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Punk Rock: matéria especial da revista Spin comemorando os 50 anos do gênero

by Brunelson

Confira na íntegra a matéria especial que a revista Spin publicou comemorando os 50 anos do punk rock:


Há 50 anos atrás, nasceu a cena punk de New York.


Nosso jornalista tomou café da manhã com Richard Lloyd, guitarrista do TELEVISION, e caiu na toca do coelho com alguns dos movimentos mais emocionantes da história do rock.


“Que porra é presunto em pó?”, Richard Lloyd me pergunta durante o café da manhã.


Estamos em um lugar chamado Big Bad Breakfast, uma rede de café da manhã do sul localizada no bairro Northshore, no centro da cidade de Chattanooga, Estado do Tennessee. Ele chegou 20 minutos atrasado para a nossa entrevista e quando entrou na cafeteria, a música “Jailhouse Rock” de Elvis Presley estava tocando nos alto-falantes. Lloyd pediu desculpas pelo atraso, pois ele voará no dia seguinte para uma viagem de 01 mês pelo Nordeste americano com o Richard Lloyd Group, sua banda de turnê, e disse que tem muito o que fazer antes de partir.


Ele está vestindo uma jaqueta de couro preta, uma camisa laranja de botão com estampa havaiana e seu chapéu de feltro preto característico. Ele parece deslocado aqui em Chattanooga, uma cidade ribeirinha de médio porte no sul do Tennessee, longe de sua antiga casa, a cidade de New York. Talvez seja porque conheço o lugar dele na lendária cena punk de New York e vê-lo aqui, morando na minha cidade natal, ainda é chocante pra mim. Ou talvez seja apenas o seu sotaque nova-iorquino.


Conversamos um pouco até a garçonete chegar e anotar o nosso pedido. Lloyd pergunta sobre o presunto em pó - que descobrimos ser presunto cozido desidratado em pó usado como tempero - e se compromete com o prato escolhido, o “Jack Benny”: que são 02 ovos escalfados em cima de um bolo de haxixe frito, presunto fatiado, espinafre murcho, molho holandês e sim, presunto em pó. Recebo algo chamado “Yard Work”: que é uma mistura de ovo mexido com vegetais, abacate e queijo suíço, além de um chá Earl Grey com mel para beber.


Lloyd mudou-se para Chattanooga há 07 anos - se bem se lembra. Eu o encontrei algumas vezes enquanto trabalhava para o Songbirds, um museu de guitarra, além de ser um local de concertos e fundação da educação musical com sede em Chattanooga, onde ele já se apresentou algumas vezes e exibiu sua guitarra Fender Stratocaster personalizada de 1961 - a mesma Stratocaster com detalhes dourados na cor azul esverdeada fosca que ele tocou há 50 anos com o TELEVISION no recém-inaugurado clube de música de New York de sua época, o CBGB.


Antes da gentrificação reivindicar isso, o CBGB - como se eu precisasse dizer a vocês - foi o berço do movimento punk rock e new wave de New York, definindo as carreiras de bandas como Patti Smith Group, THE DICTATORS, THE HEARTBREAKERS, BLONDIE, TALKING HEADS e os criadores do punk rock, os RAMONES.


A história da origem do clube CBGB e como Hilly Kristal originalmente pretendia que seu clube de música ao vivo tocasse country, bluegrass e blues, é agora um território bem conhecido. É claro, sua visão inicial para escutar somente esses tipos de músicas não durou muito, mas o que pode não ser tão conhecido - pelo menos para quem só conhece o CBGB achando que é uma marca de camisa - é o papel do TELEVISION nisso tudo.


Lloyd nasceu em Pittsburgh, mas mudou-se para o bairro Greenwich Village em New York com seus pais quando tinha 06 anos de idade. Com aspirações de se tornar músico, ele deixaria New York e voou para Los Angeles em 1971. Depois de um tempo, Lloyd ouviu falar de como o NEW YORK DOLLS havia estabelecido residência no clube Mercer Arts Center em New York e que algum tipo de cena musical underground emergente estava acontecendo por lá.


“Estive em Los Angeles por 02 anos e ouvi dizer que havia uma cena florescente em New York”, Lloyd me contou. “Então, um dia combinei com um amigo meu para dirigirmos de Los Angeles a New York, e quando estávamos em New Orleans, tinha ouvido dizerem que o Mercer Arts Center havia caído, que desabou ao chão. Quando cheguei em New York, não havia mais lugar e não havia nenhuma cena acontecendo”.


O Mercer Arts Center – localizado nos 02 primeiros andares de um edifício de 101 anos que anteriormente abrigava um dos maiores e mais luxuosos hotéis do mundo, o Grand Central Hotel – foi inaugurado em 20 de dezembro de 1971. A visão era uma instalação que oferecia espaços de atuação para uma variedade de atos. Abrigava 06 teatros, 01 cinema de arte, 02 oficinas de atuação, 01 clube de rock, 01 lounge e bar de jazz, 01 restaurante, 02 boutiques e 01 local experimental para filmes e apresentações.


