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by Brunelson

Eddie Vedder: entrevista e matéria de 1992 no Lollapalooza Festival


Confira na íntegra uma das matérias exclusivas que a revista Spin preparou para celebrar os 30 anos do icônico Lollapalooza Festival de 1992 (foto).




O jornalista da época agora reflete sobre a sua entrevista em 1992 com o então recém-famoso vocalista do PEARL JAM, Eddie Vedder, numa época "inocente" que definiu o rock alternativo.

Segue:

Ninguém se deixaria enganar pelo disfarce, se é que se pode chamar de disfarce – um capacete simples na cor verde-oliva estilo 2ª Guerra Mundial, com uma peruca loira na altura dos ombros saindo de dentro do capacete - mas Eddie Vedder vestiu mesmo assim o seu disfarce quando saímos dos bastidores do Irvine Meadows Amphitheatre em Orange County, Califórnia, em uma tarde quente em outubro de 1992.

E ninguém foi enganado. Quando o portão se abriu, gritos começaram entre várias dezenas de jovens fãs – homens e mulheres – que se reuniram esperando apenas um vislumbre de alguém, certamente dele.

E aqui estava ele, andando no meio deles...

Há 01 hora atrás, ele terminou de liderar o set explosivo do PEARL JAM. Era o último dia do Lollapalooza 1992 e Vedder era o cara da hora, o cara da turnê e o cara da temporada.

Eu tinha sido designado pelo jornal Los Angeles Times para entrevistá-lo lá, onde o PEARL JAM, neste 2º ano do festival itinerante de rock alternativo em multi-cidades, se juntou a uma programação principal liderada pelo RED HOT CHILI PEPPERS, MINISTRY, Ice Cube, SOUNDGARDEN, JESUS AND MARY CHAIN e outros...

O Lollapalooza inaugural de 1991 foi um experimento encabeçado pelo JANE'S ADDICTION do co-fundador do festival, Perry Farrell, com o NINE INCH NAILS emergindo como a sensação inovadora.


Em 1992, foi a experiência imperdível do verão para a população da Geração X em solidificação.

No início da turnê, alguns meses antes, PEARL JAM era apenas um burburinho underground. Porém, no decorrer da jornada o quinteto disparou para o estrelato e músicas como “Alive”, “Even Flow” e “Jeremy” eram inescapáveis das rádios alternativas e MTV. E com a sua combinação de intensidade séria e perigosa de escalada no palco, Vedder rapidamente se tornou um ícone para uma geração florescente de descontentamento e depressão.

De jeito nenhum ele escaparia do abrigo dos bastidores intocado (literalmente) enquanto as mãos se estendiam para fazer contato. Ele não podia lidar com isso...

“Não suporto as menininhas”, dissera ele, minutos antes, na entrevista que demos para o artigo do jornal Los Angeles Times. “Elas veem você na TV e pensam coisas estranhas e só querem… Tocar em você ou algo realmente nojento”.

Vedder estava em um relacionamento estável por 08 anos naquele momento, ele explicou, e não estava interessado no que as outras lhe ofereciam.

Mas seguimos em frente – sem guarda-costas, segurança ou representante da administração como escolta – e a multidão de adoradores diminuiu, ou pelo menos manteve uma distância mais respeitosa. No último dia do que tinha sido uma aventura notável para ele, Vedder estava saboreando o que o Lollapalooza oferecia - a experiência completa além do palco principal.

Na entrevista, ele falou sobre a rapidez de sua fama e como isso não o mudou: “Ainda sou a mesma pessoa”, disse Vedder. Ele não queria ser visto como uma “celebridade”.

“A meu ver, acho que as celebridades são uma merda”, disse ele.

Passeamos pelo saguão. Ele verificou a comida que os fãs estavam recebendo nas várias barracas, as salsichas, hambúrgueres, tacos, bolos e as cervejas para acompanhar. Ele deu uma olhada nas bancas de merchandising da banda e do festival e nos vários vendedores de artesanato. Ele queria ver quem estava tocando no segundo palco, alguns deles eram velhos amigos, outros, eram novos amigos.

