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by Brunelson

Soundgarden: guitarrista comenta sobre métodos de composição e origem de algumas músicas


O número de bandas que representaram a Sub Pop Records na década de 80 é impressionante. Somente para citar algumas, tinha o SOUNDGARDEN com o seu 1º EP de 1987, "Screaming Life", MUDHONEY com o seu 1º EP de 1988, "Superfuzz Bigmuff" e claro, NIRVANA com o seu álbum de estreia em 1989, "Bleach".

No final de 2013, o EP do SOUNDGARDEN, "Screaming Life", havia sido relançado em versões expandidas de CD e vinil, com uma track-list que também incluiu as músicas do seu 2º EP de 1988, "Fopp", e uma música que havia ficado de fora do seu 1º EP, chamada "Sub Pop Rock City".

Formado em 1984, SOUNDGARDEN - cuja formação mais conhecida é composta pelo vocalista/guitarrista, Chris Cornell, o guitarrista Kim Thayil, o baixista Ben Shepherd e o baterista Matt Cameron - foi uma das bandas que ajudaram a fazer do grunge mais do que apenas uma palavra para representar "sujeira".

SOUNDGARDEN ajudou a definir o gênero no início dos anos 90 com os seus álbuns de sucesso e alcance mainstream: "Badmotorfinger" (3º disco, 1991), "Superunknown" (4º disco, 1994) e "Down on The Upside" (5º disco, 1996), trazendo hits como as músicas "Outshined" e "Black Hole Sun". Depois de se separar em 1997, a banda se reuniu em 2010 para o lançamento de um disco ao vivo e um novo álbum de estúdio, "King Animal" (6º disco, 2012).

Com essa breve introdução, confira a entrevista que separamos para você do guitarrista do SOUNDGARDEN, Kim Thayil, para o site Songfacts em abril de 2014, onde ele falou sobre composição musical, memórias de compor clássicos específicos da banda e os seus pensamentos sobre o EP "Screaming Life" olhando hoje para trás.


Seguem alguns trechos dessa entrevista:

Jornalista: Como você exatamente aborda uma composição musical?

Kim Thayil: Isso varia de música para música. Nós escrevemos músicas de muitas maneiras diferentes e com combinações diferentes de nós quatro. Às vezes, todo mundo faz uma parceria coletiva, ou talvez dois ou três se juntam ou uma pessoa pode assumir a autoria completa.

Thayil: Já que todos na banda escrevem na guitarra, sendo o guitarrista eu tenho que aprender a tocar guitarra no estilo do nosso baterista, que escreve músicas na guitarra. E o nosso baixista que escreve suas músicas na guitarra e o nosso vocalista/guitarrista que também escreve músicas na guitarra.

Thayil: Portanto, é seguro dizer que eles começam com um riff. Eles começam com um riff de guitarra e trabalhamos os vocais em torno dele. Chris, pelo menos em algumas ocasiões, começou com uma melodia vocal e construiu a música em torno da melodia vocal, mas isso é incomum e mesmo grandes músicos vocais não fazem isso. Talvez alguns pianistas façam isso onde constroem os acordes em torno da melodia vocal, mas Paul Simon, por exemplo, começa com um riff de música. John Lennon e Paul McCartney provavelmente começaram a música em um riff e construíram a letra em torno disso.


Jornalista: Como a banda decide quem fica com os créditos das composições?

Thayil: Isso varia de banda para banda. Se você é um fã e lê o crédito da composição, pode significar uma coisa para o METALLICA, algo diferente para o SOUNDGARDEN e outra coisa para o NIRVANA. Cada banda faz isso de maneira diferente.

Thayil: Com a gente, porque Chris foi o nosso baterista original e Matt é um baterista, temos dois bateristas na banda e eles tendem a fazer isso linearmente em termos de tempo. Se você é um guitarrista ou cantor, também pensa na construção da música como sendo algo vertical. Você constrói músicas em cima de riffs. Como baterista, você pensa muito linearmente de A a B e pensa sobre a sequência dessas partes: quem escreveu a introdução e a parte A, o verso e depois o refrão. Damos ênfase à pessoa que trouxe o riff. Esse é o riff da guitarra de Kim, por exemplo, então, essa é a música dele, ou esse é o riff da guitarra de Chris, então, é a música dele, mas outra pessoa escreveu um refrão, então, ela faz parte da composição... É tudo linear.

