The Kinks: a canção que foi escrita como um adeus à carreira
As músicas costumam marcar momentos específicos na carreira de uma banda e naturalmente esses momentos alternam entre bons e ruins, mas poucos funcionam como uma despedida.
Indiscutivelmente, escrever uma canção e saber que seria uma de suas últimas, pode ser uma das coisas mais difíceis que um compositor há de fazer. No entanto, para o THE KINKS, o interesse cada vez menor dos fãs e a falta de paixão pelo que estavam criando, fez com que escrever um adeus fosse feito com pouco interesse em como era realmente percebido, e essa falta de pressão produziu uma de suas canções mais famosas até hoje.
A música "Days" foi inicialmente criada para ser o single do álbum conceitual de 1968, "The Kinks are The Village Green Preservation Society" (6º disco), mas quando a banda terminou as gravações do seu álbum anterior, "Something Else by The Kinks" (5º disco, 1967), e viu o resultado final que alcançou sob a perspectiva dos próprios membros do grupo, eles perderam momentaneamente a fé em seu processo criativo, pois o single desse 5º álbum, a canção "Waterloo Sunset", tinha sido um "fracasso" comercial - mesmo com o disco alcançando a 12ª posição nas paradas de álbuns do Reino Unido.
Portanto, THE KINKS decidiu apressar o lançamento da música "Days" e lançá-lo como um single isolado em 1968, antes de aguardarem as gravações completas deste 6º disco para inclui-la em sua track-list - o que aconteceria somente com os vinis que foram vendidos na Europa.
O vocalista/guitarrista do THE KINKS, Ray Davies, comentou sobre sua atitude blasé em relação à essa música, dizendo uma vez em entrevista: “Eu não me importava mais com as coisas, então, pensei: ‘Diga adeus com educação’, e foi quando escrevi a canção 'Days'".
Ao buscar inspiração para essa música, Davies pensou na sua irmã, que havia partido recentemente para a Austrália. “Ela saiu e disse: ‘Diga adeus, meu querido irmão’, e eu disse a ela: ‘Obrigado por ser minha irmã’. Então, esta canção é para ela, de verdade mesmo, e para a sua geração”.
Ele também pensou em amores perdidos ao escreve-la, lembrando de ter feito um telefonema arriscado durante o processo criativo da mesma: “Escrevi parte dela em uma cabine telefônica enquanto telefonava para alguém que não deveria telefonar”, disse Davies. “A música não era sobre a pessoa do outro lado da linha... Bem, na verdade não, mas suponho que seja a minha despedida definitiva com ela, não é?"
E como ironia do destino, esta canção foi se tornando uma das mais comoventes e bem recebidas que Davies já escreveu. As razões para isso são variadas, mas sua capacidade de dizer adeus a algo maior do que ele - ao mesmo tempo em que se concentra nos aspectos humanos da separação - criou algo com o qual as pessoas poderiam facilmente se conectar.
Tornou-se algo novo e totalmente diferente de quando foi escrita originalmente, com Davies concluindo: “A música cresceu em intensidade ao longo do tempo. Não pensei muito na canção em si quando a escrevi, quero dizer, às vezes as músicas nascem e ocorrem assim. Você não pensa com antecedência sobre como toca-la, apenas deixa a mística tomar conta e certamente me deixou assim".
Felizmente, não seria o fim do THE KINKS em 1968. Formada em 1963, a banda encerraria as atividades somente em 1993 com 24 álbuns de estúdio lançados.
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