Jeff Ament: "era apenas ficar em círculo no estúdio e tocar coisas pra fora. Cinco minutos depois já tínhamos a estrutura do arranjo", sobre o método de composição do álbum "Dark Matter"
Depois de 40 anos quando o GREEN RIVER foi formado e 30 anos desde que a morte de Kurt Cobain afundou seu mundo em caos mantendo e trazendo toda a atenção e os holofotes sobre si, o PEARL JAM permanece, hasteando uma bandeira para os forasteiros do rock e encontrando novas maneiras de expressar sua raiva e esperança.
Um novo álbum, "Dark Matter" (12º disco, a ser lançado em 19 de abril de 2024), atesta a sua singularidade como músicos, mas também como pessoas.
A banda foi entrevistada pelo renomado jornalista David Fricke, através da revista Mojo, e falou sobre a produção do vindouro álbum e o poder redentor contínuo da música.
Foi uma declaração notável vinda de uma fonte improvável...
Estamos no evento de pré-estreia do 12º álbum de estúdio do PEARL JAM, "Dark Matter", no clube Troubadour em Los Angeles, ainda em fevereiro de 2024, com o vocalista Eddie Vedder – notoriamente desconfiado do padrão de vendas do rock’n’roll – dizendo à mídia ali reunida: “Sem exageros, acho que este é o nosso melhor trabalho”.
O novo produtor da banda, Andrew Watt, também presente no evento, ficou agradavelmente surpreso com essa declaração. O vencedor de vários Grammys de apenas 33 anos de idade – cujos sucessos e credibilidade vão de Justin Bieber e Dua Lipa a Ozzy Osbourne e ROLLING STONES – nunca tinha escutado Vedder ou qualquer outro membro do PEARL JAM "delirar" com declarações do tipo durante as sessões de gravação.
"Mas Eddie estava trazendo isso em cada tomada de gravação", exclamou Watt, que também foi entrevistado junto com a banda. “Todo coberto de suor depois de terminar uma gravação vocal”. O produtor, um fã de longa data, admite alegremente que usava uma camisa diferente das turnês do PEARL JAM todos os dias no estúdio quando estavam gravando o disco "Dark Matter": “E nós ignoramos isso”, disse Vedder com uma risada granulada. “Eu disse para os caras da banda: 'Pessoal, aguentem firme, apenas ouçam como vai ficar gravado”.
“Stone Gossard (guitarrista) tinha um ótimo riff”, disse o baixista Jeff Ament sobre a canção de abertura do álbum, "Scared of Fear", um turbilhão sonoro capturado no 1º dia de gravação com Watt em abril de 2021, no estúdio caseiro do produtor que fica no porão de sua residência em Beverly Hills. "Era apenas ficar em círculo no estúdio e tocar coisas pra fora. Cinco minutos depois de ter a estrutura do arranjo, Eddie surgia com o cerne das letras". O que pode ser um resumo selvagem das alegrias e comunhões ameaçadas da época da velha Seattle na música "Scared of Fear".
O último álbum do PEARL JAM, "Gigaton" (11º disco, 2020), foi uma experiência mais glacial - desde 2013 sem um lançamento de estúdio: “Nós 05 da banda fizemos gravações demo por muito tempo”, disse Gossard sobre o processo de composição do álbum "Gigaton", “que foram esforços individuais com pessoas acrescentando depois”.
Em comparação, as entranhas escutando uma banda tocando ao vivo na gravação do disco "Dark Matter" vieram daqueles 04 dias no estúdio de Watts em 2021, com poucos encontros nesse meio tempo, até chegarem a passar 02 semanas no verão de 2022 no Shangri-La Studios, na praia de Malibu, California, construído nos anos 70 pela THE BAND (há décadas de propriedade do produtor Rick Rubin) e o cenário para as entrevistas do diretor Martin Scorsese com a THE BAND em seu documentário de 1978, The Last Waltz.
“São bandas da nossa geração e assim, fazemos shows desde sempre”, disse o baterista Matt Cameron. “Podemos nos instalar em qualquer lugar e começar uma apresentação com riffs altos de guitarra, bateria e hard rock melódico. Fazemos isso há décadas”.
Vedder sentiu como se estivesse “acessando um espaço sagrado” quando entrou no Shangri-La Studios. O vocalista viu o documentário The Last Waltz, dizendo: “É a minha introdução a tanta música... Pela 1ª vez, quando era adolescente em Chicago". Ele agora tem um pôster desse documentário pendurado em seu estúdio caseiro ao lado de um baixo, comprado em leilão e que era de Rick Danko, vocalista/baixista do THE BAND.
“Não posso dizer o quanto significou estar naquele estúdio”, acrescentou Vedder. “Foi como extrair energia em um lugar seguro”. E em termos de escrita das letras das canções, ele disse que “foi uma grande parte de ser capaz de ir fundo”.
O disco "Dark Matter" é a resolução mais eficaz do PEARL JAM desde o seriamente eclético álbum "No Code" (4º disco, 1996) e de suas ambições às vezes dissonantes como compositores. Seria o classicismo comercialmente imediato do hard rock dos álbuns "Ten" (1º disco, 1991) e "Pearl Jam" (8º disco, 2006), com aquela inclinação experimental intencional em textura e reflexão como no álbum "Binaural" (6º disco, 2000).
Mas agora no final da meia-idade, esta é uma banda notoriamente idealista avaliando assuntos inacabados e não feliz com isso: “Estou me sentindo esgotado / É bastante impressionante”, Vedder responde nas letras da música "Running", uma blitz de 02 minutos no estilo da banda FUGAZI.
Porém, Vedder não abre mão do resgate e da renovação na música. Questionado sobre o personagem-título da canção "Waiting For Stevie" - uma poderosa parede de 10 guitarras enfeitadas com vocais brilhantes e harmoniosos - Vedder descreve “uma jovem que não se sente apreciada por seus colegas, mas que encontra alívio e conexão na música em um show”, observando sua própria salvação adolescente quando ouviu pela 1ª vez a ópera rock do THE WHO, "Quadrophenia" (6º disco, 1973): “Me senti mais compreendido por esse álbum do THE WHO do que pelos meus professores, familiares ou colegas”.
“Nós, da banda, superamos cuidando um do outro…”, finalizou Vedder.
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