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by Brunelson

Franz Stahl: como foram as saídas dos membros do Foo Fighters - Parte 3 (última)


Foo Fighters

Em 2015, foi lançado a biografia oficial do FOO FIGHTERS, "Learning to Fly", do autor inglês, Mick Wall (responsável pelas biografias oficiais de bandas como LED ZEPPELIN, METALLICA, AC/DC, BLACK SABBATH, THE DOORS e outras).


Neste belo livro onde é narrada toda a história da banda, consta em detalhes as saídas que aconteceram dos 03 membros do FOO FIGHTERS e que, até então, nunca foram realmente expostas por cada um deles em suas próprias versões - apesar de terem sido explicadas por Dave Grohl através de várias entrevistas no decorrer dos anos, além do que foi exposto no documentário oficial do grupo lançado em 2011, "Back and Forth".


Portanto, com base neste livro, de outras fontes e documentários, o site rockinthehead vai publicar em 03 partes, como se desenrolou as saídas de William Goldsmith (1º baterista, de 1995 à 1997), Pat Smear (atual guitarrista, que também havia ficado de 1995 à 1997) e Franz Stahl (guitarrista que substituiu Pat Smear, de 1997 à 1999).


Nesta 3ª e última parte, segue o episódio sobre Franz Stahl e que começa assim:



Teoricamente, parecia uma ideia inspirada - chamar Franz Stahl para substituir Pat Smear na guitarra do FOO FIGHTERS, lembrando que, antes de ser convidado para entrar no NIRVANA, Dave Grohl era o baterista da banda SCREAM, mesmo grupo de Franz Stahl.


Franz tinha conhecido Dave muito antes dele ser o Dave que nós conhecemos. Eles foram criados nos mesmos lugares. Sonharam os mesmos sonhos. Cara, a chegada de Franz para substituir Pat era como um carma. Irmãos juntos de novo. O fato de que Pete Stahl (vocalista do SCREAM e irmão de Franz) já tinha voltado à turma trabalhando como produtor de turnê do FOO FIGHTERS, deixou aquilo ainda mais perfeito. Ciclo fechado, cara. Vamos nessa!


Franz estava numa turnê em Osaka, Japão, tocando com um superstar japonês chamado J., originalmente baixista em sua própria banda, LUNACY ou LUNA SEA, megassucesso no Japão. Seu amigo Scott Garrett, baterista na banda punk da capital Washington, DOG NASTY, que depois foi para o THE CULT, levara Franz para a turma japonesa fazia apenas alguns meses. Franz pensou que tinha finalmente se safado - financeiramente falando.


Então, Dave lhe telefonou e tudo mudou de novo - instantaneamente.


Em 24hs, ele estava de pé no palco da Radio City Music Hall, em New York, onde estava acontecendo o MTV Video Music Awards, apresentado como o novo guitarrista do FOO FIGHTERS. Que viagem, cara! Como se, de alguma maneira, isso sempre estivesse destinado a acontecer...


Pat tocou primeiro, com a banda bombando na canção "Monkey Wrench". Aí, Franz tocou a segunda encaixando a música "Everlong" (ambas do 2º álbum, "The Colour and The Shape", 1997). Ah, que furo! Que façanha de assessoria de comunicação! Um jeito incrível de começar algo que tinha nascido para morrer ainda que tivesse acabado de nascer.


Franz mal sabia onde estava, ainda sob efeitos do fuso horário da viagem de avião. Tudo acontecia tão rápido... Pat foi quem fez as apresentações: "Esta última música que tocamos foi a minha última canção com a banda. Eu gostaria de apresentar para vocês, Franz Stahl, que vai assumir o meu lugar. Obrigado. Curtam, gente! FOO FIGHTERS!"


Era 04 de setembro de 1997. Franz tocou em 62 shows com o FOO FIGHTERS por 101 dias quase consecutivos, daquele até o último show do ano no Shephard's Bush Empire, Londres, em 13 de dezembro. Depois, em mais 77 shows de janeiro de 1998 até o início de agosto, com apenas umas 02 semanas de folga no fim de maio. Os shows eram cada vez maiores. O disco "The Colour and The Shape" chegou ao 1º lugar nos EUA e outra vez, chegou ao 3º lugar no Reino Unido, alcançando as paradas de sucesso em 07 outros países importantes.


