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by Brunelson

Stone Temple Pilots: baixista e guitarrista dissecam a gravação do disco "Perdida"


Stone Temple Pilots

Dean e Robert DeLeo, ambos membros fundadores do STONE TEMPLE PILOTS, revelaram em recente entrevista para a revista Guitar World, como e por que somente agora gravaram o 1º álbum acústico da banda, "Perdida" (8º disco, 2020).


Os irmãos se aprofundam na diversificada instrumentação do álbum e explicam por que a escrita musical se desenrola emocionalmente e não musicalmente.


Mas antes, na origem das coisas, esta ordem se inverte...


"Para mim, todas as músicas começam com um som", diz o baixista Robert DeLeo. "Mesmo voltando ao passado, seja tocando as canções 'Plush' ou 'Interstate Love Song', sempre compus sobre a acústica e foi aí que tudo começou".


O guitarrista Dean DeLeo concorda: "Você provavelmente não acreditaria em mim, mas eu compus a música 'Meatplow' no violão", diz ele, se referindo a canção que abre o álbum excessivamente sujo no bom sentido de 1994, "Purple" (2º disco).


Dean continuou: "Seria a última música do mundo que você pensaria ter começado dessa maneira, mas eu estava sentado lá e senti essa pequena coisa tomar conta de mim, peguei o violão mais próximo e saí com aquele riff".


Robert pega o fio: “Depois que uma música é escrita, você decide se deve mantê-la nesse estado acústico ou eletrizá-la - e às vezes o resultado é uma música pesada”.


"Meatplow"

Mas agora, Robert se refere ao álbum mais novo da banda, "Perdida": "Acho que o sentimento era manter tudo nesse tipo de modo acústico original, sabe?"


Dito isto, o disco "Perdida" realmente encontra o STONE TEMPLE PILOTS - que além dos irmãos DeLeo inclui o baterista também membro fundador, Eric Kretz, e o 3º vocalista a passar pela banda, Jeff Gutt, que se juntou à eles extra-oficialmente em novembro de 2016 - apresentando o seu novo material "no modo acústico, são demos esqueléticas", segundo Robert.


As 10 canções do álbum são algumas das músicas mais complexas e melodicamente mais lindas da banda até o momento, construídas em camadas acústicas com violões de cordas de aço e nylon, arrancadas e escolhidas em uma variedade de afinações para depois serem equipadas com guitarra elétrica, slide e instrumentos de percussão.


A partir daí, as músicas utilizam de tudo, desde vocais femininos de apoio e teclados antigos, até flauta ("I Didn't Know The Time"), saxofone ("Years") e violinos, violas e violoncelos ("Perdida") - sem mencionar os instrumentos de cordas atípicos como o guitarrón ("Miles Away") e marxophone ("She's My Queen").


"She's My Queen"

E o que está por trás dessa exploração instrumental?


"Assim como temos um grande amor pelas composições, acho que há um grande amor pelo artesanato dos instrumentos", diz Robert, que toca as partes de guitarrón e marxophone no disco. "Os instrumentos do passado são realmente atraentes para mim e há algo neles que me faz querer fazer música. Eles me fazem querer me expressar".


Além disso, acrescenta Dean: "Não há muitos lugares onde você pode usar o marxophone, então, quando você tem a oportunidade de encaixa-lo, você só pensa: 'Vamos usá-lo!'"


Ele ri e depois continua. "Mas na verdade, o que há com essa banda é que há um esforço concentrado para manter sempre novas cores chegando e esse álbum é exatamente isso que está em nossas mentes e em nossos corações no momento".


Confira a entrevista completa dos irmãos DeLeo para a revista Guitar World:



Jornalista: Isso pode parecer uma pergunta óbvia, mas por que fazer um álbum acústico agora?


Dean DeLeo: Acabamos de sair de um longo ano de turnê e honestamente serei o primeiro a dizer isso: estávamos cansados de guitarras altas, cara! Mas sério, eu não sei se realmente tem uma resposta para isso.


Dean: É apenas algo que estamos querendo fazer há muito, muito tempo... Há muitos anos. Então, eu diria que o tempo ditou e pareceu a coisa natural a se fazer. Sempre foi divertido para nós explorar este lado do nosso som.



