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by Brunelson

Nirvana: novas revelações e curiosidades dos bastidores do álbum "In Utero"


Dave Grohl (baterista), Krist Novoselic (baixista), o produtor do disco "In Utero", Steve Albini, e funcionários do estúdio que estiveram trabalhando durante a gravação desse álbum, foram entrevistados pela revista Mojo referente ao relançamento em comemoração ao 30º aniversário deste que foi o último álbum do NIRVANA (4º trabalho de estúdio, 1993).




Confira a matéria e as entrevistas na íntegra:


Convencidos de que haviam comprometido a sua ética punk rock com o brilhante e vistoso álbum "Nevermind" (2º disco, 1991), o NIRVANA resolveu fazer do seu último álbum de estúdio um serviço despojado e sem frescuras – quer a sua gravadora gostasse ou não. Começou com uma intensa sessão de gravação de 10 dias com o seu herói das antigas, o produtor Steve Albini, e um álbum que alarmaria a gravadora da banda e causaria uma rixa entre o grupo e o seu produtor.

Brent Sigmeth, funcionário do Pachyderm Recording Studios - onde foi gravado o disco "In Utero" - tinha certeza de somente 03 coisas quando chegou para o seu 1º dia de trabalho em seu novo emprego. Primeiro, ele sabia que ninguém menos que Steve Albini estava contratado para entrar no estúdio. Segundo, ele sabia que Steve Albini estava vindo para gravar uma banda chamada THE SIMON RITCHIE BLUEGRASS ENSEMBLE.

E terceiro: mas que porra era essa banda?

Imediatamente isso lhe pareceu curioso, embora Albini já tivesse gravado nesse estúdio antes produzindo álbuns para artistas consagrados e de algum renome, como THE WEDDING PRESENT e PJ Harvey. Situado a mais de 60km a sudeste da cidade de Minneapolis, cercado por florestas e com apenas a cidade de Cannon Falls (população: 3.400) como civilização local, o Pachyderm é um estúdio residencial isolado, oferecendo aos clientes conforto e privacidade. As distrações imediatas pela vizinhança são poucas, com as bandas indo lá para fugir da irregularidade de suas vidas “normais” para conseguir realizar um bom trabalho. Embora não seja o exemplo mais caro de tal instalação, estava muito além das possibilidades da maioria das bandas com as quais Albini trabalhou, gravações essas que geralmente aconteciam em seu próprio estúdio caseiro em Chicago.

Tudo isso e o fato de Simon Ritchie ser na verdade o nome verdadeiro de Sid Vicious (baixista do SEX PISTOLS), levou Sigmeth e seu colega de trabalho, Bill Satler, a concluir que, se Albini estava trazendo uma banda que exigia um pseudônimo, então, essa não era qualquer banda. Quem quer que fosse, Sigmeth recebeu logo em seu 1º dia uma tarefa atípica a fazer. Sendo um novo engenheiro de som contratado pelo estúdio, a sua 1ª tarefa era dirigir até o Aeroporto Internacional de Minneapolis/Saint Paul, pegar uma carga misteriosa que seria entregue e levá-la para o estúdio, o qual seria a sua casa e local de trabalho na próxima quinzena.

Ou seja, ele não esperava um grupo de músicos de bluegrass...

Em meados de fevereiro de 1993, uma neve espessa caía no chão em Cannon Falls. Os invernos de Minnesota são notoriamente rigorosos, com as temperaturas lutando para subir acima de dois dígitos abaixo de zero. Então, quando um grande caminhão carregado com equipamentos de uma banda chegou naquela noite, o mesmo não conseguiu subir a colina final para chegar até o estúdio. Quando Brent Sigmeth e Bill Satler pegaram uma van com tração nas 04 rodas para ajudar o caminhão a subir a colina, a verdadeira identidade dos mais recentes clientes do Pachyderm Studios se tornou conhecida: era o NIRVANA.

“E então, logo depois eu tive que ir ao aeroporto para buscá-los”, disse Sigmeth. “No meu 1º dia de trabalho! O que foi meio maluco, tipo, eu deveria segurar uma placa que dizia ‘The Simon Ritchie Bluegrass Ensemble’. O que eu não fiz! Eu apenas acenei para eles. Kurt Cobain e Krist Novoselic estavam passando e eu disse: 'Sou a sua carona!', e eles vieram comigo".

Quando Brent Sigmeth começou a trabalhar no Pachyderm Studios, ele tinha acabado de sair da faculdade de engenharia e procurava emprego. Tendo crescido em Cannon Falls, parecia senso comum abordar Jim Nickel, o proprietário do Pachyderm, e ver se ele daria uma chance a esse garoto nativo da cidade. Nickel o contratou e Sigmeth ainda estava se instalando em sua "nova casa" quando os seus ilustres companheiros chegaram.

“Então, lá estava eu, essa pessoa fingindo que não estava nem um pouco impressionado e confuso sobre como o NIRVANA apareceu na sala de estar quase sem avisar!” ele ri. “Parece surreal agora, porque foi a 1ª coisa em que me envolvi aqui. E também foi definitivamente muito inspirador que, como engenheiro de som, eu tenha visto o trabalho do produtor Steve Albini. Ele é brilhante e acho que é o seu domínio geral das ferramentas de engenharia com as quais trabalha que me chamou a atenção. Ele sabe o que está usando, o que está fazendo e ele é muito inteligente nisso. Albini se preocupa com a integridade sonora, o que eu aprecio isso nele. Acho que Albini e o NIRVANA formaram uma união muito legal de pessoas criativas”.

