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by Brunelson

Eddie Vedder: "depois que me tornei pai nunca mais usei drogas psicodélicas"


O homem, o mito, a lenda, Eddie Vedder, foi entrevistado pela 1ª vez na história pelo radialista Howard Stern nesta segunda-feira passada (02/11/2020), onde numa conversa épica de 03 horas eles falaram sobre tudo, desde a infância atípica do ícone do rock e carreira musical incomparável, até os seus esforços atuais para mobilizar os eleitores antes da grande eleição presidencial nos EUA. 




Sendo entrevistado online em seu próprio estúdio caseiro, o vocalista do PEARL JAM de 55 anos de idade pegou alguns violões ao longo da entrevista para tocar trechos de músicas de sua banda, assim como deslumbrou os ouvintes com uma apresentação ao vivo da música angustiante do artista Warren Zevon, “Keep Me in Your Heart”. 

Vedder também lembrou sobre dividir o palco com Bruce Springsteen, riu sobre "ensinar" o ator Bradley Cooper a se passar por uma estrela de rock no filme "Nasce Uma Estrela" e falou francamente sobre a perda dolorosa que sentiu após a morte do seu amigo em 2017, Chris Cornell.

Abordando outros assuntos, Eddie Vedder é pai de duas filhas e adotar a postura paterna não é uma responsabilidade que ele assume levianamente. Quando Howard Stern perguntou se ele era o tipo de artista que se envolveu com drogas para fazer a sua criatividade fluir, Vedder revelou que ele realmente desistiu das drogas desde quando se tornou pai.

“Eu tive o meu tempo com essas coisas... Eu ainda bebo alguma coisa, mas depois que me tornei pai, não fiz uso de nenhuma droga psicodélica desde então. Sinto que você nunca sabe quando precisará ser chamado para o 'serviço' paterno em sua família".

"Mas assim que elas se tornarem adultas e forem morar sozinhas...", acrescentou Vedder, brincando com uma risada.

A própria infância de Eddie Vedder, entretanto, aparentemente ofereceu menos estabilidade para a sua vida emocional. Ele era um adolescente quando descobriu que era mentira em toda a sua vida sobre a identidade real do seu pai biológico. 

“Quando a minha mãe me disse que esse cara não era o meu pai e que o meu pai verdadeiro era outra pessoa que foi apresentada como um amigo da família, sabe, foi um choque, cara, mas de certa forma fiquei muito grato por ter ficado ciente da realidade... Eu estava pensando ao mesmo tempo: 'Ah, que merda, mas graças a Deus, então'”.

Vedder acrescentou: “Eu não queria ser o 'Sr. Normal', então, mesmo quando a minha mãe me disse que o meu pai não era o meu pai de verdade, eu pensei: ‘Bom, isso é uma reviravolta interessante pra caralho’”.

A sua mãe se divorciou do padrasto de Vedder quando ele tinha 15 anos de idade. Ela mudou-se com os seus irmãos para Chicago e ele ficou para trás no sul da Califórnia, onde foi deixado para se defender sozinho na vida. Enquanto os seus colegas se preocupavam com as provas a realizar no colégio, o futuro vocalista do PEARL JAM se preocupava em colocar comida na boca e pagar as suas contas. 

Ele disse a Howard Stern que provavelmente esse estilo de vida o ajudou a se tornar um artista melhor.

“Deu tudo certo, pois agora eu me identifico com os oprimidos. Eu sei como é estar sob as patas do leão... Se eu não tivesse passado por nada disso, você sabe que toda a minha vida teria sido uma farsa".

Eddie acabou estabelecendo uma rotina que incluía surfar durante o dia e trabalhar num hotel, antes de gerenciar uma equipe noturna de segurança num posto de gasolina. O seu período trabalhando de madrugada no posto de gasolina lhe proporcionou bastante tempo para compor músicas, mas a sua primeira e talvez mais importante descoberta na composição de canções veio quando ele tinha 10 anos de idade - quando conheceu o THE WHO. 