Embora você pudesse ver ou assistir peças das mais variadas, você também poderia ver bandas como a já mencionada NEW YORK DOLLS, além do THE MODERN LOVERS, WAYNE COUNTY & THE ELECTRIC CHAIRS e SUICIDE. O complexo artístico tornou-se o lugar onde as performances de rock, a vídeo-arte e o teatro underground, colidiram nesse maravilhoso mundo de criatividade experimental.


Mas então, em uma sexta-feira, 03 de agosto de 1973, o prédio desabou, devido em parte a reformas deficientes. Quando Lloyd voltou a New York, ele estava certo. Não havia mais lugar para bandas se apresentarem.


Para entender como o TELEVISION e o clube CBGB se tornaram a porta de entrada para o movimento punk da cidade de New York, vamos usar o colapso do Mercer Arts Center como a ponte que liga a música folk e a cena artística de vanguarda dos anos 60, ao movimento punk rock e new wave dos anos 70.


Antes do colapso do Mercer Arts Center

Parte 1: A Conexão Danny Fields


“Comecei a ouvir rádio quando tinha 12 anos de idade e Lou Reed (vocalista do VELVET UNDERGROUND) não foi a primeira pessoa a dizer: 'Minha vida foi salva pelo rock and roll'”, me disse por telefone a escritora, poetisa e artista performática, Penny Arcade. “Todos nós dissemos isso porque estávamos todos escondidos ouvindo rádio FM e as nossas notícias chegavam na forma de rock ‘n’ roll. As mensagens que a música transportava não eram apenas mensagens de mudança social, mas também mensagens de filosofia e até de decadência. Foi o novo romantismo que remonta à década de 1860”.


Arcade chegou ao bairro East Village em New York no ano de 1967. Aos 17 anos de idade, ela se juntou como artista performática à Play-House of The Ridiculous de John Vaccaro – uma influente companhia de teatro de performance política. Esse tipo de teatro experimental oferecia comentários sociais de drag queens parodiando a cultura pop. Aos 19 anos, ela era uma das estrelas da fábrica de Andy Warhol e apareceu em seu filme, Women in Revolt.


“Foi uma época revolucionária muito inebriante e tumultuada", ela me disse. “Aqueles 02 anos foram uma mudança radical na cultura alternativa americana e que obviamente foi alimentada pelo rock ‘n’ roll”.


Arcade observou que ela percebeu a mudança que estava acontecendo na cidade de New York. Enquanto a cena folk nos anos 60 acontecia em Greenwich Village em lugares como os clubes Gaslight e Bitter End - a qual fornecia um tipo de protesto mais suave às atrocidades que aconteciam no mundo - a cidade de New York estava sendo invadida por artistas com um som mais barulhento e de uma forma muito mais dramática de protestar: “Acho que a grande mudança que aconteceu ocorreu depois que Danny Fields assinou como empresário do MC5 e depois com o THE STOOGES (bandas que não eram de New York)”.


Fields desempenhou vários papéis na cena punk emergente de New York, como jornalista, publicitário, empresário e outros (inclusive sendo o empresário inicial dos RAMONES). Frequentando a iteração original do clube Max's Kansas City nos anos 60 (de New York), ele se tornou uma presença temporária no círculo social de Andy Warhol durante seu breve período como empresário do VELVET UNDERGROUND, eventualmente escrevendo livros sobre isso. Como publicitário da gravadora Elektra Records, Fields visitou as cidades de Detroit e Ann Arbor em setembro de 1968, recomendando que a gravadora assinasse com o MC5 e o THE STOOGES respectivamente. Ambas as bandas tocaram várias vezes na cidade de New York no final dos anos 60, plantando as sementes para um novo tipo de cena musical que viria mais a frente.


“Acho que foi essa influência, porque quando você via Iggy Pop se apresentar (vocalista do THE STOOGES), não era como uma banda normal de rock ‘n’ roll. Havia algo a mais acontecendo lá que era mais parecido com o tipo de arte performática que estávamos fazendo”, disse Arcade. “E acho que isso abriu a porta junto com Alice Cooper, que também estava se apresentando frequentemente no clube Max’s Kansas City”.


Durante uma conversa por telefone, Ernie Brooks, baixista do THE MODERN LOVERS, me contou sobre Fields: “Ele era um daqueles caras que tinha uma noção incrível do que era novo e bom”. De acordo com Brooks, ele estava estudando na faculdade de Harvard em 1971 e morando em um apartamento com seu colega aspirante a músico, Jerry Harrison (que se juntaria ao TALKING HEADS em 1977 como tecladista e guitarrista), quando Fields apresentou os dois a Johnathan Richman.