Poucos hoje contestariam a avaliação de Sigmeth. O disco "In Utero" foi e continua sendo até hoje um trabalho incrível. Além de um tórrido tratado pessoal de um artista problemático, mas destemido, também apresenta algumas das performances de conjuntos de rock mais gráficas já registradas. Na época e em cada estágio de sua gênese, o que seria o último álbum do NIRVANA foi objeto de disputas muitas vezes ferozes, às vezes desconcertantes. Muito disso centrou-se em 02 fatores: o fenomenal sucesso comercial do álbum "Nevermind" e a subsequente decisão de fazer o seu disco sucessor com Steve Albini.

É claro que se o álbum "Nevermind" não tivesse perturbado tão fundamentalmente a trama da música popular, a parceria do NIRVANA com Albini dificilmente teria sido digna de menção. Um pouco mas significativamente mais velho que a banda, Albini os reconheciam como pessoas normais e ele conhecia o meio cultural de onde eles surgiram. Os seus anos tocando e fazendo turnês em bandas como BIG BLACK e RAPEMAN, fizeram dele um contemporâneo do SONIC YOUTH, grupo esse considerado o modelo para bandas independentes que operam com integridade em uma grande gravadora.

NIRVANA assinou um contrato com a grande gravadora Geffen Records no início de 1991, em grande parte porque o SONIC YOUTH o havia feito 02 anos antes e eles próprios que indicaram o NIRVANA para a sua nova gravadora. Os empresários do NIRVANA também eram os mesmos do SONIC YOUTH e o sucesso, na medida em que o NIRVANA se preocupou em concebê-lo, seria vender tantos discos quanto o SONIC YOUTH - o que já seria uma coisa inimaginável.

Ou numa realidade intangível, vender como o PIXIES.

Ao concluir a 1ª turnê do NIRVANA pelo Reino Unido pouco antes do final de 1989 em divulgação ao seu disco de estreia, "Bleach" (1989), Kurt Cobain disse para a revista Mojo (e para o mesmo jornalista que escreveu essa matéria) que o seu álbum preferido da década de 80 era: “Com certeza, 'Surfer Rosa' do PIXIES”. Esse disco também foi produzido por Steve Albini. Em abril de 1990, NIRVANA estava fazendo uma longa viagem de Seattle a Madison, Wisconsin, para a sua 1ª sessão de gravação com o produtor Butch Vig, que em 1991 iria produzir o disco "Nevermind". No som da van que eles estavam viajando, estava tocando uma fita-cassete do álbum "Surfer Rosa".

Krist Novoselic se lembra vividamente desta cena: “Estávamos em algum lugar no Estado de Montana ou de Dakota do Norte. Chad Channing (baterista na época) estava dirigindo, eu estava no banco do passageiro e Kurt estava sentado no banco atrás bem no meio, que o deixava mais alto se estivesse sentado em outro banco. Ele estava sentado lá como se estivesse em um trono (risos), segurando a cabeça com os apoios do cotovelo e então, ele levanta o dedo como um decreto e fala para nós: 'Este será o som de caixa de bateria que teremos!' Bem nessa hora o pneu estourou. Pow! Acho que foi mesmo uma espécie de cumprimento desse decreto”.

Em particular sobre esse álbum do PIXIES, Cobain ficou atraído pela forma como Albini conseguiu transmitir a acústica natural de uma banda de rock tocando todos juntos e ao vivo em uma sala de estúdio, em contraste ao disco "Nevermind", que não foi assim que o NIRVANA o gravou. Com os seus vocais dobrados, inúmeras camadas de guitarra e um brilho amigável para as rádios, o álbum "Nevermind" foi uma impressão sintética do que o NIRVANA realmente era em suas entranhas, mais parecendo um tributo ao trabalho do mixador Andy Wallace quanto qualquer coisa que a banda realmente tocasse.

“Eu sei que Kurt gostou da maneira como o disco 'Nevermind' soava quando o lançamos”, disse Novoselic. “Mas com o tempo, isso foi se tornando numa reação, uma reação a muitas coisas. Foi uma espécie de reação em querer gravar um álbum com Steve Albini. Não queríamos nos vender e Albini é conhecido pela sua integridade. Parecia que fazia sentido voltar às nossas raízes em vez de apenas fazer outro álbum 'bonitinho' que nem o 'Nevermind'. O disco 'In Utero' é obscuro e sombrio. É também intensamente bonito, mas ao mesmo tempo é muito sinistro e abrasivo, considerando que o álbum 'Nevermind' era um disco comercial”.

Uma vez que o NIRVANA decidiu que o álbum "In Utero" não seria uma recauchutagem do disco "Nevermind" - mesmo assim, se tornaria incrivelmente popular - Steve Albini foi a escolha perfeita de produtor. Para começar, ele rejeita a noção de que ele “produz” discos. Em vez disso, ele se esforça para “gravar” as bandas como elas soam, orgulhando-se de fazer um trabalho bom e profissional. Se ele gosta ou não da música da banda que ele está gravando, isso é secundário ou até uma irrelevância.

