Ray Davies: quando o frontman do The Kinks tomou um frasco inteiro de comprimidos para fazer um show
Ele pode ser um dos compositores britânicos definitivos da "invasão britânica" da década de 60, mas como acontece com a maioria dos grandes músicos, há uma psique complexa por trás dos seus olhos, assim como era para Ray Davies, vocalista/guitarrista do THE KINKS.
Embora ele represente o auge da arte inseparável das idiossincrasias, sua história é repleta de altos e baixos no rock 'n' roll, com coisas chegando a um ponto particularmente cavernoso para ele em 1973.
Em um domingo, dia 15 de julho (foto), o frontman do THE KINKS se viu em uma encruzilhada pessoal. Cheio de angústia por sua esposa tê-lo abandonado e levado consigo as 02 filhas do casal, esse foi um novo ponto baixo do qual ele quase não conseguiu escapar.
Era algo do qual ele só via uma saída.
Naquele dia, o THE KINKS se apresentou no The Great Western Express Festival, em Londres, mas refletindo como os tempos haviam mudado para a banda, eles não eram mais a atração principal, onde ficaram alojados no meio de uma formação variada de gêneros musicais.
Naturalmente, a questão que ocupava a maior parte do espaço mental de Davies era que sua esposa tinha ido embora há menos de 03 semanas e de acordo com seus companheiros de banda, incluindo seu irmão e guitarrista do THE KINKS, Dave Davies, ele agiu de forma estranha o dia todo e sem que eles soubessem na época que Ray havia tomado muitos comprimidos médicos naquela noite.
Quando ele subiu ao palco, ele estava farto da música e infelizmente da própria vida. Depois de apenas 04 canções, o desgastado frontman xingou ao microfone, dizendo ao público: “Estou farto de tudo isso. Estou farto disso até aqui!" Em seguida, Ray beijou seu irmão na bochecha e disse à multidão: “Só quero dizer adeus e agradecer por tudo o que vocês fizeram”.
Em seu livro biográfico, "X-Ray", Ray Davies - nome real, Raymond Douglas - está escrito: “Havia obviamente muita auto piedade envolvida, mas Ray não conseguia escapar dessas emoções e não havia escapatória, porque isso era o mundo real para ele e apenas desabou na terra na fantasia de Raymond Douglas”.
O livro continua: “No final do show, ele anunciou que esse era o último show do THE KINKS, mas os técnicos de som do festival desligaram acidentalmente o sistema de som e ninguém ouviu seu discurso de demissão. Seu discurso terminou com ele falando: ‘THE KINKS está morto, eu estou morto’. Nesse momento, pessoas bem-intencionadas ajudaram Ray Davies a sair do palco..."
No dia seguinte, a notícia fez parecer que mais um rockstar da década de 60 havia entrado em combustão em uma onda de ego. No entanto, algo mais sério estava acontecendo nos bastidores.
Apenas algumas horas depois dessa apresentação do THE KINKS, a namorada de Dave Davies percebeu que Ray Davies agia de maneira estranha, então, foi quando ele mostrou um frasco vazio de comprimidos. Felizmente, um roadie da banda estava presente para levá-lo às pressas de carro ao Whittington Hospital, onde o signatário declarou em sua chegada: “Eu sou Ray Davies e estou morrendo”.
Estranhamente, uma enfermeira respondeu pedindo um autógrafo, mas isso não era uma piada. Depois de desmaiar no corredor do hospital, Ray foi levado às pressas para um quarto para fazer uma lavagem estomacal. Ele sobreviveria e anos depois, quando a poeira baixou, ele acabaria falando um pouco sobre esse dia.
Ray revelou que um médico lhe deu esses comprimidos e que foi orientado a tomar sempre que se sentisse “um pouco deprimido”, concluindo: “Eu estava fazendo o que pensei ser meu último show na vida e me sentia mal a cada 10 segundos que passava".
Em outra ocasião, o vocalista admitiu que na verdade tudo foi uma tentativa de suicídio. Com isso, ele afirmaria que essa descida seria o início de sua escalada para sair do desespero, onde com louvor ele foi resgatando sua pulsão de vida e serve como estímulo e motivação para quem também passa por esses problemas ou vivencia a dor do outro.
Ray Davies continuaria com o THE KINKS e lançariam 24 álbuns de estúdio (além de coletâneas, discos ao vivo e vários singles), encerrando as atividades em 1996.
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