E então, do outro lado do terreno oval, havia um arco de mesas entregues a várias organizações ativistas sociais e ambientais – Greenpeace para uma, Planned Parenthood para outra. A minha então namorada, Mary, estava na última mesa com a sua amiga, Debbie, que era voluntária. Eu trouxe Eddie para que elas pudessem conhecê-lo. Ele foi tão legal quanto poderia ser, ignorando o punhado de pessoas que o reconheceram e se esgueiraram e se concentraram em minhas amigas. Ele olhou para os panfletos e vendo uma prancheta com uma folha de inscrição para quem quisesse mais informações, acrescentou ansiosamente os seus dados pessoais.

Seja 01 ou 02 minutos depois, Debbie olhou para o papel e ficou com uma expressão de choque no rosto.

"Oh meu Deus!" ela sussurrou para mim. “Ele escreveu o seu endereço residencial e número de telefone aqui!” Com certeza, havia uma residência em Seattle e um telefone ao lado do seu nome muito legível. Antes que alguém visse, Debbie escondeu da vista do público.

“Qualquer um poderia ter visto!” ela disse. “E depois iria aparecer lá na casa dele”.

Talvez este fosse o último suspiro de sua inocência. Talvez ele soubesse que no decorrer dessa turnê a sua vida havia mudado. Talvez simplesmente escrever o seu endereço em uma lista de correspondência fosse um ato de desafio contra isso, consciente ou não. Independentemente disso, havia uma doçura nisso e algo precioso nesse ato simples.

Em nossa entrevista antes do passeio, porém, outro lampejo de sua inocência e de sua antipatia pela celebridade carregava um espectro sombrio, uma previsão inconsciente e agora assustadora.


Falando sobre o seu pequeno, mas muito conhecido papel no filme “Singles” (1992) do diretor Cameron Crowe - ambientado na cena rock de Seattle - ele expressou consternação com o processo de mitificação e fetiche daquele mundo do qual ele agora era uma figura central.


Ele havia dito a Crowe - ele contou pra mim - que se o estúdio de cinema valorizasse demais a explosão grunge de Seattle na promoção do filme, ele “compraria uma arma e se tornaria o mártir de toda a cena”. Um pouco mais de 01 ano e meio depois, Kurt Cobain faria exatamente isso.

A próxima vez que encontrei Vedder, ele estava novamente se misturando com a multidão em um show, desta vez muito menor. Era novembro de 1995 na União de Estudantes de Cal State, Long Beach, e ele estava num show em que a banda de sua então esposa, Beth Liebling, estava tocando, HOVERCRAFT (na qual Vedder às vezes tocava bateria, mas não nesta noite). Eles estavam abrindo o show do ex-colega de Cobain, Krist Novoselic, a banda SWEET 75, e a outra banda de Seattle, SKY CRIES MARY.

A cena foi um tanto surreal em 1995, considerando os 03 anos desde aquele Lollapalooza e 01 ano e meio desde que o suicídio de Cobain destruiu este mundo. Muitos dos fragmentos caíram nos ombros de Vedder, enquanto ele e o PEARL JAM estavam no topo da nova geração do rock. Era uma posição precária – e não solicitada – mas a banda encontrou o seu caminho equilibrando a determinação de ser artisticamente independente (já que a sua música já estava evoluindo de uma forma muito distante de qualquer marcação “grunge”), seu compromisso com os fãs (a guerra que a banda havia lançado contra a Ticketmaster em 1994 em relação ao que considerava taxas excessivas e controle do local) e o desdém pelo culto à celebridade que Vedder havia expressado.

Em algum momento durante essa noite em 1995, houve um toque no meu ombro. Eu me virei e lá estava ele, Eddie Vedder. Sem capacete desta vez, mas ele estava usando um boné de baseball e um sorriso doce e brilhante no rosto.

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