by Brunelson
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Confira o relato surpreendente e selvagem do famoso jornalista inglês, Roger Bennett, feito recentemente para uma matéria da GQ Magazine, onde ele relata in loco como foi a fatídica e triste noite em Liverpool no dia 30 de maio de 1987, quando o BEASTIE BOYS visitou a cidade para realizar um show.
A banda estava em turnê do seu álbum de estreia, "Licensed to I'll" (1986), e a cidade de Liverpool receberia a última noite de show daquela turnê britânica.
Confira alguns trechos do seu depoimento:
Como adolescentes britânicos obcecados pela cultura break-boy americana, meus amigos e eu extraímos um senso de identidade e inspiração de sua música, mas quando a turnê do álbum "License to I'll" trouxe o BEASTIE BOYS para a nossa cidade, vimos um lado mais sombrio dos nossos heróis - e de nós mesmos.
Em uma tarde de maio de 1987, no final do meu último ano do ensino médio, o nosso professor de inglês estava no meio de uma interpretação de 01 hora da espiral descendente do Dr. Fausto, quando a porta foi aberta. O choque fez com que o Sr. Weakstone saltasse uns bons 05 centímetros da cadeira da escrivaninha, mas o meu amigo que abriu a porta tinha preocupações mais modernas do que a tragédia elisabetana.
Na verdade, ele tinha notícias surpreendentes para informar.
“BEASTIE BOYS está vindo para Liverpool!” ele gritou, perdendo todo o decoro na enormidade do momento. "Os malditos BEASTIE BOYS vão estar aqui! Fazendo um show e tudo mais, ao vivo e em pessoa!" Sentado na minha carteira, segurei a cabeça em minhas mãos e incapaz de processar a notícia.
Era verdade! Os meus heróis atuais, BEASTIE BOYS, estariam de fato chegando a Liverpool na última noite da perna britânica de sua turnê do disco de estreia, "Licensed to I'll". Me lembro que a música "No Sleep Till Brooklyn" era tocada com muita frequência na jukebox do pub Rose of Mossley, que era o mais próximo da nossa escola.
O controle do BEASTIE BOYS sobre a nossa imaginação era enorme - e não estávamos sozinhos. No momento em que a turnê britânica em 08 cidades começou, a mídia inglesa tinha entrado em um frenesi com a banda sobre as suas brincadeiras e seu comportamento obsceno. Os jornalistas se divertiam com cada detalhe do cenário de palco do trio, que apresentava latas gigantes de cerveja Budweiser e dançarinas mal vestidas se arrastando em gaiolas no palco.
Enquanto o circo rugia pela Inglaterra, de Londres a Birmingham e Manchester, a imprensa espumava pela boca com a corrupção moral que esses horríveis americanos estavam vomitando. Cada artigo foi elaborado com perícia para fazer leitores como o meu pai, que queria ficar enojado, fervilhar enquanto esses destruidores aviltados continuavam avançando de cidade em cidade.
Em meio a conversas nos tabloides sobre proibições de shows e ações judiciais, Mike D (vocalista/baterista) havia dito numa entrevista na época: "Estamos seguindo a teoria da blitzkrieg nessa turnê: acerte com força, acerte rápido, saia de lá rapidamente e deixe um impacto duradouro".
Tamanha era a obsessão que os meus amigos e eu compartilhávamos, que iríamos formar o nosso próprio grupo ao estilo do BEASTIE BOYS.
Na verdade, eu estava tão ansioso para ter a minha moral rebaixada, que matei 01 dia inteiro de aula com o resto dos meus amigos para comprar os ingressos no momento em que fossem colocados à venda nas bilheterias. Nós ficamos na fila na antiga sala de concertos, o Royal Court Theatre, enfrentando a fria manhã de Liverpool.
Havia muitos aspectos de sua abordagem com os quais me sentia conectado: a amizade deles, como 03 jovens da cidade de New York que se conheceram na adolescência em clubes de shows, era o tipo de camaradagem correligionária que eu ansiava. A elasticidade do seu humor também era atraente, participando da piada, sendo a piada e ricocheteando entre bombástico e auto depreciação em apenas algumas linhas. Na verdade, toda a sua atitude em relação à música, juntando um som característico forjado de sua escolaridade em clubes punk com rock e hip-hop da velha escola entrelaçados, foi uma educação em busca de uma sonoridade inédita até então.
Pra mim, BEASTIE BOYS eram como crianças tentando dar vida à vida e deixando escapar algumas merdas só pra ver no que iria acontecer...
Além disso, eu estava menos fascinado pelos seus limites e mais pelas conquistas que eles haviam manifestado por causa disso. Eles eram garotos sonhadores e falantes que usaram as suas bocas e mentes para criar algo que chamou a atenção do mundo inteiro, abrindo shows para Madonna, elaborando um álbum número 01 nas paradas e para cada um deles, namorando a garota dos sonhos.
