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by Brunelson

Smashing Pumpkins: resenha do álbum "Gish"


O álbum de estreia do SMASHING PUMPKINS, "Gish", está fazendo 30 anos em 2021.


Lançado em 28 de maio de 1991, esse disco de rock pesado e psicodélico apresentou ao mundo o quarteto visceral de Chicago. "Gish" acabaria sendo certificado como Disco de Platina, se tornou no álbum independente que mais vendeu cópias na história do rock e foi produzido pelo onipresente produtor, Butch Vig.


O nome do álbum vem da estrela do cinema mudo, Lillian Gish. Em uma entrevista para a revista Rolling Stone agora em maio de 2021, o frontman Billy Corgan havia dito: "Tenho uma vaga lembrança de conversar com a minha avó quando era criança, sobre como foi crescer na zona rural de Kentucky. Ela nasceu em 1911 e eles não tinham um carro. Ela morava numa fazenda, então, quando ela fosse para a cidade, eles teriam que ir a cavalo e charrete. Imagine a minha avó em algum lugar por volta de 1920. Certa vez, eles foram de cavalo e charrete para a cidade porque iria chegar um trem trazendo uma estrela do cinema".


"Ela falou comigo sobre ver a atriz Lillian Gish no trem. Eu li sobre isso desde então e essas estrelas do cinema faziam várias viagens de trens naquela época atravessando zonas rurais. Elas paravam, acenavam, deixavam as pessoas tirarem algumas fotos, ficavam 05 minutos e o trem seguia em frente. Para a minha avó em 1920, ver Lillian Gish na parte de trás do trem - que era a maior estrela de cinema do mundo - houve algo nessa memória que realmente me marcou, que foi o contraste entre a luz brilhante do estrelato e uma menina crescendo literalmente num chão de terra".


"Há algo sobre a coisa sentimental que se implantou na minha mente. Ela me deu essa memória quando eu tinha 10 anos de idade e isto ficou gravado no meu cérebro. Quando estávamos gravando o álbum "Gish" e procurava por um título, pensei em todos os tipos de títulos elegantes, mas tudo parecia inadequado. Um dia, quando estava sob efeito de ácido LSD, o nome Gish apareceu e pensei: 'Isso é interessante. Ninguém sabe o que significa, mas eu sim'”.


O álbum "Gish" foi gravado de dezembro de 1990 até março de 1991 no Smart Studios em Madison, Wisconsin, estúdio do próprio Butch Vig. Com um orçamento de U$ 20 mil dólares, Billy Corgan co-produziu o disco com Vig, que na época ainda era relativamente um produtor desconhecido para as grandes gravadoras (já estava fazendo o seu nome no underground). Este álbum faria a sua parte para influenciar na carreira de Vig, já que o seu próximo disco que ele iria produzir seria o álbum "Nevermind" do NIRVANA.


O período de gravação estendido e o grande orçamento do álbum "Gish" foram novas perspectivas para Vig. Em 2008, ele lembrou numa entrevista: “Billy Corgan queria fazer tudo soar incrível e ver até onde ele poderia ir, o que realmente faz gastar tempo na produção e nas apresentações. Pra mim, foi uma dádiva de Deus, porque eu estava acostumado a gravar discos para todas as gravadoras independentes e tínhamos um orçamento de apenas 03 ou 04 dias”.

Vig acrescentou: “Ter aquele luxo de passar horas tocando guitarra, ou afinando a bateria ou trabalhando em harmonias e coisas complexas... Eu estava nas nuvens ao pensar que tinha encontrado um companheiro de armas que queria me empurrar e quem realmente Corgan queria que fosse a pessoa que lhe pressionasse. Agendamos 30 dias no estúdio para gravar esse álbum".

Esta densa produção era um indicativo das bandas de rock clássico dos anos passados e não de uma banda independente relativamente desconhecida de Chicago. Parte da atração do disco "Gish" é a qualidade da produção (e do som de bateria). Embora tenha sido agregado ao movimento grunge nascente, é muito mais do que isso. A influência de atos de rock psicodélico do passado pode ser ouvida e muito disso decorre da produção quente, orgânica e analógica que não dependia de ferramentas digitais e truques de estúdio.

Foi no álbum "Gish" que as guitarras habilmente encaixadas de James Iha e Billy Corgan agraciaram os nossos ouvidos pela 1ª vez. É uma sonoridade sonhadora, psicodélica e que remete fácil às memórias adolescentes e todo o pacote que vem junto nas lembranças, como andando de skate, formando bandas de garagem e conhecendo esse disco na época do seu lançamento escutando em fita-cassete no walkman.

A banda também era praticamente inexperiente com os processos de gravação num estúdio, onde as sessões colocaram uma grande pressão sobre a banda. A baixista D'arcy Wretzky comentou no passado que não sabia como eles sobreviveram às gravações do disco "Gish". Além disso, o ego e entranhas de Billy Corgan vieram à tona para cima dos membros do grupo, o que gerou um colapso nervoso em Corgan.