NIRVANA sempre reconheceu o valor da sua política gestual. Ao trabalhar com Albini, foi uma saudação para querer sair do comércio, a quem venderam a sua alma no disco "Nevermind" e depois a assistiram sendo mercantilizada como uma nova marca picante de queijo processado disponível no mercado.

“Depois do álbum 'Nevermind', tínhamos o poder”, disse Dave Grohl. “Gary Gersh, o nosso relação-públicas da gravadora, estava pirando e ficando muito desconfiado de como estavam ficando as músicas para o disco 'In Utero'. Eu disse a ele: 'Gary, cara, não tenha tanto medo, o álbum vai ficar ótimo'. E ele falou: 'Ah, eu não estou com medo. Vão em frente e me tragam de volta o melhor que vocês puderem fazer'. Quero dizer, ele deu a entender: 'Vá e divirtam-se, então, quando tudo acabar, iremos contratar outro produtor e gravar um álbum de verdade'”.

“Eu não acho que a gravadora estava por trás disso!” riu Novoselic. “Mas vendemos discos suficientes para fazer o que quiséssemos quando fomos gravar o álbum 'In Utero'”.

Na semana antes de receber um telefonema de Kurt Cobain perguntando se ele estaria interessado em gravar um disco do NIRVANA, Albini foi levado a escrever uma carta para um dos veículos musicais britânicos negando uma história que alegava que ele já estava lá no estúdio trabalhando com a banda. Meses de especulações infundadas de que o seu nome estava na cadeira de produtor do novo álbum do NIRVANA custaram, segundo ele, muito trabalho a Albini entre os seus colegas underground do punk rock e hardcore.

“Comecei a ler em fanzines coisas de que eu estava saturado em trabalhar com bandas pequenas, que eu estava esgotado e que tinha feito uma coisa horrível em querer trabalhar com o NIRVANA, sendo que naquele momento eu nem tinha ainda conversado com ninguém da banda. Eu nunca tinha falado com eles antes! Acho que recebi um telefonema de um Kurt Cobain bêbado uma certa noite, enquanto eles estavam em turnê divulgando o álbum 'Nevermind', talvez 01 ano antes, mas ele não tinha se identificado na ligação".

Assim que recebeu o convite oficialmente por parte de Cobain, Albini teve que pedir licença e fazer um pequeno dever de casa: “Por mais absurdo que pareça, na época eu não estava tão familiarizado com a música do NIRVANA. Eu já tinha ouvido alguma coisa na casa de outras pessoas e não me podia considerar fã naquela época e também não pensava particularmente que fossem uma das melhores bandas daquela geração e daquele nexo geográfico/temporal. Peguei os seus discos, os ouvi e aquilo realmente não mudou a minha impressão sobre eles. O seu álbum mais fraco é obviamente o 'Nevermind'. É também o menos representativo da banda como eu os conhecia. Assim como os seus próprios amigos os descreveram, o disco 'Nevermind' foi o que menos se parecia com eles".

“Havia uma intensidade estranha em todos os seus álbuns e havia uma espécie de perversão sutil em quase tudo que saía da boca de Kurt Cobain e que eu gostava. E Dave Grohl é um baterista absolutamente monstruoso, então, é difícil imaginar um disco com Dave tocando bateria que não seja pelo menos divertido de ouvir”.

Cheio de entusiasmo, Albini conversou mais uma vez com Cobain antes de iniciarem os trabalhos. Ele sugeriu que Cobain escrevesse uma proposta de como eles poderiam gravar um disco juntos e quais seriam as abordagens boas e ruins. Mesmo nessa fase preliminar, Albini mostrou a sua mão de forma inequívoca, ou seja, praticamente tudo o que ele sugeriu foi diametralmente oposto à forma como o álbum "Nevermind" foi gravado. Eles trabalhariam com rapidez e eficiência, da mesma forma que o NIRVANA funcionava quando era deixado por conta própria nos primeiros dias de carreira. É claro, a gravadora não gostaria que fosse assim, mas na visão de Steve Albini de como fazer o próximo álbum do NIRVANA, a gravadora não fazia parte da equação e se dependesse de Albini, eles nem iriam pagar por isso.

“Deixe a banda cuidar de tudo… Eu estava sugerindo que eles mesmos, o NIRVANA, fizessem o disco sozinhos e usando o seu próprio dinheiro. Eu daria a eles toda a assistência que pudesse, mas não iria me envolver particularmente com a música e não iria fazer sugestões musicais. Seria apenas o meu trabalho padrão".

A banda concordou. Eles iriam para Minnesota por um prazo auto imposto de 02 semanas e gravariam um disco com Steve Albini. Custos de gravação: U$ 24 mil dólares. Houve muita conversa entre Albini e a Gold Mountain Entertainment, a empresa de gestão do NIRVANA, sobre quanto ele receberia. A Gold Mountain sugeriu uma forma de acordo com royalties, por meio da qual Albini recuperaria uma porcentagem de cada cópia vendida do disco - assim como é feito com 99% dos produtores. Embora isso significasse que ele poderia ganhar cerca de U$ 500 mil dólares somente no lançamento do álbum, Albini recusou.

“Estou enojado com esse conceito e isso é uma quantia absurda de dinheiro”, falou Albini. Em vez disso, ele propôs uma taxa fixa única de U$ 100 mil dólares adiantados e mais U$ 100 mil quando terminasse o serviço.

