top of page
by Brunelson

Ramones: resenha do último disco, "Adios Amigos"


Ramones

A biografia dos RAMONES, “Hey Ho Let’s Go: A História dos Ramones”, escrita pelo jornalista musical inglês, Everett True, foi lançada originalmente em 2002. Este jornalista era da revista Melody Maker e foi a mesma pessoa que “descobriu” o grunge em 1989 e mostrou à imprensa britânica, antes ainda do gênero explodir no mainstream em 1991.


Portanto, segue logo abaixo um trecho desse livro onde é destacado o 14º e último álbum de estúdio dos RAMONES, “Adios Amigos”, e que havia sido lançado em 1995:




Os RAMONES decidiram lançar um último álbum de estúdio, com o guitarrista Johnny Ramone declarando que, se não vendessem o suficiente, a banda iria acabar. No mesmo ano, o vocalista Joey Ramone foi diagnosticado com um câncer linfático incurável. O vocalista vivia doente, sendo que a maior parte de sua vida adulta havia sido um entra e sai de hospitais, mas ele sempre acreditou que iria melhorar.


Em uma amarga ironia, o ramone que mais corporificou o espírito da eterna adolescência, era agora contraposto à dura realidade de sua própria finitude – e é claro, manteve a sua doença em segredo.


A música que abre o álbum “Adios Amigos” é um cover de TOM WAITS, “I Don’t Want to Grow Up”, no ritmo tipicamente rápido dos RAMONES (fazendo jus de quase sempre incluir, pelo menos 01 cover nos seus álbuns - além de nos lembrarmos das suas primárias músicas pelo seu título de “I don’t...”). É uma abertura desafiadora e uma franca negação dos fatos: no mundo real, os RAMONES já haviam crescido (envelhecido) há muito tempo. Também é um cover soberbo, há milhares de quilômetros de distância do seu disco anterior só de covers, “Acid Eaters” (13º álbum, 1993), com o rico vocal barítono de Joey e as guitarras turbulentas radicais e harmônicas como qualquer fã desejaria.


“A música, ‘I Don’t Want to Grow Up’, é uma variação isolacionista do sonho de Peter Pan da eterna juventude”, escreveu o jornalista da revista Rolling Stone, David Fricke, nas notas de capa na coletânea, “Anthology”. “Uma prece para ser livrado de casamentos devastados por brigas, da chatíssima televisão e de um mundo em doido fluxo melancólico. Os RAMONES viam muito de si mesmos na letras dessa canção e também nos seus momentos finais, em uma carreira que desafiou expectativas, concepções equivocadas e armadilhas, com uma música tão simples e pura que qualquer um poderia compô-la (e rapidamente milhares de bandas a fizeram), os RAMONES provaram que juventude eterna não existe - o que há é vida eterna, se você não se incomodar em lutar por isso”.


A razão de por quê o álbum “Adios Amigos” é melhor do que se esperava depois do disco “Acid Eaters”, deve-se a produção. Quando já era tarde, os RAMONES tiveram o produtor que mereciam – o guitarrista de estúdio dos “bro”, velho amigo e que havia produzido o 10º álbum da banda, Daniel Rey. Ele fez um excelente trabalho no estúdio Baby Monster, New York (onde também gravaram os discos “Acid Eaters” e uma parte de "Mondo Bizarro", 12º disco, 1992), trazendo de volta um pouco do espírito dos primeiros álbuns da banda.


Ainda assim, “Adios Amigos” tem os seus altos e baixos.


Para começar – e talvez isso se deva mais à doença de Joey do que a qualquer outra coisa – o baixista CJ Ramone faz o vocal em 04 músicas, incluindo a canção composta por Dee Dee Ramone (ex-baixista original do grupo), “The Crusher”. O próprio Dee Dee canta em outra música sua, “Born to Die in Berlim”, fazendo uma ponta cantando em alemão com a sua voz em efeito radiofônico (um toque inconfundível dos STOOGES, por razões que não precisam ser explicadas a nenhum fã dos RAMONES). A canção, “Born to Die in Berlim”, foi a última música do álbum e Dee Dee deveria estar na banda durante todo esse tempo...


O baixo na canção, “I Love You” (cover do THE HEARTBREAKERS, banda do vocalista/guitarrista, Johnny Thunders), entretanto, soa mais “anti-ramones” do que nunca.