Ah, mas essas brigas internas que marcou a gravação do disco logo se tornaria outra marca registrada nos álbuns subsequentes...

Tematicamente, Corgan disse que o álbum "Gish" trata de dor e de espiritualidade, confirmando a sua natureza psicodélica. Em uma entrevista para a MTV em 1995, Corgan afirmou: “O álbum é sobre dor e ascensão espiritual. As pessoas perguntam se é um disco político... Não é um álbum político, é um álbum pessoal”.

O vocalista/guitarrista acrescentou: “De uma forma estranha, 'Gish' é quase como um disco instrumental, tipo, possui um canto, mas a musicalidade domina a banda em muitos lugares. Eu estava tentando dizer um monte de coisas que realmente não conseguia dizer de maneiras intangíveis e indizíveis, então, eu era capaz de fazer isso com a música, mas não acho que era capaz de fazer isso com as palavras”.

Uma canção de destaque seria "Siva", que marcou muitos requisitos em termos de ser a primeira em várias coisas para a banda.

Pra começar, foi o 1º single do álbum. Aliás, foi também o 1º videoclipe que eles filmaram como uma banda. A palavra "shiva" (com "h") foi um dos títulos que Corgan teve em sua mente por muito tempo. Ele queria chamar a banda de "Shiva" em vez de SMASHING PUMPKINS, no entanto, ele não tinha conhecimento das implicações religiosas do nome "shiva", que o levou a remover a letra "h" e finalmente decidir-se por "Siva" (onde a pronúncia é a mesma como se fosse com a letra "h"). A música abraçou musicalmente as influências originais do rock clássico do SMASHING PUMPKINS com um interlúdio característico do grupo quase silencioso, para servir como um recurso de contraste para o resto da canção.

Em 2018, Billy Corgan comentou em rede social sobre o videoclipe de outra canção, "I Am One", que abre esse álbum de estreia do SMASHING PUMPKINS, dizendo por que a banda o rejeitou por sentir que a gravadora estava tirando proveito da explosão do grunge ao querer comercializa-lo.

"Fizemos um videoclipe para a música 'I Am One', o qual rejeitamos na época. Simplesmente porque a gravadora pediu para aproveitarmos a explosão do grunge. Não tenho certeza quando ou por quê fizemos aquilo, mas o vídeo foi filmado no Clube Metro, em Chicago, e o resultado foi totalmente enterrado até o ano 2000". O baterista Jimmy Chamberlin havia postado em rede social sobre o som de bateria nessa música: “Mais grooves e riffs para o seu final de semana. Muitas vezes me perguntam sobre o som dessa caixa. A bateria era 'uma concha de aço' da Yamaha, série de gravação 5.5x14 e ainda é uma das minhas favoritas! Aliás, Billy Corgan gravou o baixo nessa canção”.


O baterista do RAGE AGAINST THE MACHINE, AUDIOSLAVE e PROPHETS OF RAGE, Brad Wilk (e que foi o baterista de turnê do álbum do SMASHING PUMPKINS, "Monuments to an Elegy", 8º disco, 2014), também havia comentado em rede social dando continuidade a este assunto: “Porra, eu amo tudo sobre isso! Vi vocês tocando essa música no clube English Acid na 1ª vez que vieram para Los Angeles". Para finalizar este assunto, o guitarrista do JANE'S ADDICTION, Dave Navarro, também comentou em rede social: “'I Am One' foi a música que fez com que eu me sentasse e prestasse atenção! Eu estava, tipo: 'Que porra é essa?????'" No final das contas, o disco "Gish" é uma estreia fantástica. Ele contém todos os elementos brutos e delicados que o SMASHING PUMPKINS aprimoraria nos 02 álbuns seguintes, os clássicos "Siamese Dream" (1993) e "Mellon Collie and The Infinite Sadness" (1995). O disco "Gish" é uma obra bem executada com guitarras viscerais, psicodélicas, ritmos dinâmicos, letras obscuras e introspectivas que o torna uma entrada não tão valorizada como deveria ser na discografia da banda. "Gish" é também o início oficial de uma temporada de 05 álbuns que pode rivalizar com qualquer banda contemporânea que você queira nomear. Do verdadeiro deslizamento de riffs que compõem a música "Siva" à névoa encharcada de fuligem da canção "Rhinoceros" e da quebraceira música "I Am One", esse disco é 04 pessoas sem nada a perder tocando como se as suas vidas dependessem disso.


Track-list:


1. I Am One

2. Siva

3. Rhinoceros

4. Bury Me

5. Crush

6. Suffer

7. Snail

8. Tristessa

9. Window Paine

10. Daydream


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