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by Brunelson

Soundgarden: entrevista com a banda sobre os 30 anos do álbum "Badmotorfinger" - Parte 2


Confira a entrevista que a revista Spin realizou com todos os membros do SOUNDGARDEN - inclusive citações do saudoso Chris Cornell de entrevistas que concedeu à revista ao longo do tempo - falando sobre o álbum "Badmotorfinger" (3º disco, 1991) e sobre a era que antecedeu, envolveu e se seguiu com esse álbum marcante na história do rock.




Nesta 2ª parte que separamos para você, o assunto fica mais direcionado à composição prolífica de Chris Cornell escrevendo músicas para esse disco, para o seu 1º EP solo, "Poncier", e para o TEMPLE OF THE DOG:


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Jornalista: Com o seu novo baixista a bordo, Ben Shepherd, era hora do SOUNDGARDEN começar a escrever músicas e trabalhar em seu próximo álbum de estúdio. Tendo esvaziado o cofre de novas canções em lançamentos anteriores como os álbuns "Ultramega OK" (1º disco, 1988) e "Louder Than Love" (2º disco, 1989), isto significava que vocês teriam que começar o processo novamente do zero e com um novo integrante, mas vimos que isto não seria um problema para Chris Cornell (vocalista), que estava entrando no período de composição mais prolífico de toda a sua carreira. O acréscimo de Ben Shepherd e suas afinações inventivas e desequilibradas também foi um tremendo benefício para a banda...

Kim Thayil (guitarrista do SOUNDGARDEN): Até o disco "Badmotorfinger", quase todas as nossas músicas eram apresentadas e testadas antes ao vivo, nos shows, porque as escreveríamos num ensaio, fosse no sótão ou no porão, dependendo da casa em que estávamos ensaiando. Nós as estrearíamos em nossos shows e teríamos uma boa ideia do que os nossos amigos e familiares poderiam gostar, o que era também uma ideia muito boa do que as outras bandas tinham gostado. Com o álbum "Badmotorfinger", esse foi o 1º disco em que não tivemos a sorte da avaliação do público sobre o nosso novo material. Tínhamos que seguir totalmente os nossos próprios instintos e naquele ponto já éramos o nosso próprio melhor ou pior público, pois era tudo o que tínhamos naquele momento.

Matt Cameron (baterista do SOUNDGARDEN): Ben Shepherd (baixista) entrou na banda sendo um guitarrista. Ele realmente não tocava baixo em bandas naquele período, sabe? Quando ele apareceu naquele 1º teste ainda em 1989 para entrar na banda e que foi quando o vi pela 1ª vez, percebi que ele tinha muitas técnicas de guitarra para tocar baixo, então, quando ele entrou no grupo só no ano seguinte, tentei me concentrar e informá-lo de coisas que eu me concentro como baterista quando toco com um baixista. Depois que tivemos aqueles ensaios iniciais somente eu e ele, Ben descobriu exatamente o que eu estava tentando fazer como baterista. Uma coisa que nos impressionou muito foi o quão criativo ele era como músico, compositor e escritor. Ele se encaixou na dinâmica criativa em que estávamos naquele momento da nossa carreira em 1990, mais ou menos antes de começarmos a escrever e gravar o disco "Badmotorfinger".

Terry Date (produtor dos álbuns "Louder Than Love" e "Badmotorfinger" do SOUNDGARDEN): Eu não acho que Ben Shepherd nunca se sentiu intimidado por nada quando entrou na banda. Ben lida muito bem com qualquer situação à sua maneira e ele foi ótimo o tempo todo. Quero dizer, ele estava sendo Ben Shepherd o tempo todo, sabe? Ele tinha um grande tipo de mentalidade punk rock que era realmente única... Provavelmente isso era diferente de Hiro Yamamoto (baixista original).

Ben Shepherd (baixista do SOUNDGARDEN): Durante este ensaio somente eu com Matt, eu fiz ele pular da bateria e apertar a minha mão por causa das coisas que estávamos fazendo. Uma certa hora eu perdi o tempo de tocar na corda porque eu não sou baixista em primeiro lugar, certo? Eu errei a corda e então caí de volta nela e a corrigi e simplesmente parei do nada. Matt ficou impressionado com isso e deu um pulo da bateria, rindo. Ele dizia: “Certo, cara! Você acertou em cheio!” E eu falei pra ele: "Não, cara, eu não acertei".

