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by Brunelson

Pearl Jam: entrevista com Eddie Vedder e matéria de capa da revista Spin de 1993


Confira na íntegra a matéria de capa da revista Spin de dezembro de 1993 sobre o PEARL JAM (foto), de quando estavam em turnê pela Europa e tinham lançado o seu arrebatador 2º álbum de estúdio, "Versus", em outubro de 1993 - assim como a entrevista realizada com o vocalista Eddie Vedder:


Eddie Vedder está chateado. O jovem vocalista irritado do PEARL JAM me chama para o palco na arena de Rotterdam, Holanda, onde a sua banda acaba de iniciar a passagem de som para o primeiro de dois shows com ingressos esgotados. Buscando refúgio do baque reverberante do bumbo cavernoso do baterista Dave Abbruzzese, encontramos um recanto distante, onde, com a ajuda de gestos expressivos, é quase possível continuar uma conversa.

O problema de Vedder é com o tamanho do local – é o maior show como atração principal que a banda já fez, algo em torno de 10 mil pessoas irão comparecer: “Acabei de passar o melhor que resta da minha voz gritando ao telefone com certas pessoas nos EUA que reservaram esse local aqui para os shows”, Vedder começa, com a testa franzida. “Quero dizer, posso ser tímido com algumas coisas, mas não quando se trata sobre música”. Ele lança o braço em direção a imensa arena, apontando: “Esse lugar... Como você pode ter uma experiência religiosa assistindo a uma banda em um lugar desse tamanho? Sei que não posso falar pelo resto da banda, mas sinto que alguém tem que defender a música”.

Conversamos um pouco sobre as virtudes indiscutíveis em fazer shows em clubes pequenos e sobre os rigores que uma turnê exige, citando também bandas como o FUGAZI e o R.E.M. lidando com públicos maiores, mas então, é quando Vedder decide que é hora de se juntar aos seus companheiros de banda para a passagem de som.


A nossa conversa só o deixou ainda mais "animado". Enquanto ele se dirigia ao palco, Vedder pegou uma xícara de chá que estava bebendo (chá com limão e mel faz bem às cordas vocais) e a jogou no chão com raiva, se quebrando em pedaços. É um movimento de rock tão impotente (quero dizer, uma xícara de chá?) que tenho que reprimir a minha vontade de rir, mas como acontece com tudo o que Vedder faz, surge de reservas profundas de compromisso sincero com os seus ideais, que transparecem apesar do gesto aparentemente inadequado.


O que, se você pensar bem sobre isso, praticamente explica o PEARL JAM.

Os 02 membros fundadores do PEARL JAM, o guitarrista Stone Gossard e o baixista Jeff Ament, também estavam na seminal banda de Seattle dos anos 80, GREEN RIVER, junto com os futuros membros do MUDHONEY, o vocalista Mark Arm e o guitarrista Steve Turner. Com o fim do GREEN RIVER, Gossard e Ament formaram o MOTHER LOVE BONE com o vocalista Andrew Wood, que morreria de overdose de heroína em 1990 pouco antes do lançamento do disco de estreia do grupo, "Apple".


MOTHER LOVE BONE foi a 2ª banda de Seattle que assinou com uma grande gravadora.

Gossard e Ament persistiram e chamaram o promissor guitarrista Mike McCready, o baterista Dave Krusen e o vocalista Eddie Vedder, para formarem uma nova banda chamada MOOKIE BLAYLOCK. Para evitar algum processo judicial no futuro, eles mudaram o nome para PEARL JAM, mas não antes de gravarem um disco tributo a Andrew Wood, idealizado e liderado pelo vocalista do SOUNDGARDEN, Chris Cornell, o qual chamou o seu baterista de banda (e futuro/atual baterista do PEARL JAM), Matt Cameron. Sob o nome de TEMPLE OF THE DOG, o disco homônimo foi lançado em 1991 e logo depois foi a vez do PEARL JAM entrar no estúdio para gravarem o seu álbum de estreia, "Ten" (1991).

Desde então, o disco "Ten" vendeu aproximadamente um zilhão de trilhões de discos em todo o mundo e fez do PEARL JAM verdadeiras estrelas do rock.





Pessoas com muito tempo livre disponível (leia-se: críticos de rock e talentos menores) disseram que a enorme popularidade do PEARL JAM se devia ao hype alimentado por Seattle, de que não era uma banda alternativa “de verdade” e que cavalgava abraçado ao ritmo do NIRVANA para a fama e fortuna.

