Jimi Hendrix: a polícia realmente plantou drogas em sua mala?
by Brunelson
21 de dez. de 2022
7 min de leitura
Jimi Hendrix é um ícone como nenhum outro.
Para sempre lembrado em meio a um tom chapado e caleidoscópico, o talento de Hendrix com a guitarra é e sempre será a primeira coisa em que alguém pensa ao relembrar da jovem estrela.
Infelizmente, é isso que ele sempre permanecerá para nós também - uma jovem estrela.
Tragicamente tirado do seu futuro na tenra idade de 27 anos, o maior guitarrista que já existiu viria a falecer em 18 de setembro de 1970, após uma overdose de remédios enquanto já estava dormindo. Espumando pela boca e mesmo tendo a possibilidade de ter sobrevivido, a modelo (muito chapada) que estava com ele naquele quarto de hotel na Alemanha derramou uma garrafa de vinho na boca de Hendrix, no intuito de limpar o vômito que ele estava expurgando pela boca, mas que na verdade iria afogar o rei da guitarra o que acumulou uma quantidade absurda de vinho em seus pulmões.
No resultado da autópsia ficou muito estranho para os membros da banda e seus amigos íntimos que conviviam com Jimi Hendrix nas turnês, que foi detectado uma quantidade exagerada de vinho em seu organismo, pois Hendrix não gostava ou não tinha o hábito de beber vinho.
Tanto é verdade, que essa modelo iria conceder entrevistas e depoimentos contraditórios ao longo da vida querendo esconder a verdade e a sua parcela de culpa, que mais tarde iria acarretar no próprio suicídio da modelo...
Talvez, se ela somente virasse o corpo de Jimi Hendrix de lado para que o vômito não lhe afogasse, ele poderia estar vivo até hoje.
Assim como o ROLLING STONES e os BEATLES, a natureza aberta de Hendrix em relação à experimentação de substâncias era enervante para muitos cantos da sociedade.
Com Jimi Hendrix tendo estourado na cena londrina em meio à revolução do ácido LSD em 1966 - o que seria apenas 01 ano antes de Paul McCartney ir ao ar na TV para compartilhar a sua própria experiência de alteração da mente com o LSD - quando você combina isso com o uso flagrante de narcóticos na indústria da música, isto lhe proporciona um tipo de presa que os predadores conservadores adoram engolir.
Foi uma festa positiva de vergonha dos tabloides e arrogância em agarrar pérolas enquanto a “geração de ouro” enfrentava os seus problemas de saúde mental. Em meio a gritos de “algo simplesmente precisa ser feito” e “alguém, por favor, pense nas crianças”, houve uma pressão crescente sobre as forças policiais em todo o mundo para reprimir essas estrelas musicais, que agora não apenas tinham mais dinheiro e fama do que eles, mas sem dúvida tinha o apoio da grande maioria do público - ativamente ou passivamente.
Embora seja grosseiro dizer que a polícia não deveria fazer o seu trabalho de promulgar a lei e reprimir o consumo de drogas como um todo, focar nesse punhado de homens e mulheres artísticas enquanto os próprios produtores, distribuidores e criminosos ligados ao crime estavam andando livres no meio da indústria musical, parecia no mínimo um extravio primordial de meios - na melhor das hipóteses.
Na verdade, era mais provável que as forças policiais de todo o mundo vissem que lucrar com a posse de narcóticos de estrelas do rock era uma oportunidade perfeita para fotos. Espremer as ditas estrelas e encontrar uma grama de maconha aqui ou ali, sempre ganharia mais centímetros de coluna jornalística e favores políticos na consciência pública, do que preferir perseguir os criminosos desconhecidos na rua.
Isso levou a muitas acusações na época, de que a polícia plantaria drogas nas bandas para ganhar alguma manchete e com isso mostrar uma estrela algemada - às vezes até aproveitando para pedir um autógrafo.
O guitarrista do ROLLING STONES, Keith Richards, relembrou as suas memórias quando foi entrevistado pela revista Life: “Quando fomos presos em Redlands, na California, de repente percebemos que este era um jogo totalmente diferente em terras estrangeiras e foi aí que a diversão acabou. Até então, era como se Londres existisse em um belo espaço isolado de tudo, onde você pudesse fazer o que quisesse”.
É verdade que Londres forneceu uma espécie de refúgio para a mente criativa de muitos artistas, o que significa que, quando as estrelas viajavam para o exterior, elas encontrariam um nível inesperado de interrogação no caminho.
É algo que Jimi Hendrix descobriu em seu detrimento quando desembarcou em Toronto, Canadá, no dia 03 de maio de 1969.
A polícia do Canadá o prendeu obedientemente no aeroporto internacional de Toronto por supostamente “estar em posse ilegal de narcóticos”. Hendrix, ao lado dos seus companheiros de banda, o baixista Noel Redding e o baterista Mitch Mitchell, foram presos quando passaram pela alfândega com a alegação de que foram encontradas 06 buchas de alguma substância química dentro de uma garrafa de vidro e que estava na mala de Jimi Hendrix - convenhamos, não seria um bom esconderijo.
No meio de uma grande turnê pelos EUA e tendo finalmente encontrado alguma base na indústria da música em sua terra natal, Hendrix foi naturalmente perseguido pela imprensa após a sua prisão. Enquanto todos clamavam por comentários, alguns até inventando as suas próprias sugestões sugerindo que ele carregava heroína, Hendrix manteve-se firme em meio à enxurrada de perguntas, simplesmente respondendo: “Sem comentários. Sou inocente e os meus advogados irão provar isso".