Dee Dee e Daniel Rey tiveram uma participação importante em “Adios Amigos” compondo juntos 05 músicas – Dee Dee, depois, compôs uma 6ª, a já citada “Born to Die in Berlim”. Em cada uma delas, eles quase ressuscitaram os velhos RAMONES – se não estavam lá, não foi por não tentarem trazê-los. As canções, “Making Monsters For My Friends” e “The Crusher” (ambas de Dee Dee), são bem humoradas, enquanto a música, “Cretin Family”, não é comida requentada (como o título sugere), mas uma cotovelada esperta no mito dos RAMONES por um de seus principais componentes: Dee Dee (essas 03 ultimas canções são cantadas por CJ Ramone).


Dee Dee escreveu na música “Cretin Family”: “Família cretina / Família cretina / Todos estão contra mim”, onde seria uma inversão direta da antiga letra da clássica canção, “Pinhead” (lançada no 2º álbum): “Nós te aceitamos / Nós te aceitamos / Como um de nós”. Agora, Dee Dee estava dizendo que, longe de ser um lar para todas as aberrações, desajustados e outsiders, os RAMONES tinham se tornado um clube exclusivo e parte do mainstream. A música tem bons vocais de CJ Ramone, embora ele ainda não seja Joey Ramone cantando.


A música, “Take The Pain Away”, é provavelmente a melhor indicação do estado mental de Dee Dee, com as frases: “Eu estou fugindo de mim mesmo / Há muitos demônios por aqui”.


O destaque do álbum é a canção, “Life’s a Gas” – que foi single do disco.


A outra contribuição de Joey, puro rock dos grupos femininos dos anos 60, foi a belíssima música, “She Talks to Rainbows”. Ela é quase perfeita, um adorável canto coletivo descartado do álbum “Pleasant Dreams” (6º disco, 1981). “Foi a minha 1ª composição metafísica”, Joey disse em 1995 para a revista Making Music. “Eu estava na casa de Daniel e havia uma grande tempestade elétrica chegando e..., me lembrei dessa canção! Quando a compus, em 1981, eu não tinha certeza de que era significativa para mim, mas não, depois eu vi que ela era muito significativa! Eu fiquei muito agradecido por ela ter entrado no álbum”.


Infelizmente, ao lado dessas ótimas músicas, o disco apresenta a canção comum do baterista Marky Ramone, “Have a Nice Day” (a bateria foi mixada muito alta aqui), e 02 boas músicas de CJ Ramone, mas sem nada a ver com os RAMONES - as canções “Scattergun” e “Got a Lot to Say” (esta última com Joey nos vocais). E realmente, com os vocais nestas 02 últimas, os “bro” soavam exatamente como uma banda grunge de Seattle (nada contra, mas os RAMONES não precisavam disso).


Também é uma vergonha que a capa de “Adios Amigos” seja a pior de toda a discografia da banda, onde mostra..., bem..., 02 dinossauros usando sombreiros.


E é isso! A banda com a imagem mais perfeita de toda a história do rock – uma imagem tão perfeita que eles não se desviaram dela em 22 anos de carreira e que costumavam mandar os membros da banda para casa, se algum deles aparecessem se vestindo em desacordo com ela – encerrou as suas atividades com uma capa mostrando 02 dinossauros usando chapéus mexicanos.


A reação da imprensa foi simpática quando o álbum foi lançado em Julho/1995. “O revival comercial do punk rock parece ter revitalizado a banda”, escreveu a revista Stereo Review. “Os RAMONES estão de volta soando como os RAMONES. Não cometam erros, fãs, mas o disco ‘Adios Amigos’, soa exatamente como os RAMONES”.


“Se ‘Adios Amigos’ é o último álbum de estúdio dos RAMONES”, escreveu Matt Diehl, crítico da revista Rolling Stone, “ao menos eles finalizam em grande estilo. O álbum contêm o seu melhor e mais potente material em anos, refletindo mais a alienação de outsiders encarquilhados pelos anos, do que a rebelião adolescente que tinha se tornado um clichê dos RAMONES”.


“O álbum soa meio franco”, disse CJ Ramone, agora. “Não ficou tão bom como poderia ter sido. O que aconteceu é que provavelmente todos sabiam que a aposentadoria estava chegando e as coisas foram por um caminho que normalmente não iriam... Vejo agora que a banda se preocupava na época, mas estavam em uma posição que havia coisas mais importantes para se preocupar – contas a serem pagas, por exemplo. Eu queria ter começado a escrever músicas antes, porque estava muito feliz com as canções que havia composto para a banda desde o álbum ‘Mondo Bizarro’. Acho que as minhas canções estavam mais perto das músicas originais dos RAMONES do que todas as outras”.