“Isso pareceu satisfazer a todos”, continuou Albini. “Acho que naquela época gravando o disco 'In Utero' ainda havia pessoas do 'mundo do NIRVANA' que justificavam os seus empregos suspeitando de mim, dizendo por aí: ‘Bom, não queremos perder muito tempo e dinheiro com esse cara se não der certo’. Pessoas alheias à noção de que eu nunca tinha trabalhado em um disco onde não deu certo. Eu não sou uma aberração rabugenta onde os meus pecadilhos poderiam perturbar o processo e impedir o progresso do que já estávamos registrando".

“A gravadora não iria se envolver no disco do ponto de vista da produção e eles estavam falando da boca pra fora como se isso fosse uma boa ideia, mas era óbvio que isso deixava todo mundo muito desconfortável. Era óbvio que eles tinham uma pasta de um plano B em algum lugar”.

Sendo assim, Albini acrescentou uma cláusula à sua proposta financeira à Gold Mountain, afirmando que se alguma coisa que ele fosse gravar com o NIRVANA fosse alterada posteriormente, então, que fosse alterada por conta própria da gravadora e sem o seu consentimento nos créditos.

“Então, foi isso. Fomos para Minnesota e 12 dias depois tínhamos um álbum”, arrematou Albini.

Depois de dirigir do aeroporto com o funcionário Brent Sigmeth, os 03 membros do NIRVANA chegaram ao Pachyderm Studios para serem recebidos por Albini, o seu técnico de manutenção de estúdio, Bob Weston (todos na foto no começo da matéria), e Carter Nicole Launt, uma chef de cozinha macrobiótica e então namorada de Weston, cujo trabalho era atender às diversas necessidades culinárias dos trabalhadores e artistas que frequentavam o estúdio - além do cachorro de Launt, chamado Z (também saiu na foto). Apenas estas 07 pessoas estiveram presentes durante toda a sessão de gravação do álbum "In Utero", com Courtney Love aparecendo nos últimos dias. A pedido da própria banda, ninguém da Geffen Records ou da Gold Mountain visitou o estúdio em algum momento.

Os trabalhos de gravação do disco começaram pra valer no Dia dos Namorados de 1993. Os 03 membros da banda montaram os seus equipamentos e então começaram a gravar as faixas guias básicas. A configuração foi a mesma para cada música, exceto para as canções mais rápidas e agressivas como "Tourette's" e "Very Ape", onde a bateria foi gravada em uma cozinha adjacente a sala principal de gravação, a qual tinha a sua própria reverberação natural. Brent Sigmeth se lembra de observar atentamente enquanto a bateria de Grohl era meticulosamente microfonada. Na verdade, foi o conhecimento de Albini sobre a técnica do microfone que mais impressionou Cobain. Ele estimou que 30 microfones foram usados apenas para a bateria.

Na maioria de suas partes de guitarra, Cobain usou uma guitarra barata que, segundo Albini, parecia ter vindo de uma loja de penhores. Em uma música ele tocou uma rara guitarra toda de alumínio chamada Veleno, originalmente popularizada nos anos 70 pelo GRAND FUNK RAILROAD e que Albini trouxera especialmente para usar na gravação. Albini atribui os sons tensos e distorcidos da guitarra do álbum "In Utero" a um amplificador valvulado Fender Quad Reverb do qual Cobain gostava particularmente, sendo que 03 das 04 válvulas de potência estavam quebradas ou faltando.

Mesmo assim, Albini não se lembra de ter gravado o NIRVANA de forma diferente de qualquer outra banda que ele tinha gravado.

“Em cada disco há algumas pequenas coisas que alguém pede para você fazer e que você precisa descobrir como fazer. No final da canção 'Rape Me', era para ter um vocal realmente extremo… Espere aí, ah, não lembro qual era a música. Acho que foi na música 'Milkmaid' ou, como se chama mesmo? 'Milk It', onde no final o vocal tinha que soar mais louco do que era até então. Portanto, eu tive que encontrar uma maneira de fazer o vocal avançar no final desta canção e estas são coisas que você resolve no momento".

“Mas não houve truques de mágica. Não teve, quero dizer, embrulhamos o microfone dos vocais em papel alumínio e colocamos em um balde! (risos) Sempre que alguém envolvido na gravação de um disco lhe pede para fazer coisas assim, ou a pessoa está lhe contando uma ideia do nada, ou eles realmente se deram ao trabalho de uma vez fazer algo assim e provavelmente não sabiam o que estavam fazendo. Fazer discos é um processo muito simples, não é magia negra. Você coloca um microfone e ouve como é o som. Se não soa bem, você coloca outro".

O dia de trabalho no Pachyderm Studios começava por volta das 10:00hs da manhã, quando todos se levantavam e ficavam pela casa tomando café da manhã. Ao meio-dia, a banda e os engenheiros seguiam para o estúdio onde trabalhariam até a noite. Enquanto isso, Carter Nicole Launt preparava o almoço e que seria entregue no estúdio no meio da tarde e depois no jantar, que era um grande evento familiar em torno de uma mesa gigante. Launt se lembra que cada membro da banda tinha necessidades alimentares específicas.

