Colin Greenwood: "em uma banda de rock, nem sempre você está surfando na crista da onda", disse o baixista do Radiohead
O baixista do RADIOHEAD, Colin Greenwood, foi entrevistado pela revista britânica New Music Express e falou sobre a criação de seu novo livro de fotos, "How to Disappear", e o que vem pela frente da sua banda após recente reunião para alguns ensaios.
RADIOHEAD lançou seu último álbum de estúdio em 2016, "A Moon Shaped Pool" (9º disco), e sua última apresentação ao vivo foi em 2018.
O livro de fotos, "How to Disappear", marca o 1º livro de Greenwood e levou 02 décadas para ser feito, capturando momentos particulares da jornada do grupo de 2003 até 2016. Junto com as fotos tiradas pelo baixista, o livro também apresenta uma longa resenha contando a história da banda e refletindo sobre sua jornada até agora.
“É um objeto realmente lindo e acho que as pessoas vão gostar porque ele é feito com o mesmo padrão exigente dos livros por alguns dos meus fotógrafos de belas artes preferidos, pessoas como Paul Graham”, Greenwood disse na entrevista. “Acho que ele conta uma bela história sobre como 05 pessoas de Oxfordshire se juntaram e trabalharam em músicas em vários locais e estúdios, eventualmente conseguindo levar isso para os palcos ao redor do mundo”.
Confira essa entrevista quase na íntegra, onde o baixista do RADIOHEAD concedeu detalhes sobre seu novo livro e compartilhou como é realmente estar nos palcos, bastidores e no estúdio com a sua banda, além do que o futuro nos reserva sobre o RADIOHEAD após seus recentes ensaios de reunião há meses atrás.
Jornalista: Olá, Colin. Além de ser uma homenagem à clássica música, "How to Disappear Completely", lançada no 4º álbum de estúdio do RADIOHEAD, "Kid A" (2000), o livro "How to Disappear" também é um aceno ao seu papel de fotógrafo e documentarista como testemunha invisível, certo?
Colin Greenwood: Sim, bem... Eu não sabia se eu estaria no livro porque eu estava tirando as fotos, então, eu encontrei uma foto com um reflexo meu no piano de Thom Yorke (vocalista) e outra que meu irmão tirou de mim (guitarrista Jonny Greenwood). Eu penso em todas as fotos que tirei do meu irmão ao longo dos anos e ele provavelmente tirou apenas umas 02 fotos minhas. Eu acho que isso diz tudo o que você precisa saber sobre o nosso relacionamento, tipo, eu não sei se ele lembra do meu nome...
Greenwood: Acho que as pessoas que gostam do RADIOHEAD vão adorar o livro e acho que as pessoas que talvez não conheçam a banda, mas têm interesse em fotografia e uma boa história, também irão gostar.
Jornalista: O livro começa com a produção do álbum "Hail to The Thief" de 2003 (6º disco) e realmente pega toda a produção do álbum "In Rainbows" (7º disco, 2007) e nos leva até o álbum "A Moon Shaped Pool" (9º disco, 2016). Você se refere a essas imagens como mostrando a “era do meio” de uma banda. O que há de único e especial nesse período?
Greenwood: Eu estava conversando com o artista Nick Cave sobre isso quando estávamos juntos fazendo sua turnê solo em 2023 e foi quando eu estava pensando em juntar tudo isso. Ele me perguntou: "Quando as fotos foram tiradas?" e eu respondi: "Bem, elas não foram no começo da banda e nem do seu final", foi quando ele me disse: "Como é estar em uma banda quando você teve todo este sucesso e o futuro é incerto?" O futuro é sempre incerto quando você vai gravar um novo disco, tipo, é aquela nuvem de desconhecimento que vem depois que você lança álbuns como "OK Computer" (3º disco, 1997), "Kid A" e "Amnesiac" (5º disco, 2001).
Greenwood: Eu sempre me pergunto como é isso. Quando você está em uma banda de rock, você nem sempre está surfando na crista de uma onda de sucesso selvagem. Você também está remando em um lago de desconhecimento. Você não sabe em que direção isso vai te levar e é disso que o livro trata na verdade. É um pouco como o documentário dos BEATLES, "Get Back”.
Jornalista: Esse documentário dos BEATLES realmente mostrou quanto tempo uma banda realmente gasta esperando, discutindo ideias no estúdio e se preocupando com...
Greenwood: E tomando chá!
Jornalista: Como foi o clima no RADIOHEAD durante esses períodos que seu livro de fotos nos mostra?
Greenwood: Não estou nos comparando aos BEATLES, apenas no sentido de que realmente me lembrou de todo o tempo que passamos juntos. Não acho que tínhamos alguém para fazer torradas para nós, mas houve muito chá para bebermos e conversando sobre o que estava passando na TV na noite anterior e o que estava como notícia no jornal. Qualquer um em uma banda dirá que o documentário dos BEATLES é exatamente como ele realmente é.
Jornalista: Vocês possuem seu próprio artista gráfico residente que aparece nas fotos, Stanley Donwood…
Greenwood: Isso mesmo! Mas sim, essas fotos representam a "era do meio". E mesmo sendo uma era de muito sucesso, você não quer repetir as coisas. É por isso que tirei mais fotos durante esse período, porque havia um tipo diferente de intensidade e foco em comparação aos períodos dos discos "OK Computer" e "Kid A". Isso pode ter parecido mais intenso para documentar, quero dizer, essa "era do meio".
Jornalista: Os fãs devoraram todas as fotos da banda que saíram na imprensa, as fotos que saíram em revistas e as fotos clássicas dos shows ao vivo, mas o que os fãs aprenderão com esses momentos ocultos revelados em seu livro?