Claro, isso é besteira.

PEARL JAM conseguiu atrair o mesmo público de metal que comprou tantas cópias do disco "Nevermind" do NIRVANA ao lançar o álbum "Ten", ajudando a expandir a noção do que “alternativo” poderia significar, o que apenas mostra o quanto ambas as bandas devem ao Lollapalooza Festival e a pioneiros anteriores, como o JANE'S ADDICTION e FAITH NO MORE. A música do PEARL JAM não é mais artificial ou calculada do que qualquer uma dessas bandas e se as vendas dos seus 02 discos resultantes ultrapassaram qualquer coisa já alcançada por qualquer banda considerada alternativa antes, talvez uma grande ajuda foi por estarem contratados por uma grande gravadora.

Dito isso, há outro elemento no sucesso do PEARL JAM: a extraordinária ligação da banda com o seu público, resultado da absoluta falta de cinismo na sua música e especialmente no seu vocalista e figura de proa de fato. Eddie Vedder é extremamente sério, um jovem extremamente sincero e o mais importante é que a sua sinceridade se traduz. Seus fãs estabelecem uma conexão emocional com ele que Kurt Cobain simplesmente não permite e por mais que às vezes isso possa deixar Vedder desconfortável, é uma fonte fundamental do seu poder.

O mesmo poder que também fez da famosa testa franzida e da coleção de caretas de Vedder em suas apresentações e videoclipes quase um ícone. A propósito, ele afirma nunca ter visto o clipe da música “Plush” do STONE TEMPLE PILOTS, onde o vocalista Scott Weiland controla a maioria dos seus mesmos tiques faciais. Disse Vedder: “Embora todos os meus amigos também já tenham mencionado isso pra mim”.

Como uma nova celebridade, Vedder lida com isso ignorando, algo que é relativamente fácil de fazer nos confins amigáveis de Seattle. Vedder não tem TV a cabo, então, ele não assiste a MTV: “Eu realmente deveria ter dito quando fomos receber o prêmio da MTV: 'Ah, obrigado, mas vocês sabem, eu não tenho MTV na minha casa, então, eu não sei o que isso significa'”, sendo que Vedder professa não compreender o verdadeiro alcance de sua fama: “Eu não quero entender isso”, ele insiste, “porque assim que entendo, fico muito chateado com isso e tenho vontade de atirar em mim mesmo ou passar por um curso de 30 dias para pegar uma metralhadora, porque ainda estarei com raiva disso em 30 dias, mas então, vou parar para respirar e vou cuidar de alguns dos meus problemas”.

Vedder está brincando - mais ou menos.


Ele se preocupa com a superexposição porque não quer que a sua imagem, ou qualquer imagem, ofusque a música, que pra ele seria o fim de tudo: “Eu estava conversando com algumas pessoas da Sub Pop Records em uma festa e eles me disseram: ‘Cara, você está detonando em todo lugar, pois vejo o seu rosto em todos os lugares'”, relatou Vedder. “E eu me peguei pensando, tipo, faz 01 ano que não dou entrevista e toda vez que alguém tentou tirar uma foto minha eu abaixei a cabeça, então, como funciona essa porra de que estou em todo lugar? Eu sei o que quer dizer e isso não tem nada a ver com a música: ‘Se eu ver a cara daquela pessoa mais uma vez’, ou, você sabe, ‘Eu odeio esses caras, porra’, quero e prefiro que seja assim”.

O lançamento do disco "Versus", a continuação do álbum "Ten", pode dificultar os esforços de Vedder para se manter discreto, mesmo que a banda planeje evitar a maioria das estratégias de marketing tradicionais - exceto as turnês. Há até alguma conversa sobre não fazerem nenhum videoclipe para o disco "Versus", o que seria uma medida verdadeiramente revolucionária, embora repleta de complicações políticas no mundo da música.

Em geral, o novo álbum é mais difícil e mais rápido do que seu antecessor, embora surpresas silenciosas como as canções “Elderly Woman Behind The Counter in a Small Town” e “Daughter” aumentam e expandem o vocabulário musical da banda. O riff da música “Rearviewmirror” e a introdução da canção “Rats”, são destaques adicionais. Depois, há “Blood”, a música com discurso anti-mídia encharcado de bile de Vedder.

“Tenho um problema com as coisas boas que as pessoas escrevem sobre nós”, explicou Vedder. “Eu tenho um problema com tudo. Não sei, tem tanta gente por aí falando sobre música, mas que não escutam música. Eles sabem tudo sobre música, mas como? Porque eles leram sobre isso, mas eles não estão ouvindo, então, é isso que me chateia. É tudo conversa e são apenas palavras".