A música "Everlong" se tornou o próximo single de sucesso da banda depois da canção "This is a Call" (1º disco, "Foo Fighters", 1995), com o clipe em alta rotação na MTV - ainda no tempo em que a emissora importava, quando ainda determinava as listas de sucesso de singles e clipes. Segundo Dave: "Estava acontecendo com a gente, aquilo que acontece com novas bandas que começam a se popularizar".


Claro que Franz não estava em clipe nenhum - ele aparece somente no clipe da música "My Hero" (2º disco) - nem participou da promoção, pois tudo tinha sido feito antes dele entrar, mas ele chegou a fazer playback na canção "Everlong" no Top of The Tops, em Londres (programa da TV), e chegou a tocar a mesma música ao vivo no programa de TV, Later With David Letterman, nos EUA, naquela que talvez tenha sido a sua performance mais eletrizante com o FOO FIGHTERS.


Franz nunca estivera tão contente. Depois de uma vida de shows de merda de punk rock com uma banda de que ninguém fora Seattle (ou de qualquer lugar) realmente tinha ouvido falar, lá estava ele, no alto das paradas. Ele teria feito o trabalho mesmo que não gostasse das músicas, mas ele de fato curtia, achava os discos do FOO FIGHTERS legais de verdade. Mal podia esperar pela sua participação no 3º disco. O que poderia dar errado?


Taylor Hawkins (baterista) e Franz se tornaram amigos na estrada, mas quando Dave e a banda começaram a ensaiar e compor, chegando com as ideias para este 3º álbum, as coisas mudaram... Dave sentia que ele, Taylor e Nate Mendel (baixista) "estavam na mesma página", mas Franz não estava. Na banda SCREAM, quando a questão era compor música nova, Franz ficava no comando e liderava. Agora, não. Nem perto disso. Aquilo o deixou nervoso além do limite. Ele não conseguia equacionar quando ceder e quando retroceder. No final, ele só se afastou e esperou para fazer o que mandassem.


Não era legal. O resumo era que os 04 não conseguiam avançar. No palco, enriquecendo músicas já bem consagradas, era uma coisa. Mas conviver com essa vibração e não corresponder às expectativas, simplesmente não funcionaria...


Nate diz que Dave foi o último a perceber a situação. De uma forma diferente, mas estranhamente igual àquela com William Goldsmith (1º baterista do FOO FIGHTERS), o fato de Dave ser amigo do guitarrista tornou mais difícil para ele corrigir o que estava acontecendo. Dave conhecia Franz desde que tinha 18 anos. Manda-lo embora "era duro, cara". Segundo Nate, "houve muita mágoa e drama" em torno da decisão de procurar um novo guitarrista: "Foi feio".


E Franz nisso tudo? O que ele tinha a dizer sobre o assunto? Exceto por algumas declarações curtas de lábios semicerrados aqui e ali, Franz simplesmente se recusava a comentar, a desabafar ou a dizer o que realmente deu errado. Durante anos, ele escondeu as suas emoções e manteve a ferida tapada.


Compreensivelmente, até agora...


Foram necessários muitos meses de comunicação por e-mail a fim de persuadir Franz Stahl a falar abertamente sobre a experiência dele no FOO FIGHTERS. Eu tinha quase desistido quando ele, por fim, concordou. Conversamos pelo Skype e ele foi simpático, amistoso e inteligente - ainda magoado com a experiência de ter sido demitido da banda. "Nunca houve nenhum tipo de uma conversa mais séria a respeito daquilo", disse. "E olha que agora já fazem 20 anos".


Ele começou relembrando o ingresso na banda. A emoção de receber um telefonema de Dave: "Ele falou assim: 'Quer entrar na banda?' Eu disse: 'Me belisca, sabe? Porra, você está de brincadeira?'"


Depois disso, foi "voar direto para Los Angeles, levar uma coisas... Isso tudo aconteceu em um fim de semana. Daí, voar direto para New York e encontrar os caras, e ir para um local de ensaio. Passar uma música e no dia seguinte, fui apresentado como novo integrante do FOO FIGHTERS".