Matt Cameron: Depois que Ben se juntou à banda, acho que os nossos poderes criativos mudaram um pouco. Tínhamos este outro elemento ali, tipo, eu sempre brinquei que Ben e eu estávamos tentando fazer um disco de jazz e Kim e Chris tentando fazer o disco de hard rock definitivo.

Stuart Hallerman (engenheiro de som do álbum "Badmotorfinger"): Foi em meados de janeiro de 1991 que eles começaram as gravações. Foi no meu estúdio em Seattle, Avast Studios, que tinha acabado de abrir as portas há apenas 07 meses. No início, eles queriam 03 ou 04 dias por semana para gravarem. Eles só apareciam no estúdio no período da tarde, mas dependendo do estilo de vida deles, só apareciam mesmo à meia-noite com sacolas de cerveja. Até certo ponto, o estúdio se tornou a sede do clube deles... Eu me lembro que tínhamos uma pequena TV em preto e branco na sala. As bombas estavam caindo, era o início da Guerra do Golfo e era o 1º dia que o SOUNDGARDEN estava no estúdio para começar os trabalhos. Todos falaram: "Foda-se" e eles já começaram a arrumar os instrumentos para começar a tocar, fazendo ruídos do tipo SOUNDGARDEN de ser. Eles tinham as suas maneiras características de liberarem os monstros e outras coisas que estavam passando e praticamente naquele 1º dia de trabalho, tudo se fundiu na música “Slaves and Bulldozers”.

Chris Cornell (vocalista do SOUNDGARDEN, em 2011): O desafio pra mim, foi: "Como posso escrever uma música pós-punk rock visceral, acelerada e agressiva com vocais estridentes, mas que não seja uma música de heavy metal ou um hard rock?" Parecia o que éramos, uma banda que estava em todo o mapa de gêneros.

Ben Shepherd: Chris Cornell tinha a mente absolutamente aberta e aceitava todas as ideias. Ele pegava algo, terminava e toda vez ele dizia: “Isso é legal! É SOUNDGARDEN o tempo todo”. Você sabe o que eu quero dizer? Quando você sonha acordado em trabalhar em algo com alguém, ele é o melhor parceiro para trabalhar nisso! Ele poderia basicamente terminar as suas frases por você e as suas letras são incríveis.

Matt Cameron: Chris estava escrevendo uma tonelada de músicas incríveis. Eu estava começando a me tornar um compositor no SOUNDGARDEN e foi muito divertido trabalhar com Ben como compositor, só porque ele foi tão encorajador e muito positivo para todos nós. Eu senti que um aspecto que fez do álbum "Badmotorfinger" um ponto de partida em nossa carreira, foi que todo esse material era novo. Não houve sobras de nenhum outro disco nesse álbum. Todos nós havíamos conseguido largar os nossos empregos diários por volta do final dos anos 80, bem na época do nosso 2º disco, "Louder Than Love". Fomos capazes de nos concentrar somente em escrever músicas, ensaiar, fazer shows e tudo o que vem em estar numa banda de rock semi-bem-sucedida no final dos anos 80.

Chris Cornell (em 1992): O que acontece pra mim é que o processo criativo continua, você escreve músicas que gosta, você vai para campos diferentes musicalmente porque está entediado com a última coisa que fez ou está entediado com o que todo mundo está fazendo e algo pode saltar do céu. É assim que sempre abordamos. Nunca houve uma época em que tivéssemos uma música que soasse realmente popular e que sentíssemos ser muito boa... Eu poderia escrever uma música que fosse pop puro, mas seria a sensação certa para o SOUNDGARDEN? A ideia toda era que não mudamos para o mercado como ele existe, apenas continuamos a existir até que o mercado mudou para nós.

Matt Cameron: Em particular, uma coisa que eu realmente notei em Chris é que, quando ele e Andy Wood (falecido vocalista do MOTHER LOVE BONE) estavam morando juntos na casa de Chris Cornell, eles estavam gravando muito em seu gravador de fita-cassete de 04 canais. Ele não estava gravando apenas músicas hard rock do tipo SOUNDGARDEN, ele estava realmente tentando se esticar como compositor. Não sei se foi uma coisa consciente ou não, mas Chris tinha toda essa música dentro de si que só queria tentar tocar da maneira que lhe parecesse mais natural. Eu me lembro de ouvir um monte de músicas acústicas lindas que ele estava escrevendo naquela época. Não tinha nada a ver com o SOUNDGARDEN ou mesmo com o TEMPLE OF THE DOG, mas acho que Chris estava realmente canalizando a sua vida criativa interior - a sua vida emocional interior - de uma forma que parecia fácil para ele fazer. De um estranho, alguém como eu, é meio difícil pra mim escrever música. Uma coisa que notei sobre Chris durante esse período é quantas ótimas músicas ele escreveu, fez gravações demo e tocou para nós. Algumas das coisas que ele tocava apenas para mim ou para alguns dos seus amigos, sabe? O ritmo com que a incrível quantidade de música estava saindo dele durante esse período era impressionante.