Richman (vocalista/guitarrista) formou o THE MODERN LOVERS em 1970 com o amigo de infância, John Felice (guitarra), junto com David Robinson (bateria) e Rolfe Anderson (baixo), mas Felice e Anderson logo deixariam a banda. Brooks juntou-se tocando baixo e Harrison nos teclados, com Felice saindo e voltando várias vezes depois. Com Richman como compositor e vocalista, o THE MODERN LOVERS misturou o rock de garagem antigo com seu amor pelo VELVET UNDERGROUND – simples, mas vulnerável.


“Havia um elemento do som do VELVET UNDERGROUND em nossa banda”, disse Brooks. “Mas é claro que algumas pessoas descreveram o VELVET UNDERGROUND como sombrio e nós como a parte clara da moeda… Todos nós amávamos o VELVET UNDERGROUND, mas de certa forma - certamente liricamente falando - estamos em extremos opostos de algum tipo de espectro”.


A popularidade do THE MODERN LOVERS em Boston aumentou depois que Fields encorajou a jornalista Lillian Roxon do jornal Daily News a ouvi-los. Sua crítica brilhante levou a gravação demo da banda para a gravadora da Warner Brothers. A notícia se espalhou e o THE MODERN LOVERS logo invadiu a cidade de New York, tornando-se parte das mudanças musicais que aconteciam por lá.


“Acho que o THE MODERN LOVERS foi importante no sentido de que mostramos, assim como o NEW YORK DOLLS com quem convivíamos, que você não precisava ser virtuoso de forma alguma em seus instrumentos para transmitir algo”, disse Brooks. “Ainda éramos uma banda de rock, mas as letras eram claras e poderosas em uma mensagem que não era normalmente transmitida pelas bandas de rock daquela época… Ou talvez nunca tinha sido. Acho que estávamos contrariando alguma coisa e isso foi importante para que fôssemos notados”.


A banda THE MODERN LOVERS se destacou de outros grupos emergentes da época, sendo mais art-rock do que os precursores do new wave, o TALKING HEADS. Em vez das travessuras cheias de drogas e álcool do NEW YORK DOLLS de cabelos compridos e rostos maquiados, vestidos em seus lenços andróginos de seda de cores vivas, o THE MODERN LOVERS era muito mais conservador em sua vestimenta e estilo de vida - vestidos com jeans e camisas, às vezes com gravata, cantando sobre o amor e tempos passados. O THE MODERN LOVERS era a versão muito mais vulnerável emocionalmente falando, em comparação com outras bandas jovens que competiam para ver até onde conseguiam levar sua teatralidade nos palcos. Eles evitavam atitudes típicas do rock, como as poses, a frequente misoginia e o uso de drogas, assim como Brooks me disse: “De alguma forma, a nossa banda foi seminal para grupos tão diferentes que viriam depois, como o TALKING HEADS e o SEX PISTOLS”.


Brooks explicou que, tal como era em Boston, as leituras de poesia em público ajudaram a influenciar o que acabaria por se tornar a música punk rock: “Pintura, escultura, teatro experimental e músicas – da música clássica ao rock – todos se misturaram no centro da cidade à medida que os anos 60 se transformavam nos anos 70 e o clube CBGB se tornando um ponto focal em New York”.


A artista Patti Smith foi outra performer inspirada nas artes, especialmente nos poetas Rimbaud, Baudelaire e Paul Bowles.


O guitarrista e jornalista musical, Lenny Kaye, se apresentou pela 1ª vez com Smith na Igreja de São Marcos em 10 de fevereiro de 1971. Smith estava recitando uma poesia e Kaye se juntou a ela: “Eu apareci para ceder um pouco de ritmo da guitarra”, Kaye me disse por telefone. “Mas não era para ser uma banda, era mais como uma espécie de arte acontecendo porque Patti queria 'agitar' sua leitura de poesia dando um toque extra”.


Eles não tocaram juntos novamente até novembro de 1973, quando formariam uma banda completa, a Patti Smith Group.


“Uma das coisas sobre o Patti Smith Group é que não queríamos ser uma banda punk rock, pop ou algo assim”, disse Kaye. “Queríamos ter tudo em nosso som, sabe? Queríamos uma sensação de liberdade além da definição de um gênero”.


Parte 2: Glamourizando


Antes do NEW YORK DOLLS se tornarem os queridinhos do Mercer Arts Center, o vocalista David Johansen, os guitarristas Johnny Thunders e Sylvain Sylvain, o baixista Arthur “Killer” Kane e o baterista Billy Murcia, fizeram seu 1º show na véspera do Natal no ano de 1971 em um abrigo para moradores de rua.


