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by Brunelson

Josh Homme: "aceitação é a chave, e aceito que aconteceu e aceito que nunca mais poderá acontecer"


Josh Homme, frontman do QUEENS OF THE STONE AGE, sobre o último álbum da banda, "In Times New Roman" (8º disco, 2023): “Eu estava tentando escrever para sair dos meus problemas”.


Junto com Dean Fertita (guitarrista/tecladista), os membros do QUEENS OF THE STONE AGE conversaram recentemente com a revista britânica New Music Express sobre amigos e conexão, sua amizade com Dave Grohl e um desentendimento nos bastidores com a equipe de Elton John.


O grupo está tendo um mega ano. A banda lançou o álbum "In Times New Roman", seu primeiro disco em 06 anos, que foi o resultado das situações pessoais que Homme passou recentemente - uma batalha legal pública com sua ex-esposa e moldado pelas perdas de amigos próximos como Mark Lanegan (vocalista do SCREAMING TREES) e Taylor Hawkins (baterista do FOO FIGHTERS), sem contar um punhado de amigos fora do reino musical que também faleceram. 


Além das dificuldades de saúde que passou, onde Homme teve que enfrentar um câncer.


Atualmente, o grupo está realizando a 3ª perna de sua turnê americana, após ter retornado em novembro da Europa onde concretizaram a 2ª perna da mesma, com passagens também pelo Canadá e México.



Essa entrevista foi realizada quando eles ainda estavam na Europa.


Confira na íntegra:


Jornalista: Seu show em Londres ontem à noite foi excelente. Parecia que a sensação de alegria e gratidão vinda do palco era muito mais palpável desta vez?


Josh Homme: Todo mundo teve esses últimos 05 anos muito loucos, os meus últimos 05 anos também foram e para muitos dos caras da banda também. E sim, gostamos de tocar na O2 Arena aqui em Londres, de verdade mesmo. Estou sempre em busca de um bom momento e sempre fui um garoto divertido, pois eu quero tanto isso. Se vou estar longe de casa em turnê, quando você deixa todo mundo que você ama em sua casa, então, meu desejo é que pareça que estamos explodindo de alegria. Caso contrário, qual é o sentido?


Homme: Estou apenas em um estado de espírito diferente e posso sentir isso voltando em mim... Às vezes, antes, eu estava preso na minha própria cabeça. Não quer dizer que seja uma coisa ruim, mas é diferente.





Jornalista: Há aquele velho ditado que diz que estamos aqui por um bom tempo, mas não por muito tempo…


Homme: Só sei que isso é verdade. Com certeza estamos aqui por um bom tempo, mas não por muito tempo.



Jornalista: É claro que muito se tem falado sobre os anos de covid, as dificuldades familiares e de saúde que você passou, além da perda de tantas pessoas que você amava…


Homme: Eu sei, todo mundo quer falar sobre isso... É engraçado, porque eu realmente não quero falar sobre isso! Cada disco que lançamos tem uma história ligada a ele, caso contrário, qual é o seu objetivo? Eu entendo que essa é a minha história e sei muito bem que estava tentando escrever para me livrar dos meus problemas, quero dizer, acho que é pra isso que servem os álbuns.


Homme: É engraçado... Acho que no futuro, não importa o que esteja acontecendo, eu deveria apenas cantar sobre cachorrinhos, arco-íris e pôneis que nadam em lagos, porque então, será isso que todos acreditarão que é sobre disso que estou falando, mas eu simplesmente não sei até onde isso vai... Preciso que seja sobre minha vida real no que diz respeito às palavras, sabe? Precisa ser real, ou qual é o sentido?



Jornalista: Em termos de usar a escrita como um meio para sair de tempos difíceis, essa compulsão mudou a sua relação com a banda e com a música desta vez?


