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by Brunelson
O mesmo está imbuído na espontaneidade de amigos novos e antigos tocando juntos pelo puro amor à música, e ambos foram entrevistados pela revista Variety e falaram bastante sobre o novo álbum de Eddie Vedder.
Watt, um nativo de 31 anos de idade de Long Island, New York, e vencedor recente do Grammy de produtor do ano, trabalhou de perto com estrelas pop como Justin Bieber, Miley Cyrus e Dua Lipa, bem como com os membros do Rock & Roll Hall of Fame, Elton John e Ozzy Osbourne, mas ele é rápido em confessar que o seu 1º amor sempre foi o PEARL JAM: “Sou um super fã que provavelmente já vi mais de 40 shows deles. Eu cresci tocando guitarra junto com as suas músicas no meu quarto quando era criança”.
De vez em quando, Watt e Vedder faziam encontros casuais em shows do PEARL JAM e de outros artistas, mas a amizade deles se aprofundou durante a pandemia, quando frequentemente compartilhavam músicas via internet.
“Eu já conhecia ele”, Vedder falou com um sorriso. “O que eu mais sabia era que ele era um cara jovem e que acabaria o conhecendo ao longo dos anos na estrada. Eu achava ele uma pessoa muito legal e sabia que era um grande fã do PEARL JAM”.
Então, quando chegou a hora de ensaiar para um show beneficente em maio de 2021 na cidade de Los Angeles, Vedder perguntou se poderia fazê-lo no estúdio de Watt em Beverly Hills, que ele ainda não havia visitado pessoalmente. Durante uma pausa na ação enquanto Watt estava arrumando um microfone, Vedder começou a dedilhar a sua guitarra.
Como Vedder lembrou: “Andrew havia me dito: 'O que são essas mudanças de acordes?' Eu falei: 'Não sei', mas já estava escrevendo a nossa 1ª música sem nem mesmo tentar. Fiquei cerca de 03 dias com base naquele momento para terminar aquela música e depois já veio outra e depois outra veio e assim foi”.
De fato, como Vedder continuou explorando outros instrumentos no estúdio, ele tirou algumas ideias sobre sintetizadores e bateria, resultando nas bases das músicas “Invincible” e “Power of Right”, que se tornaram as duas primeiras músicas do disco “Earthling”.
Watt falou: “Eddie começou a tocar essa melodia que era muito legal e eu me juntei a ele em um ARP-2600 (sintetizador analógico) que Ozzy Osbourne havia me dado de presente, o mesmo que eles usaram em todos os álbuns do BLACK SABBATH. Gravamos esse loop de bateria por cima muito naturalmente e se tornou a canção 'Invincible'".
Nesse ponto, Vedder percebeu que ele e Watt já estavam preparando um álbum e que seria o 1º disco solo de Vedder desde 2011: “Eu acho que já sabia, depois que criamos 02 músicas, que estávamos fazendo um disco e depois de escrever a 3ª canção, aí fodeu...", disse Vedder com uma risada.
Vedder voltou para Seattle, mas ele e Watt continuaram trocando ideias online, incluindo a reestruturação de uma das músicas já concluídas, “Long Way”. A canção alcançou o 5º lugar na parada Triple A da Mediabase e apresentou o tecladista do saudoso Tom Petty, Benmont Tench, em seu órgão Hammond B3.
Em julho de 2021, Vedder voltou a Beverly Hills para mais 03 semanas de composição e gravação, desta vez com a assistência do baterista do RED HOT CHILI PEPPERS, Chad Smith, e do ex-guitarrista dessa mesma banda, Josh Klinghoffer, que agora é um membro de turnê do PEARL JAM como multi-instrumentista e backing vocals. Todos eles escreveram músicas juntos, algo inédito para Eddie Vedder fora do contexto do PEARL JAM ou de trilhas sonoras. Uma vez que as gravações iniciaram, eles raramente precisavam de mais de poucas tomadas para finalizar a mesma.
