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by Brunelson

Mudhoney: “quando saía com Kurt Cobain, ele era uma pessoa engraçada e não um cara deprimido"


O vocalista/guitarrista do MUDHONEY, Mark Arm, foi recentemente entrevistado pela revista britânica Kerrang e refletiu sobre o seu sucesso inicial, a ascensão do grunge em Seattle, sua amizade com Kurt Cobain (foto), brigando com John Lydon (vocalista do SEX PISTOLS e da banda PIL) e muito mais.


Seguem alguns trechos dessa matéria e entrevista:

Não é incomum encontrar um músico nas instalações de sua gravadora. O que é um pouco mais raro é conversar com eles durante um dia de trabalho na própria gravadora.


Foi assim que Mark Arm foi entrevistado, numa pausa para o almoço na profissão paralela que ele manteve nos últimos 15 anos como um dos gerentes da Sub Pop.

É uma situação que reflete a natureza realista do homem e de sua banda.

Mesmo numa cena que parecia uma reação à natureza corporativa do rock dos anos 80, MUDHONEY foi um dos menos estrelado dos principais impulsionadores do grunge. Mark Arm já estava lá no marco zero do gênero quando fazia parte do GREEN RIVER junto com o seu parceiro musical de longa data e também até hoje no MUDHONEY, o guitarrista Steve Turner.

GREEN RIVER ainda contava com o baterista Alex Vincent e a futura dupla do MOTHER LOVE BONE e do PEARL JAM, o baixista Jeff Ament e o guitarrista Stone Gossard.

Quando a banda terminou, Mark e Steve recrutaram o baterista Dan Peters e o ex-baixista do MELVINS, Matt Lukin, para formarem o MUDHONEY. Contratados pela Sub Pop - a gravadora que definiria a cena de Seattle no final dos anos 80 e início dos anos 90 - eles se tornaram os primeiros grandes sucessos underground do grunge, trazendo o NIRVANA para o Reino Unido pela primeira vez como sua banda de abertura dos shows no final dos anos 80.

Com 03 anos antes do mega hit do NIRVANA, "Smells Like Teen Spirit", ter sido lançado, MUDHONEY já tinha o single de estreia com a música "Touch Me I’m Sick", que realmente foi o primeiro hino do grunge antes de virar "grunge". Bandas como o SONIC YOUTH começariam a fazer cover desta canção.

À medida que os anos 90 avançavam e o som de Seattle tendia para vibrações mais pesadas e angústia lírica, MUDHONEY continuou a tocar música inspirada mais pela psicodelia, punk e rock de garagem dos anos 60, do que ficar voltado mais para o heavy metal. Apesar de passar a maior parte da década de 90 numa grande gravadora, eles optaram por não competir com os seus colegas, mas o século 21 os encontrou de volta na Sub Pop e ainda entregando uma série de álbuns que irradiam uma atitude renovada.

E por voarem abaixo do radar, eles sobreviveram mais de 03 décadas com apenas 01 mudança na formação e sem fatalidades, um estado de coisas tragicamente raro entre os seus contemporâneos.

Pessoalmente, Mark é um cara envolvente, rápido pra rir e atender as declarações com as quais concorda com um contagiante: "Sim, sim, sim, sim!!!" A sagacidade cáustica pela qual ele é conhecido e tem sido um fator sempre presente em suas letras, parece muito mais suave aqui pessoalmente...


Jornalista: Como foi a sua infância?

Mark Arm: Foi a típica criação suburbana dos EUA que você teve nos anos 70, exceto que os meus pais eram provavelmente duas gerações mais velhos do que outros pais na minha época... Também havia uma diferença cultural com a minha mãe, que cresceu como membro da Juventude Hitlerista durante a 2ª Guerra Mundial, quero dizer, se você estava crescendo como uma criança na Alemanha nos anos 30, era isso que você tinha que fazer. Ela era fã de música clássica e achava que qualquer outra música era uma porcaria - e isso incluía clássicos modernos (risos).


Jornalista: O que primeiro mudou você para gostar de música?

Arm: Apenas a ideia do rock'n'roll. Parecia fascinante antes mesmo de eu saber ou entender o que era. Me lembro de cantar músicas dos BEATLES sem nunca ter ouvido a música, apenas tendo escutado de outras crianças, sabe? A música popular não era permitida em casa, então, eu fugia para o carro dos meus pais e ficava ouvindo o Top 40 da rádio quando criança... Eu sempre ficava mais animado com as músicas mais altas e pesadas.


Jornalista: Então, provavelmente em algum momento você se deparou com o punk rock...