“O NEW YORK DOLLS dominava a cidade de New York”, me disse o baixista Andy Shernoff, co-fundador do THE DICTATORS, outra influente banda pré-punk de New York, durante uma entrevista por telefone. “Todas as bandas estavam tentando imitar o NEW YORK DOLLS, mas nenhuma parecia tão boa quanto o NEW YORK DOLLS ou era tão descolada quanto eles, ou tinha músicas tão boas quanto eles ou mesmo tocava tão bem quanto eles. NEW YORK DOLLS era emocionante e carismático. Depois, tinha muita banda na Inglaterra surgindo e gravando ótimos discos, como o SWEET, ROXY MUSIC, SLADE e a artista Suzy Quatro. O NEW YORK DOLLS trouxe essa emoção para a cena local de New York e inspirou muitas pessoas a formar bandas, inclusive eu. E eu sei que eles inspiraram os RAMONES”.


“Havia uma cena acontecendo em New York”, Shernoff me conta. “Era a única cena de rock and roll em New York na época. Tivemos uma abordagem um pouco mais influente do MC5 e do THE STOOGES. Tinha um clube noturno no bairro Queens chamado Carpentry, que era uma espécie de lar do THE DICTATORS. Depois, havia o Mercer Arts Center que era uma espécie de base do NEW YORK DOLLS”.


Arcade usa o velho ditado da fotografia de que uma forma de arte não se torna uma forma de arte até que todos possam fazê-la: “Quando as pessoas tentam algo, como fizemos com esse teatro underground, não tínhamos um modelo para o teatro, mas fizemos teatro mesmo assim e inventávamos a nossa própria forma de teatro. E acho que foi isso que aconteceu com o rock ‘n roll. As pessoas inventaram seu próprio modelo para o rock ‘n roll, fosse Patti Smith ou o NEW YORK DOLLS. Muitas bandas surgiram desse período, principalmente WAYNE COUNTY & THE ELECTRIC CHAIRS, QUEEN ELIZABETH, RUBY AND THE REDNECKS, THE STILETTOS... Todo mundo teve a ideia: ‘Oh, nós podemos fazer isso também’”.


Para observar a mudança no cenário musical, Kaye - junto com o co-fundador da gravadora Elektra Records, Jac Holzman - produziu o disco "Nuggets: Original Artyfacts From The First Psychedelic Era", um álbum de compilação de singles americanos de rock psicodélico e de garagem de meados ao final dos anos 60: “Quando fiz esse disco em 1972, havia uma sensação de que um tempo havia passado e que certos aspectos do que era aquela música eram necessários para que continuasse avançando. Sabe, as coisas ficaram tão progressivas e pesadas que não havia um nível de entrada para os músicos levarem as coisas para a próxima evolução geracional”.


Tal como o THE MODERN LOVERS, a extravagância do seu som e vestimentas não se adequavam à estética da moda que o THE DICTATORS tinha em mente, e por isso, disse-me Shernoff, os locais onde podiam se apresentar eram limitados: “Não usávamos sapatos de cetim ou plataforma (como o THE MODERN LOVERS). Não parecia certo para nós, então, nos vestíamos com as mesmas roupas que usávamos fora do palco: tênis, jeans e jaquetas de couro. Lançamos o nosso 1º álbum em 1975 e enquanto gravávamos esse disco já em agosto de 1974, os RAMONES faziam seu 1º show no clube CBGB (foto). Fomos chamados de elo perdido, porque ajudamos a pavimentar o caminho, mas os RAMONES levaram a medalha de ouro”.


Menos de 01 ano antes de entrar em colapso, o NEW YORK DOLLS foi a atração principal de um show de Ano Novo em 1972, apoiado por WAYNE COUNTY & THE ELECTRIC CHAIRS, SUICIDE, RUBY AND THE REDNECKS e pelo THE MODERN LOVERS.


Brooks se lembra bem desse evento. A noite começou estressante porque a van da banda quebrou em Hartford, Connecticut, forçando Brooks a pegar carona até a casa de seus pais em New Canaan, a 80 quilômetros de distância, para pegar emprestada sua van e depois voltar para colocar o máximo de seu equipamento dentro dela e do jeito como ele podia. Eles acabaram pegando emprestados amplificadores do NEW YORK DOLLS, que eram maiores e mais barulhentos que os deles.


“Chegamos muito tarde e foi uma cena totalmente selvagem por causa de todo o spandex, saltos plataforma e as armadilhas do glam rock, junto com os fãs pré-punk do NEW YORK DOLLS”, disse Brooks.


Presente naquela noite, Brooks me disse, estava Richard Hell, que acabara de formar o NEON BOYS, um precursor do TELEVISION e que logo seria o pioneiro no visual de camisa rasgada e alfinete espetado (baixista do TELEVISION, THE HEARTBREAKERS e THE VOIDOIDS).


