Grunge: fotos que capturaram a alma da geração X
Com origem em Seattle, o grunge conquistou os EUA nos anos 80 e o planeta inteiro no início dos anos 90, se tornando tanto um estilo de vida quanto um gênero musical, impactando em tudo, desde da moda à cultura pop e a sociedade em geral.
Com a década de 90 se afastando cada vez mais da memória, é um bom momento para parar o relógio por um instante e refletir com as fotos grunge que separamos para você nessa matéria e que exploram o surgimento do gênero musical ainda nos anos 80 e fotos no auge do grunge no mainstream nos anos 90.
De blusas de flanela, jeans rasgados, calças, tênis e bermudas de skate a cabelos compridos, o grunge apareceu no mainstream com a figura de Kurt Cobain a frente do navio e que incorporava esse ethos. E embora o grunge tenha nascido antes do NIRVANA, é a figura de Cobain que vem em 1º na mente, assim como a cidade natal berço do grunge: Seattle.
Dentre alguns fotógrafos de respeito de Seattle e região e que ficarão marcados na história do rock, Karen Mason Blair também estava bem no meio desse novo e empolgante movimento. A jovem nativa de Seattle conseguiu passar de um rosto ansioso no meio da multidão a uma fotógrafa profissional que capturou algumas das imagens mais icônicas da época. O seu trabalho premiado é compilado em uma coleção de imagens inéditas, com alguns dos artistas mais envolventes da cena.
O rock alternativo logo tomou conta dos EUA e finalmente tornou-se uma forma dominante de entretenimento em todo o mundo. Das flanelas de atores de Hollywood a Madonna usando a vestimenta em suas produções e à legião de jovens que se identificaram com o som e atitude, o grunge dos anos 90 foi indescritivelmente influente e cimentado no inconsciente coletivo das pessoas.
Conforme documentários e opiniões de muitos críticos, foi o último pico que o rock alcançou em toda a sua frequência ao longo da história como discernimento e governo das coisas em qualquer área ou status social da vida, onde desde crianças caretas brincando de carrinho a empregadas domésticas, playboys e empresários, sabiam do que se tratava e curtiam aquele som.
"Você precisa entender Seattle", disse o baixista do VELVET REVOLVER e nativo de Seattle, Duff McKagan. "É suja, as pessoas estão no rock and roll, no barulho, construindo aviões o tempo todo (fábrica da Boeing), há muita chuva e garagens mofadas... Garagens mofadas que criam um certo barulho".
Grunge, que segundo a lenda foi um termo originado em 1987, quando o co-fundador da Sub Pop Records, Bruce Pavitt, descreveu a música do seu novo cliente, a banda GREEN RIVER, como: "Grunge ultra-solto que destruiu a moral de uma geração", apresenta também uma conotação de sujeira e lixo que essa palavra de 06 letras evoca, certamente se misturando com o estado de raiva e indignação dos jovens desiludidos e criativos de Seattle.
A outra lenda é que o termo grunge foi criado por Mark Arm, então vocalista/guitarrista do GREEN RIVER e logo depois como frontman do MUDHONEY.
Com artistas locais como o MUDHONEY, SCREAMING TREES, MELVINS, SKIN YARD, SOUNDGARDEN e NIRVANA, a estreia da Sub Pop em 1988 contou com bandas que seriam anunciadas como lendas em poucos anos. Naquela época, era uma rede de estações de rádio universitárias, lojas de discos independentes e fanzines que permitiam que a música se espalhasse - a arte perdida da verdadeira propaganda "boca-a-boca".
"Jonathan Poneman e Bruce Pavitt foram as primeiras pessoas que me disseram que esta cena seria enorme", disse o frontman do SOUNDGARDEN, Chris Cornell, sobre os fundadores da Sub Pop.
Quando o NIRVANA lançou o seu álbum de estreia em 1989, "Bleach", a cena musical de Seattle havia se tornado um fenômeno genuíno. Parecia que toda noite haveria outro supergrupo inexperiente no palco do clube Off Ramp Cafe pronto para aprofundar e expandir o som e a estética grunge.
"Não há freios no hype nesse momento", disse Pavitt na época. "Estamos apenas passando por cima do telhado".
"Temos um papel muito grande em espalhar algo do underground para o coração das pessoas", disse John Canelli, vice-presidente sênior de música da MTV na época. "Estamos sempre à procura de qualquer que seja a próxima coisa".
Sem dúvida, a próxima coisa foi o NIRVANA. Caótico, mas melódico, internalizado, mas expressivo, experimental, mas intensamente atraente. Às vezes, as sensibilidades da banda expressas em sua música eram progressivas e ajudaram a fomentar noções de igualdade de gênero entre os seus fãs impressionáveis.
Cobain deixou as suas crenças especialmente claras em 1992, em um apelo direto às pessoas que ouviam a sua música: "Se algum de vocês de alguma forma odeia homossexuais, pessoas de cor diferente ou mulheres, por favor, faça este favor - nos deixe em paz. Não venha aos nossos shows e não compre os nossos discos". Esse comunicado ele deixou bem explícito no álbum "Incesticide" (3º trabalho de estúdio do NIRVANA, 1992).
Embora a música grunge não tenha a reputação de ser tão política quanto outros gêneros, é claro que as opiniões de Cobain ressoaram em muitos dos seus fãs e as suas letras ainda são chocantes e um "tapa na cara" até hoje.
