The Kinks: "esse álbum foi um desejo de morte artística”, disse o frontman da banda
by Brunelson
há 1 dia
Se você encontra sucesso logo no começo fazendo parte de uma banda, divergir do som ou estilo que o deu origem pode parecer assustador para os fãs.
Alguns grupos ficam presos em seus primeiros lançamentos e é fácil entender o por quê.
Por que arriscar e tentar algo novo quando você já encontrou algo que funciona? Por que colocar em risco os seguidores leais que você construiu em favor da experimentação sonora, depois de anos batalhando na garagem de sua casa e fazendo apresentações em bares minúsculos para 10 pessoas?
Bem, porque você pode criar um dos discos mais influentes da sua carreira, como provado por Ray Davies, vocalista/guitarrista do THE KINKS.
THE KINKS lançou seu álbum homônimo de estreia em 1964, que os situou em algum lugar no escopo do rock and roll. Seus primeiros sucessos incluíram o rock cru da clássica canção, "You Really Got Me", a maravilhosa música, "A Well Respected Man", e a verdadeiramente icônica canção, "Waterloo Sunset", cada uma liderada por guitarras e pelos talentos de composição de Davies.
Mas à medida que seu sucesso crescia, o frontman do grupo começou a duvidar da direção que eles haviam estabelecido para si mesmos.
“Acho que toda banda passa por uma fase em que elas se sentam e pensam sobre como será seu futuro”, Davies explicou certa vez durante uma entrevista para a revista Uncut: “E pra mim, esse é um disco de encruzilhada de nossa carreira”. Aqui, ele se referiu ao álbum de 1968, "The Kinks are The Village Green Preservation Society" (6º disco).
Esse álbum viu Davies e seus companheiros de banda levando seu som muito além das músicas rock que lhes renderam sucesso comercial em seus primeiros anos. Eles trouxeram elementos do pop barroco e do rock psicodélico em uma série de representações da vida britânica, desde a acolhedora e calorosa canção de abertura, "The Village Green Preservation Society", até à charmosa música "Picture Book".
Foi uma mudança de direção intrigante e que não conquistou o público imediatamente, uma reação que Davies já tinha antecipado: “Talvez seja um desejo de morte artística”, ele deu de ombros na entrevista. “Lançar algo assim, sabe?"
Davies poderia ter escrito outro disco cheio de sucessos, mas decidiu não fazê-lo: “Naquela época eu estava com raiva das coisas e reprimi os instintos competitivos que me fizeram escrever músicas e singles de sucesso. Deliberadamente não iria ter sucesso com esse álbum, porque eu não quis criar uma canção para ser chamada ‘You Really Got Me, Part II’”.
Sendo assim, THE KINKS gravou um disco que eles sabiam que não iria produzir hits de sucesso, mas que iria refletir seus interesses e posição na época puxando toda sua cultura britânica para o som e as letras desse álbum. Nenhuma das músicas do disco se tornaria tão icônica ou bem-sucedida quanto "You Really Got Me" ou "Waterloo Sunset", mas isso não importava.
O disco fluiu perfeitamente quase como um álbum conceitual e provou que a banda não iria simplesmente ceder ao que o público e as gravadoras queriam deles. Eles não seguiram tendências musicais, ou seja, eles as definiram, com vários artistas de épocas contemporâneas e posteriores elogiando suas habilidades de escritor em contar histórias.
“Sabíamos que não seria um disco bem-sucedido, mas de certa forma fez tudo o que eu queria que fizesse naquele momento”, concluiu Davies. “Quando as pessoas pensam no THE KINKS, elas ainda pensam nesse álbum, mesmo que a maioria delas nunca o tenham escutado”.
Embora o disco tenha sido alimentado pela sua raiva e não tenha produzido grandes sucessos, ele ainda ocupa um espaço importante em sua identidade e legado como banda.
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