Billy Corgan: "gostaria de celebrar as pessoas na cultura que eu sinto que são mal compreendidas", disse o frontman do Smashing Pumpkins sobre seu novo podcast
by Brunelson
há 2 dias
Billy Corgan, frontman do SMASHING PUMPKINS, sobre seu novo podcast, The Magnificent Others: “Gostaria de celebrar as pessoas na cultura que são incompreendidas”.
Corgan foi entrevistado pela revista britânica New Music Express e falou sobre seu novo empreendimento jornalístico, por que "as coisas estão tão inclinadas para influenciadores digitais", por fazer parte do último show do BLACK SABBATH e pelo 30º aniversário do álbum "Mellon Collie and The Infinite Sadness" do SMASHING PUMPKINS (3º disco, 1995).
O lendário vocalista/guitarrista do SMASHING PUMPKINS lançou recentemente seu mais novo empreendimento, o podcast chamado The Magnificent Others, no qual Corgan se reúne com convidados cuidadosamente selecionados, como Gene Simmons do KISS, o guitarrista das bandas RAGE AGAINST THE MACHINE, AUDIOSLAVE e PROPHETS OF RAGE, Tom Morello, e muitos outros, para uma conversa profunda e franca sobre os triunfos, desafios e momentos cruciais que moldaram suas jornadas e definiram seus caminhos.
Corgan já tinha se aventurado em podcast, mas revelou que perdeu o interesse anteriormente quando a maioria das empresas (patrocinadores) só queria que ele compartilhasse suas histórias passadas.
“Quando fui recrutado pelo mundo do produtor Bill Maher para criar e fazer meu próprio podcast, eu estava, tipo: ‘Bem, você provavelmente não vai querer fazer o que eu quero fazer’ e eles me disseram: ‘Bem, nos diga o que é?’ E eu disse que gostaria de celebrar as pessoas na cultura que eu sinto que são mal compreendidas, esquecidas ou talvez não tenham a perspectiva adequada da minha posição sobre o que elas realmente realizaram. E eles me disseram: ‘Está ótimo, nós amamos essa ideia também’”, disse Corgan.
Confira a entrevista completa logo abaixo, onde Corgan falou sobre seu processo de "selecionar a dedo" seus entrevistados, trocando os holofotes de rockstar pelo assento de jornalista, sua aparição e colaboração com Adam Jones (guitarrista do TOOL) e Tom Morello para o show final do BLACK SABBATH, e o que está reservado para o SMASHING PUMPKINS sobre o 30º aniversário do clássico álbum da banda, "Mellon Collie and The Infinite Sadness".
Jornalista: Olá, Billy, com tantos podcasts por aí, o que havia de único na sua ideia?
Billy Corgan: Gostaria de celebrar aqueles atos que foram mal compreendidos e ignorados, porque sinto que, particularmente na cultura americana, as coisas são tão inclinadas a influenciadores e pessoas que são famosas, mas não necessariamente por fazerem algo particularmente notável. Só quero falar com pessoas com quem estou apaixonadamente interessado em conversar. Não vejo isso como uma série em que os publicitários jogam qualquer um de nós para promover algo. É realmente uma escolha criteriosa com quem estou falando.
Jornalista: Os fãs elogiaram suas habilidades de entrevistador e suas perguntas que nunca foram feitas antes para seus entrevistados. Qual foi sua reação a esse feedback?
Corgan: Cometi o erro de ler cerca de 10 comentários quando meu podcast saiu pela 1ª vez. Sabe, eu não fico lendo os comentários sobre mim, mas fiquei curioso porque estava entrevistando outra pessoa. Eu estava pensando: ‘Bem, como foi a entrevista?’ Eu estava com cerca de 10 comentários quando vi alguém reclamando que eu estava falando por cima da fala do convidado. O que me impressionou, porque, sim, é uma entrevista, mas é realmente também uma conversa. O que você vê no 1º episódio é que eu conheço Gene Simmons (KISS) há 30 anos e eu sinto que ele respeita de onde eu venho, mesmo que ele discorde de mim em outros assuntos. Você pode ver a natureza desse tipo de conversa, sabe? Eu não sou um interrogador e não estou sendo um fanboy aqui. Mesmo sendo um fã, eu realmente quero entender de uma perspectiva musical como eles chegaram a certas decisões e sua própria perspectiva.
Corgan: Se você olhar para a jornada de Gene Simmons, começando como um imigrante vindo de Israel – algo sobre o qual ele falou muito – é uma história americana incrível. Geralmente fica envolta no brilho e nas proclamações de Gene sobre dinheiro e coisas assim, enquanto eu sinto e acho que muitos outros fãs da banda sentem que é realmente um triunfo musical o que eles conquistaram.
Jornalista: Você mencionou que estava escolhendo a dedo os convidados que queria entrevistar. Como é este processo?
