Dave Grohl: quais são os seus 10 álbuns preferidos de todos os tempos?
No passado, o vocalista/guitarrista do FOO FIGHTERS e baterista do NIRVANA, Dave Grohl, tinha realizado uma entrevista para a extinta revista britânica, Melody Maker, fazendo parte de uma de suas edições finais antes da revista ser "absorvida" pela New Music Express.
Dentre vários assuntos, Grohl foi convidado a citar os seus 10 álbuns favoritos de todos os tempos e as suas respostas mostraram um lado mais eclético do roqueiro inspirado no punk rock.
Após 02 décadas, é interessante ver os efeitos eternos de algumas de suas escolhas e ao longo do seu livro biográfico mais recente e escrito por Grohl, "The Storyteller", ele concede um agradecimento especial para a banda B-52’s (que está nessa lista), por apresentá-lo ao que ele descreveu tanto no livro quanto na entrevista, como “uma música estranha”. Grohl viu esse grupo pela TV se apresentar no programa de auditório americano, Saturday Night Live, quando aos 11 anos de idade ficou impressionado com a apresentação da banda.
Mas alguns dos atos clássicos de fundação bem conhecidos na história do rock estão em sua lista de discos preferidos e que fazem parte da receita do NIRVANA e do FOO FIGHTERS.
São grupos como PIXIES, MELVINS e BAD BRAINS, onde Grohl também encontra algumas extensões notáveis em seu gosto ao nomear, talvez, o álbum menos aclamado do LED ZEPPELIN e dar um aceno aos lendários pioneiros do rap, o PUBLIC ENEMY.
E a capacidade de Dave Grohl de absorver praticamente qualquer estilo musical não se limita aos seus hábitos de escuta. Como ele provou recentemente nos shows tributo a Taylor Hawkins (falecido baterista do FOO FIGHTERS), Grohl pode tocar quase qualquer gênero de música, seja pegando o baixo para se juntar ao THE PRETENDERS ou estabelecendo a bateria em músicas clássicas do VAN HALEN. Até o cover de "Kids in America" de Kim Wilde você pode encontrar nas primeiras gravações demo do FOO FIGHTERS.
Confira o Top 10 álbuns preferidos de Dave Grohl com trechos dos seus comentários relatado na entrevista. Não foi decidida uma ordem específica, mas ao que parece, Grohl foi relacionando os discos em ordem cronológica, apesar da ordem invertida na penúltima para a última colocação.
1) Álbum: "The White Album" (10º disco, 1968)
Banda: BEATLES
Grohl começa logo no início com um álbum que antecede a sua própria existência.
"The Beatles", mais conhecido como "The White Album", é a apreciação de Grohl que decorre da enorme variedade mostrada nesse clássico disco duplo.
“Em que ano foi lançado esse álbum? Acho que em algum dia quando criança, fui um vislumbre de esperança aos olhos dos meus pais, mas esse disco possui algumas das minhas músicas favoritas dos BEATLES, como 'Blackbird', 'Revolution 9', 'Revolution', 'Helter Skelter'... É engraçado imaginar aqueles 04 caras 'bonitinhos' dos BEATLES anos depois no ácido LSD. Onde eles erraram, escrevendo algo como 'Helter Skelter' e influenciando Charles Manson? Eu chamaria isso de atemporal”.
2) Álbum "The B-52's" (1º disco, 1979) Banda: THE B-52's
As sensibilidades elásticas da new wave dos anos 80 podem não parecer uma conexão direta com a bateria e as guitarras que Dave Grohl prefere em sua própria música, mas foi o espírito desse álbum que mais falou com ele. A ideia de ser diferente e poder fazer música que não fosse apenas pop ou rock, foi uma revelação para um jovem Grohl. “Eu me lembro de ver o THE B-52's no Saturday Night Live e isso me apresentou ao mundo da música estranha. Eu era jovem, enquanto os meus pais já estavam dormindo e esse grupo definitivamente abriu um mundo totalmente novo pra mim".