Stuart Hallerman: Perto do Dia de Ação de Graças, Chris escreveu e gravou a fita cassete chamada "Poncier" (que era uma compilação solo demo de 05 canções para o filme "Singles" do diretor Cameron Crowe). Um mês antes, ele tinha gravado com o TEMPLE OF THE DOG, um álbum totalmente diferente do que ele vinha fazendo com um belo canto, expressão e outras coisas. Ele fez tudo isso durante a escrita e composição para o álbum "Badmotorfinger".

Kim Thayil: O lance dessa fita cassete de Chris chamada "Poncier", foi provavelmente uma consequência do trabalho que ele estava fazendo com o TEMPLE OF THE DOG e com o disco "Badmotorfinger" do SOUNDGARDEN. Basicamente, ele veio com uma série de novas ideias musicais, líricas, melodias e partes de guitarra. Ele sabia o que iria funcionar com os caras do MOTHER LOVE BONE e ele estava mostrando as suas músicas para eles com o intuito de formar o TEMPLE OF THE DOG. E ele sabia o que iria funcionar comigo, Matt e Ben no SOUNDGARDEN. A ideia de que ele pegou todas essas músicas, as criou e inventou da noite para o dia, provavelmente não é o caso. Eram ideias musicais que foram geradas durante todo esse período de tempo que ele vinha passando e naquele momento, pois Chris estava sempre tocando o seu violão e gravando ideias.

Cameron Crowe (diretor do filme "Singles", 1992): A minha esposa na época, Nancy Wilson (guitarrista da banda HEART), tinha ido a um clube noturno enquanto eu fiquei em casa. Ela encontrou Chris Cornell, que lhe deu a fita "Poncier". Ele havia dito para ela: "Aqui está o que você precisa fazer. Vá para casa e diga a Cameron que você encontrou um cara na rua que estava cantando e tinha uma fita cassete para vender, que você comprou e levou para casa”. Então, ela fez isso, olhei para a fita cassete e ela tinha todos os títulos da pequena cópia da peça de arte do baixista do PEARL JAM, Jeff Ament, que ele havia feito para o filme "Singles". Foi como: “O quê? O que é isso??" Então, eu coloquei a fita para tocar e era Chris Cornell cantando. Eu não conseguia acreditar como era totalmente diferente do som que ele fazia no SOUNDGARDEN. Era muito elegante, tinha adorado todas as músicas, mas a canção “Seasons” havia se destacado desde a primeira vez que ouvi aquela fita cassete com aquela vibe LED ZEPPELIN de afinação aberta. Foi tipo: "Meu caralho!" Foi a melhor coisa que tinha escutado em muito tempo, pois era uma faceta de Chris que eu queria usar, esta rica veia dos impulsos solo de Chris, coisas que não são particularmente do SOUNDGARDEN, mas muito pessoais e somente dele. Rapidamente começamos a pensar: "Como podemos fazer com que essa fita faça parte da trilha sonora do filme?"

Kim Thayil: Chris aprendeu com Andy em algum momento, tipo, em vez de editar o que estava fazendo para abordar a estética da sua banda, ele decidiu que apenas escreveria, gravaria e apenas lançaria como um exercício de acordo com o conselho de Andy. E foi então que ele se tornou realmente prolífico e escreveu todas essas músicas para o TEMPLE OF THE DOG, que são ótimas canções. Chris tinha algo que poderia confluir com vários tipos diferentes de bandas e ele se saiu muito bem com isso.

Matt Cameron: Eu me lembro de quando estávamos gravando o disco "Badmotorfinger" e teve 01 dia que Chris e eu ficamos juntos sozinhos no estúdio. Acho que foi no início de 1991 e ele provavelmente tinha umas 06 ou 07 ideias musicais, sendo que uma delas era a música "Rusty Cage" e outra era a canção "Outshined".

Chris Cornell (em 2011): Eu escrevi a letra da música “Rusty Cage” na minha cabeça quando estávamos numa van em turnê em algum lugar da Europa. Sinceramente, não me lembro onde exatamente, mas tenho uma memória vívida de olhar pela janela, olhar para o campo e me sentir reprimido. Não tinha escrito nenhuma das palavras naquele momento, mas de alguma forma me lembrei delas. Quando terminamos a turnê e o SOUNDGARDEN voltou para casa em Seattle, peguei uma guitarra e tentei criar uma música que eu achasse que combinasse com a essência dessas letras. Eu queria criar uma mistura de música country com BLACK SABBATH que nunca tinha ouvido antes. Achei que isso seria legal e possível, e pensei: “Se alguém pode fazer isso, é o SOUNDGARDEN". Eu estava ouvindo muito Tom Waits naquela época, me perguntei como o SOUNDGARDEN poderia abordar imagens semelhantes e como a música soaria... A canção “Rusty Cage” é esta invenção.

Stuart Hallerman: Chris escreveu e fez uma fita demo com 08 músicas. Ele gravava essas demo num estúdio caseiro que o irmão dele, Peter Cornell, havia feito na sua casa. Chris programava uma bateria eletrônica e em seguida fazia as partes de baixo, guitarra e vocal. Chris levaria alguns dias para programar a bateria eletrônica para cada música e ele tinha um monte de músicas na cabeça, então, ele chamou Matt Cameron e eu, e nos disse: “Podemos entrar no Avast Studios por 02 dias e trabalhar em algumas coisas?" Então, ele mostrou as canções para Matt como tocar e eles começaram a ensaiar... E foi isso, músicas como "Holy Water", "Drawing Flies", "Rusty Cage", "Outshined", "Face Pollution" e “Searching With My Good Eye Closed” já estavam lá, que eram as canções que Chris já tinham prontas em sua fita-cassete, além das músicas “Mind Riot” e “New Damage”, que eram todos os tipos de coisas boas.

Matt Cameron: Neste nosso encontro, eu fui capaz de adaptar a parte da bateria em um estágio bem inicial. Na verdade, essa é uma das minhas maiores contribuições para as músicas que Chris me mostrava, ajuda-lo a desbloquear o seu potencial. Acho que, naquela época, ele estava pensando além do que era capaz de fazer e às vezes, compositores realmente ótimos nem sempre conseguem gravar o que estão ouvindo em suas cabeças. Acho que quando entrei lá com ele no estúdio só nós 02, consegui tocar as coisas que ele ouvia em sua cabeça e fiquei muito feliz por ter tido uma pequena participação em seu desenvolvimento musical naquele ponto.

Kim Thayil: Acho que por meio de alguma conversa que Chris teve com Jeff Ament - Chris e Jeff estavam conversando sobre diferentes tipos de afinações - Jeff lhe disse: "Imagine se alguém afinasse todas as cordas em E. Não seria ridículo?" E Chris pensou: “Sim, seria estranho se alguém simplesmente afinasse todas as cordas na afinação em E” Então, Chris compôs a música “Mind Riot”. Ele basicamente encarou aquilo como um desafio do tipo: “Como será que soaria? O que seria aquilo?" Ele fez isso e em seguida nos apresentou a canção "Mind Riot". Eu pensei na hora: "Por que ele fez isso? Ele poderia escrever a música em uma afinação mais amigável". Foi uma curiosidade tão grande que ele foi em frente e fez mesmo assim.

Stuart Hallerman: Chris fez a gravação demo da canção “Searching With My Good Eye Closed” e uma música chamada “Dirty Candy” que não entrou no disco. Eu não sei aonde foi parar essa canção...

Matt Cameron: Uma música como “Searching With My Good Eye Closed”, Chris tinha uma bateria eletrônica que ele programou praticamente para a música inteira e eu achei as partes muito, muito legais. Eu as aprendi e me mantive bem próximo às partes programadas de sua gravação demo. Esse foi um exemplo de um padrão de bateria que eu o tinha conhecido pronto em 100% e que eu amei pra caralho da forma que já estava. Chris não veio até mim e disse: "Aprenda a minha parte de bateria eletrônica" ou "Aprenda a minha parte de bateria da gravação demo". Ele nunca disse isso pra mim. Ele praticamente me deixou decidir qual seria a parte final da bateria e acho que ele confiou em mim. Chris sabia que, o que eu trazia para a banda era coisa minha. Acho que desde quando o conheci em 1984, ele percebeu algo em mim de que gostou.


“Searching With My Good Eye Closed”


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