Greenwood: As fotografias são muito únicas em termos de acesso que só eu tive. Quando você olha para esse livro, você está vendo a banda em lugares aos quais os fotógrafos não teriam acesso, como nosso estúdio de gravação, camarins e ônibus de turnê. Eles são todos lugares especiais e privados onde nós, músicos, podemos talvez baixar a guarda e revelar um pouco mais de nós mesmos do que faríamos na frente de um fotógrafo de imprensa.
Jornalista: E o pessoal da banda nunca te disse para guardar a câmera?
Greenwood: É engraçado porque eles me apoiaram muito tirando as fotos e eu sou muito grato a eles. Como uma banda, nós sempre apoiamos as coisas que todos nós fazemos, sejam nossos projetos solo ou Thom Yorke fazendo alguma arte visual com Stanley Donwood, ou os projetos insanos do meu irmão, ou Ed O'Brien (guitarrista)... Eu não sei o que Ed faz!
Greenwood: Quando estamos em turnê ou nos bastidores onde quer que seja, todo mundo gosta de passar um tempo sozinho antes. Somos bem protetores do nosso tempo antes de nos apresentarmos, então, não tenho muito tempo para fotografar ninguém. Só tenho mais tempo e liberdade para fotografar minha banda no palco quando estamos sendo encarados por mais de 30 mil pessoas toda a noite.
Jornalista: É muito raro ver fotos tiradas por alguém da banda quando sua própria banda está se apresentando no palco.
Greenwood: É isso mesmo. Eu deveria estar fazendo outra coisa com meu tempo, tipo, ficar tocando baixo, mas eu me pergunto o que estou fazendo tirando fotos durante um show nosso?
Jornalista: No livro você compara essa corrida do RADIOHEAD a mergulhar no meio de um programa de TV de longa duração...
Greenwood: É verdade! Passamos tanto tempo juntos na estrada que depois quando tudo termina não nos vemos com tanta frequência, então, quando nos encontramos estamos todos muito mais velhos! É meio louco tudo isso, tipo, é como se uma pessoa tivesse raspado todo o cabelo e entrado para um culto ou uma seita.
Jornalista: Thom Yorke poderia se tornar um "vampiro" completo como Nick Cave?
Greenwood: Sim ou começar a usar ternos. Posso te contar uma história engraçada? Quando começamos com o RADIOHEAD e fizemos um videoclipe para a canção "Pop is Dead" em 1993 - o que foi bem estranho - pela 1ª e última vez na nossa carreira ganhamos algum dinheiro da gravadora para comprar roupas. Um estilista foi designado para mim pela nossa gravadora, a EMI Records, e eles nos deram 300 euros para cada um de nós da banda para que pudéssemos comprar roupas novas.
Greenwood: Pegamos um ônibus para Londres e todos nós compramos coisas diferentes. Thom e Jonny foram a uma loja vintage em Covent Garden chamada Flip, Philip Selway (baterista) comprou um terno jeans branco, Ed comprou uma jaqueta prateada brilhante e eu comprei um terno que me fez sentir como se estivesse indo para uma entrevista de emprego. Parecíamos estar cada um em uma banda diferente e gostaria de ter tirado fotos disso naquela época... Mas há muitas fotos dessa época espalhado na internet.
Jornalista: Como foram estes ensaios recentes do RADIOHEAD (desde 2018 sem tocarem juntos)?
Greenwood: Nós nos reunimos agora no verão europeu por apenas alguns dias e apenas tocamos todas as músicas que queríamos e continuamos de onde paramos em 2018. Foi muito divertido e legal ver todo mundo. Íamos fazer 03 ou 04 dias de ensaios, mas desistimos depois de 02 dias porque estava tudo indo muito bem e ainda poderíamos fazer mais se quiséssemos. Meu irmão disse que precisaríamos de apenas algumas semanas de ensaio se quiséssemos sair em turnê novamente, sem problemas.
Greenwood: Além disso, a cabeça de todos estava focada em terminar o que eles estavam fazendo com seus projetos paralelos, mas os ensaios foram muito divertidos e amigáveis. Ensaiamos nesse estúdio chamado The Church Studios, que foi onde gravamos o disco "OK Computer", então, a última vez que estive lá foi em 1996 gravando o baixo para a música "Airbag". Foi ótimo, mas além dessa reunião, tenho certeza de que nos reuniremos e faremos planos para o futuro, mas para quê, eu ainda não sei.
Jornalista: Isso não significa que uma turnê do RADIOHEAD seja iminente?
Greenwood: Não, isso não significa que uma turnê seja iminente.
Jornalista: Para encerrarmos, que tipo de conversas o RADIOHEAD tem sobre encontrar um motivo e um momento para retornar?
Greenwood: Eu não sei, porque não temos esse tipo de conversa, mas eu estava conversando com Nick Cave sobre isso também. Ele é um ouvinte incrível quando você tem algo para conversar com ele e Nick estava me dizendo que o RADIOHEAD estaria em posição de ir e fazer o que quiséssemos em termos de quando tocamos, o que tocamos e como tocamos.
Greenwood: Ele estava falando sobre Bob Dylan, que pode ficar em turnê por 02 anos ou não. Que pode tocar todos os seus sucessos em cada show ou algo diferente toda noite. Que você pode lançar um novo álbum de estúdio ou fazer projetos malucos com outras pessoas. Há uma liberdade que temos que deveríamos apreciar, sabe? Não é como se tivéssemos chegado a um ponto em que as pessoas estão interessadas apenas em ouvir algo dos nossos 03 primeiros álbuns de estúdio. Acho que ainda somos uma banda onde as pessoas podem querer saber o que pode acontecer em seguida e temos muita sorte de ter isso.
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