“Krist Novoselic era vegano”, disse ela, “então, nada de laticínios e nada de carne. Kurt Cobain tinha um horário de alimentação um pouco errático. Ele gostava de pizza congelada e levantava no meio da noite e preparava alguma coisa. Dave era uma espécie de cidadão americano, tipo, nada muito estranho para comer”.

Depois do jantar, poderia haver algum entretenimento vendo TV, mas tarde da noite eles voltariam ao estúdio até meia-noite ou talvez até à 01:00h da madrugada. Além de uma viagem no final de semana até Minneapolis para assistir ao show dos grotescos hardcore locais, a banda THE COWS, e algumas incursões ao shopping local - a visita de Kurt para comprar um presente para o cachorro Z, causou alguma consternação entre os jovens de Cannon Falls - a banda nunca mais sairia do complexo estúdio/casa e não se afastariam mais de sua rotina diária.

Albini e Weston estimam que as gravações finais levaram 04, talvez 05 dias, depois mais alguns dias de overdubs e 05 dias de mixagem. O fato do álbum ter sido concluído um pouco antes do prazo de 02 semanas, é uma homenagem não apenas à ética de trabalho de Albini, mas também à provisão para o trabalho em mãos feito pelo NIRVANA.


“A banda conhecia todo o material que iria gravar e já tinha descoberto todos os pequenos detalhes”, disse Albini. “Não sei com que rapidez as músicas foram elaboradas, mas eles certamente não estavam sentados no corredor do estúdio tentando encontrar mais palavras para as letras ou tentando criar uma parte musical. NIRVANA estava tão preparado quanto qualquer banda com quem já trabalhei”.

“Nós apenas nos concentramos intensamente nos ensaios antes de irmos para o estúdio”, lembrou Novoselic. “Isso era o que fazíamos de melhor. Acabei de entrar na sala de ensaio e apenas toquei de cabeça abaixada, pois tínhamos as músicas bem definidas. Então, quando chegamos em Cannon Falls, montamos o nosso equipamento e começamos a tocar daquele mesmo jeito. Rastreamos quase todas as músicas nos primeiros 02 dias. Algumas das canções, acho que mais da metade delas, nós gravamos logo na 1ª tentativa. Sabíamos que Albini não queria lidar com alguma grande banda de rock ou ter que mimar alguns músicos idiotas. Então, sabíamos que devíamos mandar a ver! Estávamos arrasando há anos e estávamos no controle. Eu me lembro de Albini parado perto da mesa de gravação com os braços cruzados e balançando a cabeça positivamente para nós quando terminávamos de tocar uma canção, e a gente apenas comentava: 'Ok, isso parece bom. Vamos fazer a próxima música’. O disco foi gravado muito rápido, sabe?”

Para a maioria das canções, as letras de Cobain foram finalizadas apenas no dia da gravação. Não no corredor, mas provavelmente na cabeça dele. Certa vez, Cobain pediu para Carter Nicole ir ao supermercado local para comprar algumas pastilhas com sabor cereja para aliviar a sua dor de garganta. Estes se tornaram os “antiácidos com sabor de cereja” mencionados nas letras da música "Pennyroyal Tea". Posteriormente, Cobain afirmou numa entrevista para uma revista holandesa que: “Apenas metade das letras estavam prontas. O resto originou-se de brincadeiras no estúdio”.

A “brincadeira” do NIRVANA gravando o disco "In Utero" é a difícil corrupção que a maioria dos outros grupos encaram através de uma perspectiva cruel. O fato deles terem sido capazes de conjurar um material tão potente sob tais circunstâncias e depois reproduzi-lo com uma convicção tão incisiva, reafirmou o quão preciosa essa banda realmente era. Uma sessão demo de 02 dias com o produtor Jack Endino em Seattle no mês de outubro de 1992, se tornou um assunto tímido em comparação ao que fizeram no disco "In Utero". O que não surpreende, visto que em 1992, Cobain e Courtney Love estavam envolvidos em uma batalha pela custódia de sua filha, Frances Bean Cobain, de apenas 02 meses de idade, com Cobain cantando apenas 01 das 06 músicas gravadas nas sessões com Endino, que foi "Rape Me", e prevalecendo uma atmosfera supostamente tensa no local.

Por outro lado, as sessões de gravação no Pachyderm Studios foram caracterizadas pela dedicação à música e muita camaradagem, principalmente entre a banda e o seu produtor. As brincadeiras eram uma especialidade: trotes telefônicos para Evan Dando, Gene Simmons, Eddie Vedder e outros, além de pirotecnia em ambiente fechado.

“Tínhamos álcool isopropílico no estúdio para limpar os cabeçotes de fita”, lembrou Brent Sigmeth. “Steve Albini estava tirando uma soneca um dia na sala do estúdio. Dave Grohl pegou esse álcool e derramou no seu boné de baseball e foi até a sala do estúdio, acendeu fogo no boné que estava na sua cabeça e gritou: ‘Steve! A minha cabeça está pegando fogo!’ Albini acordou, olhou para ele com a cabeça em chamas, franziu a testa e voltou a dormir... Ainda temos os restos desse boné aqui no estúdio em algum lugar”.

“Sem dúvida, foi a gravação mais fácil que já fizemos”, Cobain havia dito mais tarde ao biógrafo do NIRVANA, Michael Azerrad. “Achei que eventualmente iríamos irritar um ao outro e acabaríamos gritando um com o outro. Eu estava preparado para viver com essa pessoa que era supostamente um idiota sexista, mas ele foi surpreendentemente prestativo, amigável e fácil de conviver”, arrematou Cobain sobre Albini.

