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by Brunelson
Confira a resenha que a revista Spin fez sobre o álbum do R.E.M, "Around The Sun" (13º disco, 2004):
Revisitando o "pior" álbum do R.E.M. após 19 viagens ao redor do sol.
O fracasso pode ser tão atraente quanto o sucesso, especialmente para uma banda que assumiu riscos frequentes, mas raramente tropeçou.
Os artistas geralmente descrevem o processo de gravação de um disco como uma batalha, mas para o guitarrista Peter Buck, fazer o azarado 13º álbum do R.E.M, "Around The Sun", foi mais como uma guerra. Uma guerra muito específica e que a banda criticou publicamente por anos.
“Foi como a guerra do Iraque”, disse Buck para a revista Spin em 2008. “Não sabíamos por que tínhamos entrado no estúdio, não sabíamos como sair e não sabíamos o que estávamos fazendo ou tentando realizar”.
Essa é uma descrição bastante sucinta de como boas bandas gravavam álbuns. Neste caso, como um dos grupos mais respeitados dos anos 80 e 90, eles criaram o que muitos consideram ser o único defeito em todo o seu catálogo.
R.E.M. foi um ato emblemático que ao longo de uma carreira de 30 anos resistiu à transição do underground americano para o mainstream global, o que significa que os fãs ficaram com uma variedade de álbuns muito diferentes para reivindicar como o seu melhor. No entanto, quase todo mundo - incluindo Buck - cita o disco "Around The Sun" como um ponto baixo na carreira.
Tal como acontece com outros "Piores Álbuns de Grandes Artistas", há algo fascinante sobre esse tipo de fracasso e o que ele revela sobre uma banda conhecida por seu igualitarismo e longevidade. Ainda é o pior álbum deles, mas com o R.E.M. extinto desde 2011, “pior” significa algo muito diferente em 2023 do que era lá em 2004.
Há 19 anos atrás, o grupo havia passado do auge dos anos 90, mas havia resistido a tempestades suficientes para permanecer uma superpotência global, especialmente na Europa. Eles seguiram em frente depois que o baterista original, Bill Berry, saiu em 1997, e ainda obtiveram um sucesso preciso porque usaram essa mudança como uma oportunidade para mexer em seu som e se redefinir como uma banda.
O 1º álbum lançado sem o seu baterista, "Up" (11º disco, 1998), foi uma coleção de experimentos onde adotaram as influências de uma sonoridade eletrônica. O álbum seguinte, "Reveal" (12º disco, 2001), apresentou-se mais focado, como se fosse um álbum de verão alegre ou uma coleção de devaneios de quintal. Ambos tiveram a sua parcela de críticas, mas se manteram notavelmente bem e fortes para uma banda gigante em transição.
No entanto, com o disco "Around The Sun", o R.E.M. e o produtor Pat McCarthy perderam toda a perspectiva. Primeiro por se afastarem demais do material - para saírem em turnê no meio do processo - e depois por se aproximarem demais - quando já era tarde demais.
Eles começaram a gravar esse álbum no início de 2002 e em março de 2003 lançaram uma versão preliminar da música "Final Straw" como single gratuito em seu site oficial - dias após a invasão da Guerra do Iraque. Estas sessões foram interrompidas no início daquele ano para que a banda pudesse fazer uma turnê para promover o disco de coletâneas, "In Time" (2003).
Quando terminaram, se mudaram para Miami para começar a mixagem do álbum. Foi um processo tedioso, com Michael Stipe (vocalista) e Mike Mills (baixista) comandando a mixagem e um Peter Buck frustrado e supostamente fugindo da cidade para não ter que participar.
Como resultado, o álbum "Around The Sun" é um caso sério, pensado demais, sem foco, muito liso, mas também estranhamente austero, como se eles tivessem deixado a maioria dos instrumentos no chão da sala do estúdio. Não há exuberância aqui, nada como a interação estreita dos seus primeiros discos ou a linda estranheza em músicas dos álbuns "Out of Time" (7º disco, 1991) ou "Automatic For The People" (8º disco, 1992).
Aqui, cada música atinge aproximadamente o mesmo tempo e tom, onde não há uma canção verdadeiramente rock. Algumas músicas, notavelmente “Boy in The Well”, tentam acelerar as coisas, mas não conseguem reunir o ímpeto ou interromper o ritmo lento do álbum como um todo. Além disso, há muito pouco da guitarra de Peter Buck nestas canções, presumivelmente porque ele não compareceu à mixagem e não estava lá para se "defender". Buck aparece aqui e ali, fornecendo floreios acústicos em músicas como “Final Straw” e “I Wanted to Be Wrong”, mas nunca se sente totalmente presente.
Era quase como se o R.E.M. tivesse perdido outro membro da banda.
Quando o disco "Around The Sun" recebeu as piores críticas na carreira do R.E.M, deve ter parecido o fim do mundo como eles o conheciam - e esta sensação de destruição amplificou as falhas do álbum. Tornou-se um elefante no meio da sala, um escândalo que os membros da banda tiveram que abordar e explicar em entrevistas subsequentes, mas como Stipe canta na faixa-título do disco: “Espere, mundo, porque você não sabe o que está por vir”.
Era tudo o que o álbum "Around The Sun" não foi: solto, estranho, imaginativo, alegre e divertido. Eles continuaram construindo essa base para o seu último álbum de estúdio, "Collapse Into Now" (15º disco, 2011), que se tornou o seu canto do cisne, embora não tenha a solenidade de uma despedida.
Agora que sabemos como a história da banda termina, é mais fácil desconsiderar os pontos baixos desse disco e apreciar os altos. O refrão na canção “Boy in The Well ” soa mais azedo (no bom sentido) em suas acusações, os sintetizadores cortam a música “Final Straw” para criar uma fricção mais intensa, os vocais de Stipe soam mais ousados na música “Electron Blue” e o solo de guitarra em estilo espanhol na canção “High Speed Train” chama a atenção. Ainda soa muito longo e disforme, mas agora um tipo diferente de energia emerge dessas músicas, um tipo diferente de ação crescente que ouvimos na canção “Electron Blue” e culmina na animada música “Wanderlust”.
E há uma lógica nestas canções na sequência em que elas foram colocadas, mesmo que seja parcialmente obscurecida pela produção e mixagem.
Há momentos ao longo do álbum que sugerem que essas canções são ambientadas na metrópole, ou a banda está falando diretamente com seus habitantes, ou desenhando as suas esquinas e horizontes, ou simplesmente caminhando pelas suas calçadas e becos.
Seria uma garantia gentil para uma cidade que ainda cambaleava 03 anos após o atentado terrorista de 11 de setembro. Talvez este seja um álbum feito para ser escutado em fones de ouvido enquanto você caminha por Manhattan, sem destino em mente e escolhendo a sua rota com base em qual rua pode conter mais "novidades".
Ou talvez a austeridade das músicas desse álbum seja apenas um espaço para você adicionar os seus próprios sons.
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