Jornalista: Há algo na sua música que realmente se presta a um formato acústico...


Robert DeLeo: Eu acho que tem a ver com o tempo em que crescemos. Ter 05 ou 06 anos de idade no auge da era dos cantores e compositores no início dos anos 70, quero dizer, me sinto muito feliz por ter crescido nessas músicas e artistas, tipo, é o leite que estava na garrafa musical para mim quando cresci mamando a garrafa.


Robert: E ainda mantenho essa música muito bem em mim, sabe? Ainda gosto de ouvir cantores como Burt Bacharach e todos aqueles artistas que eram realmente sérios sobre arranjos, composições e estavam realmente tentando elevar o seu ofício para outros degraus. Foi um momento bonito, cara... O 1º show que eu vi foi do CARPENTERS quando eu tinha 05 anos e ainda amo o CARPENTERS.


Dean: Desafio qualquer pessoa a voltar ao passado e olhar os 10 melhores álbuns da Billboard nos anos 60 e 70, em oposição a estes últimos 10 anos que passamos. Você terá Carole King, ROLLING STONES, Al Green, tipo, coisas reais, você sabe o que eu quero dizer? Ainda ouço coisas como os primeiros discos de Cat Stevens, Crosby, Stills & Nash, Neil Young e ainda não consigo acreditar no que estou ouvindo nos alto-falantes.


Dean: E eu ouvia todas essas coisas em primeira mão quando menino. Você ligava a rádio e ouvia a música "Heart of Gold" de Neil Young, e então, começava a canção "Goodbye Yellow Brick Road" de Elton John... Quero dizer, isso é alucinante, sabia? Então, toda essa música era bastante impactante.



Jornalista: Como você compôs e organizou essas novas músicas do STONE TEMPLE PILOTS?


Dean: Robert e eu chegamos com as nossas músicas muito bem concluídas. Nas coisas que eu compus, estava apenas sentado com Jeff e tocando violão, apenas tocando, sabe? Jeff meio que cantarolava junto e eventualmente a melodia continuaria e ele usaria algo em questão de minutos.


Dean: Jeff é extraordinário assim, mas em geral, acho que você não deve dedicar muito tempo a uma música. Se isso não acontecer em questão de minutos, você precisará seguir em frente.


Robert: Para mim, a partir desse momento o desenrolar de uma nova canção não é guiada pelo musical, mas pelo emocional. As minhas emoções meio que me guiam para onde eu quero que essa peça da música vá e então, eu vou me sentar e começar a colocar os meus dedos em lugares e de maneiras diferentes, e pensar em como eu quero retratá-los e expressa-los ritmicamente.


Robert: Quando os acordes entram em cena, é quando uma melodia surge. E eu acho que com esse álbum, as músicas que nós contribuímos, tipo, houve algumas coisas emocionais pesadas que Dean e eu estávamos tentando expressar musicalmente e era apenas uma questão de respeitar o espaço um do outro.



Jornalista: Essas coisas pesadas mais a sensação sombria das músicas, combinada com o título do disco - que é em espanhol, mas sabemos o significado do verbo - pode levar as pessoas a tentar conectar esse álbum a algumas das perdas públicas que o STONE TEMPLE PILOTS passou na carreira e experimentou ao longo dos anos, especificamente a morte dos seus 02 vocalistas anteriores, Scott Weiland e Chester Bennington. Seria justo dizer isso?


Dean: Bom, vamos deixar o ouvinte pensar no que eles quiserem...


Robert: Você sabe, eu não vou excluir isso, mas também é muito mais pessoal para mim. Eu não quero falar por Dean, mas para mim este é um disco muito, muito pessoal sobre as minhas experiências, decisões e escolhas, exatamente o que tem acontecido na minha vida nos últimos anos.


Robert: É algo que precisava ser feito, algo que eu precisava divulgar e expressar e você sabe, eu ainda estou compondo músicas nesse tipo de formato, mesmo agora que o disco já está lançado.



Jornalista: Quais foram os seus principais instrumentos no disco?


