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by Brunelson

Mark Lanegan: "Kurt Cobain queria alcançar a grandeza e conseguiu, mas ultrapassou os limites&q


Screaming Trees

O fato de Mark Lanegan estar vivo é uma surpresa, seja para ele tanto quanto para qualquer outra pessoa.


Os seus dias autodestrutivos ficaram para trás, mas por anos parecia que seríamos roubados de uma das vozes mais destacadas de sua geração.


Mark Lanegan chegou aos 50 anos, evitando principalmente o passado. Na verdade, a última década foi a mais prolífica de sua longa carreira, tendo lançado 06 álbuns com a sua banda solo e uma pilha estonteante de colaborações ao longo das décadas, como por exemplo, QUEENS OF THE STONE AGE e MAD SEASON.


E para 2020, Lanegan finalmente decidiu enfrentar alguns fantasmas enterrados...


Mais conhecido como vocalista de uma das bandas seminais do grunge, SCREAMING TREES, Lanegan lançou simultaneamente o intensamente disco autobiográfico, "Straight Songs of Sorrow", o seu 12º álbum solo, e publicou as suas memórias notavelmente sinceras no livro "Sing Backwards and Weep".


“Eu realmente não esperava encontrar o que estava lá na minha memória, porque era uma época e um lugar que eu fiz de tudo para esquecer”, Lanegan falou para a revista Classic Rock, sentado em sua casa na California. “Foi um período extremamente sombrio e infeliz para revisitar”.


O livro traça a história de Lanegan desde a delinquência juvenil na zona rural do estado de Washington, até a sua época como vocalista da banda de Seattle, SCREAMING TREES, um grupo rabugento que se tornou conhecido por brigas internas, drogas e embriaguez - tanto quanto por sua música.


Está tudo relacionado em detalhes debochados e arregalados no livro, onde Lanegan escreve sobre ser viciado em heroína, bebida e pequenos furtos quando era um adolescente caipira, sendo libertado da prisão apenas pela boa vontade do juiz local. Ele era tão autodestrutivo que esperava morrer a qualquer momento e o seu tempo no SCREAMING TREES não era mais feliz.


No final das contas, o livro "Sing Backwards and Weep" é sobre salvação e camaradagem. Lanegan ainda está aqui para contar a sua história, ao contrário de alguns dos amigos próximos que compartilharam a sua jornada nos anos 90, como Kurt Cobain e Layne Staley.


Suas memórias também estão gravadas profundamente nas dobras do novo álbum, ao lado de outros episódios e personagens da turbulenta vida antiga de Lanegan. Enquanto ele se pergunta em voz alta em seu sotaque sonoro na canção "Skeleton Key" - um dos destaques do novo álbum - cantando: "Passei a minha vida tentando de todas as maneiras morrer / É meu destino ser o último sobrevivente?"


As músicas do álbum foram escritas imediatamente após a conclusão do livro e tiradas do mesmo poço de experiência conturbada. “Eu passava 14 horas por dia e percebia que não havia saído da cadeira”, disse Lanegan sobre a escrita do livro. “Fiz tudo menos pegar uma agulha e um cachimbo. Havia muitas memórias para escolher e abrange um período de 10 anos e, francamente, as coisas aconteciam todos os dias. O tipo de coisas pelas quais a maioria das pessoas só passa, talvez, uma vez na vida. Então, eu tive que ter cuidado”.


Ele continuou: “Até agora, eu nunca tinha falado sobre esse período da minha vida, porque eu só queria continuar fazendo música, sabe? Eu não queria ser considerado o cantor grunge viciado que nunca fez outra coisa de diferente... Foi assim que eu fui marcado muitas vezes depois e o fato de ter feito algum tipo de carreira é um milagre em si".


“Contar a minha história foi algo em que tive que pensar muito, muito... Porque os meus amigos eram pessoas muito famosas”, continua ele. “Eu tive que incluí-los porque eu passava todo o meu tempo com eles, mas eu não queria que isso acabasse como uma biografia de rock de merda e reveladora, sabe? Nunca senti ciúme ou usei o sucesso de alguém como parâmetro para o meu. O sucesso que os meus amigos tiveram foi tão fenomenalmente grande que estava fora do reino, especialmente porque todos nós surgimos da mesma maneira. Você encontra alguns caras que gostam do mesmo tipo de música, você ensaia no quarto ou na garagem de alguém, então, se você tem sorte, você grava um disco. SCREAMING TREES teve sorte o suficiente para gravar álbuns terríveis”.


