Soundgarden: Kim Thayil fala sobre guitarras, pedais e músicas do disco "Badmotorfinger"
by Brunelson
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Kim Thayil, guitarrista do SOUNDGARDEN: "O álbum 'Badmotorfinger' (3º disco, 1991), foi a nossa interpretação das coisas pesadas, sombrias e psicodélicas de que gostávamos na música".
No 30º aniversário desse álbum marcante na história do rock, Kim Thayil revelou as origens do seu som único e singular.
Em 1991, três discos de bandas de Seattle tiveram um efeito sísmico no som da música rock: os álbuns "Nevermind" do NIRVANA, "Ten" do PEARL JAM e "Badmotorfinger" do SOUNDGARDEN. Como o punk rock antes deles no final dos anos 70, o grunge foi uma força revolucionária e o SOUNDGARDEN, a 1ª de todas as bandas de Seattle a ser contratada por uma grande gravadora, desempenhou um papel importante como arquitetos do "Som de Seattle".
"Badmotorfinger" foi o primeiro a apresentar a formação clássica com Chris Cornell (vocalista/guitarrista), Kim Thayil (guitarrista), Matt Cameron (baterista) e Ben Shepherd (baixista).
Foi também o mais pesado desses três álbuns que definiram a era de 1991, com Thayil entregando guitarras gritantes, riffs escaldantes e combinando afinações alteradas e medidores de tempos ímpares em sua própria igreja de ruído psicodélico.
30 anos depois, enquanto Thayil conversa com a revista Guitar World direto de sua casa em Seattle, os seus pensamentos estão focados no álbum que se destaca de quando o SOUNDGARDEN estava iniciando o seu mergulho no mainstream - uma carreira que terminou tragicamente com a morte de Chris Cornell em 2017.
Acima de tudo, na entrevista ele se lembra da diversão que teve com Cornell trabalhando como uma equipe de 02 guitarristas e também muitas coisas relacionadas a guitarras.
Primeiro, ele oferece um pedido de desculpas: “Vou tentar o meu melhor com você”, ele sorri por trás de sua barba branca de feiticeiro. “Mas devo admitir, não consigo falar profundamente em nome dos equipamentos que uso. Provavelmente posso chegar à marca geral da coisa, mas as especificações geralmente me escapam!”
Mesmo em sua humildade, ele forneceu muitos conselhos sólidos, começando dizendo como uma guitarra “acessível” foi fundamental para o seu desenvolvimento como um músico autodidata.
Confira essa entrevista na íntegra:
Jornalista: Já que tocou no assunto, o músico sabe quando encontra o instrumento certo para tocar, certo?
Kim Thayil: Infelizmente, não acho que esse conselho seja dado a guitarristas mais jovens. Pegue algo que seja bom para tocar e deu. Também não compre uma guitarra tão barata que seja difícil de tocar, é desanimador, pois você levará mais tempo para aprender os acordes. Você quer algo que facilite o seu aprendizado e dê a você as recompensas para encorajá-lo a continuar.
Thayil: A minha guitarra Guild S-100 (foto acima) é a que comprei quando tinha 18 anos de idade e no final das contas, era a que eu tinha dinheiro para comprar. Eu tinha começado a tocar alguns anos antes, aos 15 anos de idade, então, nessa fase fui aprendendo novas técnicas e melhorando gradativamente, pois era autodidata, mas na verdade mesmo eu tive que comprar uma guitarra que pudesse pagar.
Thayil: Essa guitarra Guild S-100 comprei em 1977 ou 1978, o que era bastante acessível na época, tipo, só me custou U$ 250 dólares, bem menos do que uma Gibson Les Paul ou Fender Stratocaster, certo? Acho que amigos mais experientes teriam me direcionado para essas outras guitarras, mas a que eu escolhi parecia boa, cor preta e estava em boas condições com bastante ganho (gain). Quando a comprei, descobri que era fácil de tocar e tinha um braço rápido para manusear.
Jornalista: Me fale sobre as peculiaridades do seu instrumento escolhido.
Thayil: Havia coisas sobre a guitarra Guild S-100 que eu não entendia completamente. Eu realmente não sabia o que a distinguia de uma Les Paul ou de uma Stratocaster. Aprendendo a tocar naquela guitarra, o meu estilo se desenvolveu e foi como se isso me permitiu fazer o que queria fazer.
