, naquele momento. Eu tinha um sentimento verdadeiro de que ele estava solitário e sozinho naquela noite e me sentia da mesma maneira. Havia uma aglomeração louca de pessoas ali em público e eu estava numa banda de rock muito famosa, e ele também estava numa banda de rock muito famosa. Nós estávamos um do lado do outro e muitas pessoas pararam para nos olhar e eu me distraí por 01 minuto e Kurt me disse: ‘Tchau’ e saiu em direção ao carro que o esperava. A casa nova dele era na mesma rua que eu morava, mais para baixo. Eu recebi uma ligação do meu empresário uns 02 ou mais dias depois, dizendo que Kurt tinha morrido.
Naquele ponto da minha vida, acho que eu estava insensível para aquele tipo de coisa, sabe? Eu tinha perdido 02 dos meus melhores amigos por overdose de heroína e pessoas em minha própria banda já tinham tido overdose várias vezes. A minha vida e o meu vício estavam rodando fora de controle, e o meu corpo estava falhando em várias maneiras. É possível que eu fosse incapaz de sentir tristeza, incapaz de pegar o telefone e ligar para Krist Novoselic (baixista do NIRVANA) ou Dave Grohl. Na verdade, eu tinha uma auto-estima tão baixa naquele ponto, que tenho certeza que o meu telefonema naquele momento não teria impacto sobre esses caras tão legais.
Eu tinha ficado muito animado em 1991, quando bandas da minha cidade natal de Seattle começaram a ficar famosas e terem reconhecimento por sua música magnífica. Eu estava orgulhoso porque sabia que a cena era única, auto-suficiente e aberta a novas e diferentes idéias.
Depois de 01 ano e meio, no MTV Awards de 1992, onde tanto a minha banda como o NIRVANA se apresentaram, eu me queimei quando percebi hostilidade para cima da minha banda vinda do lado do NIRVANA. Em meu delírio induzido por bebedeira e drogas, eu ouvi o que queria ouvir e fui atrás de Krist Novoselic nos bastidores do palco. Eu não tinha controle sobre mim próprio, então... Krist, eu peço desculpas por aquele dia, ok?
Krist, meu colega e amigo, eu sinto muito pela sua perda também. Eu sinto muito que não pude ser seu amigo naqueles dias. Nós tínhamos tanta, tanta coisa em comum e nós temos tantas coisas em comum hoje em dia também.
Eu sinto muito por não ter tido o discernimento de apenas chegar em você e conversar no MTV Awards em 1992. Eu era louco e insano... A minha maneira de lidar com qualquer tipo de conflito tinha se estreitado a briga de boteco. Kim Warnick, a minha mentora (vocalista/baixista da também banda de Seattle, THE FASTBACKS), me ligou no dia seguinte ao meu mico e acabou comigo por causa daquilo. Eu me senti tão pra baixo... Eu simplesmente não sabia como lhe telefonar e pedir desculpas.
O meu sonho de estar numa banda de rock que todo mundo no planeta acreditasse, tinha se tornado realidade. As complicações que vieram com isso também estavam se fazendo presentes e você estava lidando com as mesmas coisas que eu estava. Nós poderíamos ter tido muito assunto para conversar.
Eu fico feliz por você ter superado aquela temporada louca da sua vida. Só um homem forte passa por aquela devastação e não sai permanentemente aleijado. A sua banda deveria ter sido uma daquelas que continuasse estabelecendo novos padrões para o que uma banda de rock é! A sua carreira e visão foram podadas e nós, músicos, apenas não falamos desse tipo de coisa achando que é um pouco sensível para conversar e lembrar.
As pessoas esperam que a gente simplesmente supere isso...
Eu não estou tentando envergonhar você, Krist. Talvez eu apenas esteja agora tentando tomar as rédeas da situação e exorcizar os meus próprios monstros ocultos. Eu fico feliz que agora somos amigos e espero que esta nossa amizade dure para o resto de nossas vidas”.
Lembrando que Novoselic também é colunista do mesmo jornal.