“Eles estavam esperando pelo NEW YORK DOLLS e sabiam quem eles eram, mas não sabiam quem nós éramos. O público inteiro nos viu subindo ao palco e a maneira como Jonathan abriu o show (vocalista/guitarrista do THE MODERN LOVERS), tocando um acorde na guitarra e declamando: 'Somos o THE MODERN LOVERS de Boston, Massachusetts, e não queremos uma garota apenas para transar, queremos alguém de quem gostamos, ou então, não queremos absolutamente nada'. E com isso, a plateia começou a se perguntar: 'O que ele está dizendo? Isso é realmente legal? O que é isso?’ Foi uma espécie de reação perfeita de confusão e perplexidade”, disse Brooks.


O colapso do Mercer Arts Center

Parte 1: Não há lugar para tocar


O Mercer Arts Center foi um dos únicos lugares onde a 1ª onda de bandas punk rock e new wave da cidade de New York tocou música autoral. Depois que o prédio desabou, deixou um enorme vazio no cenário musical.


“Quando começamos a tocar, não havia lugar para se apresentar em New York porque ninguém queria ouvir música autoral”, disse Shernoff (baixista do THE DICTATORS). “Agora, se você fosse uma banda cover, você faria muitos shows como o TWISTED SISTER. Eles ganharam muito dinheiro se apresentando em Long Island, New Jersey e no interior do estado de New York".


É difícil imaginar que, num lugar tão grande como New York, berço da música punk rock, não existissem clubes onde bandas de rock tocassem músicas autorais, mas todos que entrevistei me disseram a mesma coisa, começando por Lloyd durante nosso café da manhã, que depois do colapso do Mercer Arts Center, não havia mais cena musical na cidade.


O clube Max's Kansas City foi inaugurado por Mickey Ruskin em 1965 e um ponto de encontro para artistas visuais, escritores e celebridades como Robert Rauschenberg, William S. Burroughs e Andy Warhol - havia perdido seu brilho e fecharia as portas no final de 1974. O Club 82, um bar subterrâneo conhecido por seus luxuosos shows de drag queens entre a comunidade LGBTQ, também estava em declínio.


“O NEW YORK DOLLS começou algo em 1972 no Mercer Arts Center, mas em 1973, todos os lugares onde você poderia tocar como uma banda de rock foram fechados”, Kaye me conta (guitarrista do Patti Smith Group). “Lembro que tocamos na sala Blue Hawaii do Hotel Roosevelt. Não havia nenhuma sensação de união, mas no início de 1974 parecia haver um pequeno círculo de empolgação começando no bairro Bowery”.


Parte 2: Outra música para gourmets edificantes


Vou roubar esta citação de James Nevius para este artigo, que a pegou emprestada de Teddy Roosevelt, porque é muito boa para não incluí-la ao descrever o bairro Bowery de New York, onde Hilly Kristal fundou o clube CBGB: "O Bowery é uma das grandes estradas da humanidade, uma estrada de vida agitada, de interesses variados, de diversão, de trabalho, de tragédia sórdida e terrível. É assombrado por demônios tão malignos quanto qualquer outro que perambula pelas páginas do livro 'Inferno'”.


“Quando você pensa agora em New York, você pensa no Bowery como tendo muito agito por lá”, disse Kaye. “Mas naquela época, havia um verdadeiro afastamento disso. Parecia que você estava quase em outra cidade, tipo, você tinha a massa da cidade de New York na parte alta da cidade, mas no Bowery não tinha muita ação”.


Originalmente chamado de Hilly's on The Bowery, o clube CBGB abriu suas portas em dezembro de 1973: “Era no local certo no Bowery, onde estavam todos os alcoólatras, moradores de rua, viciados em drogas e prostitutas”, descreveu Shernoff. “Então, nenhum executivo de uma grande gravadora queria ir ao Bowery, que agora está cheio de restaurantes e coisas assim. Na época, não havia nada, literalmente nada no Bowery que alguém quisesse ir”.


Nessa época, Lloyd morava em New York e fez amizade com Terry Ork, gerente de uma livraria chamada Cinemabilia. Ork o apresentou a Tom Verlaine (vocalista/guitarrista), Billy Ficca (baterista) e Richard Hell (baixista), e assim, a banda TELEVISION nasceu com Ork como empresário deles. Lloyd sabia que eles precisavam de um lugar para se apresentar e durante um dos ensaios da banda, Verlaine mencionou ter visto um novo lugar no Bowery para shows.


“Um dia, Tom veio ao ensaio e nos disse: ‘Fui até o Bowery e vi esse lugar. O dono do local estava colocando as letras do clube na porta da entrada. Vocês não querem vir comigo para conversarmos com ele sobre tentarmos tocar lá?’”, Lloyd havia me dito enquanto o nosso café da manhã chegava à mesa. “Então, ele e eu fomos até esse local e vimos Hilly Kristal do lado de fora consertando o toldo que ficava na porta de entrada. Ele desceu da escada e nos mostrou o interior do local e disse que em breve iria ter música ao vivo lá”. 