Ao ser apresentado à imprensa do rock, "a minha declaração mais famosa ao substituir o guitarrista Pat Smear, foi: 'Eu preciso atender a grandes expectativas'". Todos, inclusive Dave, riram. Parecia que Franz se ajustaria perfeitamente. 02 semanas de ensaios intensos depois, ele estava de volta a Los Angeles, tocando com a banda no anfiteatro Irvine Meadows, com capacidade para 16 mil pessoas e começou a entender toda a ampla dimensão do emprego que ele tão irrefletidamente aceitara. Percebeu ainda, quanto as coisas tinham mudado para Dave desde o tempo deles juntos no SCREAM.


"Há muitas variáveis e aspectos diferentes no todo. Quero dizer, obviamente, do Dave Grohl da capital Washington até o Dave Grohl do NIRVANA, há uma mudança enorme para a pessoa e toda a vida dela. A vida dele inteira era uma coisa completamente diferente... Eu também vim para a banda quando ela começou a decolar de verdade. Os shows estavam ficando maiores e não havia muito tempo para sermos amigos... Depois que entrei no grupo, eu estava sempre em um avião ou num ônibus e todo o meu tempo era basicamente trabalhando as músicas do álbum 'The Colour and The Shape', então, pareceu que por 01 ano inteiro estávamos em turnê".


Mas, enquanto Franz lutava para lidar com o seu status recente - "na minha cabeça, eu estava mais preocupado em tentar decorar as músicas do que, porra, em fazer um show para as pessoas" - a performance de Dave tinha atingido um nível totalmente inédito, em parte por ele tentar compensar a perda da ostentosa presença de palco de Pat, em parte pela própria altivez confiante como líder. Se a 1ª turnê mundial do FOO FIGHTERS consistiu no estabelecimento da banda como legítima representante musical por mérito próprio, a 2ª turnê do FOO FIGHTERS foi focada na projeção de Dave Grohl superstar.


Numa reverência ao seu passado glorioso, o novo show começaria com Dave na própria bateria dando o seu melhor, enquanto Taylor tentava acompanhar. Então, Dave pegava a guitarra e arrebentava na canção "This is a Call". Eram momentos insanos e cheios de energia. Ficar de pé perto dele, no lugar em que Pat costumava conjurar a própria aura, fez Franz, nos primeiros meses de turnê, parecer fraco, por fora e perdido. Embora não em certos programas de TV, mas claramente era a hora do show de Dave Grohl.


Dave ainda dava o seu melhor para enaltecer tudo sempre que era questionado sobre o cara novo. "O negócio com Franz é bem tranquilo", disse, entusiasmado à revista New Music Express. "Eu conheço esse cara desde que tinha 17 anos, então, é como ter o seu irmão ou irmã numa turnê", acrescentando: "O tempo em que estive no SCREAM foi o tempo em que aprendi a tocar guitarra e a compor. De uma forma estranha, Franz era o meu professor. Então, músicas como 'Monkey Wrench', 'Enough Space' ou 'Hey Johnny Park' (todas do 2º disco), parecem ter sido escritas por Franz de algum modo, porque a nossa maneira de tocar guitarra é muito parecida".


As coisas melhorariam para Franz - especialmente nos palcos menores, ainda mais naqueles estúdios de televisão nos quais a banda se encontraria ao longo de 1998. Às vezes, convencia Nate a mudar de lugar com ele, como se tentasse ter maior distância tanto física quanto mental de seu predecessor - mas ele admite agora que nunca se sentia bem à vontade: "Foi ótimo. Foi uma experiência incrível, mas na coisa toda do palco, eu ficava nervoso e na maior parte do tempo estava sempre tentando ser contratado. Mesmo que eu já estivesse na turnê, cada show era eu batalhando a contratação. Ao mesmo tempo, não queria errar, porque não queria desviar o olhar de Dave nem de nenhum dos outros caras. FOO FIGHTERS foi um turbilhão para mim. Constantemente em turnê, sem tempo pra isso, sem tempo pra aquilo. Era assim que funcionava. Num minuto, estou com a banda viajando pelo mundo tocando toda noite - no minuto seguinte, não estou".


