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by Brunelson

Alice in Chains: "sempre estivemos no volante, fosse bêbados conduzindo à vala ou para uma corrida"


ALICE IN CHAINS foi entrevistado recentemente pela Billboard e as lendas do rock compartilharam histórias do período frutífero e tumultuado que levou à gravação do clássico álbum grunge da banda, "Dirt" (3º trabalho de estúdio, 1992).





Com o disco completando 30 anos, é fácil ficar atolado na escuridão e no vício que foram uma das marcas que pontuaram o seu lançamento original em 29 de setembro de 1992. Foi a gravação de uma banda que também foi fundamental para colocar Seattle no mapa musical no início dos anos 90, especialmente quando você considera o quão significativo é o álbum "Dirt" para os membros da banda - no atual elenco, somente o guitarrista Jerry Cantrell e o baterista Sean Kinney participaram das gravações desse disco.

“Dois de nós não estão aqui”, afirmou Kinney, referindo-se ao vocalista Layne Staley (que faleceu em 2002) e ao baixista Mike Starr (que faleceu em 2011, mas que havia sido demitido do grupo em janeiro de 1993). “Essas coisas de 30 anos são muito boas, mas é agridoce. Essa é apenas a nossa realidade, quero dizer, é a realidade para todos. Todo mundo vai perder pessoas que amam na vida e as pessoas vão sentir a sua falta. É como as coisas são, voltando e tentando lembrar quando éramos jovens e tudo era vibrante e estranho”.

“Já se passaram 30 anos e ainda estamos falando de um disco que 04 pessoas do Noroeste dos EUA fizeram em 1992, e isso é muito legal”, falou Cantrell. “Como artista, esse é o objetivo final. Criar algo que dure e seja transmitido por gerações de ouvintes... Não é para todos, mas tem uma maneira de encontrar o seu povo”.

Quando se fala do álbum "Dirt" agora, é à luz das incríveis 13 músicas criadas nele, enquanto a banda vinha de uma quantidade hercúlea de turnês em apoio ao seu disco de estreia, "Facelift" (1990).

“Quando o álbum 'Facelift' foi lançado, já estávamos trabalhando nas músicas que iriam ser lançadas no disco 'Dirt'”, explicou Kinney. “As coisas estavam sendo escritas e estávamos em turnê do álbum 'Facelift', tocando diferentes versões de algumas dessas músicas ao vivo e trabalhando-as no que acabaram sendo o resultado final. Algumas foram escritas logo antes de gravarmos o disco 'Dirt', mas algumas já existiam naquela época porque quando o álbum 'Facelift' foi lançado, conseguimos um contrato de gravação para criarmos um lote de músicas novas”.

“As coisas realmente decolaram”, acrescentou Cantrell. “Tivemos uma turnê e campanha realmente bem-sucedidas para o disco 'Facelift', que provavelmente foram bons 18 meses de turnê e durante esse tempo eu estava sempre coletando novas ideias. Naquela época, eu tinha um pequeno gravador portátil ou um pequeno Tascam (gravador) de 04 canais em que você despejava as suas ideias neles. Houve também jams durante os ensaios, nos camarins e nas passagens de som. Quando terminamos essa turnê, eu tive muitas boas ideias e coletivamente como banda tivemos algumas coisas interessantes acontecendo”.

Com um estoque de conceitos, ALICE IN CHAINS foi para a Califórnia para começar a moldar as ideias de Cantrell em músicas totalmente idealizadas.

“Começamos na Califórnia e ainda tivemos que polir uma parte do material para ficar em forma”, disse Cantrell. “Primeiro, eu me lembro que fomos para um estúdio que era como um grande celeiro que ficava em Malibu. Pertencia a Mick Fleetwood, o que todos nós achamos muito legal, porque somos grandes fãs do FLEETWOOD MAC. Ficamos lá por umas 02 semanas e desenvolvemos algumas ideias. Uma música em particular, ‘Rain When I Die’, lembro que criamos ela naquela sala do estúdio”.

Talvez o aspecto mais angustiante na criação do álbum "Dirt" tenha ocorrido quando a banda depois levou o novo material para Los Angeles, onde se reuniram com o mesmo produtor do álbum "Facelift", Dave Jerden.