3) Álbum: "Coda" (Coletânea, 1982)
Banda: LED ZEPPELIN
O amor de Dave Grohl pelo LED ZEPPELIN e especificamente pelo baterista John Bonham, é bem conhecido.
Ele possui várias tatuagens representando Bonham e o LED ZEPPELIN, sendo que o seu próprio estilo de bateria segue em grande parte à técnica estrondosa de Bonham.
Portanto, não deveria ser surpresa que Grohl escolhesse o álbum da banda com a maior vitrine de John Bonham.
“LED ZEPPELIN moldou completamente a maneira como eu toco bateria. Ninguém pode negar nada a essa banda, onde todos os álbuns deles são ótimos. Eu prefiro os álbuns 'Houses of The Holy' (5º disco, 1973) e 'In Through The Out Door' (8º disco, 1979) em relação aos 02 primeiros álbuns de estúdio, mas o disco 'Coda' foi o melhor de todos, porque John Bonham se destaca nesse álbum, mostrando realmente a sinfonia de uma bateria de John Bonham. Fiquei acordado muitas noites escutando esse disco e se você quiser posso coloca-lo para tocar agora mesmo pra você!”
4) Álbum: "Rock For Light" (2º disco, 1983)
Banda: BAD BRAINS
Para o fã do FOO FIGHTERS mais casual, a influência sísmica das lendas da capital Washington, BAD BRAINS, pode ser uma surpresa.
Eles não estão no Rock and Roll Hall of Fame e as suas músicas nunca aparecem em performances de outras bandas, sendo que eles sobrevivem principalmente com base nos depoimentos dos seus admiradores.
Porém, esses admiradores são lendários e o fato é que o BAD BRAINS é indiscutivelmente um dos grupos mais importantes de todos os tempos no gênero punk rock e hardcore - algo que Grohl também reconhece.
“Esse pode ser o meu disco favorito de todos os tempos. Era a 1ª vez que eu ouvia uma banda de hardcore que tinha aquela musicalidade suprema, mas ao mesmo tempo mantinha a simplicidade. Apenas 04 caras negros da capital Washington que jogaram no 'lixo' todas as outras bandas de punk hardcore. Eles foram incríveis e por serem rastafaris, eles tocavam também um pouco de reggae apenas para acalmar os punks ou algo assim. E eles eram a banda ao vivo mais incrível do mundo... Eles são simplesmente ótimos. Muito, muito, muito bom!”
5) Álbum: "Yo! Bum Rush The Show" (1º disco, 1987)
Banda: PUBLIC ENEMY
Quem teria pensado que Dave Grohl gostava de rap?
Para alguém que é tão sinônimo de rock and roll, Grohl faz questão em ampliar o escopo dos seus gostos musicais incluindo o PUBLIC ENEMY em sua lista.
“Uma revolução total no hip-hop e a dualidade vocal de Flavor Flav e Chuck D é simplesmente incrível, cara. Uma vez, eu fui ver um show do PUBLIC ENEMY no Parque Malcolm X na capital Washington e alguém ouviu um tiro e todos começaram a correr. Naquela época, Washington era chamada de 'a capital do assassinato' e foi bem assustador”.
6) Álbum: "Gluey Porch Treatments" (1º disco, 1987)
Banda: MELVINS
Assim como o BAD BRAINS, um dos pioneiros do grunge, a banda MELVINS, continua sendo mais reverenciada e admirada do que comercialmente bem-sucedidos.
Ainda nos anos 80, eles foram os precursores do grunge no noroeste do Pacífico, dando-lhes imensa influência aos grandes atos que explodiram no mainstream no começo dos anos 90, sendo um deles o NIRVANA, onde um ainda adolescente Kurt Cobain havia se tornado roadie do MELVINS, participando de suas reuniões, ensaios e um dia sonhando em fazer parte da banda.