Krist Novoselic deu apoio: “O cara é um amor! Ele é uma pessoa totalmente suave em lidar. Steve é do Estado de Montana!”

Do seu ponto de vista, Albini disse que tentou encontrar um equilíbrio entre profissionalismo respeitável e simpatia na sua interação diária com a banda, já que estavam todos morando na mesma casa por 02 semanas: “Eles eram o mesmo tipo de pessoas que eu. Eu os admirava e respeitava. Nunca tentei ser intimamente amigo de nenhum deles. Eles foram submetidos a um milhão de pulgas saltando dos arbustos em direção a eles quando lançaram o disco 'Nevermind'. Pessoas querendo algo deles e pessoas querendo fazer parte do show deles. O mínimo que eu poderia fazer era dar-lhes a cortesia de tê-los no controle do nosso relacionamento. Não tentei ficar muito curioso sobre a vida de Kurt, por mais que eu passasse a admirá-los e respeitá-los, mas não queria que eles se sentissem como se eu fosse mais um daqueles filhos da puta tentando se agarrar ao foguete deles e decolar junto”.

A chegada de Courtney Love, uma semana após o início do processo, perturbou a atmosfera harmoniosa que existia. Albini, tendo anteriormente descrito Love como uma “fera psicopata”, não quis opinar sobre o assunto: “Não tenho nada a dizer sobre ela”.

“Isso definitivamente afetou as coisas”, disse Carter Nicole Launt. “Acho que foi estressante para Kurt. Acho que Courtney colocou muita pressão sobre ele e nem sempre aprovou tanto a forma como as músicas estavam ficando gravadas. Ela criticava muito o trabalho de Albini e na verdade, era meio conflituosa com as pessoas que estavam lá trabalhando. Sim, com certeza foi estressante. Eu só acho que deixou as pessoas desconfortáveis ela trazer muitas de suas coisas pessoais para uma arena pública. Basicamente, éramos estranhos para eles (banda e Courtney) e a conduta de Courtney deixou Kurt desconfortável”.

Mas quando chegou o dia para escutarem juntos a reprodução final do disco, nada poderia diminuir o clima de êxtase, com vinho e charutos circulando entre eles.

Albini explanou: “Todos ficaram muito felizes. Havia uma sensação de realização muito séria e de parabéns. Achei que eles fizeram um ótimo trabalho e já me perguntaram várias vezes se Kurt usava drogas enquanto estávamos lá".

"Sabe, eu passei e tenho estado muito perto de pessoas que usam drogas e por um lado sei como elas se comportam, mas por outro lado, sei o quão enganadoras elas podem ser. E a minha melhor estimativa foi que não, ele não estava usando drogas e Kurt estava sendo muito produtivo. Esse foi um período de sua vida em que ele estava muito focado. Kurt estava focado em fazer esse disco e não queria decepcionar os outros caras da banda. Ele estava comprometido com essa tarefa. Kurt estava tão sóbrio quanto qualquer pessoa com quem já trabalhei no estúdio”.

Assim, NIRVANA deixou Minnesota feliz e satisfeito, mas não era para durar para sempre...

Depois de 01 ou 02 semanas após a banda ter ido embora do Pachyderm Studios, Cobain telefonou para Albini para lhe dizer que o relação-públicas da gravadora do NIRVANA, Gary Gersh, tinha odiado o álbum: “Ele disse: ‘Parece uma porcaria, há muito efeito na bateria e você não consegue ouvir os vocais'”, disse Cobain mais tarde também numa entrevista para a revista britânica Melody Maker. “Ele não achou que a composição das músicas estava à altura e ter o seu relação-públicas dizendo isso é como ter o seu pai ou padrasto mandando você levar o lixo para a rua”.

Gary Gersh não estava sozinho. Os empresários da banda também não ficaram encantados com o disco que lhes foi entregue. Mesmo assim, Cobain enfatizou a Albini que a banda estava determinada que o álbum deveria ser lançado do jeito que estava.

“Eu sei que por um tempo havia um elemento reacionário em nossa mentalidade naquela época”, lembrou Novoselic. “Antes do álbum ser lançado, eu sei que por um tempo senti que não deveríamos tocar neste assunto como uma questão de princípio, mas isso não é muito racional de se fazer, pois essas coisas atrapalham o seu julgamento".

Albini complementou: “A próxima coisa que aconteceu foi que recebi um telefonema de um jornalista de Chicago, Greg Kot, dizendo que o departamento de publicidade da Geffen Records havia entrado em contato com ele e, extraoficialmente, disse a ele que o novo disco do NIRVANA era horrível e que era tudo culpa minha. Que era um álbum inviável e que eu só tinha feito merda... O que eu tinha a dizer sobre isso? O que eu disse foi que o NIRVANA fez o disco que eles queriam e que poderiam enfiar o álbum na bunda deles da gravadora. Acredito que na verdade esse jornalista recebeu uma ligação de Gary Gersh, pois ele estava dizendo isso para quem quisesse ouvir, porque eu estava ouvindo isso de várias fontes diferentes".

“Correu o boato de que eu tinha fodido esse disco do NIRVANA e não sei se isso foi feito especificamente para me envergonhar ou se foi feito apenas para pressionar a banda. Eu realmente não sei qual foi o motivo”, disse Albini.