Dean: Meu Deus, trouxemos um monte de coisas... Eu tinha alguns violões Martins anteriores à guerra mundial e um J-50 (Gibson) de 1950. Eu tinha um monte de coisas malucas, guitarras da Kay, uma linda Guild de 12 cordas, bandolins...


Dean: O meu amigo Bruce Nelson construiu uma Stratocaster que é simplesmente maravilhosa e essa guitarra aparece no solo da canção "Three Wishes" e no outro solo da música "You Found Yourself While Losing Your Heart".


Dean: Então, eu também tinha as minhas guitarras Frankenstein pelas quais não paguei nada, tipo, uma tem o corpo de uma Danelectro Teardrop com um braço fabricado de forma caseira. São guitarras baratas, de sucata e quase limítrofes.


Dean: E eu vou lhe dizer, cara, eu comprei essas coisas, sei lá, uns 20 anos atrás, pensando que um dia eu iria usá-las porque elas têm um som muito, muito, mas muito único. A Danelectro Teardrop, acredito, faz dobrar o violino na música "Miles Away" e foi o som perfeito para aquele momento. Essas coisas estão guardadas há 20 anos no meu depósito, cara!


Robert: Quando toquei com o violão, toquei o J-50 de Dean e também o Gibson J-45 de 1954. Depois, tive um Martin 00-17 de 1953 todo em mogno e um 00-18C de 1961 que é um clássico Martin. Tem uma corda de nylon de ótima sonoridade e é isso que você ouve na canção "Perdida". Eu também toquei com violão de corda de nylon de 3/4 na música "Years".



Jornalista: Você tocou guitarrón também. Como isso aconteceu?


Robert: Em algumas dessas músicas eu estava ouvindo um baixo acústico na minha mente, mas não conseguia tocar nenhuma do jeito que imaginava. Então, um dia, planejei uma "excursão" para ir a um local realmente interessante, o Folk Music Center, que fica numa linda e pequena cidade aqui na California, chamada Claremont, sendo que esta loja foi fundada pelo avô de Ben Harper.


Robert: É uma loja bonita, quase como um museu meio varejo. Eu estava interessado em tentar encontrar um guitarrón, sabe? Ele tem 08 cordas e possui um som bem característico, mas eu realmente ainda não sabia o que iria fazer com ele. A loja tinha um lá para vender que era usado e tinha sido convertido em 04 cordas e eu fiquei, tipo: "Isso é perfeito!"


Robert: Eu usei em 03 músicas do disco - "Perdida", "She's My Queen" e "Miles Away". E depois toquei com o marxophone, que parece uma combinação de uma harpa com um dulcimer martelando... Cara, é o instrumento mais legal de todos e você sabe, ainda tocamos com bandolins e todas essas coisas diferentes. Dean e eu meio que juntamos todas as nossas coisas e parecia uma loja de guitarras, violões e instrumentos vintage no estúdio!



Jornalista: Para finalizar, além da consideração que foi aplicada à instrumentação, há claramente muita consideração dada aos arranjos e estruturas de acordes nessas músicas.


Dean: O arranjo é uma parte muito importante do quebra-cabeça, certo? E é realmente fácil se envolver em composições naquele estilo de verso x refrão x verso x refrão x ponte ou solo x refrão, não é? Então, a gente procura ficar consciente em não compor desse jeito... Ou, ouvi de algumas bandas que eles gostam de tocar somente na afinação em "D", por exemplo, e cada música é tocada em "D".


Dean: Mas felizmente para nós, a variedade de Jeff nos vocais é diversa, para que possamos compor em muitas teclas diferentes. Eu acho que foi algo que prestamos atenção neste álbum, tipo, encontrar uma afinação de guitarra confortável e houve um esforço conjunto para realmente pensar sobre essas coisas.


Dean: E no que diz respeito aos acordes, uma coisa que sempre me atraiu é pegar acordes ou vozes não convencionais e implementá-los de uma maneira que eles normalmente não seriam apresentados. Quero dizer, veja, é tudo sobre apresentação, certo? Veja a canção "Plush", ela poderia ter sido gravada só com um violão de cordas de nylon, sabe? É tudo sobre como você a apresenta.


"Plush" (1º disco, "Core", 1992)

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