Homme: Desde o início estamos tentando acompanhar a nossa inspiração. Nos primeiros 03 ou 04 álbuns, você está apenas correndo para acompanhar as suas próprias ideias, sabe? Nos momentos em que me sentia vulnerável, inseguro ou com medo, era quando tinha as letras mais bizarras para aqueles momentos. Era bom ver a expressão no rosto de alguém se contorcendo enquanto balançava a cabeça curtindo o nosso som em um show, com aquela cara: ‘Do que é que você está falando?’ Agora, eu não tenho tempo pra isso, só estou tentando acompanhar as colinas e vales da vida normal.


Homme: Lidar com as partes mais intensas da vida certamente significa mais pra mim e espero que signifique mais para outras pessoas também. Os dias de atividades infantis já se foram.



Jornalista: Pós-covid, foi difícil para muitas pessoas voltarem à situação de como era antes. Assim como você, que estava se expondo muito mais, não apenas em suas músicas, mas no palco. A 1ª vez que isso aconteceu foi quando você participou daquele show tributo a Taylor Hawkins no estádio Wembley aqui em Londres em setembro de 2022...


Homme: Aquilo foi muito bom, porque sempre dei um valor muito alto ao escapismo como uma mercadoria realmente importante. Ser capaz de cantar a música "Let’s Dance" com Nile Rodgers em Wembley para o meu amigo… Taylor teria adorado aquele show, sabe? É uma coisa tão maravilhosa que talvez apenas Dave Grohl pudesse fazer uma despedida como essa. Ele ficava se perguntando nos bastidores: ‘Essa é uma boa maneira de dizer ‘eu te amo?' Nos últimos anos, nem sempre eu soube dizer ‘eu te amo’ para as pessoas de quem gosto...



Jornalista: Obviamente você e Dave Grohl passaram por provações de perda semelhantes e ele também estava escrevendo uma saída para isso lançando o álbum "But Here We Are" do FOO FIGHTERS (11º disco, 2023). Vocês chegaram a conversar sobre o processo de gravação e produção desse álbum e o seu?


Homme: Sim. Dave é um dos romances mais longos que já tive na minha vida e que funcionou. Ele é um cara tão bom, mas também adoro seu lado mais escuro. Adoro misturar as nossas aquarelas dessa forma, apenas conversando. Nos encontramos em um lugar só para tomar café da manhã, comer waffles e conversar sobre os nossos horários e agendas.



Jornalista: Dean, é fim de ano, o ano de 2023 em que o QUEENS OF THE STONE AGE lançou um dos melhores álbuns de 2023 e realizou uma turnê incrível. Como você está se sentindo em relação fora da banda agora, depois de tudo que passou na pandemia?


Dean Fertita: Estou muito mais focado nas coisas agora. Nos últimos anos, estive muito atento às coisas que eram constantes na minha vida porque havia muitas mudanças e incertezas no que estava acontecendo. É quase como ver uma coisa brilhante no fundo do oceano, tipo, isso vai ser importante pra mim e vou pega-la, antes que alguém mergulhe e tente pegá-la. É como um anel perdido que você encontrou, sabe? Todas as coisas que eram constantes pra mim realmente vieram à tona e estar nessa banda e as amizades que fizemos nessa atual turnê e este último álbum que gravamos, foram mais importantes pra mim do que qualquer projeto anterior que já fiz e das coisas que me proporcionou antes.


Fertita: Todos nós estamos tocando o melhor que já fizemos. Não sei qual é a razão pra isso, talvez nós apenas entendemos nosso relacionamento um com o outro e o que isso significa no contexto da banda.


Homme: Sim, ficamos pensando por que estamos tocando melhor. Certamente não é por falta de tentativas anteriores, mas porque sentimos que estamos mais avançados do que nunca apenas em termos de sermos capazes de fazermos juntos como um grupo. Podemos obter a essência do que isso é e mantê-la? Além disso, não temos mais nada pra fazer. Ficar sentado ou dirigindo por aí pensando: ‘Como podemos entender o que está acontecendo aqui?’ Talvez seja melhor deixar isso de lado, aceitar e aproveitar a vida.