“Fizemos o nosso trabalho em Malibu e depois íamos nos mudar para um estúdio em Los Angeles”, explicou Cantrell. “Era um estúdio legal que Dave Jerden nos colocou. Nós nos instalamos e geralmente quando você começa a gravar um disco, você está apenas tocando sons e descobrindo o que funciona e o que não funciona, e geralmente leva alguns dias a 01 semana apenas para se acostumar, antes mesmo de começar a gravar pra valer. Estávamos passando por este processo e todos bem cientes de que a hora já estava chegando para começar a gravar... Bem nessa época estava rolando o processo de Rodney King que parou o país e tínhamos o sentimento de que, se aqueles caras fossem absolvidos, a cidade toda provavelmente reagiria a isso e com razão. Me lembro que estávamos vendo pela TV no estúdio quando o veredicto saiu e eles foram absolvidos e nós ficamos, tipo: 'Esta cidade vai explodir'. Foi assustador ver aquilo, mas estávamos em sintonia com a vibração de por que aquilo estava acontecendo e toda a reação das pessoas nas ruas".

“METALLICA tinha acabado de gravar o 'Black Album' nesse estúdio”, acrescentou Kinney em referência ao estúdio em Los Angeles. “Ninguém ouviu nada, mas eles estavam sempre naquele estúdio e fomos para o mesmo estúdio onde eles tinham gravado e Dave Jerden montou todos os nossos equipamentos lá".

E uma das músicas mais profundas e famosas do álbum "Dirt" é “Rooster”, que Cantrell escreveu para o seu pai veterano da Guerra do Vietnã e mostra o próprio crescimento do guitarrista como compositor, o que seria ainda mais evidenciado em futuras canções do ALICE IN CHAINS e trabalho solo.

“Os meus pais se divorciaram quando eu era muito jovem e eu era o mais velho de 03 irmãos”, Cantrell falou na entrevista sobre as raízes da música “Rooster”, que alcançou o 7º lugar no ranking da Billboard no início de 1993. "Eu não passava muito tempo com o meu pai durante a adolescência e cresci com a minha mãe na casa da minha avó, então, não éramos tão próximos e ele morava em outro Estado e eu só o via de vez em quando. Essa música foi uma maneira de eu chegar a um acordo com isso e talvez não julgá-lo, sabe? Eu estava tentando me colocar no lugar dele e talvez não julgá-lo tão duramente e tentar entender a sua experiência, o que acho que teve um grande efeito em sua vida e em nossa família, pensando agora em retrospecto”.

“Quando nos conhecemos, a mãe e a avó de Jerry haviam falecido cedo e em curta sucessão uma da outra, sendo que ele foi criado por elas e cresceu em torno delas”, lembrou Kinney. “Ele estava um pouco afastado do seu pai, então, ele estava passando por tudo isso e em algum lugar ao longo da linha ele começou a montar essa música, onde ele está tentando consertar o seu relacionamento ou se reconectar. Estando afastado dos membros da família, Layne e eu podíamos entender isso na época. Se tivéssemos sido egoístas e apenas querendo sucesso, poderíamos ter simplesmente esquecido esta canção, porque caras de 23 anos de idade não estão tão empolgados com uma gravação lenta de 06 minutos sobre o Vietnã, mas estávamos todos muito ligados à música e isso era importante para Jerry. Em retrospectiva, você nunca adivinharia que esta canção seria o que ela é hoje".

Voltando ao presente e nesse exato momento, ALICE IN CHAINS está em turnê pelos EUA marcando a volta à estrada desde a pandemia. Com o baixista de longa data na banda desde 1993, Mike Inez, e o vocalista/guitarrista, William DuVall, que trouxe o renascimento do grupo em 2005 e já tendo gravado 03 álbuns com a banda com 08 trabalhos de estúdio no total, espera-se que eles retornem novamente ao estúdio quando essa turnê terminar para dar seguimento ao disco indicado ao Grammy, "Rainier Fog" (8º trabalho de estúdio, 2018).


“A banda sempre teve as nossas próprias mãos ao volante, quer estivéssemos dirigindo bêbados e a conduzindo para a vala ou para a pista de corrida”, explicou Kinney. “Eram as nossas vidas e é o que nos importa. Não nos inscrevemos para ter sucessos de rádio e não fomos projetados para fazer essas coisas, sendo que de alguma forma conseguimos e acho que isso é uma das coisas que mais nos orgulhamos. Tínhamos acabado de construir o nosso próprio mundo e não éramos para todos, mas surpreendentemente muitas pessoas se conectaram a nós e fica cada vez mais aparente agora”.

“A impressão digital musical no disco 'Dirt' é bastante ousada e você pode dizer desde a 1ª nota que o álbum possui uma ferocidade real”, concluiu Cantrell. “É muito econômico e não tem gordura nenhuma no som. É tudo músculo, ossos e dentes. Há uma vibração nisso e estou feliz que conseguimos capturá-lo dessa forma, pois esse disco ainda importa para as pessoas”.


"Rooster"


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