“Eu nunca, em meus sonhos mais loucos… Acredite, quando você senta em seu quarto e está tocando violão, não é nisso que você está pensando, pelo menos não era nisso que eu estava pensando na época. A música é uma forma de arte poderosa. É incrivelmente poderosa e de certa forma, é multimídia: você tem palavras, música e volume. Quero dizer, não apenas a maneira como os acordes se movem pode te elevar, mas você tem volume e você pode deixar isso bem alto. Ao vivo, pode ser tão alto que faz o seu peito tremer. É um meio muito poderoso e pode ser muito emocional, e é nisso que estou realmente interessado”.

É meio irônico que uma das músicas mais emocionalmente poderosas do disco seja também uma das mais silenciosas, a citada “Elderly Woman Behind The Counter in a Small Town”.


"É sobre uma senhora, ela está envelhecendo e ela está presa nessa pequena cidade. Cidades pequenas do interior me fascinam. Ou você luta para sair de lá, porque para as pessoas que querem ficar na cidade elas são o peixe grande num pequeno lago, ou você vai ficar preso lá. Então, aqui está ela trabalhando nesse pequeno lugar e uma velha paixão aparece, e ele provavelmente está dirigindo um carro legal e parecendo um tanto elegante - não é um carro chique, mas ele mudou. E então, ela o vê e a princípio ela nem se lembra quem é ele e só depois ela percebe quem é... E ela está com vergonha de dizer 'olá'".

Este cenário foi derivado de um evento real específico? Ou você simplesmente inventou?

“Essa é uma daquelas memórias de bolso, apenas uma daquelas memórias que tenho e nas quais penso o tempo todo”, respondeu Vedder. "Estávamos gravando este 2º álbum numa casa retirada em uma zona rural na cidade de San Francisco, e eu estava dormindo fora dessa casa em meu próprio mundo, numa pequena casinha que ficava nos fundos do terreno e que tinha somente 01 quarto bem pequeno... Estou falando do tamanho de um banheiro, sabe? Me lembro de acordar numa manhã e tocar acordes bastante normais que soavam bem e coloquei para escutar o vocal que eu estava criando e que tinha gravado, apenas para me ouvir e esta canção saiu bem rápido. Acho que nem escrevi a letra na hora, tipo, demorou uns 20 minutos para ficar pronta. Stone Gossard (guitarrista) estava sentado do lado de fora lendo um jornal e ele escutou o que eu estava fazendo e me disse: 'Eu realmente gostei disso', então, nós a gravamos naquele mesmo dia”.


Outro dos melhores momentos que foram automáticos para as pessoas que escutaram o disco "Versus" é o hino anti-pais da canção “Leash”, que Vedder disse ter sido escrito sobre: “A mesma garota, Heather, sobre a qual falam as letras da música 'Why Go' (do disco 'Ten'). Ela ficou presa em uma casa porque foi pega fumando maconha ou algo assim. Isso é o que fazem nos subúrbios de Chicago, sabia? Essa é outra coisa que eu deveria ter dito no MTV Awards quando fomos receber o prêmio, eu deveria apenas ter subido lá e dito: ‘Sabe, contanto que eu tenha a porra da atenção de todos, vocês vão começar a ouvir os seus filhos. Vocês poderiam, por favor, abrir os seus ouvidos e olhos e parar de prestar tanta atenção em si mesmo, e apenas passar um pouco de tempo com os seus filhos, confiar neles e abrir-se para o que eles estão passando atualmente?'"

"Em vez de fazer isso, eles colocam os seus filhos em um pequeno hospital psiquiátrico, o que, de qualquer forma, é uma grande fraude de seguros. Se a criança tiver alguma resiliência, elas dirão: ‘Foda-se, não há nada de errado comigo. Os meus pais são malucos. A minha mãe é uma maluca paranoica, ela chega em casa do trabalho, senta e assiste TV, pega todas essas informações sobre adolescentes do noticiário e depois desconta tudo em mim, mas eu sou uma boa criança’. Essa garota, Heather, esteve por 02 anos, cara, 02 malditos anos no hospital e ela era uma das crianças mais inteligentes que eu conhecia. Agora, Heather finalmente saiu, mas a mãe dela ainda está fazendo a mesma coisa e ameaçando-a colocá-la de volta ao hospital. Quero dizer, essa menina tinha 15, 16 anos de idade, e ela não podia conversar ao telefone depois das 20hs da noite. Ela não podia fazer isso, não podia sair, não podia passar a noite na casa de ninguém e não podia fazer nada".