“Era quase como 02 músicas por dia que gravávamos”, disse Vedder. “As letras poderiam não estar concluídas e tudo mais, porque isso às vezes demora um pouco mesmo, mas tudo realmente fluiu muito bem e nenhuma canção ficou deixada de lado ou estagnada”.
O disco “Earthling” evidencia essa energia solta, particularmente em músicas como a vertiginosa “Rose of Jericho”, a melódica “The Dark” tingida da banda SPLIT ENZ e os riffs pesados de “Good and Evil” e “Fallout Today”. Em outros lugares, a canção “Invincible” faz uma ponte entre os sons de Peter Gabriel com um vocal ágil à la Joe Strummer (THE CLASH), enquanto a música “The Haves” é uma balada de amor liderada por piano inspirada em Vedder assistindo um casal de idosos sem-teto andando de mãos dadas na praia de Veneza.
O produtor Andrew Watt acrescentou: “Isso fez com que a nossa integração fluísse. Chad estava na minha casa, então, na manhã seguinte acordamos, eu tinha um riff na cabeça, ligamos os nossos instrumentos e a canção 'Rose of Jericho' foi escrita e gravada em 10 minutos”, reflete o produtor sobre o seu estado físico naquela manhã após os excessos da noite anterior. “Eddie ficou, tipo: 'Isso é inacreditável, mas não toque novamente até que o microfone esteja pronto e eu esteja pronto para começar, ok?' Ele nem perdeu tempo. Isso foi em 01 ou 02 tomadas vocais e é isso que separa alguém como ele dos outros, Eddie canaliza a sua emoção de uma maneira inacreditável”.
Andrew Watt também disse que: “Ao vivo, a música ‘Rose of Jericho’ é a minha preferida de tocar, é muito foda... Pra mim, é a canção mais divertida de tocar".
Nunca se esquivando de investir seu material com experiências profundamente pessoais, Vedder canalizou tristeza, raiva e compaixão tangíveis em músicas como “Brother The Cloud”, que foi amplamente interpretada como sendo sobre Chris Cornell. Sem abordar diretamente o assunto, Watt falou: “Estamos em um momento de muitas perdas com essa pandemia e a despedida de várias pessoas. São pessoas que estavam com você e agora não estão mais... A música é uma demonstração muito honesta dessa ambivalência, raiva e tristeza”.
À medida que mais material tomava forma, Vedder disse que ele e Watt foram guiados por um conceito simples: “Vamos escrever a música que queremos ouvir e que precisamos ouvir. Às vezes são poucas canções e distantes entre si, então, vamos escrever um disco inteiro dessas músicas. Andrew trouxe em mim paciência para ouvir as ideias de outras pessoas e fiquei muito grato por sua atenção em também escrever músicas e fazê-las soarem ótimas”.
Watt acrescentou sobre Vedder: “A maneira como ele vive a sua vida é algo que espero poder alcançar um dia. Aprendi muito sobre paciência e artesanato. Ele me ensinou muito sobre o que eu chamaria de 'decolagem', que seria perceber quando uma música parece ficar cada vez melhor, mais eufórica e alcançando patamares mais altos”.
“Tínhamos essa teoria de que faríamos ele tocar a canção mais rápida que ele já tocou na vida e seria algo vindo dele que nunca tínhamos escutado antes”, lembrou Vedder. “Quem poderia imaginar isso? Nós meio que nos ajoelhamos na frente dele e tocamos de forma acústica a introdução da música para mostrar a ele como seria, mas Stevie Wonder nem vacilou quando ouviu o ritmo e foi uma coisa incrível de testemunhar”.
Watt adicionou: “À medida que as tomadas continuavam, fomos do sofá para o chão e estávamos literalmente bem embaixo de Stevie sentados/ajoelhados no chão enquanto ele estava sentado em uma cadeira. Foi um dos momentos mais mágicos que já tive na minha vida”.
