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by Brunelson

Sonic Youth: "dizia na época que se gravássemos outro disco, seria com motosserras e piano"


Thurston Moore, vocalista/guitarrista do SONIC YOUTH, revisita sua vida na música com o lançamento do seu livro biográfico, "Sonic Life", lançado no final do mês de outubro de 2023 e que narra sua gestão de 03 décadas no SONIC YOUTH.



Não seguir as convenções faz parte do manual criativo do SONIC YOUTH e é uma sensibilidade canalizada em seu tão aguardado livro de memórias.

O grupo emergiu da vibrante cena underground de New York no início dos anos 80 e abriu um caminho de independência e inovação em todo o mundo do rock, mesmo depois de assinar com uma grande gravadora em 1990, a Geffen Records (a mesma que iria contratar o NIRVANA, por indicação dos próprios membros do SONIC YOUTH).


Sua influência em bandas como NIRVANA, DINOSAUR JR, PAVEMENT, RADIOHEAD e outras, desempenharam um papel importante na explosão do rock alternativo e grunge no início dos anos 90, sendo que o SONIC YOUTH ainda estava em alta na época de sua repentina separação em 2011, uma decisão necessária devido ao divórcio de Moore com Kim Gordon (vocalista/baixista do SONIC YOUTH), após 27 anos de casamento.

Esta separação complicada é mencionada apenas brevemente no livro "Sonic Life", uma obra de 77 capítulos e quase 500 páginas em andamento desde 2017. Em vez disso, ele se concentra na conexão de Moore com a música, abrindo com sua introdução ao rock'n'roll após ouvir a música “Louie Louie” quando criança em um vinil de 7 polegadas trazido para casa por seu irmão.


Ao longo do livro, Moore, com 65 anos de idade, concentra-se principalmente em sua evolução de fã de música a pioneiro do rock independente, incluindo encontros com Joey Ramone, Iggy Pop e Kurt Cobain, além de uma prisão após uma perseguição em alta velocidade em sua cidade rural natal no Estado de Connecticut.

Em vez de insistir na despedida silenciosa do SONIC YOUTH (com 16 álbuns de estúdio lançados), o livro termina com o encarte do último disco da banda, "The Eternal", lançado em 2009: “Eu queria que a gravação do álbum 'The Eternal' fosse a cereja do bolo”, Moore disse para a revista Spin direto de sua casa no oeste de Londres, sobre sua decisão de encerrar o seu livro dessa forma. “Poeticamente, fazia sentido”.

A ideia do livro "Sonic Life" foi sugerida pela esposa de Moore, a editora de livros, Eva Prinz, com quem ele se casou em 2020: “Eu não sabia se deveria me mudar para Londres para escrever esse livro, mas queria que fosse uma forma de encerrar a história com o SONIC YOUTH”, ele explicou. “Eu não queria que fosse algum tipo de choro, foi quando Eva me disse: ‘Seu último álbum se chama 'The Eternal', então, por que você não coloca essas duas últimas palavras no livro?' E eu falei pra ela: ‘Ótima ideia. Que bom que você pensou nisso’. E isto me deu um final”.

Moore escrevia o livro "Sonic Life" enquanto se mantinha ocupado com sua própria música, incluindo 04 álbuns solo nos últimos 06 anos. Uma turnê planejada pelos EUA para divulgar o livro foi cancelada enquanto Moore tratava de uma fibrilação atrial, uma condição que pode causar batimentos cardíacos irregulares.

“Em 2023 começou a ficar mais evidente a minha situação, ao ponto de me sentir extremamente fraco e às vezes mal conseguir andar pelo quarteirão”, disse Moore, acrescentando que os seus médicos de Londres possuem “muito alta confiança" de que ele irá se recuperar.


Confira a entrevista concedida por Moore, que também explicou a gênese do livro "Sonic Life", a romantização do apogeu do SONIC YOUTH e seu desejo de trocar as guitarras por motosserras na época em que a banda estava prestes a se separar:


Jornalista: Por que foi o momento certo para você escrever o seu livro biográfico?

Thurston Moore: Em algum momento, eu queria escrever sobre a história do SONIC YOUTH através do meu prisma. A nossa banda está fora do mercado há vários anos (desde 2011), então, senti que poderia escrevê-la a qualquer momento. Queria escrever um livro longo onde eu fizesse um ensaio escrito sobre música. Originalmente, eu queria apenas escrever sobre coisas significativas, além de documentos que informavam e intrigavam não apenas a mim, mas também à micro comunidade com a qual estava envolvido.

Moore: No início, o livro seria uma versão aberta e experimental. Porém, percebi que queria ter uma cronologia que mostrasse o desenvolvimento de uma banda que existisse há tanto tempo quanto nós. De qualquer forma, acho que qualquer banda que existe há mais de 05 anos é uma anomalia, então, quando você chega a um ponto de estabilidade, se torna uma coisa notável. E quando você chega aos 20 ou 30 anos de carreira, é ainda mais notável. SONIC YOUTH certamente alcançou esse status de legado, mas há muitas bandas que continuam sendo grupos underground profundos que estão juntos desde sempre. Bandas como SMEGMA ou LOS ANGELES FREE MUSIC SOCIETY.

