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by Brunelson

Sonic Youth: guia para iniciantes; 06 músicas definitivas do guitarrista Lee Ranaldo


Lee Ranaldo, conhecido por seu trabalho de guitarra elaborado e inovador de uma das bandas pioneiras do rock alternativo e noise, SONIC YOUTH, foi de várias maneiras considerado o guitarrista "solo" do grupo.

Em 2000 em diante, SONIC YOUTH virou um quinteto com 03 guitarras, mas Lee Ranaldo, na maioria das vezes afastado dos holofotes, sempre manteve o seu papel como um indivíduo íntegro e completo, que leva o seu ofício muito a sério e além disso, é bastante humilde pela falta de atenção recebida em comparação aos seus companheiros de banda, Thurston Moore (vocalista/guitarrista) e Kim Gordon (vocalista/baixista).

Essa humildade tende a nutrir uma sinceridade e uma abordagem genuína ao seu trabalho.

Na verdade, os holofotes têm a tendência de mexer na cabeça das pessoas e pode ser prejudicial para o processo criativo.


No início, Ranaldo buscou desenvolver um nome solo para si mesmo, criando canções igualmente informadas por provocações de guitarras que compunham o som característico do SONIC YOUTH. Ele também é um poeta público, incorporando a palavra falada em suas composições.

Durante os estágios iniciais do SONIC YOUTH ainda como um power trio, a banda tocou no Noise Festival em 1981, onde Thurston Moore viu pela primeira vez Lee Ranaldo se apresentando como membro do conjunto de guitarristas de Glenn Branca. Moore comentou sobre este grupo certa vez numa entrevista, dizendo: “A banda de guitarras mais feroz que eu já vi na minha vida”. Thurston Moore também brincou sobre a importância do evento dentro do grande esquema da história musical, acrescentando: “Foi um evento marca d'água porque aconteceu numa época em que a 'no wave' (new wave) estava surgindo e ninguém se conhecia”.

Embora qualquer aparência significativa de uma cena musical coesa e organizada que o SONIC YOUTH fazia parte, num certo ponto desapareceu, a banda sairia dessas cinzas como um grupo na vanguarda de uma nova exploração territorial - realmente não havia ninguém como eles em meados dos anos 80, enquanto a new wave abraçou alguns elementos disco, como BLONDIE e TALKING HEADS.

Tanto Lee Ranaldo quanto Thurston Moore, os dois guitarristas do SONIC YOUTH, são considerados dois dos maiores guitarristas do rock experimental. Em uma entrevista, Ranaldo declarou sobre os primeiros dias da banda: “Quando estávamos começando, estávamos explorando esse tipo de tendência que estava acontecendo e trazíamos estes sons experimentais realmente estranhos”.

Ranaldo continuou: “Estávamos trabalhando com todas essas afinações abertas em nossas guitarras e outras coisas, tipo, não soava como qualquer outra coisa, especialmente naqueles nossos primeiros dias, onde não tinha nada parecido. Abordamos a nossa música como ninguém e as pessoas ficaram muito chocadas e surpresas com o som no início”.

Não era apenas a originalidade da natureza experimental que diferenciava o SONIC YOUTH de todos os outros na época. A falta da presença da internet desempenhou um papel significativo.


Antes da internet, o mundo era um lugar muito grande e as informações sobre novas bandas viajavam num ritmo mais lento. Como consequência, o mercado ainda não estava tão saturado.

As canções do SONIC YOUTH foram compostas principalmente como uma banda. As letras eram fornecidas por membros específicos que então, normalmente, assumiam as funções vocais. Ranaldo não forneceu letras até o álbum de 1986, "Evol" (3º disco), para a música "In The Kingdom # 19".

Aqui, em ordem cronológica, resolvemos nos aprofundar em 06 canções definitivas de Lee Ranaldo no SONIC YOUTH, que não quer dizer que sejam as melhores, mas que mapeiam o seu estilo distinto como guitarrista e vocalista:

Música: "In The Kingdom #19"

Álbum: "Evol" (3º disco, 1986)

Esta música mostra o senso poético do lirismo de Lee Ranaldo, fortemente inspirado na literatura beat de New York, cidade natal da banda e especificamente do escritor Jack Kerouac.

A música conta a história de um motoqueiro que atropela um animal, bate e fica morrendo na estrada. Outro homem em um carro aparece e ao invés de ajudar o motoqueiro caído na estrada, ele pega o animal e sai para o mato. Por volta da marca dos 55 segundos da música, Thurston Moore jogou literalmente fogos de artifício em Lee Ranaldo quando eles estavam gravando esta canção no estúdio.

O álbum "Evol" marca a saída significativa da banda de sua abordagem puro noise para mais sensibilidades melódicas. Na época, embora o disco não tenha ido muito bem comercialmente, retrospectivamente, os críticos notaram que este álbum é um dos discos mais importantes no desenvolvimento do SONIC YOUTH.


Música: "Pipeline / Kill Time"

Álbum: "Sister" (4º disco, 1987)

Esta canção parece ser sobre temas de escapismo e fuga dos problemas da vida, apresentando as guitarras típicas do SONIC YOUTH à beira do caos e perdida nas rachaduras, com letras: “Estique-me até o ponto onde eu pare / Corra 10 mil milhas e então pense em mim”.