Thayil: Estranhamente, ela tinha um captador microfônico - eu poderia soprar nas cordas ou falar nele e isso seria captado no amplificador. Consequentemente, eu receberia esse feedback estranho e um zumbido, o que provavelmente eu não aconselharia às pessoas, porque os caras da sua banda com quem você toca podem não querer ouvir a sua guitarra gritando ou zumbindo, mas eu fazia! Então, isso se tornaria um componente do que eu faria no SOUNDGARDEN.
Thayil: Parecia que a entrada de som era bem alto debaixo da ponte. Há um bom espaço entre a ponte e o captador onde posso bater nas cordas e dedilhar neste espaço para obter este "krring". Percebi que podia fazer isso, embora algumas das guitarras dos meus amigos não fizessem isso.
Thayil: Gostei do fato de poder fazer esses barulhos estranhos na minha guitarra e a minha mão inquieta adaptada àquela guitarra, que também tinha um braço um pouco mais fino do que o padrão e com ação mais baixa. Eu me senti familiarizado e confortável com ela e foi assim que se tornou a minha guitarra principal.
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Jornalista: E sobre outros modelos semelhantes de guitarra?
Thayil: Eu também comecei a tocar com uma guitarra Guild S-300 (foto), que vinham com captadores DiMarzio. Eu estava aprendendo como as guitarras conseguiam um som grande e distorcido, tipo, era o amplificador ou o instrumento? Fui levado a acreditar que era a guitarra e talvez também aos tipos de captadores.
Thayil: Todos esses guitarristas que eu conhecia falavam sobre captadores DiMarzios, então, eu vi esse anúncio de uma guitarra S-300 à venda e que parecia um pouco mais legal do que a guitarra S-100, tipo, era um pouco mais sofisticada. O anúncio dizia que vinha com os captadores Guild - assim como na minha guitarra S-100, o que eu já sabia e gostava - mas vieram com 02 captadores DiMarzios diferentes um do outro, um PAF no braço e Super Distortion na ponte.
Thayil: Achei que soava como uma guitarra legal e decidi comprar uma, mas nunca os vi assim para vender nas lojas. Aprendi que às vezes os fabricantes de guitarras veiculam anúncios apenas para testar o mercado. Eles podem não ter tido uma produção de fábrica em andamento, podem ter sido apenas alguns modelos de demonstração...
Thayil: Acho que eles fariam isso para trazer o conhecimento do produto para a sua marca e linhas diferentes. Portanto, essas guitarras S-300s não estavam totalmente em produção e foram feitas para mercados de teste. Chris Cornell e Ben Shepherd gostaram muito do som dessas guitarras, porque elas eram um pouco mais robustas que as S-100. Eles perceberam que não tinham tocado dessa maneira ainda.
Thayil: É uma guitarra com uma boa sustentação, sólida e muito quente para tocar, por isso que acabou sendo usada em certas músicas nossas.
Jornalista: E as suas guitarras Gibson?
Thayil: Eu toquei alguns Gibson ES-335s e Firebird (foto) no álbum de retorno do SOUNDGARDEN em 2012, "King Animal" (6º disco), mas fui meio forçado pela banda, a equipe e o produtor a fazer isso... Todos eles queriam que eu tivesse outras guitarras em meu equipamento para diferentes aberturas e isso fazia todo o sentido, o que viajaríamos com uma dúzia ou mais de guitarras por causa de todas as diferentes afinações.
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Thayil: Antigamente nos shows, nós éramos bobos, ingênuos e fazíamos uma pausa longa entre as músicas porque sempre mudávamos a afinação da guitarra, o que exigia terrivelmente a atenção do nosso público. Com a tecnologia e uma coleção maior de guitarras, você pode trocar de guitarras e logo estará pronto para entrar em uma afinação alternativa.
Thayil: Eu usei muitas guitarras Fender Telecaster (foto) na turnê do álbum "Down on The Upside" (5º disco, 1996). Eu não as uso mais tanto, por causa da ponte dela e como elas são feitas... Elas são ótimas para afinações padrão, mas eu não as acho ótimas para algumas afinações abertas como em C ou G.
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