Jornalista: Uma das primeiras vezes que muita gente viu vocês voltarem aos palcos depois da pandemia, foi no Glastonbury Festival em junho de 2023, Inglaterra. Essa magia de tudo entre vocês foi amplificada pela própria magia do festival?


Homme: O Glastonbury Festival é sempre uma experiência interessante, principalmente nas últimas vezes para nós, porque o público sempre nos pede para fazermos um trabalho difícil. Além de dirigir um caminhão de esgoto (sugão) nas antigas, tocar no mesmo dia de Elton John em 2023, tipo, é uma das tarefas mais difíceis, assim como tocar no mesmo dia de Beyoncé em 2011. Ambos foram shows difíceis e muito divertidos, mas difíceis porque você não sabe se quando terminar o show vai ter alguém lá te assistindo. Mas rapidamente todas essas coisas desaparecem e você apenas se diverte. No final das contas, é o lendário Glastonbury e as pessoas estão lá apenas para participar... Escapismo é realmente o que buscamos.





Jornalista: Vocês fizeram aquela parceria com Elton John onde gravaram juntos a música "Fairweather Friends", lançada no álbum "Like Clockwork" do QUEENS OF THE STONE AGE (6º disco, 2013). É verdade que houve uma discussão nos bastidores entre a equipe que acompanha Elton John com os seus técnicos de som, onde Elton John foi visto segurando um "tridente" na situação toda?


Homme: Antes de entrarmos no estúdio, ele me deu um beijo gentil na bochecha e me disse: ‘Divirta-se tocando para umas 03 pessoas’, o que achei estranho e comecei a rir. Depois, quando terminamos tudo, fomos embora e fiquei pensando: ‘Meu Deus, havia muitas pessoas no estúdio, mas normalmente e provavelmente era para ter muito mais então'. Foi uma coisa interessante de se fazer no começo, sendo que depois virou uma merda certeira, mas pelo menos ele havia me dado uma boa previsão.




Jornalista: Nesses últimos anos de sua vida, você estava pensando muito sobre a percepção das coisas e sobre o que estava voltando ao normal?


Homme: Sinceramente, esses últimos 05 anos foram tão intensos que esqueci de lembrar que isto seria percebido de alguma forma. Concluir o novo disco foi bastante difícil e foi mais um suspiro de alívio quando terminamos do que qualquer outra coisa. Só depois de alguns meses que terminamos as gravações do novo álbum, é que percebi que as pessoas iriam recebê-lo em breve e eu não tinha ideia do que isso significava... Tenho tendência a ficar longe de resenhas de revistas como da New Music Express ou de qualquer outra pessoa no mundo, porque não é realmente o meu trabalho focar em como isso será ou é percebido.



Jornalista: Qual será o próximo disco? Serão mais 06 anos antes de um novo álbum ou você já está ansioso para começar de novo?


Homme: Acho que deveríamos estar fazendo alguma coisa... O mantra dos últimos 05 anos já foi e isso também precisa dizer respeito à criação das coisas. Certamente acho que deveríamos fazer mais, mais rápido e melhor.





Jornalista: Já que vocês 02 fizeram parte da banda de apoio de Iggy Pop em 2016, tenho que perguntar se uma nova parceria com ele poderia acontecer, ou se aquilo foi apenas o seu próprio momento no tempo?


Homme: Bom, eu aceitaria de novo.


Fertita: Oh, meu Deus, se algum dia houvesse a oportunidade de fazer isso novamente, seria incrível... Mas não há planos.


Homme: Sem planos e você não pode forçar algo a acontecer. Você apenas tem que estar pronto para aceitá-lo quando chegar.



Jornalista: Para finalizarmos, seria ótimo fazer aquele show novamente no Royal Albert Hall aqui em Londres, que nem vocês fizeram com Iggy Pop naquela época…


Homme: Essa foi a coisa mais legal da qual já pude fazer parte, mas tentar persegui-lo novamente é um grande erro. Aceitação é a chave. Aceito que isso aconteceu e aceito que nunca mais poderá acontecer.





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