"Foi depois de conversar novamente com ela um dia que escrevi a música 'Leash' dirigindo o meu carro: ‘Solte a coleira’, diz a letra, sabe? ‘Saia da minha frente!’”



Mais tarde naquela noite do show em Rotterdam, apesar das dúvidas de Vedder - ou talvez por causa delas - PEARL JAM fez uma performance feroz cuspindo grandes pedaços gordurosos do seu novo álbum, bem como versões vívidas da maior parte do disco "Ten" – a canção “Even Flow”, em particular, soa completamente renascida nos shows. PEARL JAM ao vivo é tipicamente uma experiência tão intensa que até mesmo os descrentes saem com um novo respeito pela energia emocional crua que o grupo evoca nos shows. Essa noite está em alta e Vedder consegue compensar a grande distância entre artista (palco) e o público.

Após o show, Vedder me leva para uma sala silenciosa e separada do camarim principal, onde conversamos brevemente sobre como foi tocar com Neil Young e U2, antes dele ser chamado por Eric, o empresário da turnê, para a apresentação do enésimo prêmio de Disco de Platina que o PEARL JAM está recebendo, desta vez de uma gravadora holandesa.

“Você deve ter uma tonelada disso na sua casa”, falei a Vedder.

“Na verdade não”, ele respondeu. “O primeiro Disco de Platina que eu ganhei acabei quebrando em um acesso de raiva, você sabe... Esta é a fonte de todos os meus problemas”, com Vedder imitando zombeteiramente o ato de destruição. “Eu contei essa história às meninas do L7 uma vez e elas me disseram: ‘Ah, que pena, você poderia pelo menos ter usado o disco como uma bandeja para servir comida ou algo assim'”.

Deixada por conta própria, vejo uma garrafa fechada de vinho tinto no canto da sala. Vedder costuma carregar uma garrafa com ele no palco na maioria dos shows e chega a compartilhar com os fãs da primeira fila: “Você deveria ver a expressão no rosto do meu médico quando eu lhe disse que compartilhava uma garrafa de vinho com cerca de 20 estranhos bebendo na boca da garrafa todas as noites. Isso é ruim?'”, arrematou Vedder.

Então, eu acho que ele não se importará de compartilhar a garrafa comigo.

Vagando pelos corredores com Vedder, passo pelo camarim da banda, onde o guitarrista Stone Gossard tenta me fazer dançar ao som de algum disco do Prince tocando. A banda parece particularmente otimista essa noite, animada pelo show que fez e pelo aparente bom humor de Vedder. Percebi que o barômetro geral dos bastidores está vagamente ligado ao estado emocional de Vedder. Quando ele está de mau humor, o que aparentemente acontece em turnês, as pessoas tendem a agir de forma mais moderada, mesmo quando ele está trancado em seu minúsculo camarim e inacessível a qualquer um.

Porém, essa noite foi tudo bem. Estou sentado no chão conversando com um amigo quando Vedder chega segurando uma bandeja cheia de batatas fritas e cerveja. Após a inspeção, a bandeja prova ser o prêmio de Disco de Platina que o PEARL JAM tinha acabado de ganhar naquela noite: “Eles nem te dão mais um disco, é só esse pequeno CD”, disse Vedder.

Eventualmente, todos descem as escadas para embarcar no ônibus de volta ao hotel. Há um bando de crianças holandesas lotando a passagem de 03 metros que vai da porta da arena até o ônibus e quando eles veem a banda, o quase pandemônio se instala. Ultimamente, Vedder tem usado uma variedade de máscaras de monstro de borracha na cabeça, principalmente para afastar fotógrafos e “fãs” ansiosos, e ao embarcar no ônibus, ele coloca o que parece ser uma máscara de um monstro sobre as suas feições angelicais, para grande consternação do público e das crianças.

“Eddie, por favor, tire a máscara!” os fãs imploram. “Não faça isso conosco!” Como se fosse uma flecha envenenada apontada para o coração inchado de sua devoção. “Isso está ficando estranho”, Vedder murmura sombriamente pra mim enquanto o ônibus parte. As crianças estão subindo pelas laterais do ônibus, agarrando-se desesperadamente e o fotógrafo da banda, Lance Mercer, está correndo ali embaixo na rua colocando flashes nos rostos dos fãs, o que lhe fazem se soltar do ônibus.

