Soundgarden: "vimos o que eles estavam fazendo e isso não era o que eu queria para a minha banda"
SOUNDGARDEN nunca teve planos de se tornar a maior banda do mundo.
Sua música poderia ter ressoado em milhões de pessoas da forma que foi ou nunca ter saído dos limites da cena de Seattle, e a sensação é de que todos na banda estariam perfeitamente bem em qualquer um desses paralelos.
Mas quando as coisas começaram a sair fora do controle com a explosão do grunge no início dos anos 90, Chris Cornell sabia que junto com a fama viria uma enorme pressão e obrigações a fazer, e logo em 1992, quando saíram em turnê com o GUNS N' ROSES abrindo seus shows em estádios, esse ato quase fez com que o SOUNDGARDEN resolvesse acabar com sua carreira (foto).
Porque, sejamos sinceros, toda a cena de Seattle parecia ser uma reação ao que atos como o Guns e bandas do hair metal dos anos 80 representavam, vendo tudo aquilo como uma antítese do que não querer ser como banda de rock, além de letras e comportamentos misóginos, citando um dos exemplos.
Por outro lado, não é como se o SOUNDGARDEN estivesse tão distante em termos de som para os membros do Guns. Ao ouvir uma música como "Loud Love", "Hands All Over" ou "Outshined", não é nenhuma surpresa que eles queriam uma banda de abertura com esses riffs enormes e a voz estrondosa de Cornell soando como o vocalista Robert Plant do LED ZEPPELIN.
Além do BLACK SABBATH, o SOUNDGARDEN também teve uma forte influência do LED ZEPPELIN, mas Cornell estava mais interessado no seu lado pessoal e íntimo querendo expressa-lo através da música, e não ficar só tocando canções "atrativas" ao público e gravadora e que todos queriam ouvir repetidamente nos shows.
E mais, sendo o filhote mais estranho que o grunge pariu em termos de sonoridade, SOUNDGARDEN sempre brincou com assinaturas de tempo invertidas, descompassadas, em contratempos, inventando afinações estranhas e decapitando solos de guitarra, para simplesmente Chris Cornell conseguir colocar, sem esforço nenhum, uma linha vocal por cima que conseguia ter o cartão de acesso para cair nas rádios mainstream e sendo um fio nobre na programação da MTV.
Assim que o SOUNDGARDEN recebeu o chamado para abrir os shows para o Guns em 1992, o grupo estava em turnê do seu 3º álbum de estúdio, "Badmotorfinger" (1991), e no meio do fervilhão do grunge, eles pensaram que abrindo os shows do Guns, a banda poderia tomar um rumo independente e por conta própria logo depois, assim como o NIRVANA, ALICE IN CHAINS e o PEARL JAM já tinham tomado posse dos seus territórios.
Para quem viveu a época do grunge, sabe do que estamos falando. Apesar do SOUNDGARDEN ter sido a 1ª banda do recinto grunge a assinar com uma grande gravadora e com seu 1º disco, "Ultramega OK" (1988), já ter concorrido ao Grammy, o SOUNDGARDEN só viria a se solidificar após o estouro do NIRVANA, PEARL JAM (com as músicas "Alive", "Even Flow", "Jeremy" e "Black") e ALICE IN CHAINS (com a canção "Man in The Box", lançada ainda em 1990).
O 3º disco do SOUNDGARDEN já era um sucesso gerando músicas clássicas da banda, mas como todos sabemos, SOUNDGARDEN iria reinar soberano em 1994 com seu 4º álbum de estúdio, "Superunknown".
Voltando para 1992 em turnê com o Guns, chegou uma hora que Cornell sabia que as coisas estavam ficando fora de proporção, onde todos os envolvidos e veículos de comunicação começaram a perceber o caos que o comportamento do vocalista do Guns gerava aos profissionais de trabalho envolvidos com cada um responsável por sua tarefa, além dos próprios fãs do Guns que ficavam horas esperando pelo atraso da banda.
Para Cornell, foi quando ele começou a ficar desencantado com toda aquela cena, dizendo: “Nós vimos o que eles estavam fazendo para apresentarem aqueles shows enormes e me lembro de olhar para tudo aquilo e pensar: ‘É aqui que nós vamos acabar também. Mais ou menos no auge é de onde você vai acabar com tudo’. Eu não queria isso para a minha banda e pra mim, esse foi meio que o começo do nosso fim quando nos separamos em 1997”.
Para Cornell, a única maneira de manter o SOUNDGARDEN puro naquele ponto era deixar tudo onde estava. E considerando que eles já estavam lá no começo antes mesmo do grunge ter um nome, sendo uma das bandas mais respeitadas do underground de Seattle e região na década de 80, a separação deles pode ter sido também um marco definitivo em suas vidas, os fazendo repensar nos erros e como levar uma tal situação na melhor forma, quando decidiram retornar em 2010 e chegando a lançar um novo álbum de estúdio em 2012, "King Animal" (6º disco).
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