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by Brunelson
O clube Max's Kansas City era mais do que um local para a música underground da época, era o epicentro da arte de New York.
Se você puder imaginar uma época em que pudesse experimentar a arte e qualquer coisa cultural sem ter que gastar muito dinheiro - ou uma época em que artistas e boêmios comandavam o show - a cidade de New York era espontaneamente o local do momento, paixão e criatividade para se tornar na Meca cultural do estilo.
A arte encontrada nas paredes, tetos, janelas e os rostos de artistas se apresentando no palco por trás da fumaça pesada de cigarros, era um layout que pertencia à composição orgânica do Max's Kansas City.
Como disse o fotógrafo croata, Anton Perich - responsável por tirar muitas das ótimas fotos associadas ao local - da vez que foi entrevistado pela revista Flashback: “Havia 03 epicentros no Max's Kansas City: o bar, o camarim e o andar superior. Cada zona tinha a sua arte proeminente".
“Mickey (proprietário) foi o principal curador da época”, continuou o fotógrafo. “O bar tinha uma escultura flutuante de Forest Myers. A janela era de Michael Heiser. Pelo corredor estava Donald Judd. Na sala central havia um carro batido por John Chamberlain que tinha pontas afiadas devido ao acidente e você poderia ver algumas garçonetes que tinham hematomas nos braços por arrastarem sem querer no veículo. No camarim tinha a lendária cruz de néon de Dan Flavin, bem como o Laser’s End de Myer - provavelmente a escultura mais imaterial já feita. No andar de cima havia alguns quadros de Andy Warhol e eu estava exultante por estar trabalhando ali... Estes são os verdadeiros segredos do Max's Kansas City”.
Embora a reputação do bar/clube se distanciasse de qualquer conexão com o seu nome de batismo, Ruskin decidiu manter o nome de sua afiliação anterior depois que um dos seus clientes mais ilustres, o poeta Joel Oppenheimer, comentou: “Quando eu era criança, todas as churrascarias tinham Kansas City no menu porque o melhor bife era cortado em Kansas City, então, achei que deveria ser 'algo em Kansas City'”.
Talvez houvesse algo atraente na natureza caprichosa do nome que atraiu os mais diversos tipos criativos. Enquanto a multidão inicial que frequentava o pico eram amigos de Mickey, os escritores mais velhos e mais acadêmicos também encontraram algum espaço nesse bar encardido.
Eventualmente, Andy Warhol e a sua frenética equipe começaram a aparecer...
Indo para os anos 70, o Max's Kansas City começou a ver multidões de roqueiros brilhantes, nomes como David Bowie, NEW YORK DOLLS, Marc Bolan, Iggy Pop, Patti Smith, RAMONES e dentre outros.
Certa vez, David Bowie falou sobre a importância de um local como esse para as estrelas em ascensão: “Conheci Iggy Pop no Max's Kansas City em 1970 ou 1971”, relembrou Bowie. "Eu, Iggy Pop e Lou Reed sentados numa mesa sem absolutamente nada a dizer um ao outro, apenas olhando para a maquiagem dos olhos um do outro".
O icônico escritor, William Burroughs, foi visto algumas vezes no clube sentado num canto escuro, assim como Mick Jagger foi visto dançando com o ator Dennis Hopper durante um show do VELVET UNDERGROUND.
Todos os sonhos do rock estavam se tornando realidade bem ali.
Na verdade, VELVET UNDERGROUND até gravou um álbum no Max's Kansas City, apropriadamente chamado "Live at Max's Kansas City". David Byrne, vocalista do TALKING HEADS, antes de se mudar para a cidade de New York, encontraria o caminho até lá para ter um vislumbre do então crescente movimento da cena na cidade. Para adicionar ainda mais tempero de talentos, até um desconhecido Bob Marley abriria um show para um Bruce Springsteen um pouco menos desconhecido em um dos momentos mais incomuns na história do local.
Um dos maiores destaques dessa iteração do local aconteceu em 1973, quando a banda THE STOOGES se apresentou num clube lotado. Iggy Pop, o "ator" principal, dentro do seu próprio elemento, sem nada a perder e incorporando totalmente o verdadeiro espírito punk, fez com que uma cautelosa Bebe Buell, a modelo da agência da Ford e namorada de Todd Rundgren, comentasse: “Havia aquele elemento de perigo antes do show começar, porque todo mundo tinha ouvido falar de suas travessuras no palco”. Esta seria a noite que levaria Iggy Pop a começar a se cortar com cacos de vidro.
Todas essas informações são de acordo com o livro de Paul Trynka sobre o punk de New York, chamado "Iggy Pop: Open up and Bleed - The Biography": “Na 2ª noite do show do THE STOOGES, o clube estava novamente lotado e Iggy Pop caminhou por cima das mesas, cadeiras e olhando feio para a multidão. Uma cadeira balançou ou foi puxada debaixo dele, o que fez Iggy Pop escorregar e cair sobre uma mesa cheia de copos que se estilhaçou com o seu peso. Quando Iggy se levantou, ele estava com cortes no peito, no queixo e um corte em uma das costelas. Iggy cambaleou ensanguentado para o lado querendo retornar ao palco e as pessoas começaram a gritar para ele: "Vamos parar com isso, cara! Você não pode mais continuar desse jeito!" Iggy continuou cantando, o sangue escorrendo pelo seu peito e ele descobriu que se puxasse o braço esquerdo para trás, o sangue de sua costela jorraria em um fluxo contínuo”.
Em 1974, aquela cena já estava em declínio e grande parte da multidão começou a diminuir, então, Mickey Ruskin teve que fechar as portas e o local foi reaberto 01 ano depois, agora por Tommy Dean Mills, que foi a pessoa que capitalizou a explosão da cena punk rock no Max's Kansas City.
O outro lendário clube de New York, o CBGB, tinha sido inaugurado somente em 1973 e a essa altura, certamente havia uma competição acirrada entre os dois locais. De acordo com o jornalista Ron Hart, da revista Rolling Stone, ele explicou como foi o papel desses 02 picos: “Enquanto que o CBGB, também um marco histórico de New York, havia lançado as carreiras de bandas como os RAMONES, TALKING HEADS, TELEVISION e outras, o Max's Kansas City estava localizado cerca de 01 quilômetro ou mais, o que também era o lar para a cena underground e punk da cidade".
O Max's Kansas City rapidamente criou o seu próprio álbum - coisa que o CBGB também iria fazer. O disco foi intitulado "Max’s Kansas City: 1976", que incluiu atos incríveis de bandas e artistas como NEW YORK DOLLS, Iggy Pop, Sid Vicious e Johnny Thunder, o que torna uma escuta essencial para os fãs do gênero.
Mas como nada dura para sempre nessa vida carnal, o clube chegaria ao fim em 1981. Um 3º ato de curta duração tentou reabrir o local em 1998, mas sem sucesso.
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