O artigo do jornalista Greg Kot na próxima edição do jornal Chicago Tribune de abril de 1993, intitulado: “A gravadora encontra pequena benção nas últimas novidades do NIRVANA”, foi aproveitado por outros veículos de comunicação, como o jornal Village Voice, a revista Rolling Stone e por aí vai. Nesse ínterim, Kurt Cobain telefonou novamente para Albini, desta vez para lhe dizer que a banda estava pensando em remixar algumas músicas. Albini temia que as inseguranças do grupo estivessem sendo manipuladas pela gravadora. Pior, parecia que ele estava sendo considerado o vilão da história, o inveterado guru do ruído que arruinou o próximo álbum do NIRVANA. Logo depois, Albini telefonou para Cobain para dizer que não achava que ele (Albini) poderia melhorar as mixagens feitas no Pachyderm Studios.

Albini explicou: "Então, Krist Novoselic me telefonou e disse: 'Sabe, simplesmente não parece tão bom quanto foi em Minnesota'. E eu reiterei, dizendo que tínhamos conseguido tudo o que podíamos quando estávamos em Minnesota e que eu ainda era da opinião de que não deveríamos mexer nessas canções”.

No entanto, conforme os dias iam passando, a banda estava ficando cada vez mais desanimada com as gravações no Pachyderm Studios. Eles estavam determinados a remixar pelos menos 02 músicas e que iriam ser lançadas como single, "Heart Shaped Box" e "All Apologies". E se Albini não achasse que poderia melhorar as suas próprias gravações, ele claramente não veria com bons olhos qualquer outra pessoa que tentasse. Especialmente se uma dessas pessoas fosse, digamos, Andy Wallace, que remixou o disco "Nevermind". No final, ele cedeu aos desejos da banda e deu-lhes a sua bênção para outra pessoa mexer na sua gravação. Hoje, Krist Novoselic disse que sente muito que a banda simplesmente não teve tempo suficiente para refletir adequadamente sobre o que gravaram no Pachyderm Studios.

“Essa foi a coisa com Steve Albini. Parecia que uma vez que o disco estava pronto, ele estava completamente pronto e ponto final. Foi quando a gravadora interveio e disse: ‘Hey, espera aí!’ Tivemos um confronto sobre esta situação e talvez eu devesse ter falado antes na época... Sabe, eu acho que é um disco com ótima sonoridade, é altamente artístico e não sei quem mais poderia tê-lo produzido, exceto Albini", enfatizou Novoselic.

“Mas”, começa a rir Novoselic, “você sabe por que tivemos que remixar a canção 'Heart Shaped Box'? Você deveria ouvir a versão original dessa música, pois o solo da guitarra tem esse efeito e apenas sabotou a música inteira com o seu alto volume. Steve e Kurt estavam em conluio! Eu cheguei a perguntar para Kurt: 'Por que você está sabotando essa linda música colocando esse aborto hediondo no centro dela?' E Kurt me respondeu: ‘Bom, porque acho que parece legal’. Eu nem me lembro quais eram os argumentos entre eles, talvez alguma declaração contra a rádio comercial ou algo assim, ou a estética popular do mainstream… Não sei! Mas acho que depois finalmente consegui o que queria e o produtor Scott Litt foi chamado e era uma oportunidade para mudar as coisas”.

Quando o NIRVANA foi para o Bad Animals Studios em Seattle com o produtor Scott Litt (do R.E.M.) no início de maio de 1993, as reverberações causadas pelo artigo do Chicago Tribune foram sísmicas. A revista Newsweek publicou uma matéria de página inteira sobre a suposta violação do controle artístico do NIRVANA pela Geffen Records. A gravadora divulgou um comunicado à imprensa citando Kurt, que disse: “Não houve pressão da nossa gravadora para mudar as músicas que gravamos com Steve Albini. Temos 100% de controle sobre a nossa música. A banda somente sentiu que os vocais não estavam altos o suficiente em algumas canções e só queremos mudar isso”.

NIRVANA escreveu uma carta em resposta ao artigo da revista Newsweek, criticando o escritor da matéria, Jeff Giles, alegando que ele: “Ridicularizou o nosso relacionamento com a nossa gravadora com base em informações totalmente errôneas”. A carta do NIRVANA foi posteriormente reimpressa como um anúncio de página inteira na Billboard. Entretanto, no comunicado de imprensa da Geffen Records, o presidente da gravadora, Ed Rosenblatt, declarou: “Como tenho garantido aos membros do NIRVANA e à sua gestão, lançaremos qualquer disco que a banda nos entregar”.

Que no final foi o que eles fizeram. A versão do álbum "In Utero" que finalmente chegou às lojas em 21 de setembro de 1993 foi exatamente o que o NIRVANA entregou à Geffen Records e exatamente o que a banda queria que as pessoas ouvissem. O disco foi gravado em Minnesota pelo produtor Steve Albini, exceto pelas 02 músicas citadas que foram remixadas e uma sessão de remasterização que o disco passou, na qual, na avaliação de Bob Weston, a banda esperava: “Mudar o som geral do álbum, pois o som estéreo não estava soando tão amplo. Com a remasterização, o som da guitarra ficou um pouco achatada, porque nas mixagens originais o som da guitarra simplesmente saltava pra fora".