Arm: Eu me lembro de assistir a um programa de TV que mostrava esses britânicos de aparência estranha com alfinetes nos rostos. O programa falava sobre a aparência deles e as coisas desagradáveis que faziam, sendo que no final eles mostraram uma banda, que só mais tarde fui perceber que era o THE DAMNED, porque o vocalista Dave Vanian é uma figura marcante. Me lembro de ouvir aquilo e pensar: "Essa música não é tão ruim assim!" Mas antes da banda tocar, eu pensava: "Cara, espero que essa merda não venha para os EUA, porque é muito esquisita!”


Jornalista: Como era a cena dos clubes em Seattle naquela época, no início dos anos 80?

Arm: Não haviam clubes, eram todos salões alugados. Você se reunia com outras bandas e fazia, tipo, um depósito de U$ 150 dólares e esperava que os punks que fossem ao show não destruíssem os banheiros ou roubassem as comidas do freezer, o que acontecia, é claro, e sempre perdíamos os nossos depósitos de cauções (garantia).


Jornalista: Olhando para trás, é fácil olhar e ver que o GREEN RIVER foi uma das primeiras bandas a tocar esse novo som, mas na época, parecia para você que estava liderando um novo som?

Arm: Não. Com o GREEN RIVER eu senti como se estivéssemos fazendo o que muitas bandas faziam por volta de 1984, especialmente bandas que estavam enraizadas no hardcore que era tentar descobrir o que fazer a seguir. Isso ia desde bandas como THE REPLACEMENTS, que era basicamente um grupo de rock'n'roll puro, até o BUTTHOLE SURFERS. Sentimos uma afinidade com essas duas bandas e foi uma época incrível no rock americano. Se desenrolou completamente no underground e ninguém de nós dava a mínima, o que eu acho que é algo que permitiu que aquela cena florescesse. Foi estranho quando, alguns anos depois, essas duas bandas foram contratadas por grandes gravadoras.


Jornalista: É verdade que quando o GREEN RIVER abriu um show da banda PIL em Seattle, você destruiu o camarim deles?

Arm: (Relutantemente) Sim (risos).


Jornalista: Qual foi o motivo?

Arm: Parecia que havia muita porcaria de astro do rock acontecendo, sabe? Pra nós, o punk rock era como uma estrela anti-rock, igualitária e foi estranho descobrir que alguém que você admirava, John Lydon, era um homem que insistia em certos confortos para si e talvez fosse um tanto pomposo. Mas uma coisa foi legal, conheci o guitarrista John McGeoch e conversamos. Ele era doce e ficou totalmente surpreso que alguma criança de um lugar distante como eu, tivesse alguma ideia de quem ele era, então, nem tudo foi terrível naquela noite.


Jornalista: Duas das bandas mais duradouras da cena de Seattle e que se originaram do GREEN RIVER, os grupos MUDHONEY e PEARL JAM, são muito diferentes. Isso explica por que o GREEN RIVER não funcionou naquela época?

Arm: Sim, acho que se você voltar à divisão original e olhar primeiro para o MOTHER LOVE BONE e o MUDHONEY, este seria o contraste mais forte de analisar. Eu estava interessado em criar ótimos riffs de rock e estava apenas cuspindo escuridão nas letras (risos), então, eu posso ver porque Jeff Ament e Stone Gossard queriam ter um vocalista como Andy Wood no MOTHER LOVE BONE, em vez de mim no GREEN RIVER... Está claro agora, mas na época não era.


Jornalista: Quando o MUDHONEY começou, você recebeu muita atenção da imprensa musical britânica, sendo que o lendário DJ de rádio, John Peel, começou a tocar os seus discos. Por que você acha que o Reino Unido entrou nisso tão rapidamente?

Arm: Naquela época, muitas coisas independentes britânicas não eram impetuosas. Havia algumas exceções, é claro, mas eu me lembro de trabalhar numa estação de rádio de uma faculdade e havia tantos anglófilos tocando essas coisas que eu achei que eram merdas, e pensei: "Há tantas coisas boas acontecendo no underground americano, por que vocês não estão tocando isso?” Estávamos tentando derrubar as portas para o rock'n'roll, em particular para as formas simples e diretas influenciadas pelos anos 60 e 70, mas obviamente, não éramos uma banda progressiva ou algo parecido.


Jornalista: Quando o grunge explodiu, as bandas de glam/hair metal alegaram que o NIRVANA, vocês e as outras bandas de Seattle, arruinaram as suas carreiras. Como você se sentiu sobre isso?

Arm: “(Risos por algum tempo) Bom, MUDHONEY não tirou ninguém das paradas. Todos eles estavam bem seguros, mas foi numa boa hora... Muitas dessas coisas eram merdas fracas, claro, não afetou as bandas mais pesadas do heavy metal como o METALLICA, que estava lançando o "The Black Album" e eles foram gigantes. Afetamos apenas as mechas franzinas dos cabelinhos dos poodles... E o GUNS N’ ROSES, tipo, eles poderiam ter tido uma abordagem sonora mais corajosa se comparada com o glam metal, mas ainda tinham um pouco da arrogância de Hollywood e acho que abriu caminho para uma banda como o NIRVANA ser ouvida por um grande segmento da população nas rádios.