Johnny declarou que o álbum “Adios Amigos” foi o melhor disco desde “Too Tough to Die” (8º álbum, 1984), mas também estava determinado a torna-lo o último. Ele disse para a revista Making Music: “Você vê bandas famosas como o THE WHO e o ROLLING STONES, onde elas vão continuando e estão tão longe da sua essência. Estas pessoas não sabem lidar com a vida sem terem atenção... Caso houvesse uma aposentadoria compulsória para rockeiros maiores de 40 anos, haveria muita gente cometendo suicídio”.


Johnny continuou: “O THE WHO teve intenção de continuar na ativa aos 40 anos de idade com Pete Townshend (guitarrista) no palco com uma guitarra acústica e outro guitarrista tocando atrás dele escondido?”, passando por cima do fato de que ele próprio já tinha ultrapassado essa idade há anos e não exemplificando que os RAMONES, no estúdio, era Daniel Rey quem tocava a guitarra nos álbuns desde meados da década de 80. “É patético, porque lá no começo do punk rock, nós já estávamos conscientes disso e eu agora apenas quero viver sem estar em uma banda de rock’n roll” (verdade seja dita, em se tratando de idade, os RAMONES encerraram as suas atividades muito cedo em comparação com várias bandas e artistas na história do rock’n roll).


“Não queremos nos estender além da conta”, comentou Joey, o homem que vivia para o rock’n roll. O seu próximo comentário diz tudo: “Na verdade, a música é a minha salvação e me entusiasma como nada mais nessa vida”.


“Não preciso vender tantos discos quanto a MADONNA para ser feliz”, explicou Joey, em outra entrevista. “Excursionamos durante todo o ano, sabe? As turnês são o nosso meio de vida. Gostamos, mas é extenuante... 21 anos com o clã causa um estrago na pessoa, sabe? Eu estou cansado de viajar o tempo todo... Alguém deveria nos convidar para o Lollapalooza Festival, assim, teríamos uma turnê de alta-classe”.


O álbum “Adios Amigos” ficou 02 semanas na parada da Billboard.


Era um pouco tarde... Depois de uma prolongada turnê de despedida – que se estendeu durante quase todo o ano de 1995 – a banda havia encerrado as suas atividades...


A não ser pelo convite do SOUNDGARDEN para o 6º Lollapalooza Festival/1996.


Com isso, a rodada de shows de despedida foi implacável!


Durante um período de apenas 10 dias, em Novembro/1995, os RAMONES viajaram por 08 cidades americanas – onde chegaram a abrir shows para o PEARL JAM e para o WHITE ZOMBIE (a vistas grossas por vários fãs dos “bro”). Os RAMONES viam esta situação com outros olhos: essas bandas tinham vendido milhões de discos e o seu respeito aos RAMONES era o reconhecimento que eles sempre tinham esperado por parte do mainstream.


“A nossa popularidade permanece a mesma de sempre”, Johnny esclareceu para a revista Scram. “Fazemos mais dinheiro a cada ano que passa e não há questões de dúvidas sobre a nossa popularidade”.


“Eu vibrei com o show deles em New Orleans”, lembrou o escritor e fã, Kevin Patrick. “Foi um dos primeiros shows desses 05 ou 06 que eles fizeram com o PEARL JAM naquela turnê. No show do PEARL JAM, convidaram Joey para subir ao palco para cantar o cover do DEAD BOYS, a música 'Sonic Reducer', e que acabou virando o single de Natal do PEARL JAM daquele ano. Foi aí que Eddie Vedder (vocalista do PEARL JAM) começou a sua amizade com a banda. Ele acabou ficando amigo de Johnny até o final da sua vida”.


O último show em Londres aconteceu no dia 03 de Fevereiro/1996, na Brixton Academy, depois do cancelamento de 02 shows na Itália no começo da turnê europeia por conta da piora da saúde de Joey.


Os RAMONES voltaram aos EUA para uma rodada de shows que culminou em 03 noites na sua cidade natal, New York. Fãs e amigos da banda sentiram que era chegado o ponto final: os RAMONES iriam com certeza encerrar as sua atividades na cidade que desde os seus primeiros dias os havia nutrido e apoiado – quando, na verdade, a maioria lhes viravam a cara.


Os fãs dos RAMONES de New York haviam reconhecido a banda, mas sem aquele entusiasmo dos fãs da América do Sul. Então, em Março, eles voltaram 01 vez mais para 03 shows em São Paulo e no Rio de Janeiro, e ainda outro mais no Estádio do River Plate, na Argentina (com os velhos amigos e aliados: MOTORHEAD e IGGY POP).


Desta forma, outra turnê de despedida precisava ser organizada nos EUA: Indianapolis, Chicago, Detroit, Cleveland, Pittsburgh, New York, Memphis, Atlanta e por aí vai... (foi quando chegou o momento de participarem do Lollapalooza Festival/1996).


