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by Brunelson
O guitarrista Kim Thayil sobre os 30 anos do álbum "Badmotorfinger" do SOUNDGARDEN: “Pouco antes de lançarmos o disco, você podia sentir que as coisas estavam prestes a explodir na cena” - em recente entrevista para a revista Guitar World.
O guitarrista mapeia a composição e gravação do lançamento desse 3º disco do SOUNDGARDEN e explica como acabou sendo o seu disco favorito de um dos grupos pioneiros de Seattle.
Por muito tempo, Kim Thayil classificou em entrevistas que o EP de estreia "Screaming Life" (1987) e o álbum "Superunknown" (4º disco, 1994), eram os seus discos favoritos do SOUNDGARDEN: “Eu ia e voltava entre esses dois, baseado no material, na produção e no sentimento da banda naquela época”, disse ele.
No entanto, há 05 anos atrás enquanto vasculhava o material para o 25º aniversário do álbum "Badmotorfinger", os sentimentos do guitarrista começaram a mudar.
“Passei muito tempo ouvindo esse disco novamente e pude rever algumas belas ideias de animação que o nosso diretor de arte, Josh Graham, teve para o álbum. Tudo re-contextualizou o registro pra mim, tipo, também comecei a ouvir partes de bateria e guitarra nas quais não tinha me concentrado antes, o que deu novas cores ao material”.
E 05 anos depois, com o álbum "Badmotorfinger" comemorando o 30º aniversário, Thayil agora o considera o seu favorito no cânone do SOUNDGARDEN. “É um álbum muito colorido”, diz ele. “Tem profundidade, é alucinante, angular e colorido. Eu amo isso".
Formado em Seattle em 1984 por Thayil, o (baterista) vocalista/guitarrista Chris Cornell e o baixista Hiro Yamamoto, SOUNDGARDEN foi o pioneiro de um som agressivamente pesado e psicodélico que uniu os elementos mais violentos do heavy metal e do punk rock.
O resultado, aglutinado a outras bandas, logo ficou conhecido como “grunge”.
Com a adição do baterista Matt Cameron em 1986, o grupo lançou o EP de estreia "Screaming Life" em 1987, seguido pelo álbum de estreia "Ultramega OK" em 1988, ambos pelo influente selo independente de Seattle chamado Sub Pop e que angariava muitas outras bandas da cena.
Em 1989, SOUNDGARDEN se tornaria a 1ª banda grunge a ser contratada por uma grande gravadora, a A&M Records.
Liderando os estágios de planejamento para a gravação desse 3º álbum de estúdio, a banda teve a sensação definitiva de que estava à beira de algo grande: “Sentimos uma atenção cada vez maior sobre nós”, disse Thayil. “Tivemos a sorte de receber uma impressão positiva dos nossos discos anteriores".
“Havia mais pessoas assistindo aos nossos shows e colegas de outras bandas começaram a gostar de nós. Sentíamos como se estivéssemos nos comunicando com as pessoas e que precisávamos alcançar aquilo com o nosso som".
O grupo mais uma vez optou por trabalhar com o produtor Terry Date, de Seattle, que já tinha os guiado nas sessões do álbum "Louder Than Love": “Nós nos sentíamos confortáveis com ele”, continuou Thayil. “Ele nos ajudou a navegar nos bastidores das grandes gravadoras, lidando com orçamentos e a pressão que vinha por parte deles. Com Terry nos produzindo, nos sentimos como se estivéssemos em uma bolha protetora”.
No entanto, quando o SOUNDGARDEN começou a gravar o disco "Badmotorfinger", eles eram uma banda diferente do álbum anterior: Yamamoto havia saído, o seu substituto, Jason Everman, provou ser temporário, e chegando para as sessões estava o baixista Ben Shepherd, um novato veterano de várias bandas punk e uma presença muito querida na cena musical de Seattle.
“Com Ben na banda, o nosso número de combinações de composições aumentou de várias maneiras”, complementou Thayil.
“Estávamos totalmente entusiasmados em tê-lo no grupo. A sua energia, criatividade, o seu jeito de tocar e compor, eu o considero como o personagem definidor do álbum 'Badmotorfinger'. Esse é um argumento fácil pra mim, pois as faíscas de Ben passaram para o resto de nós. Chris Cornell atingiu um passo mais produtivo do que nunca e nós escrevemos músicas de uma forma que se adequou perfeitamente àquela nova formação”.
Todos esses fatores se juntaram lindamente no disco "Badmotorfinger". Em termos de alcance artístico, viu a banda almejar mais alto do que nunca e acertar todas as marcas. Tudo parecia maior, mais grandioso e ascendente, mas ainda assim sensacionalmente "desequilibrado" e a composição tinha amadurecida de uma forma espetacular.
As músicas "Rusty Cage" e "Outshined" foram os sucessos da MTV que venderam o álbum, mas mais adiante haviam canções ambiciosas e artísticas como "Somewhere", "Slaves & Bulldozers" e "Mind Riot", que caíram tão bem quanto os singles desse disco. Para o SOUNDGARDEN, que construiu uma tremenda boa vontade entre a sua base de fãs ao mesmo tempo que se manteve fiel a seus ideais, foi o álbum perfeito para conquistá-los para as massas e imediatamente acessível sem parecer convencional.