Corgan: Não tenho uma resposta simples, é só uma sensação. É um programa de 90 minutos e é muito tempo para falar, então, se você realmente não está interessado e não quer mergulhar em uma ou duas áreas específicas da vida deles, você vai acabar fazendo perguntas que já foram feitas 1000 vezes. Então, é uma sensação de que talvez haja uma área inexplorada ou algo que foi mal compreendido ou negligenciado.
Jornalista: Como jornalista, foi inspirador ver você conduzir a entrevista e criar essa conversa...
Corgan: Esse é um elogio maravilhoso, porque eu não tenho treinamento nisso. Eu simplesmente me joguei na água profunda de sentar na frente de alguém como Gene Simmons, que já foi entrevistado 10 mil vezes, e dizer: ‘Ok, vamos ter uma conversa de 90 minutos’. Vivemos em um mundo onde, se as pessoas não estão interessadas, elas simplesmente vão desligar, então, essa pressão foi interessante pra mim. Eu simplesmente descobri que meio que conseguia fazer isso e não sei por quê. Espero que as pessoas vejam isso nos outros episódios que temos. Elas verão algum tipo de voz consistente ali que estou tentando trazer. Acho que as pessoas presumem que eu vou interpretar o personagem que interpreto como eu no mundo do rock and roll, mas não tenho interesse nisso.
Jornalista: Tornar-se apresentador de podcast fez você refletir sobre entrevistas anteriores que fez como músico e talvez simpatizar com jornalistas?
Corgan: Não. Sou muito crítico com jornalistas e já sou assim há muito tempo. Sinto que a maioria dos jornalistas cai em uma armadilha e isso é bem óbvio. É tipo: ‘O que eu tenho que fazer ou dizer para que essa pessoa me dê a manchete que estou procurando?’ Eu entendo, especialmente empaticamente em uma economia de clickbaits onde se você não obtiver aquela citação que vai se tornar viral, ninguém vai se importar. Eu entendo isso com empatia, mas como alguém que já esteve do outro lado disso 1000 vezes, você pode sentir quando alguém está sendo meio desprezível e eu sou sensível a isso agora no papel de alguém que está entrevistando.
Jornalista: Gene Simmons tem falado muito sobre a morte do rock, devido a coisas como a dificuldade dos músicos ganharem a vida e a falta de bandas que desafiem gerações. Você concorda?
Corgan: Não, não mesmo... Sabe, eu já disse coisas bobas parecidas no passado e parecia uma manchete legal. Quero dizer, Lenny Kravitz escreveu uma música, "Rock is Dead". Eu estava uma vez sendo entrevistado pelo radialista Howard Stern por volta de 1998 dizendo que o rock estava morto e Gene Simmons disse isso também, mas não acho que seja uma coisa real, porque o que acontece e o que é ignorado é que o espírito do rock'n'roll sempre será o que as crianças decidem fazer em uma espécie de ódio ou desgosto com o que estão vendo. Por exemplo, já faz mais de 10 anos que estamos com uma sobrecarga pop completa no mundo musical. Eu sei que agora no mundo todo, há crianças descobrindo maneiras de expressar o que estão sentindo contra essa coisa pop hegemônica que simplesmente não para. Eu sei que elas estão lá. Eu vejo e sinto isso.
Jornalista: Existe alguma banda que mantém esse espírito vivo para vocês?
Corgan: Tocamos o verão todo em turnê com a banda THE LINDA LINDAS. Elas são todas de coração e espírito e sua música é ótima. Desculpe, mas eu não sei como as pessoas ouvem isso e acha que essas crianças não têm nada a dizer. A reação das multidões a elas, e certamente o respeito que elas ganharam das outras bandas que estavam conosco nessa turnê, mostra que elas estão no caminho certo. Aqui está a questão: eu não preciso entender isso. Não é pra mim ou mesmo para Gene Simmons entender. É realmente para a próxima geração de crianças sentir que alguém está falando por elas.
Jornalista: Qual foi o momento ou a história mais louca que você ouviu de um dos seus convidados no seu podcast?
Corgan: Não quero revelar, mas eu estava entrevistando Dale Bozzio, vocalista do grupo MISSING PERSONS, e perguntei a ela sobre sua banda, e ela disse algo como: ‘Ah, eu nunca disse isso em público antes’. Então, você fica nessa posição, onde o entrevistado pensa: ‘Ok, você que perguntou isso, porque eu não toquei no assunto’. Você tem aqueles momentos em que o entrevistado fica: ‘Nossa, não acredito que você acabou de me perguntar isso’, pois isto foi culpa minha e porque eu não estava pescando a coisa certa na hora.
Jornalista: Quem é o entrevistado dos seus sonhos para o podcast?
