The Kinks: a canção que permitiu ao frontman Ray Davies encontrar sua voz novamente
Formado em 1963, THE KINKS surgiu com um impressionante florescimento de singles que continuam sendo a base da era da Invasão Britânica até hoje.
"You Really Got Me" (1º disco, "Kinks", 1964) e "All Day and All of The Night" (single de 1964), foram músicas que fizeram os quadris balançarem em salões de dança em ambos os lados do Atlântico. Uma fórmula baseada nos riffs agitados e distorcidos do guitarrista Dave Davies e nos vocais/guitarras sedutoras de Ray Davies, o que garantiu um legado desde o início.
Mas como acontece com várias bandas e artistas, a longevidade exige uma reinvenção.
À medida que grupos como o THE KINKS e o THE WHO brilhavam à sombra dos BEATLES e ROLLING STONES, eles logo perceberam que uma identidade forte para si era fundamental. Para o THE WHO, significou buscar conceitos rígidos nas célebres óperas rock do guitarrista Pete Townshend. Já para o THE KINKS, significou reforçar e valorizar a cultura inglesa e ao mesmo tempo satirizar as classes altas de sua sociedade.
E uma das canções que mais marcaram essa conduta do THE KINKS foi “Sunny Afternoon” (4º disco, "Face to Face", 1966), com Ray Davies imensamente orgulhoso da sua herança britânica e temendo a americanização da época.
“Espero que a Inglaterra não mude”, disse o vocalista em 1966 para a revista britânica Melody Maker. “Estou escrevendo uma música agora chamada 'You Ain't What You Used to Be' (que seria lançada somente em 1971 como trilha sonora do filme 'Percy', com o título modificado para 'The Way Love Used to Be') que expressa o que realmente sinto. Espero que não sejamos engolidos pelos EUA e pela Europa, pois sou muito orgulhoso de ser britânico… Quer saber, não me importa se uma pessoa é de direita ou esquerda, desde que ela aprecie o que temos em nossas próprias terras. Possuímos tantas coisas excelentes em comparação com outros países e as pessoas daqui simplesmente não percebem isso”.
Ray Davies manteve sua palavra e permaneceu marcadamente inglês ao longo da venerada obra do THE KINKS até a década de 70, como as canções "Waterloo Sunset" ambientada em Londres (5º disco, "Something Else By The Kinks", 1967) e "Lola" ambientada em um velho clube do bairro Soho em Londres (8º disco, "Lola Versus Powerman and The Moneygoround, Part One", 1970).
Ao longo da década de 70, THE KINKS permaneceu prolífico, mas foi um tanto marginalizado pelas mudanças de tendências da época. A multidão enlouquecida pareceria mais interessada em nomes como LED ZEPPELIN, DEEP PURPLE e BLACK SABBATH, sendo mais tarde ficando fascinada pelo fenômeno do punk rock.
THE KINKS prevaleceu durante a década de 80 e mantida por uma base de fãs leais, apesar das probabilidades do relacionamento sempre turbulento entre os irmãos Ray e Dave Davies. Chegando em 1993, o grupo lançou seu último álbum de estúdio, "Phobia" (24º disco), antes de sua dissolução em 1996. Ironicamente, foi nesse álbum que Ray afirmou ter encontrado novamente a sua voz, após vários anos de mediocridade, onde reservou suas considerações para a música "Only a Dream".
“Acho que encontrei minha voz novamente na canção ‘Only a Dream’, que escrevi em um avião voando para a Inglaterra depois de decidir que o nosso próximo disco precisava ter um pouco mais de humanidade”, disse Ray em uma entrevista de 1993 à Pulse Magazine. “É estranho que um artista que ainda está por aí se sinta intimidado por certas coisas, mas eu ainda fico e tive que realmente me preparar para gravar o vocal dessa música. Na noite anterior, saí e fiquei bêbado de vinho. No outro dia, eu ainda estava tremendo quando cheguei de manhã ao estúdio e gravei o vocal somente em 01 tentativa. É apenas uma música popular, mas há muita emoção nela e há muito de mim nela”.
Perto do final da entrevista, Ray refletiu sobre sua carreira até aquele momento, sem saber do fim iminente do THE KINKS: “A música está se tornando cada vez mais importante pra mim à medida que envelheço”, concluiu o frontman da banda. “THE KINKS possui um catálogo tremendo agora, mas ainda parece um trabalho em andamento. Vou me sentar, ouvir essas novas canções, reconhecer suas conexões e ter a sensação de que a nossa carreira ainda não está encerrada... E suponho que não me incomodará muito se meu epitáfio apenas estiver escrito: ‘O cara que foi o vocalista do THE KINKS’".
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