Lloyd mencionou a Kristal que eles tocavam “um pouco de rock”. No início, Kristal foi inflexível em não ter nenhuma banda de rock tocando em seu clube: “Não iremos fazer barulho aqui”, Lloyd se lembra de ter dito a Kristal. “Somos diferentes, incomuns e como nada que você já ouviu antes”.


Porém, Kristal estava cético quanto a isso. 


No dia seguinte, Lloyd e Ork o convenceram a deixá-los tocar em um domingo, com Ork alegando que forneceria mais receita a Kristal com o consumo de bebida alcóolica do que ele conseguia em seus melhores dias, porque Ork iria convidar todos os alcoólatras que ele conhecia para os shows do TELEVISION: "Isso foi o que ele disse e acho que foi isso que ele fez também”, me disse Lloyd.


O 1º show do TELEVISION no clube CBGB foi em 31 de março de 1974.


Logo, o TELEVISION começou a se apresentar no CBGB todos os domingos, depois, 02 noites por semana e eventualmente passando para 04 noites por semana. Como na época dos BEATLES na cidade de Hamburgo na Alemanha, a cada apresentação o TELEVISION desenvolveu seu som em algo diferente de tudo o que havia na região, ou seja, uma paisagem sonora de espírito livre e harmônicas influenciadas pelo jazz, alimentada pela rivalidade metafórica no palco entre Verlaine e Lloyd.


TELEVISION se apresentava no CBGB com tanta frequência que se tornou extraoficialmente a banda da casa, o que trouxe certa autoridade ao seu papel. Como Kristal não tinha ideia sobre rock, foi o TELEVISON que insistiu que Ork se encarregasse das bandas que queriam se apresentar lá, com Lloyd e os outros membros encaminhando quais grupos emergentes iriam se apresentar.


TELEVISION, junto com o próprio CBGB, começou a ganhar seguidores leais, abrindo as portas para outros grupos se apresentarem lá e que não se enquadravam na visão original de Kristal, como o THE DICTATORS, TALKING HEADS e o THE HEARTBREAKERS (liderados por Johnny Thunders e Richard Hell, que tinham acabado de sair de suas respectivas bandas, NEW YORK DOLLS e TELEVISION).


“Foi surpreendente ver quantas bandas surgiram do nada”, Lloyd me contou entre mordidas do seu café da manhã. “E de repente elas brotaram como cogumelos, o que foi muito emocionante de ver”.


O Patti Smith Group foi um dos primeiros grupos a tocar no CBGB depois do TELEVISION naqueles primeiros dias: “Eu me lembro que na Páscoa de 1974, Patti e eu fomos ver um show do TELEVISION no CBGB”, disse Kaye. "Essa havia sido a 1ª vez que tínhamos entrado lá e foi aí que conhecemos Tom Verlaine (vocalista/guitarrista do TELEVISION) e percebemos que era um lugar onde todas essas bandas sem casa poderiam encontrar seu lar”.


O Patti Smith Group estreou no CBGB no 1º semestre de 1974.


Lloyd me explicou as diferenças que notou ao tocar no CBGB durante o apogeu da banda: “Antes o público se separava do intérprete de uma forma muito forte e permanente. Mas depois de um tempo não era mais assim”.


Foi quando pedi para ele esclarecer o que havia dito.


“Costumávamos parar no meio de um show, você sabe, parar por apenas 01 segundo. E as pessoas na plateia não respiravam, tipo, havia esse tipo de atenção onde você poderia ouvir um alfinete cair".


Essa ligação com o público que Lloyd descreve veio do respeito mútuo dos outros músicos na multidão, juntamente com fotógrafos e jornalistas que documentavam e reportavam esta nova cena musical emergente.


“As bandas chegavam lá sem muito alarde e tocavam, principalmente para os membros de outras bandas assistirem”, Kaye me conta. “Mas era um lugar para tocar e nos forneceu um estágio onde você poderia experimentar e poderia ver quem você gostaria de se tornar. Você poderia cometer seus erros lá em cima do palco e foi um público muito indulgente porque todo mundo estava em outra banda. E foi tão despretensioso quanto possível, sabe? Era uma cena tão local que você nunca poderia sonhar que, o que aconteceria lá viajaria pelo mundo mais tarde”.


Parte 3: A Ascensão do Punk


Um dos jornalistas que frequentava regularmente o CBGB foi Legs McNeil, co-fundador - junto com o cartunista John Holmstrom e o editor Ged Dunn - da revista Punk. Inspirada por seu amor pelos gibis e pela música do THE STOOGES, THE DICTATORS e do NEW YORK DOLLS, a revista foi (de acordo com McNeil) a 1ª publicação a documentar a popularidade da cena do CBGB.