Lanegan está se vendendo aqui.


SCREAMING TREES deixou para trás mais do que a sua cota de música excelente. Psicodelia pesada e ganchos de rock de garagem transformaram o álbum "Sweet Oblivion" (6º disco, 1992) em um clássico da cena, mostrando a banda brevemente ameaçando um grande avanço quando a canção "Nearly Lost You" apareceu na trilha sonora do filme "Singles - Vida de Solteiro" do diretor Cameron Crowe. O álbum final gravado com a banda completa no estúdio, "Dust" (7º disco, 1996), era algo de uma beleza sombria, incorporando texturas escuras de blues gótico e folk que se tornariam marcas registradas da futura produção solo de Lanegan.


Não é coincidência que o SCREAMING TREES atingiu totalmente o seu ritmo apenas na 2ª metade da carreira, quando Lanegan já estava querendo sair fora da banda por conta própria.


“O processo me fez querer forçar o meu caminho para a exclusividade no processo de composição, tipo, o disco 'Sweet Oblivion' tinha pertencido quase totalmente ao guitarrista Gary Lee Conner. Cantar as suas canções foi difícil para mim porque eu não tinha nenhuma conexão emocional com elas. O tempo todo, eu procurava qualquer desculpa para fazer as minhas próprias coisas”.


Formado em 1985 em sua cidade natal, Ellensburg (próxima a Seattle), SCREAMING TREES foi uma tábua de salvação para Lanegan. Os seus anos de pós-escola foram marcados por apagões de álcool, relacionamentos acabados e uma série de empregos ruins. Ele conhecia primeiro o irmão do guitarrista, Van Conner, que seria o futuro baixista e que apresentou Lanegan a Lee Conner, quando Lanegan foi contratado para trabalhar na locadora de vídeo do pai Conner. Depois de um disco de estreia no selo local, Velvetone Records, SCREAMING TREES foi contratado pela grande gravadora underground, SST Records.


“Assinar com a SST Records foi um grande negócio para nós, porque fomos a primeira banda do estado de Washington a fazer isso”, lembra Lanegan. “Eles também eram, de longe, o selo independente mais descolado dos EUA naquela época. Jamais esquecerei Greg Ginn (fundador da SST Records e guitarrista do BLACK FLAG) nos dizendo: 'Sim, temos o nosso próprio agente interno de reservas para fazer as turnês'. E eu ficava pensando: 'O que é um agente de reservas?'"


Se o SCREAMING TREES serviu para oferecer a Lanegan um futuro e uma saída da cidade de Ellensburg, também o colocou em contato com os seus novos colegas. Um dos primeiros fãs foi Kurt Cobain, se apresentando com a sua nova banda, NIRVANA, em junho de 1988.


“Um amigo meu me disse que eles estavam tocando na Biblioteca Pública de Ellensburg e que eu deveria ir junto com ele para vê-los”, lembra Lanegan. “Eu vi o NIRVANA fazendo a passagem de som naquela tarde e estava olhando para Krist Novoselic (baixista), e me lembro que gostaria de tê-lo na banda - pois o nosso baixista Van Conner havia saído temporariamente naqueles dias. Então, quando o show iniciou e imediatamente após eles começarem a tocar, percebi que estava testemunhando algo realmente especial. Era óbvio que esses caras foram construídos para algo muito maior do que eu jamais seria".


“Depois do show, Kurt veio ao estacionamento e me agradeceu por ter aparecido. Trocamos os nossos números de telefone e na verdade, eu agradeci a ele, porque na época eu estava numa depressão muito profunda e vê-los me deu uma sensação de empolgação e algo positivo em que pensar. Algumas semanas depois, Krist Novoselic me telefonou para saber se o SCREAMING TREES ainda precisava de um baixista, mas eu disse a Krist que ele iria querer ficar mesmo era no NIRVANA".


"Kurt sempre sabia o que estava fazendo. Ele queria alcançar a grandeza e não só ele conseguiu, mas também ultrapassou os limites”.