Este 4º álbum do grupo continua a se afastar do seu desvio total do puro noise para uma sensibilidade mais melódica (ainda que não pareça).

As palavras são ditas da maneira que Ranaldo costuma apresentar as suas letras, faladas e gritadas de forma não agressiva com uma sensação de desamparo, mas com uma inocência que é pronunciada. Isso cria uma justaposição interessante de desespero e uma leveza que pode parecer estranha.


Música: "Eric’s Trip"

Álbum: "Daydream Nation" (5º disco, 1988)

Esta canção composta por Lee Ranaldo é uma das suas melhores em um dos melhores álbuns de estúdio do SONIC YOUTH.

"Daydream Nation" é um disco importante dentro de todo o desenvolvimento do gênero rock alternativo/underground, e teve um papel significativo em influenciar muitas bandas que viriam depois. O que separou o disco "Daydream Nation" dos seus álbuns anteriores até este ponto, foi o processo de composição sendo liderado por Thurston Moore.

Anteriormente, o processo de composição produzia pequenas explosões de expressões que surgiam de uma só vez. Esta é uma das razões pelas quais o álbum demorou muito mais tempo para ficar pronto do que os seus discos anteriores.

A música "Eric’s Trip" é sobre um monólogo alimentado por ácido LSD realizado pelo músico e ator, Eric Emerson, no filme "Chelsea Girls" de Andy Warhol. Além de suas participações em filmes de Andy Warhol, em sua curta vida, Eric Emerson tocou na banda THE MAGIC TRAMPS.

Com exceção dos elementos experimentais pelos quais o SONIC YOUTH era conhecido, "Daydream Nation" estava muito longe dos seus álbuns anteriores e de uma forma triunfante. O disco recebeu críticas favoráveis, com a revista Rolling Stone escrevendo que o álbum continha “uma ampla paleta harmônica, habilidades de composição nitidamente aprimoradas e um impulso totalmente estimulante”.


Música: "Mote"

Álbum: "Goo" (6º disco, 1990)

O álbum "Goo" reflete o amadurecimento das composições do SONIC YOUTH estreando numa super gravadora, Geffen Records (a mesma que iria contratar o NIRVANA, sugestão dos caras do SONIC YOUTH à gravadora).


Os temas das músicas são mais completos e holísticos, em oposição à composição fragmentada inspirada na literatura beat em seus álbuns anteriores. As músicas deste álbum exploram tópicos como cultura pop e o papel das mulheres na sociedade. Já as letras desta canção são escritas por Lee Ranaldo e inspiradas no poema, "The Eye Mote", de Sylvia Plath.

Houve muita pressão sobre o SONIC YOUTH durante a gravação do álbum "Goo", já que o disco anterior, "Daydream Nation", foi a descoberta para muita gente, onde a banda conseguiu o contrato com a Geffen Records.

Nick Sansano produziu o álbum, o mesmo que também trabalhou no disco "Daydream Nation". Ele reservou à banda o Sorcerer Sound Studios, New York, que estava equipado com dois consoles de mesa de 24 canais - um componente necessário para Lee Ranaldo, que tinha uma tendência de colocar várias faixas de guitarra umas sobre as outras.


Música: "What We Known"

Álbum: "The Eternal" (16º disco, 2009)

Acelerando até aqui, não quer dizer que os anos 90 e 2000 foram infrutíferos para as composições de Lee Ranaldo.

Cada álbum de estúdio do SONIC YOUTH pelo menos conta com 01 música cantada por Lee Ranaldo e várias delas - quiçá, algumas das melhores - estão muito bem guardadas em nossos corações adolescentes e em cada disco neste período que passamos batido...


Aliás, deixamos de propósito fora dessa lista para você vasculhar por conta própria os álbuns marcantes do SONIC YOUTH dos anos 90 e 2000.

Mas como resolvemos selecionar somente 06 músicas, duas delas teriam que estar nessa lista para mostrar o prognóstico das novas músicas que viriam pela frente se o SONIC YOUTH ainda estivesse em atividade - e também estão na prateleira mais alta das composições de Lee Ranaldo.

Mais parecendo uma banda iniciante com uma simplicidade musical, mas com uma honestidade e poder sentimental que mais lembra o começo dos anos 90 - quem viveu a época, sabe do que estamos falando - a canção "What We Known" nos guia com o seu baixo marcante, as guitarras espirais do SONIC YOUTH e o vocal juvenil de Lee Ranaldo.


Música: "Walkin' Blue"

Álbum: "The Eternal" (16º disco, 2009)

"Walking Blue" é uma viagem tão boa, que de olhos fechados parece que você vai sair flutuando escutando esta canção...


Incrível como a musicalidade vai acompanhando as letras, determinando o clima e o que está por vir. Lee Ranaldo nos hipnotiza em suas músicas, às vezes me deixando em dúvida se não são as melhores dos álbuns (não de todos).

Com a sua voz radiofônica e grande jogo de guitarra, Lee Ranaldo é um alicerce imperial na estrutura de som do SONIC YOUTH e grande indicativo da origem borbulhante da viagem sonora da banda.


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