Em 1991 e o disco "Badmotorfinger" sendo lançado na sequência do álbum "Ten" do PEARL JAM e no mesmo dia de lançamento de "Nevermind" do NIRVANA, o momento não poderia ter sido mais fortuito. De repente, Seattle era o marco zero de um zeitgeist cultural e o SOUNDGARDEN estava bem no meio disso.
“Pouco antes de lançarmos o disco, você podia sentir que as coisas estavam prestes a explodir na cena”, disse Thayil. “Havia tantas bandas que conhecíamos e amávamos - MUDHONEY, SCREAMING TREES, TAD, MOTHER LOVE BONE - mas infelizmente perdemos o vocalista do MOTHER LOVE BONE, Andy Wood, e depois se formou o PEARL JAM que estava lançando o seu álbum de estreia e todos nós estávamos esperando o disco 'Nevermind' do NIRVANA ser lançado".
“Essas bandas eram da nossa comunidade e agora estavam sendo compartilhadas com todos. Definitivamente havia uma energia acontecendo na cidade e você podia sentir isso”.
Confira a entrevista completa que o guitarrista do SOUNDGARDEN, Kim Thayil, concedeu a revista Guitar World:
Jornalista: Em álbuns anteriores, SOUNDGARDEN testava as músicas novas primeiro nos shows, antes de grava-las no estúdio, mas sabemos que não foi o caso com o disco "Badmotorfinger", certo?
Kim Thayil: Correto. No passado, cada álbum era uma interpretação em estúdio de canções que tocávamos ao vivo em clubes e casas de show - em alguns casos, por anos. Com o disco "Badmotorfinger", acredito que tudo foi interpretado primeiro nos ensaios, depois no estúdio e posteriormente tocando ao vivo as músicas pela 1ª vez quando começamos a turnê do álbum.
Jornalista: Você teve que enviar fitas demo para a gravadora antes de gravar o disco "Badmotorfinger"?
Thayil: Era um protocolo para eles ouvirem o que estávamos planejando gravar. Não era como se tivéssemos que "vendê-las"... No álbum "Louder Than Love" (2º disco, 1989), eles ouviram algum material e conversaram conosco sobre quais canções seriam potenciais para a rádio, mas não queríamos pensar sobre esse tipo de coisa. Pode ter havido algumas demos que eles ouviram para o álbum "Badmotorfinger", mas eles resolveram não interferir muito em nosso trabalho e depois que o NIRVANA estourou, a nossa gravadora realmente nos deixou em paz. Eles sabiam que não tinham ideia do que estava acontecendo e ninguém previu que o NIRVANA iria explodir, mas a atitude deles apenas se tornou: "Ok, há um grande público para esse tipo de música”.
Jornalista: Qual foi o processo de veto para o material dentro da banda? O que aconteceria se alguém chegasse com um riff ou uma música e outro pessoa da banda dissesse: “Não me faz sentir nada”?
Thayil: Isso aconteceu várias vezes. Algumas canções até foram gravadas, mas talvez alguns da banda não as tenham pego realmente. Talvez o riff ou a parte instrumental não estivessem passando algum sentimento, mas depois de 01 ou 02 anos elas apareceriam num ensaio aqui outro lá, ou pode simplesmente ficar estagnada até o próximo ciclo de um novo álbum.
Thayil: Se Chris Cornell tivesse escrito a música "Black Hole Sun" (4º disco, 1994) em torno da época do EP "Screaming Life" ou do nosso 1º disco "Ultramega OK", nós teríamos dito a ele: "Essa é uma música incrivelmente ótima, mas não é apropriada para onde estamos agora. Seria uma coisa visivelmente estranha aqui nesse momento... Talvez, tente vendê-la para outra pessoa".
Jornalista: Vocês gravaram muito o disco "Badmotorfinger" na Califórnia. O que levou a essa decisão?
Jornalista: Vamos falar sobre algumas das músicas do álbum "Badmotorfinger". O uso do pedal wah-wah como filtro de áudio realmente tornou o riff de abertura da canção "Rusty Cage" muito distinto. Como isso aconteceu?
Thayil: Algumas coisas aconteceram lá no momento, sabe? Eu estava usando o pedal wah-wah Cry Baby um pouco mais do que de costume. No disco anterior, "Louder Than Love", comecei a usa-lo nos solos e depois, Chris também começaria a usar. Ele estava realmente interessado em obter sons estranhos e brincou com isso para obter esse tipo de tom filtrado.
Thayil: A minha memória da gravação demo da música "Rusty Cage" é que o som já estava lá. Chris nos trazia uma demo e nós passávamos por mudanças, principalmente porque eu adicionaria um solo de guitarra e escreveria algumas partes de guitarra para dar profundidade a certas seções. Ben Shepherd normalmente teria rédea livre para criar as suas linhas de baixo. Por ser tão rápida e específica ritmicamente, a canção "Rusty Cage" permaneceu basicamente inalterada em termos de baixo e guitarra base.
