Temple of The Dog: a música que Chris Cornell queria lançar como single para irritar sua gravadora
Qualquer gravadora tende a se sentir inimiga de uma banda de rock emergente vinda do underground.
Claro, elas podem ser capazes de oferecer a você um público maior do que você imaginava, mas também são as pessoas que no início tentam baratear seu som, fazendo com que você toque as músicas mais comerciais possíveis para garantir o lado de ambos.
O vocalista do SOUNDGARDEN, Chris Cornell, que inclusive foi a 1ª banda do recinto grunge de Seattle no final dos anos 80 que assinaria com uma grande gravadora, nunca gostou exatamente de acompanhar o business dessa forma, então, ao criar o TEMPLE OF THE DOG, ele garantiu que qualquer potencial que ele e a banda tivesse, iria para ser a música menos comercial possível para apresentar à gravadora com seu 1º single.
Se você conhece a história por trás do TEMPLE OF THE DOG, nada daquilo foi feito para ganhar dinheiro. Toda a base do álbum surgiu após o trágico falecimento do vocalista do MOTHER LOVE BONE, Andy Wood, que havia sido a 2ª banda de Seattle a assinar um contrato com uma grande gravadora, então, qualquer coisa que eles tocassem seria do coração e não um single infalível.
Para Cornell, ele perdeu também um amigo, pois eles dividiam o mesmo apartamento por alguns anos antes dele falecer, onde Cornell começou a derramar toda a sua dor nas primeiras gravações demo do grupo, que se tornaram em músicas como "Say Hello to Heaven" e "Pushin' Forward Back". Claramente não soavam como músicas do SOUNDGARDEN, portanto, o mais sensato seria gravá-las com os membros sobreviventes do MOTHER LOVE BONE, o guitarrista Stone Gossard e o baixista Jeff Ament (futuros membros do PEARL JAM).
Com Cornell convocando seu baterista do SOUNDGARDEN, Matt Cameron, eles formariam esse grupo tributo a Wood. Aos poucos, Gossard foi apresentando seus riffs e Ament acabou chamando um amigo seu para tocar guitarra, Mike McCready, um jovem virtuosista viciado em Jimi Hendrix e Stevie Ray Vaughan.
Já no estúdio e quando estavam no esboço de outra canção, "Reach Down", McCready lembrou que Cornell queria algo deliberadamente não comercial, dizendo para a revista Rolling Stone: “Eu me lembro que Chris estava, tipo: 'Hey, vamos fazer uma música super longa que seja a primeira canção do álbum e que vai irritar a porra da gravadora. Vamos fazer dessa música o 1º single’. Me lembro que fiz uma parte da guitarra que segue seu vocal, então, esse momento me faz lembrar que eu queria imitar a voz dele na guitarra”.
SOUNDGARDEN já tinha um nível de antiguidade maior entre as bandas de Seattle, então, Cornell provavelmente teve seu quinhão de conversas com empresários e executivos da indústria musical que não lhe apeteceu. E considerando o quanto a cena de Seattle foi influenciada pelo curto punk rock, querer abrir um disco com uma música de 11 minutos mais parecia uma coisa sendo arrancada diretamente do diário de Neil Young.
Cornell comentou sobre este assunto no documentário do PEARL JAM, "PJ20", dizendo: “A canção 'Reach Down', que foi a 1ª música que escrevi para o TEMPLE OF THE DOG, eu queria que fosse uma longa canção de Neil Young e principalmente com solos de guitarra... E quer saber? Essa vai ser a 1ª música do álbum e você pode se f...”.
Comparado com o resto de suas jams incessantes, McCready está chorando durante toda a música, tocando como se tivesse absolutamente tudo a provar. Embora a ideia de continuar como uma banda completa não estivesse nos planos, McCready rapidamente se tornou uma das bases do PEARL JAM, onde somente depois do lançamento do disco homônimo do TEMPLE OF THE DOG (1991) que o PEARL JAM entraria em estúdio para gravar seu álbum de estreia, "Ten" (1991).
A canção "Reach Down" acabaria sendo lançada como a 2ª música do disco e não foi considerada como single.
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