McNeil mudou-se para New York em 1974, imediatamente após descobrir que não iria concluir o ensino médio: "Foi ótimo e naquela época não tinha nada na cidade. Tudo estava quebrado, mas ao mesmo tempo era simplesmente magnífica”, ele me disse durante a nossa conversa por telefone. “Era como Berlin na Alemanha depois da 2ª Guerra Mundial e havia casas queimadas em todos os quarteirões, porque eu acho que os proprietários mandavam incendiá-las para receber o dinheiro do seguro, de tão quebrada que era a cidade, sabe? O bairro Bronx e o Lower East Side estavam sempre em chamas, quase todas as noites... Assim, os traficantes de heroína mudavam-se para essas casas incendiadas e usavam-nas para distribuir a droga”.


Shernoff disse que tudo isso contribuiu para a emergente cena punk rock de New York: “A cidade estava falida e desmoronando, por isso que os aluguéis eram baratos naquela época e é por isso que os músicos foram até lá. As pessoas puderam formar bandas e dedicar suas vidas aos seus empreendimentos artísticos criativos, porque New York era um deserto”.


Mary Harron, que iria dirigir os filmes, "I Shot Andy Warhol" e "American Psycho", foi contratada como redatora da 1ª edição da revista Punk, publicada em 1º de janeiro de 1976, trazendo na capa uma caricatura de Lou Reed desenhada por Holmström. Embora a revista (inicialmente um fanzine) tenha ajudado a popularizar a palavra “punk” para descrever a cena musical de New York durante os anos 70, também foi progressista na contratação de escritoras e fotógrafas numa época em que o jornalismo era uma indústria dominada pelos homens.


“Foi tipo, por que não faríamos, você me entende?” McNeil me contou. “E além disso, havia muitas mulheres em cena. Estávamos saindo com elas e não foi como uma premeditação. Debbie Harry (vocalista do BLONDIE) costumava nos dar carona para casa em seu carro, quero dizer, elas eram nossas amigas”.


Em meados dos anos 70, New York tornou-se o destino da música punk rock para músicos e fãs, porque eles liam sobre isso em revistas como Cream, Crawdaddy e 16 Magazine, conforme a escritora Arcade me disse: “Havia uma promoção de pessoas que faziam música em New York que era bastante incipiente, fosse WAYNE COUNTY & THE ELECTRIC CHAIRS, NEW YORK DOLLS ou o Patti Smith Group ou quem quer que eles estivessem promovendo. As pessoas estavam promovendo seus amigos e relatando algo que estava começando a acontecer, mas você sabe, na verdade foi criado através de quase uma mitologia dessa escrita rock”.


Shernoff (baixista do THE DICTATORS) disse que naquela época era comum a interação entre músicos e jornalistas, principalmente porque todos frequentavam o CBGB: “Uma crítica positiva de um disco poderia influenciar nas vendas”.


McNeil lembra que na 1ª noite em que foi ao CBGB ele viu os RAMONES: “Foi perto do Dia de Ação de Graças de 1975. Eles foram simplesmente fantásticos. Eles eram tudo o que uma banda deveria ser: músicas curtas, sem solos de bateria e sem solos de guitarra... Gravamos um show deles em fita-cassete em um gravador e tocávamos todas as manhãs, pois era uma ótima maneira de acordar”.


McNeil voltou na noite seguinte e viu a apresentação do TALKING HEADS. Ele também se lembra de ter visto o show do BLONDIE: “O BLONDIE era uma porcaria no começo, mas como eles abriram para os RAMONES por 02 anos, você via eles ficando cada vez melhores e quando o CBGB conseguiu um novo sistema de som, você realmente conseguia ouvir a voz de sua vocalista, Debbie Harry”.


Quem se apresentou ou frequentou o CBGB nos anos 70 sabia de 03 coisas: cuidado onde pisa, não coma a comida da casa e use o banheiro por sua própria conta e risco: “Hilly Kristal tinha um cachorro que costumava cagar no palco”, Lloyd me contou.


“Já Stiv Bators, vocalista do DEAD BOYS, costumava se masturbar no banheiro”, disse McNeil.


No ano seguinte, o clube Max’s Kansas City reabriu como Max’s II. O Club 82 se recuperou brevemente como um lugar para as bandas tocarem e o clube Hurray foi o 1º grande local a apresentar bandas de punk rock e new wave, bem como música industrial. 


Ou seja, foi o TELEVISION e o CBGB que ajudaram a pavimentar o caminho para todos eles.


“Tocamos no Club 82, que ficava em um porão logo ali na esquina, o que foi fabuloso”, disse Lloyd. “Foi lá que David Bowie, John Lennon e um monte de gente vieram nos ver".