CJ Ramone comentou sobre essa última turnê: “Pensei que esses pobres coitados nunca tiveram o crédito que mereciam ou sentiram que faziam parte de alguma coisa. Pensei que seria uma grande oportunidade no Lollapalooza para eles encontrarem as maiores bandas da época, como RANCID, METALLICA, SOUNDGARDEN, SCREAMING TREES, e constatar a sua influência sobre elas – e eu estava certo! Quando Johnny, Joey e Marky começaram a andar com esses caras, eles se deram conta de que pariram virtualmente toda a cena rock’n roll do país!”


CJ continuou: “Era uma boa despedida, sabendo que havia um monte de gente que reconhecia o quanto eles eram bons – o que não tem nada a ver em tocar na rádio ou com vendas. Apesar de toda a resistência da mídia, os RAMONES cresceram, floresceram e conquistaram a indústria da música com o seu poder. Eles sobreviveram a tudo”.


Os RAMONES se apresentaram pela última vez no Hollywood Palace, Los Angeles, no dia 06 de Agosto/1996, com alguns artistas convidados apoiando, como o pessoal do SOUNDGARDEN, Eddie Vedder, Lemmy Kilmister (vocalista/baixista do MOTORHEAD), o pessoal do RANCID e Dee Dee Ramone. Sobre esse último show, CJ Ramone saiu falando sem meias palavras: “Primeira coisa, fazer isso na Costa Oeste, em Los Angeles, foi ridículo, cara! Foi um verdadeiro tapa na cara em New York, sabe? Nós estávamos em turnê como personificação da cena musical nova-iorquina...”


“Eu queria fazer o trabalho da melhor forma possível”, relembra Marky. “Depois do show, nos falamos, tipo: ‘Adeus, boa sorte e se cuida’. Fiz o show, fui entrevistado, voltei para New York e..., estava acabado”.



--------------------



“Os RAMONES podem muito bem ser a clássica banda americana de rock. Há várias bandas americanas importantes em cada período, mas os RAMONES são ‘A’ banda clássica americana de rock, porque tudo o que consideramos grande na música americana foi misturado no caldeirão de sua essência e no que eles fizeram. Ter sucesso na mídia e ser ouvido não é exatamente a mesma coisa. Os RAMONES não estiveram na rádio, porque a rádio estava apavorada. O pessoal da rádio não entendiam e naquele tempo... Os RAMONES tinham que trabalhar para viver, sabe? Era uma verdadeira banda de turnê e eles falavam a cada pessoa individualmente ao longo dos anos, por isso que estamos falando deles agora... Quanto tempo gastamos falando sobre bandas como o JOURNEY ou o STYX?” (David Fricke, jornalista da revista Rolling Stone há mais de 30 anos).



“Eles são a maior banda americana de todos os tempos. É seu amor pela cultura popular, seu entendimento da cultura americana e seu intelecto orgânico por excelência”. (Donna Gaines, socióloga, escritora e assistente social).



“Oh, sim, nós somos. Como os BEATLES, ROLLING STONES e o CREAM que são todas bandas inglesas, nós somos uma banda americana, exatamente. Adoramos o nosso país... Os RAMONES não poderiam vir de outro lugar que não fosse de New York – a agitação, as atitudes, o som das ruas, os bares, as drogas – onde é o nível mais rápido que tudo isso acontece. Se você mora em New York, vai se tornar um maníaco pelo ritmo acelerado... Assim é a coisa toda” . (Marky Ramone, baterista).



-----------------------



Depois que os RAMONES encerraram as suas atividades em 1996, a música deles passou a ser mais e mais reconhecida – foram incluídos tardiamente no Rock'n Roll Hall of Fame em 2002 (só depois do falecimento de Joey, 01 ano antes) e talvez, fosse mais fácil festejar uma banda cuja produção gravada não poderia mais manchar a imagem - ou talvez, fosse o clássico caso de: “Você não sabe o que tem até perder o que tem”.


Todos assumiram que os RAMONES estariam sempre por perto, como uma das constantes da vida, mas de repente, eles se foram... Foi como perder alguém da família.


Track-list:


1. I Don't Want to Grow Up

2. Making Monsters For My Friends

3. It's Not For Me to Know

4. The Crusher

5. Life's a Gas

6. Take The Pain Away

7. I Love You

8. Cretin Family

9. Have a Nice Day

10. Scattergun

11. Got a Lot to Say

12. She Talks to Rainbows

13. Born to Die in Berlin



O site Rock in The Head publicou as resenhas de todos os álbuns de estúdio do RAMONES. Para conferir, é só clicar nos links abaixo:


























Mais Recentes
Destaques
bottom of page