A participação de Ringo Starr na canção “Mrs. Mills” também aproveitou uma rica veia de tradição de gravação de música. A canção é uma homenagem à amada artista britânica dos anos 60, Gladys Mills, e o seu piano Steinway de 1905 que está alojado no Abbey Road Studios em Londres e que foi utilizado em dezenas de gravações icônicas dos BEATLES. Depois de se maravilhar com a sua presença durante uma sessão de gravação de cordas para o álbum de 2020 de Ozzy Osbourne, Watt comprou o modelo vintage mais próximo desse piano que conseguiu encontrar e o instalou em seu próprio estúdio na Califórnia.
“Dentro de 01 mês antes das sessões de Eddie, de alguma forma, Elton John, Paul McCartney e Stevie Wonder, fizeram músicas neste piano no meu porão”, maravilha-se Watt. “Tornou-se a sua própria Sra. Mills... Contei a Eddie sobre isso e ele se inspirou para escrever uma música sobre a Sra. Mills, mas não dá para saber se ele está falando da mulher ou do piano, tipo, é quase esse duplo sentido, sabe?”
“Havia uma teoria de que ninguém pode ser dono da Sra. Mills e que a Sra. Mills estava feliz no porão com todos esses homens diferentes apenas colocando as mãos em cima dela”, acrescentou Vedder sobre o piano em si. “Ela preferia assim e de certa forma é uma música sobre a independência e o empoderamento das mulheres através de um piano”.
Em uma brincadeira, Watt e Vedder ligaram para Ringo Starr e perguntaram se ele tocaria bateria nessa música e ele não apenas disse que sim, mas usou o mesmo prato de condução que ficou famoso nos álbuns dos BEATLES. Watt falou: “Depois que terminamos, eu e Eddie fomos para a casa de Ringo Starr. Eu falei pra ele: ‘Cara, obrigado. Você é simplesmente o melhor. Ninguém mais poderia ter feito isso'”. Na voz cadenciada com aquele sotaque de Liverpool, Starr respondeu rapidamente: “Não, Andrew, você é o melhor. Eu sou o maior”.
Um convidado final traz o disco “Earthling” a uma conclusão surpreendente: o falecido pai de Eddie Vedder, Edward Severson Jr, um cantor de meio período em Chicago que morreu de esclerose múltipla em 1981 aos 39 anos de idade. Ele aparecia em certas ocasiões quando Vedder era criança, mas o seu pai (divorciado) era sempre apresentando a ele como um amigo da família. A revelação da verdadeira natureza do seu relacionamento é dramatizada na música clássica do PEARL JAM, “Alive” (1º disco, "Ten", 1991) e tem sido um tema recorrente no trabalho de Eddie Vedder desde então.
Alguns anos atrás, Vedder recebeu gravações até então desconhecidas do seu pai cantando. Depois que ele as mostrou para Watt, Klinghoffer e Smith, eles tiveram a ideia de incluí-las no álbum como uma espécie de abertura, construída em torno da letra “I’ll be on my way”. Watt sampleou e repetiu a frase, transformando-a em uma espécie de mantra. Vedder tocou um pouco de guitarra em cima, mas deixou de lado até o último dia das sessões, quando ele pediu a Watt para gravar a fita e então começou a cantar pedaços de letras de todas as outras músicas do álbum “Earthling”.
Vedder acrescentou: “O meu pai nunca recebeu mais por tocar do que a quantia que poderia caber em um pote de gorjetas no topo do piano. Este será o 1º disco em que ele estará e por isso o lançamos juntos. Estou muito orgulhoso dele e por mais que eu não o conhecesse, você pode dizer que temos uma conexão”.
“O que me deixa feliz é que a banda está começando a ter um som, agora que temos música e agora que há uma distinção clara entre ela e o PEARL JAM”, concluiu Watt. “Essa é toda a intenção de qualquer pessoa, tipo, não é uma banda cover do PEARL JAM. É algo próprio, não tira a glória que esses caras construíram e estou feliz por podermos tocar as nossas músicas”.
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