Nada do que ele tinha feito antes o preparara para isso. Ao menos William e Nate, que também compartilhavam da sensação de estarem fora da zona de conforto na maior parte daquela 1ª turnê, tinham começado pequeno. Casas noturnas apertadas, horários alternativos, teatros e salões universitários modestos. Já Franz, que só tinha conhecido o fundo de uma van com o SCREAM, foi direto para uma turnê nas principais arenas dos EUA, depois na Europa, depois 01 semana no Japão, 02 semanas na Austrália, mais compromissos importantes na Nova Zelândia, aí de volta aos EUA, mais festivais de verão, mais rádio, televisão, imprensa, fotos, sempre sorrindo e sempre pra cima. Era tudo com que ele tinha sonhado e mesmo assim, nunca se sentiu tão sozinho.


"Acho que todo mundo tem isso, especialmente nesse nível", diz. "Você viaja constantemente e fica em quartos de hotel - quartos individuais. Todos os 20 anos que passei no SCREAM foram numa van. Nós dormíamos em prédios ocupados. Eu durmo com você. Eu saio para beber com você. Naquela bolha do FOO FIGHTERS, você nunca realmente saía com alguém, só naqueles momentos organizados, como: 'Ah, estamos na Austrália, vamos a uma fazenda de golfinhos nadar com os golfinhos'".


Seu verdadeiro amigo na turnê era Taylor: "Em muitas tardes, Taylor e eu saíamos para curtir, beber e passear. Eu passava mais tempo com Taylor do que com qualquer outra pessoa da banda. Não por culpa de ninguém, principalmente não de Dave. Sempre parecia que ele estava ocupado dando uma entrevista ou isso ou aquilo, porque ele constantemente era assediado por causa de toda a questão do NIRVANA. Ele não tinha uma porra de descanso e eu sentia pena. Eu me sentia feliz por não ser ele. Provavelmente, ele se divertia menos do que todos nós".


"Havia muita coisa acontecendo. É um nível bem diferente, mas eu não estava sozinho, estava mais isolado... Sabe, para tocar com alguém, você tem de estar com esse alguém, sair com esse alguém e aí acontece. Se não fizer isso, nunca acontece".


Desde que desse tudo certo quando a banda se encontrava no palco, a cada noite, tudo era factível, permitido e completo. O verdadeiro problema ocorreu quando o grupo voltou para casa no final da turnê e foi ensaiar e compor juntos pela 1ª vez.


"A gente se juntou para uma jam session em Washington", relembra Franz. "Para mim, foi meio... Eu não sei como os outros se sentiam, mas eu simplesmente estava exausto da turnê. Para mim, era uma coisa estranha, porque eu compus a maior parte do material do SCREAM e agora estava nessa banda em que Dave era meu chefe e só... Sabe, fiquei com medo de impor as minhas ideias, porque o show é de Dave, é o negócio dele, é o nome dele, é a banda dele e é a música dele... Eu sentia muito receio. Não tinha segurança nenhuma de como lidar com aquilo, nunca tinha nada sistemático porque morávamos em cidades diferentes e a gente não saía para curtir. Era: 'Ok, vamos nos reunir e ensaiar neste fim de semana'. Você viaja e tudo precisa acontecer neste fim de semana, porque depois você tem que ir embora. É uma coisa..."


Horrível. Somada à pressão, Dave também enfrentava uma espécie de crise. Morando em Los Angeles e nas suas próprias palavras, "bêbado, me fodendo toda noite e fazendo merdas horríveis", ele não estava em condição mental de se comprometer com os problemas de mais ninguém. Dave complementou: "Morar em Hollywood sempre pareceu uma transição para mim. Verdade seja dita, eu odiava aquele lugar, porra. Odiei a vida toda e odiei as pessoas que conheci lá".


Para complicar ainda mais, Gary Gersh também acabara de ser demitido da presidência da Capitol Records, após meses de atritos nos bastidores entre o executivo de 43 anos e seu novo chefe, o vice-presidente da EMI Records nos EUA, Roy Lott, que estava insatisfeito com a letárgica fatia do mercado doméstico sob comando de Gersh, que então flutuava em escassos 3%.


A boa notícia era que Gersh agora rumava para uma nova carreira em gerenciamento - em parceria com o empresário do FOO FIGHTERS, John Silva. No papel, isso potencialmente geraria grandes benefícios para Dave. Juntos, Gersh e Silva (ambos trabalhavam no NIRVANA) falavam em negociar um pacote de contratos novos, muito maior para o FOO FIGHTERS e para o selo de Dave, que finalmente conseguiu sair da Capitol para a RCA Records. Isso também representou uma nova jogada.