Passado 02 dias, um show não anunciado em Amsterdã, Holanda, no relativamente minúsculo clube chamado Paradiso, é o último da turnê - o que é uma boa notícia, pois Vedder ficou doente. A sua voz evaporou e ele está com um forte resfriado. Vedder provavelmente não deveria ficar acordado até altas horas bebendo vinho com jornalistas, mas, porra, agora é tarde demais para lamentar. Me sento no meu quarto de hotel antes do show assistindo à MTV europeia, que deve ser onde todas as bandas ruins vão para serem punidas. O show de ontem à noite em Rotterdam (que foi o segundo) também foi bom, mas dava para ver Vedder perdendo a força no final, sendo que depois ele se escondeu em seu pequeno camarim onde ficou trabalhando em música.


Esta manhã, todos nós pegamos o ônibus para Amsterdã.

Mais tarde, no clube lotado, o show começa instável com Vedder dizendo ao público antes de tocarem a 1ª música do show: “Vou precisar da ajuda de vocês hoje à noite”, mas meio que vai piorando a coisa a partir daí. Observar Vedder tentar arrancar o último ruído fraco de sua garganta destruída é insuportável e desperta em mim instintos maternais dos quais eu não tinha consciência anteriormente. O catarro escorre livremente pelo seu rosto enquanto ele canta e no final de cada música, ele cambaleia de volta até a caixa de lenços de papel que está no suporte da bateria e limpa o seu rosto e nariz. O baixista Jeff Ament e o guitarrista Mike McCready corajosamente tentam compensar em palhaçadas cinéticas o que falta em energia a Vedder, mas para o bem ou para o mal, assim como Vedder, o PEARL JAM também sente.

Depois das 04 primeiras músicas, Vedder desiste, bate o microfone no chão em desgosto e sai do palco. O resto da banda continua a tocar sem entusiasmo nenhum e depois se afastam. Gossard faz promessas às crianças descontentes de que tentará convencer Vedder a voltar. Pressentindo um possível motim e sendo um covarde por natureza, saio rapidamente do clube e perambulo pelas ruas sem rumo por mais ou menos 01 hora e completamente deprimido pela experiência que passei. Descobri mais tarde que Vedder voltou ao palco e que o show foi “ótimo”, e depois houve uma festa “ótima” que perdi também, mas de alguma forma prefiro o meu final à realidade um pouco espúria.

Algumas semanas depois dessa turnê europeia, faço uma visita a Seattle durante um raro período de sol e clima ameno. Vedder está vagando pelo espaço de ensaio do PEARL JAM: “Exceto que nunca mais ensaiamos”, ele brinca comigo, o qual fica localizado no porão de uma antiga galeria de arte no centro de Seattle. O porão foi o primeiro lugar onde Vedder veio quando voou de San Diego, California, para Seattle, depois de receber o convite e aprovação para ser o vocalista da banda. Ele também morava neste local de ensaio, em uma pequena alcova perto do espaço de ensaio, mijando em garrafas de Gatorade e perambulando tarde da noite pela galeria no andar de cima. Em um canto da sala espaçosa, decorada com faixas coloridas e enormes retratos de ícones do rock em giz de cera, estão empilhadas as letras de 01 metro de altura que foram usadas para soletrar “Pearl Jam” na capa do álbum "Ten".

“Eu odiei a capa do disco 'Ten'”, disse Vedder. “Jeff Ament trabalha muito em artes e gosta muito de cores. Eu sou meio daltônico, então, meio que me ressinto das cores... Não, estou brincando, mas na verdade, a música que ouço e que mais gosto é em preto e branco”.

Eu pergunto a ele o que ele quer dizer exatamente com isso?

“Não sei”, Vedder respondeu. “Só coisas realmente duras, emocionais e diretas. Simples".

Pergunto a Vedder se ele acha que o disco "Versus" é um sucesso por sua própria definição.

“Então, comecei a ouvir esse álbum de novo, mas é estranho... Eu estava conversando com Chris Cornell outro dia e ele disse que você não pode ouvir a sua própria música chapado. Que era o contrário do que eu sempre pensei, tipo, esse é sempre o objetivo, porque você fica chapado quando vai ouvir a música dos outros, você ouve e faz isso desde que era pequeno, então, seria a melhor coisa apenas fumar um pouco de maconha e ouvir a música que você mesmo ajudou a criar. Mas você não pode fazer isso, porque de alguma forma você fica excessivamente crítico. Posso ouvir chapado as músicas que Chris Cornell criou e tenho certeza que ele pode ouvir chapado as nossas, mas é estranho que você não consiga ouvir chapado as suas próprias músicas... Sabe, isso é meio confuso pra mim".