Thayil: Agora, se você escrever uma linha de baixo e então você escreve uma linha de guitarra sobre a que você já está fazendo, tocando algo diferente e meio que construindo acordes ou uma melodia sobre isso, criando os versos, refrão e a banda toda aprovando, daí irá ser de 01 autoria somente.

Thayil: Ao contrário de outras bandas que num caso como esse, mesmo assim o restante do grupo irá construir partes musicais sobre as suas partes musicais e o crédito não será somente de 01 autoria. Existem muitas bandas que dão crédito às composições dessa maneira, mas a maneira como nós fazemos é mais linear.


Jornalista: Algumas músicas do SOUNDGARDEN constam que são suas e as letras de Chris Cornell. Como isso funciona exatamente?

Thayil: Bom, geralmente eu tive ideias musicais e começo a tocar. Chris vai me dizer: "Ah, eu tenho uma letra pra isso", ou ele pode aprender como tocar tal música e trabalhar nela para criar uma melodia vocal, mas geralmente ele já tem algo escrito para encaixar na música... Temos que experimentar e ver se funciona.


Jornalista: Você cria todos os riffs de guitarra por conta própria ou procura inspiração em outro lugar? Por exemplo, a música "Never The Machine Forever" (5º disco) você dá crédito a Greg Gilmore, o baterista do MOTHER LOVE BONE por lhe fornecer inspiração.

Thayil: A inspiração foi: Greg e eu estávamos fazendo algumas improvisações. Eu estava fazendo uma pré-produção para o nosso 5º álbum, "Down on The Upside", e Chris fez algumas fitas demo por conta própria, coisas de 04 a 08 canções e Matt fez algumas fitas demo com umas 04 músicas. Eu criava riffs e depois ligava um toca-fitas comum e gravava o riff ali mesmo. Depois, eu poderia gravar uma melodia sobre ela e gravá-la de forma bem simples.

Thayil: Mas na época eu decidi ir ao estúdio de um amigo meu e tocar junto com Greg trabalhando algumas ideias na pré-produção antes de ir para o estúdio, foi quando surgiu a canção "Never The Machine Forever". Greg estava tocando o riff da bateria e eu comecei a notar: "Hey, esse é um tipo diferente de groove ou uma sensação estranha". E Greg me disse: "Sim, acho que é em compasso 9/4". Eu pensei: "Ok, vou escrever uma música em compasso 9/4". Eu cheguei com esse riff de guitarra, com as outras partes da guitarra, a melodia vocal e a letra da música "Never The Machine Forever". Então, basicamente eu escrevi uma música na fórmula de compasso 9/4.

Thayil: Foi por esse motivo que dei inspiração sonora para Greg Gilmore por identificar essa jam como sendo num compasso 9/4.


"Never The Machine Forever"


Jornalista: Você escreveu a letra de uma canção anterior, "Room a Thousand Years Wide" (3º disco). Como você aborda a escrita das letras?

Thayil: Só estou realmente sentindo a música e apenas colo letras na música. Tento sentir a música em 1º lugar e o que ela evoca em mim.

Thayil: E eu sei que algumas pessoas têm dificuldade com isso. Já li entrevistas com bandas de rock e conheci caras que fazem isso, mas por alguma razão, Chris, eu e Ben, podemos escrever em compassos estranhos. Posso ouvir uma música com compasso 9/4, 5/4 ou 7/4 e posso cantarolar sobre ela e cantarolar uma melodia. Sempre fui capaz de fazer isso... Eu tenho escrito músicas desde os 16 ou 17 anos de idade e tocava guitarra e cantarolava uma melodia sobre ela. É assim que Ben funciona também. Ele toca numa guitarra e canta uma melodia sobre ela.

Thayil: Se você está tocando em compassos 5/4 ou 7/4, é um pouco mais difícil de fazer isso. É difícil tocar e cantar algo que seja independente disso. Se uma parte está em compasso 7/4, você apenas reproduz a fita, tem uma ideia do groove e murmura uma melodia sobre ela.