Gersh era a pessoa-chave na carreira de Dave em gravação de discos, tanto com o NIRVANA como com o FOO FIGHTERS, e se Dave tivesse mantido o FOO FIGHTERS na Capitol Records, o risco era de que, com a saída de Gersh, ninguém ligasse muito e a carreira de gravação da banda relativamente nova poderia definhar. Mas ir com Gary para a RCA também tinha riscos. A única maneira de assegurar que o FOO FIGHTERS fosse levado a sério na RCA, como Dave Grohl queria, era ter certeza absoluta de que o próximo disco fosse um sucesso tão certeiro quanto uma bola na cesta.


Subitamente, não se tratava de fazer uma declaração de intenções - como no 1º disco do FOO FIGHTERS - nem de uma confirmação de que a banda era mais do que um fenômeno de um sucesso só, como no 2º disco. O próximo 3º álbum precisava ser bem-sucedido pelos próprios méritos.


A novidade de ver o baterista do NIRVANA liderar a própria banda já tinha passado fazia tempo. Os efeitos colaterais das saídas de William e depois de Pat, já não eram uma questão. A única coisa que passou a importar: o quanto Dave realmente queria aquilo? Aquele status de megastar? Ah, ele ainda citava nomes de bandas como do BAD BRAINS nas entrevistas, ainda ficava na lengalenga sobre punk rock e por aí vai, mas o seu objetivo real era ser um imortal do rock e isso queria dizer mirar diretamente no mainstream, bem no alvo. E isso significava que não havia mais segundas chances. De repente, tudo estava pronto para ser agarrado.


Dave também tinha começado uma nova fase em sua vida particular: abandonava Los Angeles para comprar uma casa em Alexandria, Virginia, onde ele tinha estudado durante anos. Essa se tornaria o seu lar permanente e junto a isso, surgiu uma nova relação sólida com Melissa Auf Der Maur, então baixista do HOLE, de Courtney Love, que lançara o seu 1º disco a chegar à lista dos 10 mais vendidos nos EUA, "Celebrity Skin". Devido ao relacionamento cada vez mais tenso entre Dave e Courtney, o casal tentou esconder o caso pelo maior tempo possível, mas quando finalmente veio à tona, foi incontrolável. Com isso, Melissa deixou o HOLE em 1999, logo quando Dave finalizava o 3º álbum de estúdio do FOO FIGHTERS, "There is Nothing Left to Lose".


Não era uma época boa para o mais novo integrante do FOO FIGHTERS, Franz Stahl, se sentir inseguro sobre o seu papel naquele esquema, especialmente não quando se tratava de criar com um novo material viável em termos comerciais. "Foi um momento estranho para mim", admite Franz. "Da mesma forma, era um momento muito estranho para eles. Não fazia muito tempo que eles tinham arranjado um novo baterista, Taylor Hawkins, aí, perderam um guitarrista. Então, também não foi uma época fácil para eles". Não era surpresa que as ideias iniciais em que trabalharam fossem, tanto na visão de Dave como na de Franz, "de péssima qualidade".


Mas diferentemente de Dave, Franz não sabia como reagir. Não era mais decisão dele.


"Como eu disse, estava com medo de pressionar e de certo modo deixei Dave criar o material. Ainda por cima, tinha o fato de estar exausto das turnês e não saber qual era o meu lugar na banda. Eu queria só que Dave fizesse a coisa certa para não pensarem que tomaram a decisão errada. Eu só queria manter o meu emprego e por isso, concordei com tudo. Talvez, eu devesse ter sido um pouco mais... Qualquer coisa, mas a minha cabeça não estava boa naquela época. Dave colocou de lado toda aquela merda e depois compôs o disco seguinte".


Não foi legal.


"Eu estava numa situação insuportável e talvez, a infelicidade deles comigo fosse o fato de que na verdade eles estavam muito insatisfeitos com a música que tinham acabado de compor, porque eu também não gostei daquilo. Quero dizer, eu nunca disse isso, mas era desse jeito. Dave mudou um monte de merdas e tá bom, acontece. Aí, saímos da cidade... Nós íamos todos para casa pensar a respeito e voltar para tentar outra vez".