De alguma forma, o espaço de ensaio desapareceu e agora estamos em um salão de sinuca quase deserto, onde Vedder está me dando uma surra na mesa de bilhar. Ele está falando sobre um dos seus vilões favoritos, a MTV, insistindo que é extremamente difícil pra ele se preparar para fazer um videoclipe, o que para Vedder não tem nada a ver com música.

“Eu simplesmente não coloco nenhum peso nessas coisas. Eu tenho dificuldade em me importar com isso e ser indicado para um Video Music Awards da MTV, do qual o clipe da nossa música 'Jeremy' (1º disco) recentemente conquistou alguns prêmios, sabe, é uma coisa tão estranha pra mim. Tenho dificuldade em lidar com isso e acho que realmente não consigo lidar muito bem com isso. Porque simplesmente não sei como e sou honesto sobre isso. Tipo: ‘Não sei, tanto faz, você sabe, obrigado’. Mas a questão é que, quando outras bandas são indicadas, estou torcendo por elas. É muito estranho... Eu não entendo quando é com a nossa banda, mas quando, sei lá, o NIRVANA está na TV, eu fico: ‘Vamos lá, NIRVANA’. Talvez eu descubra como lidar com isso algum dia, mas espero que eu não precise fazer isso algum dia”.

Eu lhe pergunto: “Em qual sentido você não quer mais fazer videoclipes?”

“Bom, você nunca sabe... Eu estava pensando, tipo, a minha namorada de longa data, Beth, e eu, filmamos um monte de coisas em câmera Super-8, quero dizer, coisas legais, sabe? Talvez lancemos um pequeno vídeo de turnê ou algo assim em 8mm, venderíamos bem barato e depois a MTV poderia reproduzi-lo algumas vezes na TV para que as pessoas possam gravá-lo em suas casas com seus vídeo-cassetes”.

Depois do salão de sinuca, estamos no carro de Vedder (na verdade, o de Beth, pois o dele está quebrado) e ele está me levando para o hotel para descansar antes do show de hoje à noite do URGE OVERKILL em um clube local de Seattle (a banda foi logo depois escolhida para abrir a turnê do PEARL JAM nos EUA).


E a vida de Vedder em Seattle parece não ter sido afetada pela fama. Ele obviamente pode comprar um carro que funcione, mas evita a ostentação como a praga que imagina ser. Passamos por uma loja de móveis local, onde Vedder admira algumas peças pesadas de mármore antes de recusar compra-las devido aos preços: “Você deveria apenas esperar até uma igreja pegar fogo ou queimar uma você mesmo”, brincou Vedder. A sua principal fonte de estabilidade é seu relacionamento de 09 anos com Beth, que ele conheceu enquanto ambos trabalhavam como garçons em restaurantes na periferia de Chicago. Ser o único membro do PEARL JAM com um relacionamento sério torna a turnê especialmente solitária para Vedder, ainda mais quando combinada com as suas tendências naturalmente reclusas.

Além disso, ele realmente gosta de morar em Seattle. “Há algumas coisas incríveis por aqui que eu acho que vão levar uma vida inteira para absorver e ficar entediado, especialmente porque passamos tanto tempo fora fazendo turnês”, explicou Vedder. Ele também gosta do simples prazer de sair com os amigos, embora use o exemplo do seu carro quebrado para apontar um padrão angustiante que detectou em sua vida. Para encerrar, Vedder admitiu: “Eu sempre digo às pessoas: ‘Você não vai querer ser meu amigo, porque sou o tipo de pessoa onde as coisas simplesmente acontecem para o lado ruim'. Se fizermos uma viagem de carro, acabaremos presos no meio do nada ou algo assim. Quando Beth e eu nos mudamos para Seattle, fomos até o Space Needle e ela não sabia que no topo do restaurante a torre girava, então, ela pensou que fosse um terremoto. Foi quando eu disse a ela: ‘Viu, eu te falei que você não iria querer ser minha amiga'". Porém, os seus companheiros de banda sem dúvida nenhuma concordariam que quando você sai com Eddie Vedder, as coisas realmente acontecem - para o lado bom da coisa.


"Daughter"


"Blood"


"Rearviewmirror"


"Rats"


“Elderly Woman Behind The Counter in a Small Town”


“Leash”


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