Corgan: Eu certamente adoraria entrevistar Paul McCartney. Se você viu a série que o produtor Rick Rubin fez com Paul McCartney, onde eles ouviram músicas dos BEATLES e conversaram sobre isso, você vê que há tanta informação incrível que ainda está lá nessa grande história de 50/60 anos criando música. Mas as pessoas tendem a ir em direção a todos os frutos mais fáceis e falar sobre seu relacionamento com John Lennon ou algo assim, e eu acho que há muito que ainda não foi coberto. Eu ficaria feliz em entrevista-lo, mesmo que conversássemos apenas sobre os últimos 20 anos de música em vez dos primeiros 40 anos... Há muito a ser discutido lá.
Jornalista: Você vai se apresentar no último show do BLACK SABBATH. Como você está se sentindo em relação a dizer adeus a Ozzy Osbourne e a essa banda monumental?
Corgan: BLACK SABBATH é minha banda favorita de todos os tempos no meu coração. Eu amo eles desde que era criança. Eu trabalhei com o guitarrista Tony Iommi em seu álbum solo e eu estive perto de Ozzy muitas vezes. Eu estou totalmente impressionado por estar envolvido neste show de despedida, sabe? Quando essa informação saiu, eu não pude deixar de pensar: "Nossa, não posso acreditar que eu sou parte disso. É muito legal". Vai ser mágico, porque há tanto amor por Ozzy lá fora. Tudo se juntará nessa noite mágica e é sobre isso que o rock'n'roll deveria ser. É mais ou menos sobre isso que eu estava falando, que no fim das contas é uma celebração, em vez de: "Vamos conversar sobre o que aconteceu em 1972, por exemplo”.
Jornalista: A esposa de Ozzy, Sharon Osbourne, compartilhou que você se juntaria a Tom Morello e Danny Carey no palco (baterista do TOOL) para este show de despedida do BLACK SABBATH.
Corgan: Acho que na verdade é Adam Jones, guitarrista do TOOL, e não Danny. Veja, Adam, Tom e eu, crescemos no mesmo tipo de vizinhança no geral. Tom teve essa ideia – o que ele chamou de The Illinois Boys – de que os Illinois Boys se reuniriam e tocariam, então, isso é legal e adorei. Gosto muito, amo a música deles, a forma de tocar guitarra de Adam e conheço Tom há 30 anos ou mais, então, vai ser uma coisa legal.
Jornalista: Esse ano marca o 30º aniversário do clássico álbum do SMASHING PUMPKINS, "Mellon Collie and The Infinite Sadness". Há algo em andamento para esse marco enorme?
Corgan: Estamos trabalhando com a nossa gravadora dessa época para possivelmente lançar algum tipo de edição especial. Estou anunciando que farei algumas datas solo e espero honrar o álbum como parte disso. Há outras coisas, mas não posso falar sobre elas ainda... E é estranho, porque não consigo acreditar que já se passaram 30 anos. Estou realmente animado, mas ao mesmo tempo fico pensando: "O que aconteceu nesses últimos 30 anos?”
Jornalista: Houve muito revivalismo grunge ultimamente, com o NIRVANA fazendo 02 apresentações recentes e Eddie Vedder (vocalista do PEARL JAM) também se apresentando na festa de 50 anos do programa de auditório da TV americana, Saturday Night Live. Como você se sente sobre a nostalgia dos anos 90?
Corgan: Eu acho ótimo. Acho que qualquer coisa que envolva guitarra e tocar em alto volume vai sempre funcionar. Se eles estão citando nossos contemporâneos ou nós, ou mesmo bandas que nos seguiram, acho ótimo. Não há nada de errado com isso. Quero dizer, nós fizemos o mesmo e é assim que funciona.
Jornalista: Para encerrarmos essa entrevista, o SMASHING PUMPKINS acaba de anunciar um show enorme no Gunnersbury Park em Londres, com as bandas SKUNK ANANSIE e WHITE LIES como convidados especiais. O que os fãs podem esperar disso?
Corgan: Será um bom momento. Quando fomos para a Inglaterra pela 1ª vez e tocamos no Reading Festival, ficamos impressionados com o tamanho da multidão, mas também com a pressão de que este show era importante. Você sentia essa pressão extra, sabe? Fizemos este show em 1992 em que tivemos um colapso total e eu quebrei minha guitarra, e acho que fiquei de cabeça pra baixo em um vestido... Não sei. É uma lembrança tênue de lá.
Corgan: O legal de tocar todos esses anos, especialmente juntos, é que agora você sabe como lidar com esses momentos maiores. Estou realmente orgulhoso de que essa formação específica da banda saiba como superar essas ocasiões. Enquanto que, quando eu era jovem, eu olhava para estes shows e quase me sentia intimidado, agora, eu olho para estes shows e quero esfregar minhas mãos com vontade de fazê-los porque é muito emocionante. É uma chance de criar um momento único na sua vida e o público quer isso. Eles querem ver você no seu auge e essa pressão e sentimento são mágicos quando funcionam.
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