Stone Gossard: "ele nos pressionou a ir direto ao ponto, a sermos agressivos e a não fugirmos de quem éramos", sobre o produtor do álbum "Dark Matter" do Pearl Jam
Confira a recente entrevista que o guitarrista do PEARL JAM, Stone Gossard, concedeu para a revista Spin, onde ele dissecou cada música que será lançada no 12º disco da banda, "Dark Matter" - com lançamento para 19 de abril de 2024 - além de falar sobre o processo de trabalho com seu novo produtor, Andrew Watt.
Confira a 1ª parte dessa matéria e entrevista:
É a proverbial calmaria antes da tempestade na sede do PEARL JAM em Seattle nesse exato momento, enquanto os membros do Rock and Roll Hall of Fame se preparam para o lançamento de seu 12º álbum de estúdio, "Dark Matter", e uma turnê mundial de apoio que começará em 04 de maio em Vancouver, Canada.
Mas primeiro, eles só precisam aprender a tocar essas novas músicas novamente: “Estava aprendendo o básico sozinho em casa”, disse o guitarrista e um dos membros fundadores do PEARL JAM, Stone Gossard, em entrevista por telefone à revista Spin. “Então, Mike McCready (guitarrista) e eu começamos a nos encontrar e tocar guitarra juntos para mapear as coisas”.
Enquanto os fãs aguardam o lançamento do disco "Dark Matter", o PEARL JAM já tem seu maior sucesso em anos com a faixa-título lançada como single principal, o qual liderou vários rankings da Billboard. Seu som urgente e agressivo foi inspirado no jovem produtor vencedor do Grammy, Andrew Watt, um fã de longa data do PEARL JAM que cultivou uma amizade com o vocalista Eddie Vedder durante anos antes de produzir seu álbum solo de 2022, "Earthling" (3º disco).
Vedder gostou tanto da espontaneidade da experiência gravando esse álbum solo, que encorajou todo o PEARL JAM a experimentar também. Claro, desde 2021 se passaram muitas sessões de gravação separadas em tempos em tempos até 2023, todos reunidos no estúdio caseiro de Andrew Watt em Beverly Hills, Califórnia. Mas em março de 2023 eles tiveram que se mudar para o Shangri-La Studios do produtor Rick Rubin em Malibu, California, devido a uma enchente que atingiu o estúdio de Watt - mas o PEARL JAM sempre trabalha de maneiras misteriosas mesmo.
Na verdade, às vezes é necessário percorrer um longo caminho para completar um álbum, mesmo que a jornada seja inesperadamente rápida.
Watt, que recebeu aplausos por seu trabalho recente com o ROLLING STONES, Ozzy Osbourne e Iggy Pop, incentivou o PEARL JAM a se apoiar em seus instintos naturais coletivos de composição, ao mesmo tempo que coloriu o sucessor do álbum "Gigaton" (11º disco, 2020) com um toque de produção moderno raramente ouvido nos álbuns mais recentes do PEARL JAM. As músicas foram idealizadas com Gossard, McCready, Vedder, o baixista Jeff Ament e o baterista Matt Cameron, todos juntos em uma sala de estúdio, uma abordagem que eles muitas vezes deixavam de lado em favor de trazerem gravações demo quase completas tocadas em suas próprias maneiras.
“Individualmente, houve momentos diferentes em que cada um de nós queríamos quebrar as coisas, movê-las para lugares diferentes e tentar coisas novas. O truque foi tentar alinhar tudo naquele exato momento e aquele foi o nosso momento”, disse Gossard.
O resultado é um álbum com algo para amar a cada interação dos fãs do PEARL JAM, desde as canções rock arrasadoras como o golpe duplo de abertura do disco com “Scared of Fear” e “React, Respond”, até o coração aberto e acústico na balada salpicada “Wreckage” e os grooves arrogantes da música “Waiting For Stevie”, essa última um retrocesso no estilo das canções “Breath” ou ”State of Love and Trust” (ambas ficaram de fora do 1º disco, "Ten", 1991). Vedder e Watt começaram a escrever juntos a música "Waiting For Stevie" enquanto esperavam horas para Stevie Wonder aparecer no estúdio e gravar uma participação especial no disco solo de Vedder, "Earthling".