À medida que a vida no SCREAMING TREES se tornava cada vez mais insuportável e exagerada pela briga constante dos irmãos Conner, Lanegan mergulhou cada vez mais em seus vícios. Ele pensou em desistir muitas vezes. O único problema era que ele não poderia enfrentar a alternativa de voltar para a cidade de Ellensburg.


Os únicos fatores redentores eram a música e os amigos, uma combinação que muitas vezes andava de mãos dadas. Ele e Cobain costumavam ficar na cidade de Olympia (próxima a Seattle) ou na casa de Lanegan ouvindo discos: “Éramos ambos grandes fãs de blues antigos, especialmente do cantor Leadbelly”, explica ele. “Essa foi uma das coisas que nos uniu”.


Em algum momento de 1989, a dupla decidiu gravar um álbum de covers de Leadbelly. Um deles foi a música "Where Did You Sleep Last Night", uma versão da qual (com Cobain na guitarra e backing vocals) apareceu 01 ano depois na estreia solo de Lanegan, o disco "The Winding Sheet" (1990). E embora o próprio NIRVANA fizesse um cover desta canção no acústico da MTV em 1993, este álbum de covers nunca aconteceu.


“Gravamos umas 03 músicas num dia, mas acabou sendo um exercício bastante improdutivo”, lembra Lanegan. “Olhando para trás, foi principalmente por causa do respeito que Kurt e eu tínhamos um pelo outro. Ninguém queria agarrar as rédeas, porque cada um de nós tinha muito medo de pisar no calcanhar do outro. Levei muito tempo para perceber que foi isso o que aconteceu”.


Este projeto que nunca saiu do estúdio e ainda contava com Krist Novoselic no baixo e Mark Pickerel na bateria (1º baterista do SCREAMING TREES), se chamava THE JURY.


Quanto a outro grande amigo, Lanegan esbarrou em Layne Staley pela primeira vez do lado de fora de uma boca de fumo em Seattle, quando os dois estavam procurando heroína. Apesar dos seus problemas pessoais, o vocalista original do ALICE IN CHAINS, Layne Staley, rapidamente se tornou um companheiro querido e uma espécie de modelo para Lanegan.


“Layne era superinteligente, com um humor realmente estranho e elevado”, diz Lanegan. “Ele também via o mundo de uma maneira muito mais clara do que eu e era enorme em termos de realmente me ajudar a transformar esse lixo de trailer que eu era, em alguém que tinha alguma empatia pelas pessoas. Aprendi muito sobre o amor com ele... Layne foi um professor paciente e necessário para mim”.


Testemunhar o ALICE IN CHAINS de perto também foi uma epifania: “Nunca estive ao lado de um palco e vi alguém cantando tão forte que parecia que eu ia ter um ataque cardíaco. Layne era um cantor único e com um poder incrível, e ele e o guitarrista Jerry Cantrell eram compositores geniais. Pra mim, ALICE IN CHAINS foi a banda mais original de Seattle”.


O livro "Sing Backwards and Weep" termina com Lanegan recebendo a notícia da morte de Layne Staley por overdose de heroína (speedball) em 2002. Ele admitiu que esperava por isso há anos, mas mesmo assim foi um golpe devastador. Esta perda foi, segundo Lanegan: "Um vazio que senti todos os dias desde então". Lanegan havia prematuramente homenageado Layne Staley numa música solo em 1998.


A morte de Staley fecha as memórias de Lanegan com uma nota sombria.


Lanegan, no entanto, estava ocupado em se manter limpo das drogas. No final dos anos 90 e após anos de depravação - culminando num período em que abandonou a sua carreira musical e vivia nas ruas, financiando o seu vício em heroína por furtos em lojas - ele entrou em uma clínica de reabilitação na California.


Após sair da reabilitação, Lanegan estava trabalhando numa empresa de demolição em Los Angeles, quando Duff McKagan apareceu na porta da sua casa (baixista do VELVET REVOLVER).


“Eu estava morando numa casa, em algum lugar próximo da clínica de recuperação que estava”, diz Lanegan. “Duff veio me procurar porque eu era um cara de Seattle e ele era um fã. Ele é nativo de Seattle e estava em bandas punk antes de ir morar na California. ‘Amigo’ não é uma palavra forte o suficiente para classificar o que ele fez por mim”.