Praticamente, numa repetição do que tinha acontecido com William, a 1ª pista que Franz teve de que algo estava acontecendo, foi quando Dave parou de retornar as suas ligações: "Durante semanas, eu tentei pedir para Dave me mandar algumas fitas dos novos arranjos de tudo. Nunca recebia e comecei a imaginar o por quê".


Quando, semanas depois, eles se reuniram no novo estúdio - chamado 606, "porque parecia um número legal" - que Dave estava arrumando na casa que tinha comprado em Alexandria, Franz ficou horrorizado ao ver que ele tinha sido o único a não receber as novas fitas. "Voltamos depois daquele intervalo e eu não conhecia o material em que fizeram todas aquelas mudanças. Eu parecia um completo idiota, porra! Eu disse: 'Cara, eu fiquei falando para me mandar essa merda. Por que você não me mandou isso?'"


Franz já tinha voltado para casa em Los Angeles com a esposa quando recebeu uma ligação que partiu o coração dele. Diferentemente da ligação em que Dave o convidava para entrar na banda, desta vez o vocalista não era o único na linha. "Recebi a porra de uma chamada em conferência, cara. Era a banda toda! E, você sabe, quando não é pessoalmente, para mim é meio suspeito. Se você não pode chegar e falar comigo na cara, não há validade nos seus argumentos e tal. Eles não podem me encarar frente a frente, então, obviamente eles não estão... As convicções deles não são tão fortes. Há algo além forçando toda esta situação".


Ele se detém, ainda perdido. Dave falou a maior parte do tempo ou os outros dois? "Porra, eu nem lembro. Você pode imaginar como eu me senti. Eu realmente não acreditava no que estava acontecendo. Foi, tipo: 'Tá bom, tá bom, falo com vocês depois'. Eu disse: 'Eu vou aparecer aí'. Eles não acreditaram em mim. Achavam que eu só iria embora e estava terminado. Eu lembro de sair do telefone e ir para o meu quarto falar com a minha esposa e contar: 'Você não vai acreditar no que acabou de acontecer'. Eu estava perplexo. Não conseguia entender aquilo. Não conseguia nem comentar nada sobre aquilo. Eu não sabia o que fazer, estava chocado".


"Por fim, falei: 'Foda-se isso tudo, eu vou lá. Quero saber por quê'. Ninguém conseguia entender por que isso tinha acontecido, tipo, que porra foi essa? Não era por causa da minha personalidade. Eu não tinha problema com drogas. Eu era completamente, sabe, o empregado perfeito".


Ele sorri, constrangido: "Eu peguei um avião até lá e eles estavam sentados fazendo uma jam session como se nada tivesse acontecido. Porra, eu bati na porta e eles abriram, e nem podiam acreditar que eu tinha viajado até lá. Estavam chocados! Isso foi num tempo em que os caras da banda eram um monte de meninos, porra, que na verdade nunca tinham aprendido a se comunicarem direito. Eram péssimos em se comunicar, eu diria".


"Então, eu basicamente entrei lá e caí em prantos. Com isso, Nate falou alguma merda tão idiota que eu não podia acreditar. Assim como, que porra você está falando? De qualquer modo, foi um momento muito estranho e eu não atribuo toda a responsabilidade a eles. Quero dizer, sim e não. Eles também foram um reflexo de toda a situação".


Pausa...


"Taylor, com quem eu realmente tinha um relacionamento... Eu consegui ver a mentira porque percebi nele. E que ele realmente queria dizer algo a meu favor, mas não podia porque também era o cara novo. Não só era o cara novo, era o baterista abaixo daquele baterista fora do comum que era o chefe! Então, ele não ia dizer nada. É o emprego dele também e isso também me incomodava, porque eu podia perceber isso".


"O que realmente me arrasou na história toda foi: se você está com problemas, imaginários ou não, então, vamos sair, vamos conversar e você vai entender tudo - ou não - e pronto. Isso nunca aconteceu! E eu atribuo toda essa engrenagem a Dave, que estava por trás, sabe? É só cortar a cabeça da serpente e seguir em frente. Quando para mim é um apego afetivo muito maior, porque somos irmãos e porque somos da mesma cidade. Trata-se de se comunicar um com o outro. Porra, isso nunca aconteceu".