Há canções também sobre os desafios em ser pai, “Something Special”, ser visitado por lendas como Joni Mitchell e Neil Young em um sonho na música “Won't Tell”, e tentar fazer conexões humanas genuínas em um momento em que tal coisa parece mais difícil do que nunca na canção “Setting Sun”. Nessa última, você ouvirá um momento de McCready tocando realmente uma guitarra blues no estilo da música “Yellow Ledbetter” (ficou de fora do 1º disco), mais parecendo um caleidoscópio sonoro do passado, presente e futuro do PEARL JAM.
Gossard falou sobre o estilo de produção do álbum "Dark Matter", como foi trabalhar com Andrew Watt e quais as novas portas que isso abriu para uma banda com mais de 30 anos de carreira e ainda em evolução.
Jornalista: Vamos falar sobre as origens incomuns desse álbum. Meu entendimento é que Eddie Vedder estava trabalhando sozinho no estúdio de Andrew Watt no verão de 2021 e ficou tão inspirado que pediu aos outros membros do PEARL JAM que fossem até lá e se juntassem a ele.
Stone Gossard: Isso parece certo. Eu sei que ele já estava empenhado em fazer seu disco solo e talvez perto de terminá-lo, então, eu acho que ele provavelmente passou por esse processo com Andrew Watt e nos disse que estava sendo divertido. Não sabia se isso iria funcionar para o PEARL JAM, mas fomos ao estúdio de Andrew e você sabe, ele tem de tudo lá. Ele nos disse: "Venham para Los Angeles, mas não tragam nada, nenhum instrumento. Apenas venham e toquem". Não é o nosso modus operandi normal, o que foi ótimo, sabe? Isso é o que foi emocionante para todos nós. Andrew é um colecionador de guitarras e tudo o que você poderia querer tocar estava lá. Você está mergulhando de cabeça em uma nova situação que o deixa entusiasmado porque, primeiro, Eddie está entusiasmado com isso. E segundo, você não conhece Andrew nem nada sobre ele, apenas que é diferente. Qual o pior que poderia acontecer? Não daria certo ou deixaríamos algo diferente e solto gravado.
Jornalista: É justo dizer que houve um tempo em que vocês estariam menos aptos a fazer algo assim, especialmente em tão pouco tempo que passaram a cada vez que se reuniam?
Gossard: Ficamos confortáveis porque Eddie já tinha nos dito que achava que era uma boa escolha. Vamos experimentar juntos, sabe? O disco "Gigaton" foi gravado durante um longo período de tempo. Foi feito a partir de gravações demo individuais, usando as partes cruas e ásperas que amamos, mas também acrescentando coisas a elas. Foi um processo legal, mas para o álbum "Dark Matter" foi de uma forma anti-aquilo ao que fizemos no disco "Gigaton". Para o novo álbum, você mal trazia um riff ali mesmo, no estúdio, mas em 30 minutos aqui estão 02 ou 03 acordes que você talvez nem soubesse tocar antes, mas que soam bem na ponte da música. Também encorajamos Matt Cameron a ser cada vez mais agressivo na bateria. Vamos fazer com que pareça que as coisas estão sendo promulgadas naquele momento e isso é o que foi emocionante no processo de trabalho com Andrew Watt.
Gossard: No início, ficamos lá provavelmente por 10 dias seguidos. Gravamos as nossas 02 novas primeiras músicas e acho que gravamos a faixa guia para a canção "Waiting For Stevie". Depois, íamos gravando umas 03 ou 04 músicas novas a cada vez que nos encontrávamos, bem rapidamente. Quando chegávamos em casa e ouvíamos as canções, algumas delas começaram a deixar de ser tão urgentes e pareciam mais cerebrais, ou talvez, mais organizadas. Quero dizer que algumas não tiveram a mesma empolgação que tivemos naquele 1º lote de gravação em 2021, onde era como se todos pulassem juntos do penhasco. Depois de selecionar algumas, conseguimos o que achamos que era talvez meio disco pronto ou nem perto disso, e então, o penduramos. Sendo assim, muitas coisas aconteceram, sabe? Eddie saiu em turnê solo no ano de 2022, não sei se Andrew terminou a produção de Ozzy Osbourne primeiro e depois gravou o disco novo do ROLLING STONES, mas ele está sempre trabalhando constantemente mesmo... Depois, houve um problema de agendamento em que simplesmente não conseguimos ficar juntos, portanto, a próxima rodada de gravação foi 01 ano depois disso tudo e foi quando dissemos: "Ok, agora vamos terminar o disco e teremos somente 02 semanas no Shangri-La Studios".
Jornalista: Nessa etapa final de gravação no Shangri-La Studios, você estava armado com novos trechos musicais que esperava transformar em novas músicas?
Gossard: Tenho certeza que todos tinham alguns novos riffs e arranjos, mas a questão era que, quanto mais organizado e você estiver apegado a esse riff ou arranjo, mais difícil seria trabalhar em outras sugestões com toda a banda junto no estúdio, pois a maneira como estávamos trabalhando realmente era: todos juntos na sala, vamos tirar algo novo aqui e realmente trabalhar juntos. Em geral, é melhor ter somente um esboço do que uma ideia completa, com pessoas investindo em uma música nova, reagindo e ouvindo suas próprias partes nela, o que foi a alquimia que deu vida a estas canções.
Jornalista: Você já havia pisado no Shangri-La Studios antes?
Gossard: Não. É um lugar lindo, muito bonito e realmente bom. Possui uma mesa de sinuca e não tem TV. Tivemos um chef de cozinha incrível e comemos comidas excelentes. Gravamos por 10 dias seguidos e pudemos ouvir coisas antigas também que foram gravadas nesse estúdio. Foi quando chegamos ao ponto em que precisávamos de mais 03 dias e fizemos exatamente o que fazia sentido para a banda.
Jornalista: Vamos falar sobre Andrew Watt. Esta é a 1ª vez que alguém que é um fã declarado, mas também um profissional da indústria musical, consegue colocar as mãos no volante e até ajudar o PEARL JAM a escrever músicas. Ele encorajou a banda a fazer algo diferente? E ele estava pressionando vocês para "agitarem" mais?
Gossard: Sutilmente, havia coisas que ele faria e provavelmente nem falaria conosco sobre elas, pois estávamos tocando com o seu equipamento. Ele é um fã genuíno e foi afetado pela nossa banda desde muito jovem. Ele também é um ótimo guitarrista e um ótimo engenheiro de som, sendo que ele está se manifestando em alto nível. Ele nos disse que quando era criança, seu sonho era de um dia gravar um disco do PEARL JAM e agora isso aconteceu. Somos todos participantes da narrativa maior de Andrew, que é ele colecionando suas bandas favoritas de infância.
Gossard: No passado, o nosso produtor de longa data, Brendan O’Brien, também nos ajudava com 01 ou 02 acordes de vez em quando e ele era o nosso ouvido externo. É difícil porque mesmo que você ouça que algo não está funcionando bem, é melhor que a notícia venha de alguém que não está na banda. Já com Andrew, ele ficava com uma guitarra no colo o tempo todo e todos nós tocávamos juntos e algumas de suas músicas estão no álbum. Na maior parte do tempo, ele estava sentindo a música conosco e vivenciando-a conforme ele tocava. Ele adora as nossas coisas excêntricas e idiossincráticas, mas também nos pressionou a ir direto ao ponto, a sermos agressivos, a sermos nós mesmos e a não fugirmos de quem éramos.
Comments