Outra ajuda veio de Josh Homme, que estava como 2º guitarrista nos últimos anos do SCREAMING TREES. Ele disse a Lanegan que estava começando uma nova banda, QUEENS OF THE STONE AGE, e perguntou se Lanegan gostaria de fazer parte dela. Lanegan só pôde fazer a sua estreia depois que saiu da reabilitação, gravando algumas músicas para o álbum "Rated R" (2º disco, 2000) e permaneceu com eles até 2005 - mas Lanegan ainda faz algumas participações em estúdio para a banda de Josh Homme.


Lanegan disse que está eternamente em dívida com todos eles.


“Eu estava recentemente conversando com a minha irmã e ela disse que estive cercado por anjos durante a minha vida inteira”, diz ele. “Como Duff e Josh, outros amigos também estiveram ao meu lado em alguns momentos da minha vida em que me coloquei em posições das quais uma pessoa não deveria sair. Eu pedi para esses caras me resgatarem e devo a todos a minha existência aqui neste planeta”.


Lanegan pode ter sido um dos pioneiros do grunge, mas ao contrário de muitos de seus colegas, ele não é definido pelo termo. Em vez disso, ele atingiu a maioridade, criando um catálogo de trabalho solo tão profundo quanto amplo, moldado por um passado turbulento que muitas vezes ameaçava envolvê-lo completamente. Essas desventuras da vida real, envoltas em redemoinhos narcóticos, levemente malévolos de blues, folk e rock, se tornaram marcas profundas em um dos maiores vocalistas de sua geração. Há uma ferida e qualidade comovente na entrega de Lanegan que traz peso emocional a tudo que ele canta.


O novo disco solo, "Straight Songs of Sorrow", é tão bom, se não melhor, do que qualquer coisa que ele já colocou em seu nome. É uma coleção de canções intensamente pessoais, às vezes sombria, em que Lanegan processa auto-aversão, dor, desespero e visões de morte, de uma forma que é, em última análise, esperançosa e redentora. Às vezes pode não ser a maneira mais fácil de ouvir, mas é totalmente atraente.


“As canções são sempre uma expressão de alegria para mim, por mais tristes que pareçam para as outras pessoas”, argumenta Lanegan. “Eu nem chamo isso de trabalho, porque escrever músicas é mais como um presente que eu posso aproveitar. Um presente que alguém me deu, embora eu não saiba de onde veio ou por quê”.


É difícil comparar a figura degenerada retratada do passado, ao seu modelo de vida hoje. Lanegan é caloroso e conversador, e considera cuidadosamente cada pergunta antes de responder com um tom baixo e suave. Ele também ri muito, embora seja uma risada baixa em vez de um rugido de barriga cheia.


Ele atribui a sua sobrevivência a ser abençoado com: “Uma tonelada de sorte, porque eu poderia facilmente estar morto ou cumprindo prisão perpétua, mas eu tinha muitas pessoas que se preocupavam comigo e também muita energia. A mesma coisa que me levou de forma tão maníaca às drogas, foi descrita para mim como um gene de sobrevivência. Quando estou fora das drogas - e já se passaram muitos anos desde que parei - ainda tenho força para trabalhar 16 ou 18 horas por dia, fazendo música e turnês o máximo possível. O meu conselheiro uma vez me disse que a palavra que eu deveria usar é ‘apaixonado’, mas eu disse a ele: ‘Paixão não é o suficiente para descrevê-la’. Tenho que ser obcecado para entrar na música que faço”.


E o que dizer do adolescente Mark Lanegan? O que o bandido sem lei pensaria do seu eu sóbrio e limpo de 55 anos?


“Ele ficaria surpreso por ter sobrevivido”, finaliza Lanegan, com uma risada irônica. “Ele pensaria: ‘Deus, em que tipo de maricas ele se transformou? O que aconteceu com você, cara? Eu viro as minhas costas por um minuto e você ficou assim!'”


Confira todas as outras matérias que o site rockinthehead publicou, referente ao lançamento do novo livro e álbum solo de Mark Lanegan:











E bem nas antiga, o site rockinthehead tinha publicado uma matéria especial sobre o SCREAMING TREES, saca só:


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