Já morando na Califórnia, Vedder tinha acabado de voltar de um acampamento junto com Flea (baixista) e Jack Irons (ex-baterista), na época já membros do RED HOT CHILI PEPPERS. Eles o colocaram em contato com o guitarrista Stone Gossard e com o baixista Jeff Ament, dois músicos respeitados de Seattle em busca de um vocalista para a sua nova banda. Eddie esperava chamar a atenção deles escrevendo letras para algumas músicas instrumentais que haviam gravado em fita-cassete e que acabou caindo em suas mãos, graças a Jack Irons que fez o elo entre ambos. 

No final das contas, a inspiração para incluir as letras naquelas canções o atingiu enquanto ele estava surfando.

“Tudo o que eu me lembro sobre aquela manhã, era um nevoeiro misturado com uma escuridão quando fui surfar de manhã cedo. Você não conseguia ver as ondas quando elas estavam chegando, sabe? Então, era um tipo de bolha misteriosa vindo e os seus sentidos ficavam aguçados e por alguma razão, aquela melodia e letras vieram na minha cabeça”, Vedder se lembrou. “Quando voltei pra casa, peguei o meu pequeno toca-fitas de 04 canais e lembro de gravar os vocais com a bermuda ainda molhada da praia... Eu estava bem cansado, porque tinha trabalhado no turno da meia-noite até de manhã cedo".

“No dia seguinte, coloquei aquela fita no correio e não pensei em mais nada”, acrescentou.

As músicas que Eddie Vedder escreveu as letras naquele dia foram "Alive", "Footsteps" e "Once". Desnecessário dizer que aquelas letras e vocais rapidamente chamaram a atenção de Gossard e Ament. O trio, junto com o guitarrista Mike McCready e com o baterista Dave Krusen, formaria em breve o PEARL JAM. 

O 1º álbum da banda, "Ten" (1991), reforçado pela presença grandiosa das canções "Alive" e "Once", foi lançado ao lado de grandes sucessos que se tornariam, como as músicas "Even Flow", "Black" e "Jeremy". Esse disco vendeu mais de 13 milhões de unidades somente nos EUA, tornando-o numa das estreias de maior sucesso de todos os tempos.

PEARL JAM se tornou um nome familiar quase da noite para o dia, mas alguns na comunidade grunge - incluindo o lendário vocalista/guitarrista do NIRVANA, Kurt Cobain - supostamente questionaram a ascensão meteórica da banda. 

“Tivemos uma boa cena em Seattle e as coisas mudaram um pouco”, disse Vedder. “Naquela época, alguns da nossa turma de bandas meio que desprezavam o nosso grupo. Algumas pessoas no mundo gostavam de você e outras se ressentiam de você ou odiavam a sua música”.

“E eu concordei com eles em todos os pontos”, disse Vedder com uma risada.

Ainda assim, Eddie Vedder de repente tinha fãs em lugares altos, incluindo o icônico apresentador do programa de auditório da TV americana, David Letterman, que tinha convidado o PEARL JAM para se apresentar em seu programa logo após o lançamento do álbum “Ten”. Vedder era um grande fã de David Letterman, mas a banda ainda estava relutante em se apresentar num programa de TV em escala nacional. 

O apresentador persistiu, onde às vezes ele fazia o líder de sua banda de apoio da TV, Paul Shaffer, tocar a música "Black" durante a transmissão. Outras vezes, ele olhava para as câmeras e falava diretamente para Eddie Vedder. 

O vocalista do PEARL JAM se lembra disso: “Eu estava sozinho em casa e um pouco chapado, quando estava assistindo a TV e vi o apresentador David Letterman se inclinando para as câmeras e dando aqueles recados pra mim... Tipo, aquilo estava me assustando pra caralho e pensava: 'Essa coisa aí tem que parar, cara...'"

PEARL JAM já se apresentou no programa de David Letterman várias vezes na carreira, com performances memoráveis em sua história. Ambos criaram uma amizade que dura há décadas.

Voltando ao programa de rádio com Howard Stern, numa certa hora, Vedder pegou um dos seus violões e tocou a música do artista Warren Zevon, “Keep Me in Your Heart”, para Howard e todos os seus ouvintes. Esta canção duradoura foi escrita e composta por Zevon, após ser diagnosticado com câncer terminal. Depois da performance, Howard Stern falou ter ficado comovido com a apresentação de Vedder.