Outra longa pausa enquanto ele organizava os seus pensamentos. "Então, de toda forma, eu estava, tipo, cheio dessa merda, eu estou fora. Sabe, tem um grande amigo meu em Washington, Joey Picuri, um ótimo técnico de som. Trabalhou para a banda FUGAZI e agora trabalha para Frank Sinatra Jr., velho amigo... Foi um dos primeiros caras a me ligar. Ele me disse: 'Parceiro, a moral da história é: se eles não te querem de volta, então, por que você quer ser parte disso de qualquer jeito?' Eu respondi: 'Você está certo'".


Anos depois, Dave descreveria esse período turbulento da história do FOO FIGHTERS como "dores de crescimento expostas ao olhar público", acrescentando que todas as bandas passam pela mesma merda. O que é verdade até certo ponto, em sentido mais amplo, o fato é que o FOO FIGHTERS estava sempre sob os holofotes e Dave tinha a reputação de sempre lidar bem com qualquer situação, mas de fato, lidou mal com William e Franz.


Como Paul Brannigan aponta (editor da revista Kerrang): "Você precisa ter nervos de aço para fazer o que Dave fez. Ele pode ser muito cruel ao tomar decisões no interesse da banda ou, de fato, em seu próprio interesse. O caso de Franz foi provavelmente mais um exemplo de algo que não estava funcionando e Dave tomou uma medida para corrigir aquilo. Se tratava de alguém com quem ele tinha crescido, mas na hora da verdade..."


Como diz Brannigan, FOO FIGHTERS sempre fora "basicamente a banda de Dave. Há certo grau de colaboração, mas ele sempre diz que 'é a minha banda', e é dessa forma que funciona, de fato. Eu acho que faz parte do crescimento. Depois do álbum 'The Colour and The Shape', Dave se tornou um astro do rock bem-sucedido por mérito próprio. Agora não há questionamento a respeito disso. Ele está na capa das revistas e mora na California. Vive o sonho, de verdade. Então, quando chegou o momento de gravar o 3º disco do FOO FIGHTERS, ele já tinha se divorciado, já estava morando em Los Angeles e toda a vida dele estava mudando. Acho que naquele ponto, ele não tinha tanto do que se queixar".


Então, Dave não era um cara tão legal... Certamente, pode ter sido a conclusão que Nate chegou quando virou o próximo membro da banda a cair fora.


Dave estava deitado na casa da mãe em Springfield, no mês de janeiro de 1999, quando recebeu uma ligação de Nate dizendo que também ia embora. Dave ficou decepcionado, nervoso e quase sem ação - lívido.


Disse a Nate que contasse a Taylor sozinho, porque Dave iria sair para ficar bêbado. Dave e seu amigo Jimmy, levaram um carro alugado para o bar mais próximo e fizeram besteiras memoráveis. Depois, tiraram racha nos gramados da vizinhança, jogaram tijolos nas janelas e as despedaçaram em cacos.


Assim que desligou o telefone, depois de falar com Dave, Nate soube que cometera o maior erro da sua vida. Na manhã seguinte, ligou para Dave de novo e implorou pelo seu lugar de volta. Eram 06:00hs da manhã e Dave ainda estava bêbado. Nate estava transtornado, às lágrimas. Dave disse sim, ok, e depois foi vomitar. Segundo relatos, ele nunca perdoou Nate.


Ainda que de um modo estranho isso o tenha deixado livre para tomar sozinho as decisões necessárias no futuro, sem ter mais nem um pouco de culpa. Qual era o sentido de se preocupar com pessoas que podiam dar o fora sem nenhum aviso, esperando que você juntasse os cacos? Foda-se, porra. Dave jamais cometeria esse erro outra vez. Os 03 da banda original tinham caído fora, por uma razão ou outra.


Mais cedo ou mais tarde, 02 membros voltariam implorando (Nate aqui e Pat Smear mais tarde), mas desta vez aceitariam totalmente as condições de Dave.

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Confira algumas performances do FOO FIGHTERS deste período com Franz Stahl na guitarra, assim como o único videoclipe com a participação de Stahl - com exceção da última música, todas as canções foram lançadas no 2º álbum de estúdio do FOO FIGHTERS:

"My Hero"

"Everlong"

"Alone and Easy Target" (1º disco, "Foo Fighters", 1995)

Confira a 1ª e 2ª parte desta matéria:

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