Kurt Cobain: "esta foto com as bonecas era para ser surreal e ele entendeu", diz fotógrafo
(Fotógrafo: Mark Seliger, tirada em outubro de 1993)
"As coisas estavam indo muito bem para ele, mas 06 meses depois fiquei chocado ao saber que ele tinha falecido".
O fotógrafo Mark Seliger foi recentemente entrevistado pelo jornal britânico The Guardian e contou a sua experiência ao fotografar Kurt Cobain e o NIRVANA. Confira:
"Fotografei o NIRVANA pela primeira vez em 1992 para a revista Rolling Stone no meio da turnê mundial da banda para o disco 'Nevermind', o álbum inovador deles. Kurt Cobain tinha uma certa reputação e um dia antes da sessão de fotos, perguntei a Dave Grohl (baterista) e Krist Novoselic (baixista) se eles teriam a gentileza de pedir a Kurt que usasse uma camisa sem nomes ou slogans".
"No dia seguinte, os caras chegaram rindo para a sessão... Kurt estava de óculos escuros vestido com um suéter todo abotoado. Quando ele o abriu, vimos que ele estava vestido com uma camisa e a legenda: 'Revistas corporativas ainda são uma droga'. Felizmente, a revista Rolling Stone viu o humor nele e o publicou mesmo assim na capa".
"Esta foto com as bonecas surgiu em outubro de 1993, quando a banda estava em turnê pelos EUA após o lançamento do álbum 'In Utero'. Kurt lembrou-se de mim de quando tínhamos feito àquelas sessões de fotos para a revista Rolling Stone e acho que ele ficou agradecido por não termos tentado interferir. Esta sessão de fotos com as bonecas ocorreram na cidade de Kalamazoo, no Estado do Michigan. Foi uma sessão bem tranquila, porque já tínhamos esse vínculo".
"A minha irmã me ajudou a encomendar as cabeças das bonecas de New York e as colocamos em um altar com roseiras que eu peguei de uma florista e que deixei murchar. A imagem pretendia ser surreal - mais uma natureza morta do que um retrato - e Kurt entendeu e a banda estava realmente entusiasmada com o conceito".
"Eu tentei variações com toda a banda, mas nada funcionou tão bem quanto esta foto de Kurt sozinho com as bonecas. Havia algo nele que reunia a imagem como um todo. Havia tanta intensidade em seus olhos e a beleza em seu rosto, mesmo com o desgaste da turnê e a dor física pela qual ele passara (problemas estomacais)".
"Uma ótima fotografia não é sobre iluminação ou coisas técnicas, trata-se de como envolver o sujeito. Tirar uma foto não é necessariamente fácil e de muitas maneiras é muito natural sentar na frente da câmera, mas você precisa que a pessoa confie em você, o que é, francamente, uma experiência bastante estranha. Essa conexão é essencial para o nosso trabalho".
"Kurt estava quieto, mas as coisas pareciam estar indo muito bem para ele na época. Ele tinha a sua filha com ele e a turnê estava em pleno vigor, mas 06 meses depois fiquei chocado ao saber que ele tinha falecido. Eu não conseguia entender e não acho que essa imagem precise ser vista como um pressentimento. Se há algo, há algo que afirma a vida sobre onde ele está e mesmo que o enquadramento seja estranho, é esmagadoramente sobre a beleza dele como homem. Só o fotografei 02 vezes, mas sempre o achei generoso e gentil".
"Tirar fotos do NIRVANA me ensinou que, às vezes, é melhor permitir que o artista direcione para onde ele quer ir... Não precisa ser o fotógrafo a dizer e eu acho que destilou o que esse trabalho é para mim: tentar interpretar o mais próximo possível de quem é o meu sujeito e ao mesmo tempo permanecer fiel ao meu ponto de vista. Casar com essas duas coisas é sempre o ponto de partida".
"NIRVANA mudou a música moderna. Essas transições não acontecem com muita frequência e eles foram tão importantes quanto qualquer músico do século passado. Mesmo agora, quando eu tiver uma conversa com um jovem que não estava vivo durante os anos de estrelato do NIRVANA, eles conhecerão a banda e várias imagens deles. É como os ROLLING STONES, BEATLES ou Elvis Presley, são marcos na cultura".
O site rockinthehead já tinha publicado outra recente entrevista do fotógrafo Mark Seliger, onde ele também comentou sobre Kurt Cobain. Confira: