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by Brunelson

Soundgarden: entrevista com a banda sobre os 30 anos do álbum "Badmotorfinger" - Parte 1


Confira a matéria e entrevista que a revista Spin realizou com todos os membros do SOUNDGARDEN - inclusive citações do saudoso Chris Cornell de entrevistas que concedeu à revista ao longo do tempo - falando sobre o álbum "Badmotorfinger" (3º disco, 1991) e sobre a era que antecedeu, envolveu e se seguiu com esse álbum marcante na história do rock.



Nesta 1ª parte que separamos para você, o assunto fica mais direcionado à questão dos baixistas que passaram pela banda:


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Em 1991, SOUNDGARDEN havia chegado a uma encruzilhada.

Ao redor deles, as coisas pareciam estar em um estado de fluxo. A Guerra Fria havia finalmente alcançado o seu desfecho de décadas com o desmantelamento do Muro de Berlim, exatamente quando uma nova guerra estava para começar no Golfo Pérsico. O hip hop estava emergindo como um novo gênero dominante, enquanto o hair metal estava aproveitando os seus últimos lampejos.

E depois de vários anos operando dentro da cena underground em torno de Seattle, lançando discos cult favoritos para as gravadoras independentes Sub Pop e SST Records, SOUNDGARDEN agora eram novos operadores para uma grande gravadora, recebendo no pacote as pressões advindas e algumas dores de cabeça com os novos executivos.

“Esse é provavelmente um dos momentos mais tumultuados na carreira da banda”, admitiu o guitarrista do grupo, Kim Thayil. “Houve brigas lá, mas criativamente isso nos impulsionou para atividades mais inventivas e arriscadas, que em última análise foram realmente benéficas”.

De todas as lutas que a banda enfrentou durante esse período, foi a tentativa de voltar aos trilhos após a saída do baixista fundador, Hiro Yamamoto, que deu a eles mais ansiedade e angústia. Yamamoto partiu logo após o lançamento do 2º álbum de estúdio, "Louder Than Love" (1989).


SOUNDGARDEN procurou de alto a baixo por seu substituto e os frutos dessa busca acabariam tendo um grande impacto, tanto no som quanto na estética da banda, que iria gerar esse disco que parece um híbrido punk-metal dilacerante chamado "Badmotorfinger".

Esse álbum é o momento em que o SOUNDGARDEN se tornou essencialmente o SOUNDGARDEN que a maioria dos milhões de fãs da banda em todo o mundo reconhece hoje. É o momento em que o grupo se entrelaça, formando um disco feito de rock incrivelmente complexo e cheio de riffs, que perfurou e dominou as ondas de rádio da MTV e FM por muitos anos nos EUA e Europa.

Mirando em Chris Cornell, o álbum "Badmotorfinger" representa a conquista máxima de composição inspirada, onde somente poucos artistas haviam alcançado até então. Alimentado por uma sensação de perda, Cornell injetou uma veia especial de inspiração ao longo de 1990, sendo que em 1991 serviria de base não apenas para a gravação desse disco histórico, mas também para o filme do diretor Cameron Crowe centrado em Seattle, "Singles", bem como na formação da banda TEMPLE OF THE DOG - em dedicação única ao seu amigo e colega de quarto, o falecido vocalista do MOTHER LOVE BONE, Andrew Wood.

“Estávamos apenas tentando ser honestos conosco mesmos como banda e como músicos, o máximo que podíamos, sabe?”, disse o baterista Matt Cameron. “Isto significou que estávamos tentando escrever músicas que fossem muito identificáveis para nós”.

Agora, 30 anos depois do lançamento do álbum "Badmotorfinger" ter feito a sua feroz introdução ao mundo da música, esta é a história completa de sua criação e contada pelos próprios membros da banda, bem como por uma variedade de pessoas essenciais para a realização desse disco.


Jornalista: Em 1989, antes que o SOUNDGARDEN pudesse começar a trabalhar em seu 3º álbum de estúdio, vocês primeiro tiveram que encontrar um novo baixista. No final das contas, a busca se resumiu a dois guitarristas, ambos amigos em comum de uma banda chamada NIRVANA.

Matt Cameron (baterista do SOUNDGARDEN): Hiro Yamamoto saiu da banda e praticamente logo depois que tínhamos gravado o álbum "Louder Than Love" (2º disco, 1989). Ele estava com a sensação de que não queria mais fazer turnês e comprometer tanto tempo e energia com a banda quanto seria necessário naquele momento. Tínhamos acabado de assinar um contrato com a A&M Records e este 2º álbum foi o nosso primeiro grande lançamento. Kim Thayil (guitarrista), Chris Cornell (vocalista) e eu, estávamos muito animados para começar a nossa jornada como uma banda de rock. Então, quando Hiro decidiu ir embora, foi definitivamente uma parada em nosso ímpeto, porque tínhamos todos esses planos de turnê praticamente prontos.

Chris Cornell (vocalista do SOUNDGARDEN, em 2011): A ausência de Hiro era algo com que vivíamos muito antes dele realmente deixar a banda. Ele era uma pessoa extremamente criativa no início, mas isto minguou rapidamente.

Kim Thayil (guitarrista do SOUNDGARDEN): Há uma perda significativa quando você remove um compositor, fundador e alguém com uma personalidade musical única e distinta como Hiro. Substituir Hiro foi uma coisa muito importante e difícil. Fizemos o teste com várias pessoas... Primeiro chamamos Jason Everman (2º guitarrista do NIRVANA durante a turnê inicial do seu álbum de estreia, "Bleach", 1989) e depois Ben Shepherd, apesar de tê-lo chamado primeiro.