Weston acrescentou: “Mas mesmo com as mudanças que foram feitas, é um ótimo disco. As músicas são ótimas, a gravação é ótima e as performances são ótimas. E além disso, é o álbum que eles quiseram fazer. Se as pessoas queriam que todas as músicas fossem remixadas ou que deveriam ter feito mais na masterização original, esta sempre será uma prerrogativa delas, porque o que importa quando você faz um disco é que a banda fique feliz com o resultado final”.

São sentimentos com os quais Albini concorda, embora sinta que a remasterização final foi: “Arrogante. Para a minha satisfação pessoal, porque trabalhei naquele disco, me senti próximo dele e senti que soava melhor antes de qualquer ajuste que foi feito depois. Quando me enviaram uma cópia do resultado final que eles haviam feito, coloquei o disco para ouvir e instantaneamente fiquei desapontado com a remasterização que eles fizeram”.

No entanto, foi o alvoroço da mídia sobre remixar 02 músicas do álbum que azedou a relação da banda com Albini, durante um período em que ambas as partes deveriam estar se aquecendo no brilho de um trabalho bem feito. Em entrevistas sobre o lançamento do disco "In Utero", Cobain afirmou repetidamente que: "Aquela tempestade de merda que saiu na imprensa tinha sido culpa de Steve Albini e ele não tinha motivos para ser tão paranoico”.

O jornalista que escreveu o artigo para o jornal Chicago Tribune, Greg Kot, sentiu que Albini foi duramente derrotado. Como todos os bons jornalistas, até hoje ele continua a honrar a confidencialidade de suas fontes, que lhe disseram extraoficialmente que Steve Albini havia feito um álbum “indisponível”.

“Mas direi que foram várias pessoas na hierarquia da Geffen Records que me falaram aquilo, incluindo pessoas do alto escalão”, afirmou Kot. “Não foram os publicitários, mas havia pessoas envolvidas que conheciam como era o funcionamento interno do NIRVANA e o problema é que ninguém queria aquele álbum. Eram mais pessoas me falando e falando, foi quando pensei: 'Até que ponto isso é real?' Para publicar uma história, eu precisava ter alguém que trabalhou no disco e que me comentasse sobre isso, que falasse sobre o tipo de pressão que havia sobre a banda na época e é claro, foi quando telefonei para Steve Albini".

“A minha impressão quando conversei com Albini, foi que ele estava ciente de que a banda estava sob algum tipo de pressão da gravadora e foi capaz de confirmar basicamente tudo o que me foi dito pelas pessoas da gravadora. É basicamente isso o que aconteceu".

Enquanto isso, Novoselic não tem nada além de uma calorosa consideração pelo álbum que, 30 anos depois de ter sido criado, representa o epitáfio indesejado do NIRVANA, bem como o auge artístico da banda.

“Cara, é o meu disco favorito do NIRVANA e vou te explicar por quê. Havia muita coisa acontecendo com a banda, externa e internamente falando, e havia muitas pressões, mas quando entramos por aquela porta do estúdio deixamos todas aquelas coisas do lado de fora. Nós apenas tocávamos música, trabalhávamos muito bem juntos, estávamos rindo, estávamos concentrados e estávamos abertos a ideias. E isso realmente ficou registrado no disco. Nós não levamos na brincadeira e ninguém foi bombardeado por ter feito algo, pois estávamos todos focados e lúcidos. Estou muito orgulhoso disso e é um álbum lindo. Às vezes, as letras das músicas do álbum 'In Utero' são realmente assustadoras. Eu as ouço agora e me pego pensando: 'Por que eu não entendi essa letra dessa forma naquela época?'”

Pode ter sido o álbum "Nevermind" que quebrou o molde, mas é o disco "In Utero" que cura a alma do NIRVANA e junto com Dave Grohl, Krist Novoselic e Kurt Cobain, foi Steve Albini quem fez disso o que é. Não é de admirar que hoje o produtor que insiste que o disco não é nada disso por causa das modificações que sofreu após ele ter finalizado o seu trabalho, fique com emoções confusas sobre o caso.

“Era simplesmente o lado mais feio da indústria fonográfica”, refletiu Albini. “Todas essas pessoas (gravadora e empresários) tentando ao máximo manipular todas as situações e apenas mastigando as pessoas que viam pela frente no processo. Foi horrível e realmente nojento pra mim. E sobre todos os envolvidos nisso, não consigo entender como eles conseguem conviver consigo mesmos. Então, eu não ouvi muito esse disco depois que foi lançado. Se penso nele, penso com carinho e gostei muito de conhecer a banda, pois tenho muito respeito por eles como pessoas e músicos. Estou muito orgulhoso do trabalho que fiz e quer saber mesmo, acho que somente a banda e eu somos provavelmente as únicas pessoas que realmente ouviram o trabalho que eu fiz".

Albini finalizou: “Não faz muito tempo, me pediram para tocar o disco 'In Utero' para alguém que estava gravando no meu estúdio, somente para pegar alguma referência ou alguma outra coisa. Então, toquei alguns trechos do álbum e aquilo me trouxe de volta onde estávamos naquele período. Trouxe de volta toda aquela experiência e eu realmente gostei de trabalhar nesse disco... Fico muito triste por Kurt ter ido embora, porque eu faria outro álbum com eles de novo”.































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