O radialista disse: "Lindo! Meu Deus, eu amo essa música!”, após a performance de Eddie Vedder.

O vocalista ainda tocou trechos de algumas músicas do PEARL JAM, como "Elderly Woman Behind The Counter in a Small Town", uma bela canção que apresenta uma melodia emocionante lançada no 2º álbum de estúdio, "Versus" (1993), a qual Vedder se lembrou de tê-la composta enquanto Stone Gossard o assistia bebendo café. 

Vedder também dedilhou algumas notas da transcendental música "Sometimes", canção que abre o álbum mais experimental do PEARL JAM, "No Code" (4º disco, 1996), enquanto tentava explicar a Howard Stern que tocar violão para ele era tão simples quanto as pessoas que conseguem fazer várias "formas de figuras e animais com os dedos numa sombra de luz".

Embora Eddie Vedder seja mais conhecido pelas suas contribuições para a cena musical de Seattle, ele também fez muito em Hollywood ao longo dos anos, gravando músicas para vários filmes (participando do elenco do filme do diretor Cameron Crowe em 1992, "Singles") e até mesmo compondo uma trilha sonora inteira para o ator e diretor, Sean Penn - que, aliás, Vedder revelou que foi um dos poucos convidados selecionados para ir ao casamento não anunciado de Sean Penn. 

Porém, uma das assistências cinematográficas mais inesperadas de Vedder não envolveu fazer música, mas sim, a conceder ao ator Bradley Cooper um "curso intensivo" de atuação como uma estrela do rock, antes de começarem as filmagens do filme "Nasce Uma Estrela".

Ele claramente deu bons conselhos, já que Cooper ganhou uma indicação ao Oscar por sua atuação. Ainda assim, Vedder não tinha certeza do que esperar antes de assistir ao filme e disse a Howard que estava nervoso assisti-lo ao lado de Bradley. “No caminho para assistirmos ao filme, fiquei pensando em todas as maneiras que poderia decepcioná-lo, tipo, eu estava um pouco nervoso, mas digo a você que quando comecei a assistir o filme, fiquei simplesmente maravilhado".

Ele também falou sobre várias colaborações de alto perfil em sua carreira, incluindo algumas com as lendas do rock, Bruce Springsteen e Neil Young. Ele disse que Neil Young colocou o PEARL JAM sob a sua proteção no início de carreira, convidando-os para passar uns dias em seu rancho e ocasionalmente, distribuindo sabedoria sábia numa roda de baseado.

“Precisávamos daqueles ensinamentos e Young nos forneceu”, disse Vedder.

Ele se lembrou com carinho de dividir o palco com Bruce Springsteen em 2014, quando ele e o guitarrista Tom Morello do RAGE AGAINST THE MACHINE, "ajudaram" Springsteen em um cover memorável da música "Highway to Hell" do AC/DC.

“Acabamos por coincidência estarmos na mesma cidade ao mesmo tempo”, disse Vedder, explicando que eles estavam em turnê pela Austrália na época. "Aquela foi uma noite quando tivemos um dia de folga com o PEARL JAM".

Vedder relembrou como foi a ideia de tocar junto com Bruce Springsteen em seu show. "Bruce havia me dito: 'Tive uma ideia, aqui está... Tudo bem, primeira música que iremos tocar será ‘Highway to Hell’ do AC/DC. Você pega um verso para cantar e eu pego outro verso e pronto. Você pode beber cerveja, Eddie, pode fazer o que você quiser, mas nada de tocar esta música depois da porra do encore break'".

Como muitos fãs já sabem, PEARL JAM estava originalmente escalado para se apresentar e ser entrevistado pela 1ª vez pelo radialista Howard Stern no início de 2020, referente a divulgação da turnê e novo álbum, "Gigaton" (11º disco, 2020). Porém, a pandemia os forçaram a cancelar todos os planos.


Vedder finalizou, dizendo que estava com o coração partido pelo fato da covid ter matado mais de 230 mil americanos. “Você passa por perdas e percebe o que a perda de uma pessoa faz para uma comunidade”, disse ele a Howard Stern.

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