Jornalista: Quando o grunge ficou gigante e o MUDHONEY participando da trilha sonora do filme "Singles" em 1992, foi a hora que você sentiu que toda aquela cena underground havia acabado?

Arm: Mesmo em 1989, quando fomos ao Reino Unido pela 1ª vez, já achávamos que o hype sobre Seattle era excessivo. Você poderia colocar as palavras "Seattle" ou "Sub Pop" num pôster e isso atrairia as pessoas, pois faria a diferença. Respondendo a sua pergunta, provavelmente significou que algumas bandas realmente boas que não eram de Seattle ou daquela cena, caíram por terra... Mas não sei, acho que isso é um pouco de marketing também.


Jornalista: No final dos anos 90, vocês deixaram de propósito a Reprise Records e o baixista Matt Lukin deixou a banda. Parecia que as coisas estavam diminuindo para o MUDHONEY naquele ponto?

Arm: De certa forma, sim. Nós nem mesmo fizemos uma turnê europeia do álbum de 1998, "Tomorrow Hit Today" (5º disco). Fizemos um show no clube The Garage em Londres e não havia imprensa nem nada, e foi naquela época em que o rock'n'roll estava aparentemente morto - pela bilionésima vez. Eu pude ver como as pessoas estavam querendo virar as costas para o grunge, porque foi uma reviravolta deprimente que levou à morte de Kurt Cobain e depois, à morte de Layne Staley (vocalista do ALICE IN CHAINS). As pessoas pensavam: "Se este é o resultado final, eu não quero participar disso". Felizmente, não acho que nunca levamos nada tão a sério, incluindo a própria vida, tipo, se você olhar as letras das músicas do ALICE IN CHAINS, muitas delas são na verdade sobre ser um viciado em drogas, tipo: "Foda-se, cara, é quase como se você estivesse disposto a ser isso" ou "É tudo o que há na sua vida, então?" Tudo isso é muito triste, quero dizer, eu também tenho algumas músicas que fazem menção a isso, mas não era algo que eu sempre quis que fosse uma coisa consumidora e definidora em minha vida, sabe?

Arm: De qualquer forma, tocamos no clube The Garage em Londres e parecia haver muito pouco interesse do público. O estranho é que foi o primeiro show em que vimos os mini-Cobains: garotos que se vestiam como Kurt Cobain, com blusas parecidas e o mesmo corte de cabelo. Acho que isso se dissipou agora, mas durante anos sempre houve alguns mini-Cobains tristes na plateia, pessoas que pensavam que tudo sobre Cobain era de uma pessoa pessimista, tipo: "Ele era um cara deprimido e no colégio com os valentões também é difícil pra mim". E honestamente, na maioria das vezes quando eu saía com Kurt Cobain, ele era um cara muito engraçado e não apenas alguém que ficava deprimido.


Jornalista: Parecia que para nós aqui do outro lado do Atlântico, lendo sobre o NIRVANA no final dos anos 80 e em 1990, até mesmo depois que o álbum "Nevermind" foi lançado em 1991, eles passavam a imagem de serem divertidos e patetas...

Arm: Sim, como a aparição deles no programa da MTV chamado Headbangers Ball, quando Kurt apareceu num vestido amarelo de baile. Não se tratava apenas de ficar deprimido e triste.


Jornalista: Voltando ao assunto, logo depois que o baixista Matt Lukin saiu da banda, vocês se viram sem um contrato com alguma gravadora. Guy Maddison se juntou à banda no baixo, então, vocês voltaram para a Sub Pop e lançaram o álbum de 2002, "Since We’ve Become Translucent" (6º disco). Pareceu um novo começo?

Arm: Ah, sim, tínhamos o vento a favor em nossas velas do barco e então, acho que todos nós tivemos um prazer perverso em começar o álbum com a música "Baby, Can You Dig The Light", que era basicamente uma homenagem ao documentário de 1972 do PINK FLOYD, "Live in Pompéia".



Jornalista: No livro do autor Michael Azerrad de 2001, "Our Band Could Be Your Life", você cita uma fala do guitarrista Steve Turner, dizendo que o MUDHONEY seria lembrado apenas como uma nota de rodapé. Para encerrar essa entrevista, você ainda pensa dessa forma?

Arm: Não sei... Talvez sejamos apenas uma nota de rodapé muito grande? Não importa. Guy está numa missão para conseguir o Grammy para nós e eu não tenho certeza de como isso vai funcionar, mas ele continua trazendo isso à tona em nossas conversas... Talvez, se conseguirmos um Rock and Roll Hall Of Fame, mas não estamos prendendo a respiração até lá, mas pelo menos já estamos autorizados a concorrer.

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