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by Brunelson
A pessoa que rasgou o livro de regras da guitarra ajudou a trazer a música e a cultura para um futuro melhor, se tornando um iconoclasta ao extremo. Ele fez as coisas à sua maneira, subvertendo a norma estabelecida e galvanizando gerações no processo. É uma prova de sua habilidade que o seu trabalho continua tão alucinante, mesmo depois de mais de 50 anos após a sua trágica morte.
Não digo isso levianamente quando afirmo que nunca houve – e nunca haverá – um guitarrista tão importante quanto Hendrix. Foi ele quem preparou o terreno para outras lendas, como por exemplo, Jimmy Page (LED ZEPPELIN) e Tony Iommi (BLACK SABBATH), a levarem a guitarra por uma rota mais visceral, agressiva e gerar novos gêneros como o punk rock e o heavy metal.
E assim como Bob Dylan, nenhuma pessoa tão singular teve um impacto tão significativo em nosso desenvolvimento musical e cultural.
No entanto, não seria justo caracterizar Hendrix como apenas um músico. Ele era um personagem complexo e um sujeito tímido fora dos palcos, mas o punhado de entrevistas que ele concedeu juntamente com relatos em primeira mão, revelam que ele não foi apenas iconoclasta no sentido musical, mas em todos os sentidos. Ele era um pensador profundo que tinha a sua própria opinião sobre a visão de mundo, devido à sua educação e às muitas aventuras que viveu antes mesmo de chegar à Inglaterra no verão de 1966.
E uma área em que ele certamente tinha muito a dizer era sobre relacionamento racial. Em uma coleção de raras entrevistas, pensamentos e diários lançados em 2013, as ideias de Hendrix sobre o assunto foram expressas em alto e bom som.
Hendrix disse: “A questão da raça não é um problema no meu mundo. Não vejo as coisas em termos de parâmetros, eu vejo as coisas em termos de pessoas. Não estou pensando em negros ou brancos. Estou pensando no obsoleto e no novo. Não há parte colorida agora, nem preto e branco. As frustrações e tumultos acontecendo hoje em dia são sobre coisas mais pessoais. Todo mundo tem guerras dentro de si, então, elas formam coisas diferentes e isto sai como uma guerra contra outras pessoas. Elas se justificam quando justificam os outros em suas tentativas de obter liberdade pessoal e isso é tudo”.
Ele continuou o seu desvio do que era o modo normal de pensar: “Não é que eu não esteja me relacionando com os Panteras Negras (grupo negro socio-político da época). Em certos aspectos, eu naturalmente me sinto parte do que eles estão fazendo. Alguém tem que fazer um movimento e nós somos os que mais sofrem no que diz respeito à paz de espírito e à vida. Eu não sou a favor da agressão, violência ou o que quer que você queira chamar. Não sou a favor de guerrilhas. Não sou a favor de coisas frustrantes como jogar pequenas garrafas de coquetel molotov aqui e ali ou quebrar uma vitrine de uma loja. Isso é nada pra mim, especialmente quando acontece no próprio bairro onde você mora”.
Para um dos músicos negros mais proeminentes de todos os tempos, criticar a beligerância do modus operandi dos Panteras Negras é profundo. Numa época em que os negros americanos lutavam contra o insidioso racismo do seu país com o movimento pelos direitos civis em pleno andamento, Hendrix forneceu um ponto de vista diferente e uma compreensão mais cármica do que estava acontecendo.
A ideia dos relacionamentos raciais não ser um problema em seu mundo era uma opinião que estava muito à frente do seu tempo, pois infelizmente, a discussão entre o “obsoleto e o novo” ainda é forte. A atual disparidade salarial e reconhecimento entre artistas negros e brancos na indústria da música, é apenas dois de todos os indicadores sobre este assunto.
Hendrix explicou: “Não sinto ódio de ninguém, porque isso nada mais é do que dar 02 passos para trás na vida. Você tem que relaxar e esperar passar por este sentimento psicológico. Outras pessoas não têm pernas ou visão porque lutaram em guerras. Você deve sentir pena delas e pensar que parte de sua personalidade elas perderam. É bom quando você começa a somar pensamentos universais e é bom para esse momento em que estamos vivendo. Se você começar a pensar coisas negativas, isso muda a sua personalidade para amargura, agressão e ódio. Todas estas são coisas que temos que varrer da face da terra antes que possamos viver em harmonia, sendo que todas as outras pessoas também precisam perceber isso, se não, vão lutar pelo resto da vida”.
Sobre a necessidade de varrer a negatividade da face da terra, confirma por que as pessoas amam tanto Jimi Hendrix. Ele apenas entendeu como as coisas funcionavam e se ele pudesse ter vivido mais tempo, a sua mensagem sem dúvida teria se espalhado mais através de suas entrevistas e surgimento de novas músicas, o que geraria um impacto ainda mais tangível. Hendrix tinha potencial para se tornar a voz de uma geração, possuindo uma sabedoria tão distante do que costumamos ouvir dos governos e da mídia desde sempre.
Hendrix concluiu, em sua maneira tipicamente enigmática: “Espero pelo menos dar coragem aos que lutam por meio das minhas canções. Eu vivo coisas diferentes, eu mesmo passo por bloqueios emocionais e o que eu descubro eu tento passar para as outras pessoas através da música. Há uma canção que estou escrevendo agora que é dedicada aos Panteras Negras, quero dizer, não pertencente à raça, mas ao simbolismo do que está acontecendo hoje. Eles devem ser apenas um símbolo aos olhos do establishment".
São momentos como esse que nos fazem pensar "e se"? O que Jimi Hendrix teria alcançado no decorrer da década de 70 e além se ainda estivesse vivo?
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