"Kurt Cobain era a antítese do machista americano", disse o jornalista Alex Frank da revista de New York, The Fader. "Ele era um feminista declarado e confrontou a política de gênero em suas letras. Em uma época em que uma silhueta consciente do corpo era o visual definidor, ele tornou mais legal parecer desleixado e solto, não importa se você era menino ou menina. E acho que ele ainda representa um ideal romântico para muitas mulheres".
Quando o álbum "Nevermind" foi lançado, as declarações de Cobain foram tão importantes quanto a sua música e estilo de se vestir. O amor de Cobain por roupas de brechó muitas vezes refletia a estética vista em fotos grunge.
"Kurt Cobain era muito preguiçoso", disse o biógrafo de Cobain, Charles Cross. O co-fundador da Sup Pop, Jonathan Poneman, disse que Cobain era "pobre" e "um cara que dormia nos sofás nas casas dos amigos, no próprio carro ou em bibliotecas", quando o NIRVANA ainda era uma banda de garagem nos anos 80 até algumas semanas depois que o disco "Nevermind" já tinha sido lançado.
E no entanto, o planeta adorou esse visual, com outro exemplo sendo produzido o filme "Singles" de 1992 do diretor Cameron Crowe, mostrando a cena de Seattle acompanhado por jovens amantes. O visual grunge se espalharia por toda a cultura popular e até mesmo aqui no Brasil, quando o NIRVANA se apresentou no Hollywood Rock Festival em pleno verão de janeiro de 1993, via-se adolescentes usando flanela e touca andando por aí e indo ver os shows do NIRVANA em São Paulo e Rio de Janeiro.
"Esse material é barato, durável e meio atemporal", disse Poneman sobre as roupas grunge. "Isso também vai contra a essência de toda a estética chamativa que existia nos anos 80".
Enquanto bandas promissoras de Seattle como o MOTHER LOVE BONE se desfizeram e que acabaria gerando o PEARL JAM, o NIRVANA quebraria recordes e dominaria o planeta através da MTV.
Em 1994, Cobain foi até agradecido no encarte da trilha sonora do filme "Pulp Fiction" do diretor Quentin Tarantino.
Ainda em 1994, meses antes de falecer, Cobain refletiu sobre o quão longe ele havia chegado: "Eu só espero não me tornar tão feliz a ponto de me tornar uma pessoa chata... Acho que sempre serei neurótico o suficiente para fazer algo estranho".
Para milhões de fãs casuais de música em geral, o NIRVANA permanece na vanguarda do grunge dos anos 90 e reconhecível quando a pessoa escuta por aí e nem sabe o nome da banda que está tocando. Mas o que devemos sempre salientar, é que os primeiros dias embrionários do grunge foi fecundado por bandas como o MELVINS, que influenciaram o GREEN RIVER, o que por sua vez deu a ignição para a Sub Pop Records se tornar um sucesso. E sem o SOUNDGARDEN ajudando o novo ALICE IN CHAINS com a mesma equipe gerencial, quem sabe o que teria sido do grupo?
O grunge (uma simbiose do punk rock com o heavy metal e hard rock) é responsável por centenas de milhões de discos vendidos até hoje e definindo desde os anos 90 tendências globais de moda, música e cinema, nascido de uma cidade chuvosa do noroeste do Pacífico, onde os artistas locais se ajudavam mutuamente e sem vaidade.
Tragicamente, o crescente vício em heroína de Kurt Cobain supostamente levou a melhor sobre ele em abril de 1994. Depois disso, muitos batem o martelo com convicção de que o grunge também morreu junto, mas para aqueles que viveram aquela época, sabem que isso é um clichê fácil para rotular algo, pois todas aquelas bandas ainda estavam em atividade, em evidência e lançando discos, com refrescos caindo em nossos ouvidos com o surgimento de grupos como o FOO FIGHTERS, RADIOHEAD, MAD SEASON, QUEENS OF THE STONE AGE e etc...
Claro que não se encontra mais no topo das coisas (muito devido a era cibernética), mas com o benefício do retrospecto, o fogo original não se apagou.
Refletindo sobre a era grunge, Poneman concluiu: "Alguns dizem que, o que aconteceu em Seattle foi pura sorte, mas o que é maravilhoso sobre a sorte é que vai acontecer de novo. Agora mesmo, há uma nova cena nascendo em algum lugar por aí".
Confira algumas fotos que separamos para você da era grunge que foram tiradas pela fotógrafa de Seattle, Karen Mason Blair (inclusive a foto principal lá no começo dessa matéria):
(MOTHER LOVE BONE)
(MUDHONEY)
(Layne Staley, vocalista do ALICE IN CHAINS)
(1º show do PEARL JAM)
(PEARL JAM e SOUNDGARDEN)
(Kurt Cobain)
(Kurt Cobain)
(PEARL JAM)
(ALICE IN CHAINS)
(SCREAMING TREES)
(da esquerda para direita: Chris Cornell (vocalista do SOUNDGARDEN e TEMPLE OF THE DOG), Jeff Ament (baixista do GREEN RIVER, MOTHER LOVE BONE, TEMPLE OF THE DOG e PEARL JAM), Matt Dillon (ator do filme "Singles"), Layne Staley (vocalista do ALICE IN CHAINS e MAD SEASON) e Cameron Crowe (diretor do filme "Singles")
(SOUNDGARDEN)
(Kurt Cobain e Jonathan Poneman)
(Mark Arm e Kurt Cobain)
(Kurt Cobain e Kim Gordon (vocalista/baixista do SONIC YOUTH)
(Kurt Cobain)
(SONIC YOUTH)
(Lee Ranaldo, guitarrista do SONIC YOUTH)
Comments