Thayil: Agora, eu não consigo cantar e tocar ao mesmo tempo. Isso é algo que Chris se tornou incrível, porque ele trabalhou muito para escrever um riff de guitarra em uma fórmula de compasso estranha e tentar cantar sobre ele. É preciso concentração para fazer isso de forma independente e é uma coisa muito difícil de fazer.

Thayil: Posso criar melodias ao longo de compassos e posso escrever em compassos estranhos, mas não posso tocar e cantar ao mesmo tempo.



Jornalista: A música "Room a Thousand Years Wide" contém uma das minhas letras favoritas do SOUNDGARDEN, onde Chris canta num momento: "Amanhã gerou amanhã".

Thayil: Na verdade, essa frase foi tirada de algum filme estranho... Deus, que filme era? Há uma parte do filme onde uma bruxa está cantando isso ou algumas bruxas estão dizendo algum feitiço: "Amanhã gerou amanhã", e como uma regressão infinita: "Amanhã gerou amanhã gerou amanhã...", o que significa que continua para sempre e eu pensei: "Cara, isso seria legal pra caralho em uma música".

Thayil: Portanto, essa linha foi emprestada de algum filme, assim como várias linhas de letras são emprestadas de livros, filmes e outras canções.


"Room a Thousand Years Wide"


Jornalista: Vamos conversar sobre algumas outras músicas. Que tal "Hunted Down", que faz parte do EP "Screaming Life" que foi recentemente relançado.

Thayil: Nós pensamos nisso apenas com esse riff e algumas mudanças, meio que tocando nele. Eu tinha o riff principal e vim com algumas mudanças de acordes. Essa música foi tocada originalmente mais lenta, então, tinha um riff pesado e o foco passou disso para este solo barulhento, caótico e meio jazz. Essa era a música e a preenchemos com esses acordes e outras coisas. No final, precisávamos de um final e pensei: "Bom, talvez quando gravarmos pensaremos em algo", foi quando Matt teve a ideia de terminar da maneira que termina, de uma forma rítmica e com fade out.

Thayil: Nesse caso, Matt criou um final. Ele dizia: "Hey, por que não fazemos assim?" E ele batia um ritmo ou groove e meio que cantarolava. E eu dizia: "Ok". Eu descobri quais eram os acordes, ele fez a batida e começamos a tocar.

Thayil: E então, Chris escreveu as letras. Eu acho que ele tinha as letras prontas em algum lugar e ele apenas ficou na frente do microfone e as experimentou. Foi ótimo, dinâmico e foi assim que funcionou.


"Hunted Down"


Jornalista: E sobre a música "All Your Lies" (1º disco, "Ultramega OK", 1988), que eu acho que é provavelmente uma das canções mais subestimadas do SOUNDGARDEN.

Thayil: Eu escrevi todas aquelas partes de guitarra e as montei... Espere 01 minuto, acho que a parte do refrão foi Hiro Yamamoto quem criou, o 1º baixista do SOUNDGARDEN. Como esta canção foi creditada no encarte do álbum?


Jornalista: Eu tenho esse disco aqui em casa e diz que a música foi co-escrita por você e Hiro.

Thayil: Tudo bem. Essa parte do refrão foi Hiro quem escreveu, mas basicamente eu tinha o riff principal, a parte A, a seção dos versos e as pontes de transição que são muito violentas. Elas são rápidas na guitarra e eu escrevi todas essas coisas. Nós precisávamos de uma pausa na música e Hiro disse: "Bom, que tal isso daqui? Vamos pegar esse ritmo", e Hiro veio com o riff do baixo que ele pensou ser um bom contraponto para o tipo de galope rápido daquele riff de guitarra que eu tinha. Quando ele tocou, tinha um groove e parecia uma coisa dinâmica.

Thayil: Chris criou as letras e as apresentou no ensaio. Naquela época, escrevíamos muitas músicas na prática e as canções eram introduzidas ao vivo, ali mesmo. Mais tarde, as músicas seriam introduzidas no álbum e teríamos que aprendê-las para tocá-las ao vivo, mas em nossos primeiros 03 álbuns, muitas destas canções já existiam por anos, em alguns casos, já tínhamos tocado elas nos shows antes de serem gravadas para o disco.


