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by Brunelson
Confira quase na íntegra essa matéria e encorajadora entrevista de Tim Commerford:
Com o apoio de sua namorada e dois filhos, o músico de 54 anos de idade e que é uma personificação de uma estrela do rock, de repente enfrentou a batalha mais difícil de sua vida: “Tenho sido alguém que se orgulha muito de estar em forma e cuidar de mim mesmo, mas é algo em que você tem sorte ou não”, disse o baixista.
Antes de ser entrevistado, as únicas pessoas que sabiam da condição de Commerford eram a sua família, colegas de banda e um círculo fechado de amigos íntimos.
Além do câncer, o músico falou sobre a sua empolgação com o lançamento do 7D7D (um dos seus projetos paralelos), a turnê com o RAGE AGAINST THE MACHINE e o seu otimismo na vida.
Jornalista: Como você manteve uma perspectiva positiva quando soube dessa condição?
Tim Commerford: Você pode se encontrar em uma situação como a minha, onde é como, porra, toda a minha vida mudou. Com tudo o que acontece comigo agora, eu me pergunto, estou me sentindo assim porque tenho câncer? Estou perdendo o meu cabelo porque tenho câncer? Seja o que for, me faz pensar se está acontecendo porque tenho câncer. E o câncer de próstata é muito, muito, muito difícil porque está ligado à sua sexualidade. É difícil se desconectar disso e quando você é forçado a entrar nessa situação, é uma jornada psicológica brutal. Tenho tentado encontrar grupos de apoio e é difícil encontrar pessoas e falar sobre isso. A parte do sofrimento, do sofrimento físico depois da cirurgia, nunca senti uma dor assim. Tenho placas de metal na cabeça e partes "mortas" no corpo, porque eu causei muitos danos por meio de esportes radicais, mountain bike e esse tipo de coisa, e sempre senti que tinha uma tolerância muito alta para a dor, mas essa merda me deixou de joelhos. Depois que a dor passou, ainda não conseguia me levantar direito, apesar de estar malhando e fazendo outras coisas, mas psicologicamente o dano é grave... É muito difícil pra não desmoronar e me emocionar.
Jornalista: É corajoso de sua parte compartilhar sua história.
Commerford: Obrigado. Eu não estava planejando vir conversar com você até ontem à noite. Eu tenho lutado e é difícil. Pode não parecer muito, mas passar por uma conversa e não engasgar e se emocionar é uma vitória pra mim. É uma pequena vitória. Mas então, nas últimas 24 horas, tenho pensado mais sobre isso e uma coisa estranha aconteceu. Eu estava com a minha namorada e estávamos assistindo a cerimônia do Rock and Roll Hall of Fame na TV. DURAN DURAN estava tocando e eu fiquei: "Ah, porra, eu costumava aprender essas músicas quando era criança". Eu os vi no palco e me perguntei: "Onde está Andy Taylor e por que eles têm esse outro cara aqui?" Então, foi como: "Andy Taylor está sofrendo de câncer de próstata em estágio quatro e não consegue sobreviver". A minha vida é mais ou menos assim. Há muitas pessoas que também passam por isso e há muitas pessoas que me dizem: "O que você vai fazer?" Você não quer falar com um terapeuta. Você só pode realmente conversar com alguém que está passando por isso.
Commerford: Acabei de fazer o meu teste de 06 meses e deu zero. Eu fiquei: "Caralho!" Isso é o melhor que posso sentir pelo resto da minha vida! A cada dia que eu chego mais perto daquele teste, é tipo: "Foda-se cara, essa vai ser a hora que o número vai subir e eu vou para a próxima, seja lá o que for..."
Jornalista: Como você descobriu que estava doente?
Commerford: Fui fazer um seguro de vida, mas os meus números de PSA estavam altos. Eu não consegui fazer o seguro porque a seguradora não queria. No início, o número era muito baixo, até certo ponto. Eu vi ao longo de 01 ano e meio esse número crescendo e ele continuou se elevando ainda mais. Eventualmente, eles fizeram uma biópsia e descobriram que eu tinha câncer, então, retiraram a minha próstata. Eu me culpo. Eu deveria ter dito: "Os meus números são elevados e o que isso realmente significa?" Eu deveria ter levado isso mais a sério...