De acordo com Lloyd, as bandas começaram a assinar contratos de gravação no final de 1975. O TELEVISION fez várias gravações demo para diferentes gravadoras, acabando por assinar com a Elektra Records: “Todo mundo assinou primeiro por uma quantia de valor muito baixo. Os primeiros discos dos RAMONES, TALKING HEADS e do BLONDIE foram gravados por U$ 6 mil dólares. É claro que não tínhamos esse dinheiro, mas a Elektra Records nos apoiou muito bem”.


TELEVISION concentrou-se na construção de uma grande base de fãs para chamar a atenção das gravadoras e potencialmente ofertas financeiras mais elevadas: “Na minha teoria as gravadoras não contratam talentos”, disse Lloyd. “Elas investem no seu negócio - que é a sua banda - então, elas podem entrar, pegar o seu negócio e construí-lo a partir daí. Em certos casos funciona bem”.


"Marquee Moon", o disco obra-prima de estreia do TELEVISION, foi lançado em 08 de fevereiro de 1977 com aclamação da crítica.


Lloyd se lembra de ter pedido à Elektra Records que desse dinheiro à banda para fazer camisas, porque eles achavam que seria uma boa publicidade. A gravadora recusou: “Estávamos à frente do jogo que eles não nos deixariam jogar”. No final, o disco de estreia do TELEVISION vendeu quase 80 mil cópias.


Com isso, a visão de futuro do TELEVISION quando se tratava de contratar bandas, combinada com a mente aberta de Hilly Kristal para criar um espaço para artistas marginais se reunirem no CBGB, deu início a um movimento.


“Acho que houve uma percepção de que as coisas estavam mudando”, disse Kaye. “A palavra ‘punk’ estava no ar, embora naquela altura não fosse um estilo específico, mas uma espécie de sensibilidade de estar fora da indústria musical”.


Parte 4: O Punk Nunca Morre


“Ninguém jamais pensou que isso iria a algum lugar”, disse McNeil. “Quando você chama algo de ‘punk’, a grande mídia acha muito fácil de reprimir, sabe?”


Ao longo do final da década de 70, o CBGB tornou-se um terreno fértil bem estabelecido para artistas que logo se tornariam lendários, como o THE POLICE, THE B-52’s, Elvis Costello e Joan Jett & The Blackhearts. Ao longo dos anos 80, o CBGB ganhou reputação como um lugar exclusivo para o punk hardcore, com bandas como o DEAD KENNEDYS, MISFITS, BAD BRAINS e uma iteração inicial do BEASTIE BOYS antes de virar uma banda de rap. 


Pulando para o século atual, o CBGB ganhou status de ícone como o berço do punk rock. No entanto, esse estatuto não foi suficiente para salvá-lo do aumento dos custos dos aluguéis. Apesar dos esforços para salvar o clube, o CBGB fechou as portas para sempre na noite de Halloween de 2006. Menos de 01 ano depois, Kristal morreu devido a complicações de um câncer de pulmão.


Shernoff relembra aquela época com um enorme sorriso no rosto: “Todo final de semana uma futura banda lendária tocava no CBGB e cada uma tinha um som singular e individual. Foi um período fantástico de criatividade musical”.


“Uma das coisas que considero realmente importante foi o senso de 'deixe acontecer' e originalidade de Hilly Kristal”, disse Kaye. “A única coisa que ele não queria era um monte de bandas cover tocando no seu clube, sabe? Sua única insistência foi que tocassem música autoral e certamente isso marcou o que o CBGB ofereceria ao mundo. E Hilly, que Deus o ame, não tentou planejar nada disso, mas no final, você sabe, ele permitiu que isso acontecesse. E pra mim, isso é a marca de um grande dono de clube que ele foi”.


Enquanto Lloyd e eu terminamos nosso café da manhã, ele lamenta a falta de uma verdadeira cena musical aqui em Chattanooga, como a que ajudou a criar em New York: “Infelizmente, não há nenhuma cena aqui. Não há absolutamente nenhuma cena e completamente desprovida desse tipo de possibilidade”.


Eu me pergunto se ele sente falta de como as coisas costumavam ser, quando tocava naquele pequeno palco de madeira que ajudou a construir em um clube que já não existe há quase 20 anos e num bairro que não é mais reconhecível.


Entretanto, Lloyd não é uma pessoa de viver no passado: “Prefiro viver no presente”, disse ele.


Após a morte de Verlaine em janeiro de 2023, Lloyd é agora – como sua esposa, Sheila, me disse em 2023 – o porta-voz não oficial do TELEVISION, o que significa que ele tolera jornalistas como eu para ajudar a contar sua história.


Mas acontece que o TELEVISION não precisa da minha ajuda, pois eles continuam a encontrar novos públicos em parte graças às turnês de Lloyd e às vendas consistentes de seus álbuns: “Há uma nova reedição em vinil que foi lançada recentemente. Foram 5 mil cópias de alta fidelidade e elas se esgotaram", finalizou Lloyd.


E assim, o legado do TELEVISION e de todo o movimento punk rock de New York ainda brilha.
















































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