Moore: Então, por que agora? Muito disso tem a ver com ter idade suficiente para sentir que poderia ter uma voz bastante diferente da voz que eu teria nos anos 80 e 90. A voz é retrospectiva, mas está escrita na voz de um cara de 65 anos de idade escrevendo sobre um jovem de 20 anos de idade. Então, quando escrevo sobre o meu relacionamento com membros da banda como Kim Gordon ou Steve Shelley (baterista) ou Bob Bert (2º baterista a passar pela banda), somos todos muito jovens. Não há muita autoanálise no livro porque não estou interessado em me envolver com isso. Acho isso um pouco egoísta e grosseiro, sabe? Estou mais interessado em escrever como se fosse um livro de poesia de Patti Smith em 1974 e como ele foi significativo para tantas pessoas que se reuniam e se encontravam nesses clubes em New York, como o CBGB ou no Max's Kansas City. Eu queria que fosse sobre a alegria de estar em uma banda, mesmo indo a lugares em minha mente sobre os quais precisava escrever, como a morte do meu pai... Esse tipo de coisa é necessária para transições.


Jornalista: Por que você acha que existe um fascínio pelo período em que o SONIC YOUTH ganhou destaque?

Moore: Para muitos, foi algum tipo de período final onde havia cenas musicais regionais e muito bem definidas, como pela cena do Centro-Oeste dos EUA, pela cena de Los Angeles, pela cena de San Francisco, pela cena de Seattle e claro, pela cena de New York. Sendo que você não vê mais essa energia coletiva no rock. Certamente as nossas vidas estão mais abertas à internet, onde não é necessário saber de onde você vem. Pra mim, era isso que despertava muito interesse em como era aquele estilo de vida antes dessa mudança cataclísmica que todos tivemos com a internet, onde estamos todos interligados agora.


Jornalista: O que você gosta ou não gosta em suas memórias musicais?

Moore: Estou surpreso com quantas biografias musicais que li de contemporâneos que tratam muito sobre o uso de heroína. Eu sempre soube que fazia parte do meu mundo, mas tipo: "Meu Deus, todo mundo usava heroína, menos eu?" Sabe, eu, Lee Ranaldo (guitarrista), Steve Shelley e Kim Gordon, éramos muito conservadores. Foi um paradoxo porque sempre fomos os caras mais "retos" das bandas que participavam do Lollapalooza Festival, mas tocávamos a música mais torta e fora de forma de todos. Era tipo, quanto mais tensa uma banda, mais direto ela estava com o seu rock and roll. Consequentemente, bandas assim são mais populares porque são acessíveis com o seu som. Porém, nunca fomos totalmente acessíveis e este era o tipo de música que estávamos fazendo, mas certamente éramos todos limpos das drogas.


Jornalista: SONIC YOUTH sempre manteve os fãs em alerta evoluindo seu som constantemente. Como é relembrar cada período de crescimento da banda?

Moore: De certa forma, sempre foi proposital querer fazer algo surpreendente ou pelo menos algo como reação às gravações anteriores. Fui ver o romancista Colson Whitehead fazer uma leitura em público aqui em Londres. Como escritor, ele sabia que ainda poderia escrever como uma reação ao que havia escrito antes e eu me identifiquei com isso. Certamente foi o pensamento de todos nós do SONIC YOUTH. Sempre quisemos não apenas fazer algo diferente, mas que fosse ainda mais exemplar musicalmente. De certa forma, isso foi libertador para nós. Durante os anos 90, nos permitiu coexistir lançando discos baseados em canções, bem como discos experimentais e instrumentais. Na época em que gravamos o álbum "The Eternal" em 2009, senti que era uma afirmação tão forte quanto poderíamos fazer naquele momento. Qualquer coisa além disso talvez começasse a se tornar uma espécie de uma roda girando e se repetindo e repetindo...


Jornalista: Você notou alguma coisa desacelerando criativamente nessa época?

Moore: Comecei a ver isso acontecendo como uma banda em turnê nos últimos anos de nossa existência. Nós nos tornamos decodificados até certo ponto... Também notei que o nosso público estava cada vez mais pensando: "Já ouvimos tudo do SONIC YOUTH" e "não apenas ouvimos tudo, mas estamos ouvindo outras bandas fazendo a mesma coisa com um pouco mais de refinamento".


Jornalista: Para encerrarmos, qual você acha que é e será o legado do SONIC YOUTH?

Moore: Nunca tomamos nenhuma decisão consciente de mudar o jogo. Foi tudo muito intuitivo, principalmente depois do disco "The Eternal". Achava nessa época que talvez deveríamos fazer uma pausa, sem perceber que faríamos mesmo uma pausa assim que se espalhasse a notícia sobre a separação de Kim e eu em 2011. A banda não seria mais funcional e não sabíamos o que isso implicaria ou o que aconteceria com isso, então, nunca foi pensado como sendo o nosso último disco. Eu costumava dizer às pessoas na época que se gravássemos outro álbum, apenas o comporíamos com motosserras e pianos. Quando eu dizia isso, Lee Ranaldo olhava pra mim e dizia: "Estou triste, mas vamos fazer isso então". Sempre gostei da ideia do SONIC YOUTH existir como tal, apesar de termos ficado inativos.

















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