Então, nas noites de escola, ao invés de fazer meu dever de casa, eu circulava pelo meu quarto com fones de ouvido memorizando as letras do álbum, até que eu pudesse cuspi-las como um místico falando em línguas.
Quando me deitei na cama em 30 de maio de 1987, olhando para o ingresso de 5 libras que comprei para o show daquela noite, parecia que tinha adquirido um ingresso dourado para entrar na própria cidade de New York.
E a realidade muitas vezes provou ser frustrantemente diferente. Depois que eu li que o BEASTIE BOYS cresceram andando de skate, eu imediatamente saí e comprei um skate tentando aprender as manobras na minha própria garagem, mas por somente 03 meses carreguei aquele skate comigo para todos os lugares que ia...
Adam MCA Yauch (vocalista/baixista) apareceu na TV local no início daquela noite declarando que Liverpool deveria estar pronto para exercer "o seu direito constitucional de ser renovada". Eu não sabia exatamente o que ele queria dizer com isso, mas com certeza ele estava animado.
Quando chegamos ao local do show, o teatro estava lotado. Eram mais de 02 mil pessoas sendo colocadas num lugar esgotado, porém, de alguma forma a energia estava desequilibrada e estranhamente agitada naquela noite.
Eu esperava um espírito comunitário nascido de uma sensação de que estávamos prestes a experimentar algo especial - a nossa versão dos BEATLES no The Ed Sullivan Show ou Jimi Hendrix no Woodstock Festival - mas a atmosfera predominante parecia nervosa e fervilhante, como se fôssemos uma horda de saxões se preparando para a batalha.
Nós, meia dúzia de amigos do colégio, estávamos no fundo daquele teatro lotado, marcando o nosso território enquanto nos maravilhávamos com o palco. Apetrechos gigantes da cerveja Budweiser e uma gaiola projetada com uma dançarina dentro.
Este pensamento significativo foi interrompido pelos tons roucos de MCA estrondeando em um microfone fora do palco. No segundo em que ouvi a sua assinatura rouca de latido do Brooklyn com aquele longo e prolongado: "Foda-se Livahhhhhhh!!!", a minha empolgação foi queimada e substituída pela percepção fria e nauseante de que MCA acabara de cometer um erro terrível.
"Foda-se, Livahhhhhh-pooooooooooollllllllll".
Este fraseado pode ter sido o padrão de palco inocente do BEASTIE BOYS que funcionou perfeitamente em Los Angeles, Chicago ou New York, mas Liverpool é diferente. Você simplesmente não consegue falar isso em Liverpool e escapar de uma surra. Não importa quem você é, mas essas são palavras de luta, semelhantes a insultar a mãe de alguém na frente do seu rosto.
No entanto, BEASTIE BOYS estavam alegremente inconscientes do pecado que haviam acabado de cometer. Eles pularam no palco e borrifaram latas de cerveja na multidão, enquanto os feixes de luz iluminavam a gaiola com a dançarina se contorcendo contra as barras. No entanto, mesmo enquanto começava a música de abertura com “Slow and Low”, algo irreparável havia quebrado na multidão.
Depois que a primeira lata de cerveja voou em direção ao palco e explodiu com o impacto, mais 01 dúzia de latas seguiram o mesmo percurso, fazendo Mike D exclamar: "Chupem meu p...". Isso convidou os fãs da frente a cuspirem um mar de cuspe que cobriu os seguranças, que agora estavam desesperadamente unidos na tentativa de empurrar as hordas para trás.
Eles não tinham chegado na metade da sua 1ª canção do show e agora corriam o risco de perder completamente o controle do mesmo. Uma enxurrada de latas começou a voar do andar de cima e MCA pediu para que os ajudantes de palco aumentassem as luzes da casa, um movimento que só levou as pessoas a fazerem algo que até então acreditava ser impensável: desperdiçar latas cheias de cerveja, em vez de bebê-las, a multidão estava jogando-as com raiva em sua presa agora totalmente exposta no palco.
Eu assisti com horror a cena surreal se desenrolando ao meu redor. A dançarina da gaiola, que provavelmente apareceu no show acreditando que aquela noite seria uma das mais emocionantes de sua vida, agora estava se encolhendo para se proteger no fundo da gaiola enquanto cervejas explodiam ao seu redor. Um rapaz parado à minha esquerda, vestindo uma camisa recém-comprada daquele show do BEASTIE BOYS, arremessou a sua lata de cerveja com a precisão de 01 em 01 milhão, fazendo a lata percorrer uma trajetória alta, girando e girando, que atingiu o DJ Hurricane no centro de sua careca brilhante, fazendo o DJ cair atordoado para trás.
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