Stone Gossard: guitarrista do Pearl Jam responde quais são suas melhores lembranças da cena grunge dos anos 90
Stone Gossard, guitarrista do PEARL JAM, foi entrevistado recentemente pela revista britânica New Music Express. O grupo está atualmente em turnê pela Europa divulgando seu mais novo álbum de estúdio, "Dark Matter" (12º disco, 2024).
“Provavelmente tentaremos adicionar algumas músicas novas todas as noites e tocaremos alguns sucessos também. É um bom espetáculo para se ver e a banda está tocando muito bem agora... Todos estão de bom humor", disse Gossard sobre o setlist dos shows dessa turnê.
Confira alguns trechos dessa entrevista, onde o guitarrista falou se ele acha que algum dia o PEARL JAM será headliner do icônico Glastonbury Festival (Inglaterra), sobre shows de 03 horas de duração (como é de praxe do PEARL JAM) e o segredo para a longevidade de uma banda que ainda lota estádios de futebol.
Jornalista: Olá, Stone. Qual é o segredo para continuar se apresentando em grandes estádios depois de todos esses anos?
Stone Gossard: Provavelmente o mais importante é porque não terminamos como banda em nenhum momento durante a nossa jornada. As nossas bandas de rock favoritas compartilhavam composições entre seus membros, escreviam músicas juntos e tinham seus altos e baixos. No início sabíamos que daria algum trabalho, mas há algo que vale a pena por esse esforço. Tem havido muito compromisso, muita colaboração, muita fé cega e apenas acreditar que você tem um bom grupo ao seu redor e que é melhor trabalhar com as pessoas com quem tem trabalhado há tanto tempo em vez de acabar com tudo, inventar tudo de novo e ter que passar por tudo isso com um novo conjunto de personalidades. Acho que somos teimosamente leais.
Jornalista: Bandas como o THE BLACK KEYS estão trocando apresentações em arenas por locais menores e mais intimistas. A música ao vivo em locais grandes tem algum problema?
Gossard: Em nosso caso, estamos em uma certa bolha de pessoas (fãs) que estão conosco há muito tempo e de certa forma é um pequeno universo próprio. Estamos apenas esperando e tentando nutrir esse universo da melhor maneira possível e estamos principalmente gratos por termos conseguido o que conquistamos.
Jornalista: A artista Billie Eilish disse recentemente que shows de 03 horas de duração são “psicóticos”. Você concorda?
Gossard: Bem, começamos a fazer shows muito mais curtos hoje em dia para o nosso próprio bem-estar e longevidade. Já fizemos shows de 03 horas muitas e muitas vezes e há algo divertido em termos conseguido isso e pode até ser divertido em testemunhar isso e perseverar, mas em geral, eu não quero ir a um show de 03 horas de duração. Em 02 horas ainda podemos criar aquela atmosfera de um show do PEARL JAM onde haverá algumas músicas que você conhece e algumas outras que você não conhece, o que gera um clímax que esperamos que pareça de forma certa. Todos nós sabemos o que é ir ao cinema ou ler um livro que deveria ter sido editado e no momento estamos tentando ser conscientes disso.
Jornalista: Vocês esperam que algum dia sejam o headliner do Glastonbury Festival?
Gossard: Eu não sei a resposta para essa pergunta... Só o que eu sei é que nunca nos apresentamos no Glastonbury Festival. Acho que talvez existiu um convite há muito tempo atrás, mas não tenho certeza. A minha impressão é que se trata de um festival muito impactante, em particular para a Inglaterra. Eu sei que houve algumas performances incríveis lá de bandas e artistas em sua história, mas não tenho acompanhado muito isso, sabe?
Jornalista: O que mantém em atividade as grandes bandas da era grunge como vocês e o FOO FIGHTERS?
Gossard: Ainda me sinto empolgado com empreendimentos criativos. Ainda estou animado por não saber o que faremos a seguir e todos na banda ainda possuem muita energia criativa sobre o que querem fazer.