Ben Shepherd (baixista do SOUNDGARDEN): Eu estava vendo um show da banda PERE UBU e Kim Thayil estava lá e havia me dito que Hiro tinha deixado o grupo. Me lembro que fiquei chateado, pois do jeito que eu enxergava, era a banda de Hiro e ele que quis sair, então, pensei que eles estavam se separando, mas Kim havia me dito: "Não, não, fique tranquilo... Não estamos acabando com a banda, mas estávamos pensando: o que você acha de experimentar tocar baixo para nós?" E eu respondi: "Isso é engraçado, porque na noite passada os caras do NIRVANA me pediram para experimentar na 2ª guitarra para eles".


Matt Cameron: Éramos muito amigos do irmão mais velho de Ben Shepherd, Henry. Kim Thayil conhecia Henry antes de conhecer Ben e eu conheci Ben quando ele veio fazer o teste para entrar na banda em 1989. Eu nunca o tinha visto tocar em alguma das bandas locais que ele tinha naquela época, mas sei que uma das bandas chamada MARCH OF CRIMES fez alguns shows com o GREEN RIVER. Com certeza, Ben fazia parte da nossa cena musical local.

Ben Shepherd: Eu estava em uma banda antes do MARCH OF CRIMES que tinha feito um show lá na casa de Hiro. Eu acho que é aquela famosa casa em que ele morava com Chris Cornell e mais uma galera junto.

Kim Thayil: O nosso baixista substituto, Jason Everman, estava realmente focado, preparado e profissional. Me lembro de que cada um de nós fez uma lista de suas preferências, como uma espécie de votação nominal e Jason saiu na frente por motivos de profissionalismo, preparação e sentimos que ele aprenderia rapidamente.

Ben Shepherd: Eu nunca tinha tocado baixo antes. Me lembro de sentar no chão frio e congelante na garagem do meu amigo onde o NIRVANA costumava ensaiar, da época em que o baterista do NIRVANA naquela época, Chad Channing, havia se juntado à eles. Estava muito frio e tentei aprender a música "Love Buzz" que o NIRVANA tocava pegando uma guitarra emprestada de um amigo meu.

Matt Cameron: Nós apenas queríamos encontrar alguém que conhecêssemos localmente, que fôssemos amigos e que tivéssemos visto tocar em bandas. Ensaiamos com Ben 01 ou 02 vezes, mas de primeira não o escolhemos porque ele não tinha realmente aprendido as músicas e tínhamos que sair logo em turnê para o nosso 2º disco. Já a transição para Jason Everman foi definitivamente prática. Encontramos Jason por meio de amigos locais, ele tinha estado brevemente em turnê no NIRVANA e éramos realmente bons amigos dele. Jason definitivamente foi altamente recomendado naquela época e fizemos 01 ano de turnê com ele tocando baixo para nós.

Ben Shepherd: O pessoal do SOUNDGARDEN haviam me dito que escolheram Jason Everman para tocar baixo. Eu sempre estudei com Jason na mesma escola e já o conhecia, mas falei à minha namorada na época: “Veja, em 06 meses eles vão voltar e irão me chamar para entrar na banda", mas eu estava muito desanimado por não ter conseguido.

Kim Thayil: Estávamos certos de que Jason se encaixaria perfeitamente e no decorrer da turnê com ele, durante aquele ciclo, não foi suplantanda a dinâmica criativa e social que havíamos perdido quando Hiro saiu e estávamos criando outros problemas. De certa forma, havia uma ligação de banda que estava se desmontando e a adição de Jason não estava ajudando muito.

Chris Cornell (em 2011): Fizemos 100 shows com Jason Everman entre Hiro e Ben, e não tínhamos 01 música ou mesmo a ideia de 01 música nova com ele.

Kim Thayil: Nós sentimos que para o sucesso e para a saúde da banda, provavelmente teríamos que fazer uma mudança e encontrar um elemento que substituísse essas relações de uma forma que fosse dinamicamente criativa. O próximo cara da lista era Ben, que percebemos que tinha um bom senso criativo e era muito inventivo quando tocava.

Ben Shepherd: Depois de um tempo eles voltaram e me pediram para entrar no grupo. Com o pretexto de conhecer o novo cachorrinho de Chris Cornell, Howdy, todos nós fomos para o parque West Seattle. Sentamos ao redor de uma mesa de piquenique no gramado e Chris me disse: "Estávamos nos perguntando se você gostaria de tocar baixo para nós?" Cuspi no chão e falei: “Tudo bem, mas deixe-me contar aos meus amigos primeiro”.

Terry Date (produtor dos álbuns "Louder Than Love" e "Badmotorfinger"): Eu não estava muito envolvido com o motivo de Hiro ter ido embora depois de gravarmos o disco "Louder Than Love". Isso era um tipo de coisa interna da banda, mas Ben se encaixava perfeitamente com esses caras. Pelo menos aos meus olhos, foi uma transição muito natural e acho que, no que diz respeito à dinâmica da banda, pode ter sido um passo adiante, mas eu não ficava muito envolvido com o funcionamento interno da banda.

Chris Cornell (em 2011): Foi quando Ben se juntou ao grupo que percebi: “Ok, vamos ter um futuro com isso. Vamos fazer ótimos discos".

Ben Shepherd: Eu estava tão honrado e assustado, mas ainda me sentindo o irmão caçula daqueles três caras, aqueles três mentores me protegendo, sabe? Eu era muito mais jovem do que eles... Foi como ter ganhando o bilhete dourado para poder entrar na Fábrica de Chocolate.


"Mind Riot"


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