Commerford: Agora estou na situação em que estou, que é prender a respiração de 06 em 06 meses. Não é bom e não me deixa feliz. Estou apenas tentando segurar as rédeas. Vai ser uma longa jornada, espero. Meu pai morreu aos 70 anos de câncer e minha mãe morreu de câncer aos 40 anos... Estou tentando chegar à marca de 100 músicas e outros objetivos. Compor tornou-se uma catarse pra mim. Isso é tudo o que eu tenho, sabe? Tempo para fazer essas coisas.
Jornalista: Como você conseguiu sair em turnê e se apresentar em arenas com o RAGE AGAINST THE MACHINE nesse verão?
Commerford: Dois meses antes da turnê, fiz a cirurgia e os meus médicos disseram que eu não estaria pronto para a turnê. Isso foi brutal. Eu estaria no palco depois olhando para o meu amplificador em lágrimas... Você meio que se vira como pode. Por causa da minha cirurgia, planejamos esses pequenos intervalos em vídeo apresentado na tela de fundo do palco e que viriam depois que tocássemos algumas músicas no palco. Deveríamos subir no palco, tocar algumas músicas, sair do palco e entrar nos intervalos depois de alguns minutos. Seria perfeito. Mas daí, Zack se machucou e não conseguimos sair do palco. Aquilo foi surreal pra mim, ficar sentado lá no palco pensando no câncer enquanto os vídeos passavam. Às vezes eu me sentava e tentava não pensar em certas coisas. Foi estranho. Eu mantive isso pra mim durante toda a turnê que fizemos e foi brutal.
Jornalista: Os seus colegas de banda sabiam disso?
Commerford: Sim.
Jornalista: Com base nos vídeos destes shows, nas apresentações e nas entrevistas, ninguém jamais suspeitaria que algo estava errado com você...
Commerford: Foi assim que aconteceu. Você ainda pode estar em ótima forma. Quando fiz o meu exame físico, meu médico disse que eu estava na melhor forma de qualquer pessoa de 50 anos de idade que ele já tinha visto. Há muitas pessoas que estão em ótima forma e têm câncer. E espero continuar enquanto puder. Eu malho religiosamente e tento ao máximo me manter em forma. Ainda tenho muito orgulho de quem eu sou. Quando fui diagnosticado, isso fodeu comigo nesse nível, mas agora estou começando a sentir esse outro nível de "vou ser o filho da puta com câncer de 54 anos de idade mais em forma que você já viu na vida".
Jornalista: Essa é a melhor e única maneira de ver isso.
Commerford: Apenas tente ver o quão bom eu posso fazer contra aquele adversário, sabe? O passageiro sombrio, eu me refiro. É difícil, cara, mas eu tenho um ótimo sistema de apoio. Sou amigo de Lance Armstrong (ex-ciclista profissional) e ele me deu ótimos conselhos que provavelmente vão prolongar a minha vida. O copo está meio cheio, sabe?
Commerford: E essa é a beleza de compor e tocar baixo. Quando a minha mãe ficou doente, foi quando aprendi a tocar baixo. Quando eu estava no palco tocando com o RAGE AGAINST THE MACHINE, houve momentos em que não pensei no câncer. Quando toco com o 7D7D no estúdio, não me importo com o que estamos fazendo, eu entro em transe e esqueço completamente disso e é tão lindo. Quando eu acordo de manhã, é como: "Ah, é um novo dia. Droga! Eu tenho câncer", mas você não pode parar e colocar uma nuvem escura no seu dia. Quando eu vou tocar com 7D7D ou com o RAGE AGAINST THE MACHINE, apenas me sintonizo e é tão bom. A música sempre esteve presente nos momentos mais difíceis da minha vida.
Jornalista: O que tornou a turnê do RAGE AGAINST THE MACHINE tão urgente foi o elemento de caridade e eventos beneficentes que a banda estabeleceu. Poucas bandas são tão abertas sobre para onde vão as suas doações de caridade.
Commerford: Foi uma coisa linda. Há muitas coisas que aconteceram nessa turnê que foram incríveis, como os vídeos que passávamos na tela de fundo nos shows no Canadá, dizendo como as mulheres indígenas são mais propensas a serem estupradas do que outras mulheres. Tínhamos os fatos e números no palco e foi uma ferramenta poderosa.
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