Jornalista: Ainda existe alguma fraternidade entre essas bandas sobreviventes daquela época do grunge?
Gossard: No que diz respeito a relacionamentos pessoais e encontros, não pra mim pessoalmente. Mas você não pode ter passado pela mesma coisa, por exemplo, SMASHING PUMPKINS ou FOO FIGHTERS, e não pensar que seria interessante conversar ou refletir sobre quais são as coisas que apreciamos uns nos outros ou não. Isso é interessante pra mim, mas não está acontecendo atualmente.
Jornalista: O último álbum de estúdio do PEARL JAM, "Dark Matter", é um ponto alto na carreira da banda?
Gossard: Eu não diria isso. Acho que acabará sendo um disco impactante, quero dizer, olhando para trás em algum momento esse disco será significativo. Trabalhar com o produtor Andrew Watt foi eficaz para nós. De certa forma, ele estava voltando no tempo e nos dizendo: "Vocês fizeram isso tão bem em tal disco, façam de novo agora". Isso me fez pensar: "Ok, fizemos o que ele pediu, mas agora qual é o oposto disso? Vamos nos inclinar em outra direção para um próximo álbum".
Jornalista: O que você ganha trabalhando em projetos paralelos que não ganha com o PEARL JAM?
Gossard: Arriscamos fazer com que seja uma banda onde esta não é a sua banda principal. É uma banda para fazer qualquer coisa, sabe? Você pode ser qualquer um e realmente incentivando aquele estado de espírito de: "Vamos ser brincalhões", porque às vezes em bandas mais sérias os riscos são maiores, então, é mais difícil ser brincalhão. É mais difícil improvisar com sua banda principal e quando você está trabalhando em projetos paralelos a coisa toda se torna uma espécie de playground. São pessoas diferentes liderando o ataque em caminhos diferentes.
Jornalista: Você percebe que a nova geração está descobrindo o PEARL JAM?
Gossard: Não sei... Vejo alguns jovens nos shows e nosso público está sempre muito bem e animado. Sou grato pelas pessoas que estão curtindo e é sempre bom pensar que algumas crianças estão gostando do PEARL JAM.
Jornalista: O que você acha da geração mais jovem de bandas de rock?
Gossard: O grupo IDLES é simplesmente incrível. Fizemos alguns shows com eles e a entrega que eles possuem no palco é algo xamânico, tipo uma dança extática. Além da simplicidade deles, as letras das músicas e a forma como seu vocalista aborda as canções, é a palavra falada e cantada de uma forma que mostra a você – assim como todos os outros vocalistas não convencionais mostram a você – novas maneiras de como ainda pode ser uma música. Isso mostra a democracia da música e as pessoas simplesmente enlouquecem com eles.
Jornalista: Para encerrarmos, quais são suas melhores lembranças da cena grunge dos anos 90?
Gossard: Tocando música com Andy Wood (vocalista do MOTHER LOVE BONE), trabalhando no TEMPLE OF THE DOG com Chris Cornell, gravando o nosso 1º álbum com o produtor Brendan O’Brien (2º disco, "Versus", 1993) e o quanto ele nos impactou e o quanto eu apreciei sua musicalidade e sua generosidade conosco. Também se apresentando pela 1ª vez no Lollapalooza Festival, o que realmente havia um senso de comunidade naquele grupo de pessoas e bandas que se apresentaram juntos, pois naquela época era um festival itinerante.
Gossard: Por exemplo, assistir o show de Ice Cube (rap) tocando todas as noites e pensar que isso é o melhor, que o Ice Cube e a banda em que estou tocando estão se apresentando no mesmo dia do festival, sabe? Houve um momento muito divertido no início, onde estávamos bêbados o tempo todo e isso fazia parte da alegria descontrolada de estar no palco. Estávamos acabados e bêbados pra caralho e isso era ótimo e todo mundo estava se divertindo... Isso não é ótimo? Também fazer shows e sair com o pessoal do MUDHONEY foi muito divertido... Éramos todos pessoas desleixadas.
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