Fontes da época afirmaram que a polícia do Canadá já estava no aeroporto aguardando o avião de Jimi Hendrix pousar e a princípio nem conseguiram fazer uma identificação clara da substância apreendida. Eles prenderam Hendrix e a sua banda até que um laboratório móvel pudesse ser implantado no local. Um atraso de 04 horas acabou quando Hendrix foi levado ao quartel-general da polícia, sendo posteriormente libertado sob fiança de U$ 10 mil dólares.
Na noite seguinte, reconhecidamente atordoado com os procedimentos policiais, Hendrix disse à multidão antes de iniciar o seu show: “Quero que vocês esqueçam o que aconteceu ontem, hoje e amanhã. Hoje à noite vamos criar um mundo totalmente novo".
Toda a experiência claramente perturbou Hendrix e ficou ainda mais claro que ele sentiu que havia sido enganado. Chegando em seu traje habitual para o show, Hendrix apenas falou algumas palavras, mas lançou um olhar mortífero aos policiais que ali estavam e que perfurou a alma de todos os que estavam ali presentes. Mais tarde, os advogados de Hendrix argumentaram que a garrafa de vidro com as drogas dentro, foram plantadas pela polícia.
Foi algo que foi apoiado por mais evidências, assim como Louis Goldblatt, que atuava como motorista de Jimi Hendrix em Toronto e na época foi entrevistado pela revista Rolling Stone.
Ele afirmou que Hendrix ficou completamente chocado com toda aquela experiência, aparentemente sugerindo que ele foi vítima de uma operação policial. Ele descreveu como Hendrix ficou sem palavras e "genuinamente perplexo com todo o caso". Goldblatt também observou que os policiais se comportaram de maneira estranha durante a apreensão, incluindo o fato de que eles já estavam esperando por Hendrix no aeroporto, o que estava longe de ser típico naquela época.
Também foi estranho que a busca fosse realizada a céu aberto, ali mesmo nos portões do aeroporto, algo que geralmente acontecia longe da vista do público. Foi uma situação em que Jimi Hendrix foi obrigado a esperar por horas à vista de centenas de curiosos ali transitando pelo aeroporto.
Para o motorista, tudo parecia um pouco conveniente demais, sugerindo com aparente racionalidade: “Você deveria ver, pois a polícia nem revistou as nossas coisas e nem da equipe de roadies, sendo que muitas malas foram deixadas para trás no meu carro... Foi inacreditável!”
Muitos acreditam que escolheram implicar com Jimi Hendrix, por se tratar da realeza ungida do movimento hippie do livre "paz e amor" e que agora o movimento estava começando a engolir as áreas metropolitanas e sociais do Canadá. O tornaram como cordeiro sacrificial, um bode expiatório e uma declaração da relutância do governo e da polícia em aceitar essa transformação.
A ideia era que, se você pudesse prender alguém como Jimi Hendrix, poderia enviar uma mensagem para todos os hippies no mundo inteiro e deixa-los assustados.
O julgamento acabou com a absolvição de Hendrix (foto), mas há uma sugestão genuína de que essa apreensão levou Hendrix ao limite.
Não há dúvida de que o guitarrista usava drogas recreativas. Todo mundo sabe disso (os fãs sim, o público mainstream não) que Hendrix era do partido das drogas alegres e psicodélicas (nem álcool ele era muito fã), sendo que na autópsia não foi encontrada nenhuma marca de agulha no seu corpo (caso fosse usuário de heroína) e não apresentava cocaína em seu sistema sanguíneo.
Porém, o seu humor começou a piorar seriamente em meio à fama recém-descoberta e à pressão crescente, passando ainda por problemas burocráticos e de contrato com o seu empresário, o qual sugava mais e mais o dinheiro, energia e fama que Hendrix gerava, com o guitarrista se vendo totalmente amarrado por cláusulas contratuais e sendo obrigado a lançar discos após discos.
Após este incidente, Hendrix foi apoiado pelo baixista Noel Redding, que tristemente afirmou: “Depois dessa apreensão da polícia que Jimi passou, aquilo derrubou qualquer sentimento positivo que ele ainda tinha guardado dentro dele”.
Tanto Redding quanto o baterista Mitch Mitchell observaram em suas autobiografias que a banda foi bem alertada sobre o aumento do foco da polícia do Canadá nas estrelas de rock. Também é estranho de analisar que a polícia foi direto investigar as malas de Jimi Hendrix, como se estivessem convencidos de que nenhum outro membro da banda poderia estar portando drogas.
O guitarrista do MC5, Wayne Kramer, parecia certo de que tudo fazia parte de um plano de grande escala: “Não tenho nenhuma dúvida de que as forças governamentais estavam por trás de tudo isso”, disse ele uma vez. “Houve um esforço e um movimento por parte do governo para acabar com essa ameaça que o rock and roll representava”.
Embora não esteja claro quem colocou as drogas na mala de Jimi Hendrix, há uma boa chance de que não tenha sido ele.
Se foi um fã procurando fazer amigos (era comum na época os fãs entregar/jogar/presentear os seus ídolos musicais com alguma droga ou baseados) ou uma força policial procurando lucrar com um grande nome, a probabilidade é que nunca saberemos ao certo.
Mas Hendrix parecia apontar o dedo para o estado de espírito crescente da elite conservadora, concluindo: “Tudo isso é o sistema revidando... Eventualmente, eles serão engolidos por eles mesmos, mas eu não quero que eles engulam muitas crianças à medida que avancem ao longo do tempo".
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