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by Brunelson

Sonic Youth: último show da banda foi no Brasil e Kim Gordon relembra como foi


A maioria das bandas não consegue ver o seu legado em tempo real, mas o SONIC YOUTH é um dos poucos que pode ver os efeitos de ondulação que eles fizeram ao longo da música alternativa acontecer bem na frente dos seus olhos.

Isso porque eles são uma das poucas bandas que conseguiram sobreviver a 30 anos de carreira sem nenhum hiato nas costas e 16 álbuns de estúdio lançados, sempre inovando e abrindo caminhos em uma mata fechada, inspirando toda uma nova onda de músicos a suspender conceitos e métodos em seus próprios termos.

No gênero alternativo, SONIC YOUTH é comparável apenas ao R.E.M. em sua capacidade de deixar uma marca e dar um passo atrás para observar a sua relevância contínua como uma das bandas do rock alternativo mais importante de todos os tempos.

Infelizmente, SONIC YOUTH não conseguiu fazê-lo de forma amigável no final do percurso e o núcleo da banda formado pelo vocalista/guitarrista, Thurston Moore, a vocalista/baixista, Kim Gordon, o guitarrista Lee Ranaldo e o baterista Steve Shelley, teve que encerrar as atividades em 2011.

Porém, o que estourou internamente foi o relacionamento de Gordon com Moore, que também eram casados desde os anos 80 e tem 02 filhas. Um casal que foi considerado por muito tempo o exemplo sustentável idealizado do amor de uma estrela do rock.

Começando no início dos anos 80 na cena punk rock em New York, o SONIC YOUTH era combativo e experimental em sua essência, raramente apresentando melodias ou arranjos tradicionais do rock, já que muitas de suas primeiras músicas eram excursões de ruído improvisadas com baquetas, garfos ou alguma ferramenta pendurado entre as cordas da guitarra ou as batendo violentamente nas cordas. À medida que avançavam e a cena punk começava a se transformar em algo mais legível e amigável ao mainstream, o SONIC YOUTH se tornou os líderes de ponta do nascente movimento alternativo, motivando contemporâneos como DINOSAUR JR e futuras gerações de rockstars do grunge, como o NIRVANA, MUDHONEY e o HOLE.

Eles começaram a ter sucesso no álbum "Daydream Nation" (5º disco, 1988), que ganhou boas resenhas da crítica e público, gerando um contrato com a grande gravadora Geffen Records. O álbum sucessor, "Goo" (6º disco, 1990), vendeu mais de 200 mil cópias e chegou ao ranking da Billboard marcando o grupo com um legítimo sucesso da rádio através da música "Kool Thing".

Infelizmente, o fim da banda (sempre esperamos por alguma notícia de retorno) foi decidido pelo caso de traição amorosa que Moore teve com a editora de livros, Eva Prinz. Após isso, Moore e Gordon tentaram aconselhamento matrimonial, mas o ponto foi discutível quando Moore se recusou a terminar as sessões. Em outubro de 2011, Moore e Gordon anunciaram oficialmente a sua separação.

Porém, o SONIC YOUTH ainda tinha algumas datas de turnê para se apresentar e quando a banda chegou em novembro de 2011 no SWU Music and Arts Festival em São Paulo, aqui no Brasil (foto), não havia mais nada na agenda do grupo dali em diante.

Gordon detalhou esse angustiante show final do SONIC YOUTH em sua biografia, "Girl in a Band".


Fazia apenas 01 mês desde o anúncio da separação em outubro, mas Moore e Gordon estavam separados pessoalmente já desde agosto.

“O casal que todos acreditavam ser dourado, normal e eternamente intacto, que dava aos músicos mais jovens a esperança de sobreviverem a um mundo louco do rock and roll, era agora apenas mais um clichê de fracasso de relacionamento de meia-idade. Uma crise de meia-idade masculina, outra mulher, uma vida dupla...”, escreveu Gordon em seu livro.

A música de abertura deste último show do SONIC YOUTH que foi realizado em São Paulo, foi "Brave Men Run", uma raridade do início da banda dos anos 80: “Eu mal conseguia me segurar durante a primeira música daquele show, que foi ‘Brave Men Run’. A certa altura, a minha voz caiu como se estivesse raspando contra a minha própria garganta e então, ela sumiu”, disse Gordon, acrescentando: “Naquela noite, Thurston e eu não nos olhamos nem uma vez, e quando a música terminou, eu virei os meus ombros para a plateia para que ninguém na multidão pudesse ver o meu rosto”.


A banda percorreu um setlist que incluiu algumas das músicas mais amadas da banda, como "Cross The Breeze", "Schizophrenia" e "Death Valley 69".

“Poderíamos ter cancelado aquela turnê, mas assinamos um contrato e tínhamos que cumprir”, continuou Gordon. “Tocar ao vivo é como as bandas ganham a vida e todos nós tínhamos famílias e contas para pagar, e no meu caso e no caso de Thurston, as mensalidades da faculdade de Coco, a nossa filha”.


De acordo com Gordon, a dinâmica da banda na época estava tensa, não apenas entre ela e Moore, mas também com os outros membros do grupo que ficaram "presos" no meio desta situação cônjuge.

“Fiel à forma da banda, todos fingiam que as coisas eram as mesmas. Eu sabia que os outros estavam muito nervosos sobre como estavam as coisas entre Thurston e eu para quererem interagir comigo, considerando que todos sabiam das circunstâncias do nosso rompimento e até conheciam a mulher em questão... Banda, incluindo a equipe de roadies e os caras da mesa de som, todos nós nos reuníamos para as refeições quando estávamos em turnê. Muitos da equipe trabalhavam conosco há anos e eram como membros da família, então, Thurston estava sentado em uma ponta da mesa e eu estava sentada na outra ponta da mesa. Foi como jantar fora com toda a família, só que a mamãe e o papai estavam se ignorando”, relatou Gordon em seu livro.

Essa última apresentação ao vivo do SONIC YOUTH também foi catártica para Gordon: “Ruído e dissonância extremas podem ser uma coisa incrivelmente purificadora. Normalmente, quando tocávamos ao vivo, me preocupava se o meu amplificador estava muito alto atrapalhando o som, ou se os outros membros da banda estavam de mau humor por algum motivo qualquer”, acrescentou Gordon. “Mas naquela semana, eu não poderia me importar menos com o quão alto eu estava com o som do meu amplificador ou se eu acidentalmente ofusquei Thurston em alguma música. Fiz o que queria, foi libertador e doloroso”.


À medida que a banda se aproximava da música final do show, Gordon podia sentir que a sua vida profissional e pessoal com o grupo estava chegando ao fim. SONIC YOUTH terminou o show com uma de suas canções de assinatura e que devido ao momento, com um tom sugestivo que foi "Teenage Riot".

O show está completo para ser visto no YouTube, mas Gordon disse que nunca ficou interessada em assistir: “Alguém me disse que todo o show de São Paulo está no YouTube, mas eu nunca vi e nem quero. Durante aquele último show, eu me lembro de ficar me perguntando o que o público estava percebendo ou pensando sobre essa pornografia crua, estranha, de tensão e distanciamento físico... O que o público viu e o que eu vi, foram provavelmente 02 coisas completamente diferentes”.


Confira este show completo do SONIC YOUTH realizado em 2011 na cidade de São Paulo e que foi a última apresentação da banda em sua carreira:


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