Thayil: Tinha uma progressão linear legal, tipo, não repetia muito o verso e o refrão e concluímos que não havia espaço para um solo de guitarra. Foi como: "Não vamos desperdiçar. Há o suficiente acontecendo com a guitarra. É rápida e tem muita ação, não precisamos incluir nada".
Jornalista: Você e Chris Cornell usaram afinações que iam além do drop D. Você afinava o Mi grave em B, e em algum lugar a afinação era E-E-B-B-B-B.
Jornalista: E sobre a música "Mind Riot", na qual você afinou cada corda da guitarra em Mi?
Thayil: Chris veio com isso. Acho que foi a partir de uma conversa que ele teve com Jeff Ament (baixista do PEARL JAM), possivelmente durante o período em que eles estavam tocando juntos no TEMPLE OF THE DOG. Acho que Jeff disse brincando para Chris: "Você poderia imaginar afinar todas as cordas da guitarra em Mi? Não seria uma loucura? Seria uma coisa meio idiota de se fazer..."
Thayil: E Chris pensou: "O que aconteceria se eu fizesse isso?" Então, ele escreveu uma música com as cordas todas afinadas em Mi. É hilário, pois um músico poderia pensar que seria uma coisa louca e estúpida de se fazer, mas um membro do SOUNDGARDEN pensou: "Claro que sim, vamos fazer isso". É claro que Chris poderia tirar uma música de uma afinação estranha como essa.
Jornalista: Quais foram as suas guitarras principais para o disco "Badmotorfinger"? Você estava usando principalmente a sua Guild S-100s?
Thayil: Sim, eu ainda uso a Guild S-100 (foto da matéria), mas como muitas das músicas tinham cores diferentes, Chris teria que compensar o meu som e vice-versa. Se ele usasse uma Gibson com humbuckers e tivesse aquele som grave, seria semelhante a Guild S-100 e procurávamos não combina-las.
Jornalista: Além das guitarras, você e Chris escolheriam amplificadores diferentes para complementar o som um do outro?
Jornalista: Você estava usando amplificadores Peavey's, Music Mans e Mesa/Boogie. Está correto?
Thayil: Sim, Provavelmente endossamos o Peavey por um bom tempo e o Music Man era algo que eu usava desde o final da minha adolescência em Chicago. Continuei usando o Music Man durante os primeiros dias do SOUNDGARDEN até que ele quebrou. Eu não tinha o hábito de frequentar lojas de música para consertar as coisas ou encontrar cabeçotes de amplificadores usados, então, foi assim que acabamos usando os Peavey's e eventualmente, os Mesa/Boogies.
Jornalista: Qual foi sua reação ao álbum "Badmotorfinger", depois de terminá-lo de gravar e ter recebido o disco para escutar?
Thayil: É a minha personalidade ser o cara que diz: "Eu amo isso, mas..." Ben também é assim e Chris e Matt eram assim em vários graus. Eu ouço ecos na minha cabeça de Ben me dizendo: "Devíamos ter feito isso. Devíamos ter feito aquilo. Essa parte me incomoda..." Eu também tenho esses pensamentos na minha cabeça.
Jornalista: Qual foi a sua atitude quando o álbum estava para ser lançado? Você ficou animado? Assustado? Ou um pouco de cada?
Thayil: Certamente havia um certo grau de ansiedade. Acho que estávamos mais ansiosos - ou realmente, eu estava - porque foi o nosso primeiro álbum sem Hiro Yamamoto (baixista original). Ele foi um parceiro fácil de compor as minhas músicas. Ele escreveria todos esses riffs no baixo e eu os aprimoraria. Eu escreveria riffs de guitarra que se somariam às suas ideias no baixo, então, agora ele não estava conosco e tínhamos um cara novo e relacionamentos diferentes na composição das músicas. Mesmo Ben sendo uma pessoa ótima, mas era diferente, pois éramos nós sem Hiro.
Thayil: Era uma nova formação e um novo material que não tinha sido testado ao vivo. A dinâmica de composição e a minha presença como guitarrista em uma banda de guitarras foram mudadas. Quão adaptável seria o nosso público? Quão adaptável seria a banda na forma como isso funcionava?
Jornalista: Sim, na música "Room a Thousand Years Wide".
Jornalista: Para encerrar, já se passaram 30 anos desde que o disco "Badmotorfinger" foi lançado. Parece que o tempo passou em um piscar de olhos?
Thayil: Isso é totalmente o que parece. Quando eu tinha 10 anos de idade e precisava de uma perspectiva, pensava em 01 década antes do meu nascimento, que seria os anos 50. Eu pensava: "Nossa! Isso foi há muito tempo!" Já voltar 30 anos antes de eu nascer, tipo, era uma coisa muito antiga pra mim. Não havia TV ou filmes coloridos e era tudo meio pré-histórico nos anos 30.
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