Mas quem espera níveis "agradáveis" de se ouvir em músicas que dominaram o planeta quando o NIRVANA lançou o álbum "Nevermind" (2º disco, 1991), provavelmente ficará desanimado com a lama (no bom sentido) que é a música do MELVINS.
“MELVINS começou como uma banda de punk rock e hardcore, mas depois se transformou em uma milícia do BLACK SABBATH que eles sabiam que todos iriam odiar. Eles começaram a tocar o mais devagar que podiam porque todo mundo gritava para eles tocarem mais rápido que podiam. Eles eram os reis de toda aquela natureza malcriada do punk rock da região e cidades vizinhas, com um trabalho de produção de porão".
7) Álbum: "Surfer Rosa" (1º disco, 1988)
Banda: PIXIES
Se há uma banda que é mais comumente citada por críticos e fãs em relação ao NIRVANA, seria o rock alternativo da banda de Boston, PIXIES.
Kurt Cobain nunca foi tímido em declarar o quão descaradamente o NIRVANA estava copiando a dinâmica entre a voz suave e versos calmos com a agressão sonora e gritos no refrão.
“Era tão necessário naquela época que alguém incorporasse elementos daquele punk rock peculiar a uma estranha e doce melodia. Influenciou toda uma geração de bandas, que depois influenciou toda uma outra geração e esse álbum é provavelmente um dos discos mais influentes desde o seu ano de lançamento. Provavelmente, também tornou o produtor Steve Albini mais famoso pelo seu trabalho (ele iria produzir o 4º e último trabalho de estúdio do NIRVANA, "In Utero", 1993), sendo que o NIRVANA sempre se certificou para que todos soubessem que estávamos apenas roubando coisas do PIXIES”.
8) Álbum: "The Winding Sheet" (1º disco, 1990)
Artista: Mark Lanegan
O saudoso vocalista do SCREAMING TREES, Mark Lanegan, é exatamente um divisor de águas na vida musical de Dave Grohl.
Antes dele entrar no NIRVANA, os seus futuros companheiros de banda, Kurt Cobain e Krist Novoselic (baixista), contribuíram nas gravações do álbum "The Winding Sheet", que se tornou o modelo de como o NIRVANA abordaria o seu próprio show acústico na MTV em 1993. Nesse disco, há uma versão do cover “Where Did You Sleep Last Night” de Lead Belly, para a qual Cobain fornece a guitarra e os backing vocals, lançando as bases para a versão que a deixaria famosa no acústico do NIRVANA.
“Cara, é o disco mais bonito de todos... É um disco de blues para se escutar num domingo de manhã, acústico e cheio de alma. Mark Lanegan tem muita alma e a voz mais linda. Você imagina que é assim que o seu coração soaria se pudesse cantar, tipo, é muito bonito. Esse álbum foi lançado logo depois que eu me mudei para Seattle quando tinha entrado no NIRVANA, então, representa todo aquele período que passei. Mark era vocalista do SCREAMING TREES e naquela época havia muito apreço em Seattle pela sua pureza e verdade em suas músicas”.
9) Álbum: "Frank Black" (1º disco, 1993)
Artista: Frank Black
Grohl já deu um alô para a banda original de Frank Black, PIXIES, mas o seu fanatismo se estende muito além da mensagem necessária para o álbum "Surfer Rosa" e Grohl usou outra escolha para incluir em sua lista.
“Eu ouvi muito esse disco e pensei por um momento que ele iria se tornar uma grande estrela pop e finalmente receberia o que merecia. Existem algumas ótimas canções nesse álbum, mas a sua música é peculiar o suficiente para nunca se traduzir para um grande público. Muito tempo se passou desde o disco 'Surfer Rosa' do PIXIES e esse foi provavelmente o seu álbum mais pop de todos... Há uma coisa de David Bowie nesse disco e todos os tipos de influências. Como letrista, ele foi realmente ótimo, muito espirituoso e estranho”.