"All Your Lies"


Jornalista: Pulando para o álbum "King Animal", uma música que eu gosto muito é "By Crooked Steps", que contém um riff realmente ótimo. Quem inventou esse riff?

Thayil: Esse riff principal é de Matt. É como em compasso 5/4 ou algo assim. Matt trouxe este riff para nós e ele teve essa mudança, a pequena mudança de modulação. Ele veio com isso, mostrou para nós e nós improvisamos. Enquanto tocávamos sobre ele, eu vim com aquela seção em afinação C. Foi essa minha parte de guitarra na música e Chris veio depois com a sua parte lírica.

Thayil: A introdução foi coisa minha, essa parte atrasada da guitarra para evocar a ideia de ficar preso em uma rodovia, sabe? É esse tipo de riff sinuoso que entra nesse groove de compasso 5/4 super legal e agressivo.

Thayil: E então, Ben escreveu aquele riff final, aquele bem rápido que soa como algo que Jimmy Page criou no 1º álbum do LED ZEPPELIN... Você deve saber que música é essa.


Jornalista: É possivelmente a última música do 2º álbum do LED ZEPPELIN... Qual é mesmo a canção?

Thayil: Eu estava pensando no 1º álbum, talvez na música "Good Times Bad Times".


Jornalista: Você diz que é um riff muito rápido?

Thayil: É o riff final da canção "By Crooked Steps". Qual é cara, você acabou de dizer que é uma de suas músicas favoritas!


Jornalista: (risos) É engraçado... É a música que eu mais escutei no álbum.

Thayil: Tem aquele groove principal, o groove de compasso principal 5/4 e há um riff que vai além. Há um baixo e uma guitarra tocando um riff muito rápido e eu toco esses acordes poderosos sobre ele, então, são 03 riffs diferentes acontecendo. Há esse riff rápido no baixo e numa guitarra, então, há esse riff de acordes poderosos por cima, ou seja, são 03 riffs diferentes acontecendo simultaneamente naquele ponto.

"By Crooked Steps"


Jornalista: Este ano é o aniversário de 20 anos do álbum "Superunknown" e também da música "Black Hole Sun". Quais são os seus pensamentos sobre essa música olhando hoje para trás?

Thayil: Bom, nós tínhamos singles e esse foi facilmente o nosso maior sucesso. Foi uma música mais de cantor/compositor. Chris seguiu a direção de cantor/compositor e a banda aceitou, mesmo não sendo um rock voltado para as guitarras. Era mais rock de acompanhamento vocal com um pouco de guitarra... Começamos a utilizar um pouco mais disso na música "Blow Up The Outside World" no disco "Down on The Upside".


"Black Hole Sun"


"Blow Up The Outside World"


Jornalista: Para finalizar, como você enxerga hoje os 02 EP's do SOUNDGARDEN, "Screaming Life" e "Fopp"?

Thayil: Eu ainda amo o disco "Screaming Life". É provavelmente um dos meus 02 discos favoritos do SOUNDGARDEN. Matt já se referiu a ele como o seu disco favorito da banda... Há um som legal com as músicas, há uma liberdade que as músicas possuem que não está tão presente em discos como "Down on The Upside" ou mesmo em algumas partes do "Superunknown". Há uma espécie de soltura e liberdade nisso que é muito divertido tocar ao vivo e para nós ouvirmos, mas eu amo o álbum "Superunknown" também.

Thayil: "Fopp é um EP, mas consideramos o disco "Screaming Life" como o nosso álbum de estreia. Mesmo que não fosse um álbum completo, mas é uma coleção de nossas canções originais. É o nosso álbum e o nosso material original.

Thayil: O EP "Fopp" não é um trabalho sério ou criativo do SOUNDGARDEN. Incluímos um cover de uma música do GREEN RIVER e obviamente ficou um pouco como uma paródia, além de uma homenagem a eles.

Thayil: Mas o disco "Screaming Life" sempre estará em nossos corações como o nosso 1º álbum. Tem um som diferente de todos os outros e é a nossa 1ª coleção de material original. Para nós, é um mini álbum.


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