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by Brunelson

R.E.M: resenha sobre a música "Losing My Religion"


Li em algum lugar recentemente que a expansão do universo viaja em uma parede de som.

Ao ouvir o clássico de 30 anos do R.E.M, quase parece que a jornada planejada do zumbido sonoro da matéria expansiva era chegar a um estúdio no final do verão de 1990, para ser aproveitada e afiada na reverência sonora adrenalizada na canção "Losing My Religion".

Todos esses anos depois, a música continua sendo uma peça nova da perfeição da música popular que estabeleceu o manifesto muito singular da banda: interferir nos extremos do som e da instrumentação, para apresentar as descobertas nas peças mais palatáveis de exultação crescente.

A música em si é um clássico, conhecida e amada em todo o mundo. Desde os primeiros segundos de formigamento do bandolim, ela chama a nossa atenção e curvamos a orelha com o seu som único - e a história por trás disso é tão interessante quanto.

Gravada entre setembro e outubro de 1990 e lançada no álbum "Out of Time" em 1991 (7º disco), a música "Losing My Religion" foi o primeiro single do álbum e lançou um disco com sucesso instantâneo.

A canção foi fundamental para a evolução do grupo, ocupando o 4º lugar nos EUA e atraindo uma série de novos fãs para a base de fãs cada vez maior da banda, fato esse que vinha aumentando continuamente desde o seu álbum de estreia em 1983, "Murmur".

Na região sul dos EUA, o termo "losing my religion" significa ter uma crise de fé em alguém ou quem antes você amava ou acreditava. É essa batalha interna de anseio e desânimo que se colocam simultaneamente um contra o outro que o vocalista Michael Stipe explorou nas suas letras.

“Adorei a ideia de escrever sobre o amor não correspondido”, disse ele uma vez à estação de rádio holandesa NPO. Posteriormente, acrescentou: “Trata-se de segurar e ir para trás, estender a mão para a frente e depois recuar novamente... O que é mais emocionante pra mim é que você não sabe se a pessoa que estou procurando sabe da minha presença. Se ela sabe, eu existo. É algo realmente doloroso e sincero que se tornou uma das melhores músicas que a banda já me deu”.


As letras emprestam uma sensação de reverência à canção e elevam a melodia cativante a algo mais espiritualmente ressonante.

Esta melodia cativante em questão veio como resultado dos esforços do guitarrista Peter Buck para tentar aprender a tocar bandolim. Para ajudar na prática, Buck gravava a si mesmo tocando o instrumento e ouvia as falhas em seu desempenho. Da mistura cacofônica de tentativas e treinos, veio o momento mágico quando o riff final do bandolim polido foi realmente identificado.

Buck disse à revista Guitar School em 1991: “Comecei no bandolim, criei o riff e o refrão. Os versos são os tipos de coisas que o R.E.M. usa muito, indo de um menor para outro, como aqueles acordes na canção 'Drive 8’ (3º disco, 'Fables of The Reconstruction', 1985). Você realmente não pode dizer nada de ruim sobre Mi menor, Lá menor, Ré e Sol, quero dizer, eles são apenas bons acordes".


Esse acoplamento de profundidade e aderência à estrutura da música, a empurra para o terreno psíquico peculiar entre o familiar e o totalmente novo.

Esse mesmo contraste também é explorado na instrumentação musical. A seção de ritmo suave e leve das canções do R.E.M. fornece uma plataforma ambiente para a colocação das palavras ao cantar, e neste caso, o bandolim dançando alegremente: “Não há absolutamente nenhum médio, apenas graves e agudos, porque Mike Mills geralmente ficava na sintonia certa tocando o seu baixo”, explicou Buck. “Foi quando decidimos pedir a Peter Holsapple (músico americano) para gravar conosco e ele tocou violão ao vivo nesta gravação, o que foi muito legal! Peter e eu estaríamos em nossa pequena cabine de gravação no estúdio, quente pra caralho, e Bill Berry (baterista) e Mike estavam lá fora na outra sala também gravando e aquilo tinha uma sensação realmente mágica, sabe?”


Mais tarde, Mills admitiria que o baixo que sutilmente conduz a música era sua maneira de imitar o efeito semelhante alcançado pelo quase inimitável John McVie, da banda FLEETWOOD MAC.

O destino distorcido das circunstâncias também ajudou na tensa peça final da música. O anseio frustrado nas letras é ecoado muito de perto pelo desejo de Stipe de querer ter feito o seu vocal assumir outra perspectiva na canção: “Fiquei muito chateado”, declarou Stipe sobre a sua raiva por não ser capaz de encapsular a efusão sincera de sua poesia no ambiente abafado do estúdio. O fato de que o engenheiro de estúdio "parecia fora de si" e era um dia sufocantemente quente no estúdio em New York, não prejudicou em nada na gravação.

Stipe explicou: “O ar-condicionado estava quebrado e estávamos todos suando dentro do estúdio, sabe? Fiquei todo agitado, tirei a roupa e gravei a música quase pelado”.

No final, a banda seguiu em frente e tanto os vocais quanto o bandolim foram gravados em um único take. Esta sensação ao vivo imbui a música com uma certa humanidade numinosa: “Tenho orgulho de dizer que cada pedaço de bandolim do disco foi gravado ao vivo”, declarou Buck, “não fiz overdubbing e se você ouvir com atenção, em um dos versos tem um lugar onde eu abafei as cordas sem querer e pensei: 'Bom, eu não posso voltar e dar uma 'arrumada' nisso, porque é para ser uma gravação ao vivo...' Essa era a ideia toda”.


Longe de ser uma depreciação, essas marcas no som gravitam na escuta da peça, dando à canção uma espécie de honestidade sinfônica bruta que o assunto realmente merece.

"Losing My Religion" foi a música que representou o ápice na carreira da banda, levando-a de um respeitado ato de culto a um nome familiar, sem diluir qualquer parte da identidade revolucionária que lhes rendeu aos fãs.

Em última análise, é uma das canções mais singulares da história comercial, como Buck declarou nos encartes da coletânea, "In Time": “A música foi escrita em 05 minutos. Na primeira vez que a banda tocou, ela se encaixou perfeitamente. Numa certa hora, Michael tinha a letra e enquanto tocava a música pela terceira ou quarta vez, fiquei incrivelmente emocionado ao ouvir os vocais em conjunto com a música. Pra mim, a canção ‘Losing My Religion’ parece algum tipo de arquétipo que estava flutuando no espaço e que conseguimos amarrar. Se todas as composições fossem tão fáceis assim...”

A música pode ser sobre uma crise de fé, ainda assim, certamente parece tocar em alguma vitalidade muito monolítica transfigurada em uma música comovente, que você pode reviver assistindo ao videoclipe abaixo:












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